22. Insônia.
Eram umas duas horas da manhã, e eu ainda não tinha pegado no sono. Eu deveria estar desmaiado agora! Eu devia estar dormindo, e só acordar ás cinco da tarde. Mas não, por algum motivo, não conseguia dormir. Já tentei de tudo, desde os métodos mais bobos, até os que funcionam comigo ás vezes. Mas se tivessem funcionado eu não estaria acordado agora.
Encarei o
relógio.
Tic tac. Tic
tac.
Era só isso que
eu ouvia. Tirando o leve barulho dos grilos. Os ponteiros se moviam, mas eu não
conseguia dormir. Resolvi me levantar, e olhar pela janela. As vezes, isso me
ajudava a ficar tranquilo e dormir. Mas, tinha coisas que não saiam da minha
cabeça.
Eu ia seguir
Kathryn e Melody, atrás da pedra da água, junto com Adrian. As escondidas é
claro. Sem falar, que os pensamentos do maldito covil do Grandark ainda estavam
na minha mente. A cada passo que eu dava, um monte de portas, várias
bifurcações nos corredores, um grande labirinto de concreto, fechado a vácuo.
Isso com certeza
ainda ia me assombrar bastante.
E também, tinha
o caso de Melody com a irmã. Eu ficava me perguntando como ela seria. Não digo
em aparência, eu sei que elas são gêmeas. Mas... Pelo escândalo de Kathryn...
-Argh! Eu nunca
vou conseguir dormir! – falei num tom de voz bem baixo.
Resolvi rever
meu dia. Eu estava com muito tempo livre mesmo.
“Vejamos... Eu
falei com a Melody... Ela me jogou para fora do quarto... Eu bolei o plano de
seguir ela e a Kathryn...” comecei a pensar.
Eu lembrava
claramente de ontem. Como se eu estivesse vendo um “Flashback”.
-O quê você vai
fazer? – lembrei de Richard me encarando com os olhos semicerrados.
-Ahn... Nada. –
eu havia respondido.
Depois disso, eu
tentei falar com Kathryn, mas ela não abriu a porta.
Ouvi o barulho
de um zíper. Ela estava fazendo suas malas para ir a algum lugar. Eu reconheço
o barulho de zíper de mochilas,malas, assim que eu ouço. Sei disso porque eu
mesmo já tive que abrir e fechar minhas mochilas diversas vezes.
Depois, eu fui
andando para o meu quarto e...
O quê tinha
acontecido depois?
Daí, eu tive
vontade de me dar um soco. Eu havia dormido. É por isso que eu não estava
conseguindo pegar no sono.
-Mas eu sou um
idiota mesmo. – reclamei.
Lembrei que eu
havia planejado ir até a janela. Fiquei tão centrado em meus pensamentos que
nem havia saído da cama.
Me levantei e
abri a janela. Um vento frio entrou rapidamente pelo meu quarto.
Eu não me
incomodava com ele. Eu até gosto de climas frios as vezes.
O luar brilhava
intensamente. Era noite de lua cheia. Notei uma floresta, bem, mas bem longe da
casa.
“Isso estava aí
antes?” me perguntei por pensamento.
Um uivo
contínuo, vindo da floresta, quebrou o silêncio da noite. Lembrei na hora de
Grandark. Ele era um lobisomem, que eu nunca quis ter conhecido.
Eu continuava
olhando para a lua cheia. Estava uma noite tão bonita. Dava vontade de ir lá
fora e deitar na grama, como eu fazia quando estava viajando.
De repente, uma
sombra cruzou a minha visão. Algo pequeno. Voando pelos céus.
“Deve ser uma
coruja, ou uma ave qualquer.” Pensei. Mas será que era? Não lembro de um dia
ter visto uma coruja branca.
Me transformei
em dragão, e usei minha visão ampliada para enxergar melhor. Não era uma
coruja. Era uma coisa pior.
Um pequeno
dragão branco.
Mascote de Lief.
Fechei a janela
rapidamente e voltei ao normal. O quê será que eu iria fazer? Correr para
avisar alguém?
Não, melhor
cuidar disso sozinho.
Será que Lief,
mandou seu dragão para nos espionar, e tomar informações nossas?
“Hoje não Lief.
Comigo aqui, nem pensar.” Pensei.
Andei
sorrateiramente até a janela e olhei para onde o pequeno dragão estava indo.
Ele estava indo para a leste do meu quarto. Fui até a porta do meu quarto e a
abri. Richard me encarava. Forcei para não gritar de susto, daí percebi que ela
estava de olhos fechados. Ou seria “olho fechado”? Essa história de tapa-olho
confunde.
Enfim, Richard
ficou me encarando, depois se virou até a cozinha, pegou um biscoito, e voltou
para seu quarto rapidamente.
Me recuperei do
choque e segui até a cozinha.
“Uau, ela é
sonâmbula. Eu não esperava por isso!” pensei enquanto caminhava.
O corredor
estava escuro, mas eu já tinha decorado a localização dos móveis e das portas.
A única luz que se via, era a luz do luar que saia da janela aberta do meu
quarto e atravessa uma fresta da minha porta. Quando cheguei a cozinha, me
certifiquei de ver pela janela.
Sim, o pequeno
dragão branco, pairava sob o céu, em direção a janela que eu estava.
“Está muito
escuro... Ele não deve ter me visto.” Pensei fechando a janela.
Então, me
escondi em meio a escuridão. O lugar ficou no maior silêncio.
Tum.
Eu ouvi um leve
barulho de passos, sob o chão de madeira. Alguém estava acordado? Ou será que é
só o barulho do chão mesmo?
Tum.
Eu ouvi de novo.
Tum.
O som continuava
se repetindo, mais rápido, mais forte. E então me virei para a porta que levava
para fora da casa.
Tum.
O som estava
vindo de lá. Alguém estava batendo na porta. E eu tenho certeza que era o
dragão tentando entrar.
Olhei ao redor,
procurando algo para bater nele.
-Arg, eu esqueci
meu arco e minhas flechas... – reclamei.
E então lembrei
que eu sabia lutar. Um pouquinho, mas sabia.
Me lembrei da
“aulinha” de Lief. Ele tinha ficado bravo por eu ter conseguido passar tão
facilmente. Pelo menos eu acho que era por isso que ele tinha ficado bravo.
A batida da
porta ficou mais constante, até que um leve estalar rompeu o barulho das
batidas, e deixou um som que ecoou por todo o lugar. A porta havia sido aberta.
Me preparei para
o que viria.
Estava muito
escuro, mas algo estava entrando pela casa. Então eu me alevantei e ataquei.
-AAAAAAAA! – o
intruso gritou.
Continuei a
golpeá-lo até ser interrompido pela luz ofuscante que se ligou.
-O quê...? – me
perguntei.
-ARGH! – o
intruso me atirou contra o chão. – VALEU, EU AINDA NÃO FUI ESPANCADA ESSA
MADRUGADA!
Olhei ao redor.
Eu não estava atacando o dragão de Lief. Eu estava atacando uma menina que eu
nunca vi.
-Valeu, Selion.
– Melody falou sarcasticamente. – Eu queria ter batido nela, mas você chegou
primeiro. – ela continuou, ainda sarcástica.
-O quê está
acontecendo? – falei envergonhado.
Kathryn apareceu
atrás de Melody.
-Essa é uma das
integrantes do Grand Elementra do Canadá. – Kathryn explicou aborrecida. – Ela
veio nos dar uma mensagem, mas pelo jeito, quis falar pessoalmente.
-E não foi uma
das minhas idéias mais brilhantes. – ela reclamou.
-Desculpa,
pensei que fosse o dragão do Lief! Eu vi ele passeando aí fora, vindo pra cá.
Melody olhou
pela janela, talvez tentando ver alguma coisa.
-Está ficando louco?
– ela indagou.
Me sentei na
cadeira mais próximo, ainda envergonhado.
“Muito bem,
Selion. Foi dar um de espião e acabou batendo em uma mensageira qualquer.”
Reclamei por pensamento.
-Bem, Kathryn,
podemos conversar na sala? Não quero ser atacada de novo. – a menina pediu.
-Está bem... –
Kathryn falou enquanto bocejava. – Mas não podia vir em um horário mais
acessível?
-Foi mal, essa
coisa de dormir de dia me atrapalha.
Melody foi até a
geladeira e pegou um copo de água, enquanto Kathryn e a “mensageira” foram para
a sala de estar.
-Quem era essa
Melody? – perguntei.
-É a Ming.
Ninguém que você conheça, ou vá conhecer. – ela falou.
Depois, bebeu um
grande gole d’água.
-Como eu estava
com sede... – ela exclamou. – Mas, e então Selion, deixa eu adivinhar, insônia?
-É... Não
consegui pegar no sono. – reclamei. – Devo estar parecendo bem cansado.
-Na verdade não.
Mas que idéia foi essa de dar uma de guarda noturno? Nós temos sistema de
segurança. – Melody perguntou, bebendo outro gole de água.
-Nós... Temos? –
perguntei.
Melody riu.
Eu sou um idiota
mesmo.
-Concordo. – ela
riu.
-PARA DE LER
MINHA MENTE!
-Shhh. Calma,
senão acorda os outros. – Melody lembrou.
-Agora é meio
tarde. – Adrian falou, perto da porta, coçando o olho.
-Isso é uma
festa do pijama ou o quê? – Blanorcana perguntou.
-O quê vocês
dois faziam aqui sozinhos...? – Misake perguntou com um olhar estranho.
Eu e Melody o
encaramos com raiva.
“Pronto. Era o
quê faltava. A mente de poluída de um qualquer pra completar a noite.” Pensei
bravo.
-Você ainda
estava aqui? Nem notei. – Melody riu.
-Que
inteligente. – Misake reclamou.
A porta da sala
bateu forte contra a parede, e Kathryn apareceu com uma cara assustada.
-Pessoal,
estamos com problemas.
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