domingo, 10 de fevereiro de 2013

As Pedras de Elementra - Capítulo 22.


 22. Insônia.



Eram umas duas horas da manhã, e eu ainda não tinha pegado no sono. Eu deveria estar desmaiado agora! Eu devia estar dormindo, e só acordar ás cinco da tarde. Mas não, por algum motivo, não conseguia dormir. Já tentei de tudo, desde os métodos mais bobos, até os que funcionam comigo ás vezes. Mas se tivessem funcionado eu não estaria acordado agora.
Encarei o relógio.
Tic tac. Tic tac.
Era só isso que eu ouvia. Tirando o leve barulho dos grilos. Os ponteiros se moviam, mas eu não conseguia dormir. Resolvi me levantar, e olhar pela janela. As vezes, isso me ajudava a ficar tranquilo e dormir. Mas, tinha coisas que não saiam da minha cabeça.
Eu ia seguir Kathryn e Melody, atrás da pedra da água, junto com Adrian. As escondidas é claro. Sem falar, que os pensamentos do maldito covil do Grandark ainda estavam na minha mente. A cada passo que eu dava, um monte de portas, várias bifurcações nos corredores, um grande labirinto de concreto, fechado a vácuo.
Isso com certeza ainda ia me assombrar bastante.
E também, tinha o caso de Melody com a irmã. Eu ficava me perguntando como ela seria. Não digo em aparência, eu sei que elas são gêmeas. Mas... Pelo escândalo de Kathryn...

-Argh! Eu nunca vou conseguir dormir! – falei num tom de voz bem baixo.

Resolvi rever meu dia. Eu estava com muito tempo livre mesmo.
“Vejamos... Eu falei com a Melody... Ela me jogou para fora do quarto... Eu bolei o plano de seguir ela e a Kathryn...” comecei a pensar.
Eu lembrava claramente de ontem. Como se eu estivesse vendo um “Flashback”.

-O quê você vai fazer? – lembrei de Richard me encarando com os olhos semicerrados.

-Ahn... Nada. – eu havia respondido.

Depois disso, eu tentei falar com Kathryn, mas ela não abriu a porta.
Ouvi o barulho de um zíper. Ela estava fazendo suas malas para ir a algum lugar. Eu reconheço o barulho de zíper de mochilas,malas, assim que eu ouço. Sei disso porque eu mesmo já tive que abrir e fechar minhas mochilas diversas vezes.
Depois, eu fui andando para o meu quarto e...
O quê tinha acontecido depois?
Daí, eu tive vontade de me dar um soco. Eu havia dormido. É por isso que eu não estava conseguindo pegar no sono.

-Mas eu sou um idiota mesmo. – reclamei.

Lembrei que eu havia planejado ir até a janela. Fiquei tão centrado em meus pensamentos que nem havia saído da cama.
Me levantei e abri a janela. Um vento frio entrou rapidamente pelo meu quarto.
Eu não me incomodava com ele. Eu até gosto de climas frios as vezes.
O luar brilhava intensamente. Era noite de lua cheia. Notei uma floresta, bem, mas bem longe da casa.
“Isso estava aí antes?” me perguntei por pensamento.
Um uivo contínuo, vindo da floresta, quebrou o silêncio da noite. Lembrei na hora de Grandark. Ele era um lobisomem, que eu nunca quis ter conhecido.
Eu continuava olhando para a lua cheia. Estava uma noite tão bonita. Dava vontade de ir lá fora e deitar na grama, como eu fazia quando estava viajando.
De repente, uma sombra cruzou a minha visão. Algo pequeno. Voando pelos céus.
“Deve ser uma coruja, ou uma ave qualquer.” Pensei. Mas será que era? Não lembro de um dia ter visto uma coruja branca.
Me transformei em dragão, e usei minha visão ampliada para enxergar melhor. Não era uma coruja. Era uma coisa pior.
Um pequeno dragão branco.
Mascote de Lief.
Fechei a janela rapidamente e voltei ao normal. O quê será que eu iria fazer? Correr para avisar alguém?
Não, melhor cuidar disso sozinho.
Será que Lief, mandou seu dragão para nos espionar, e tomar informações nossas?
“Hoje não Lief. Comigo aqui, nem pensar.” Pensei.
Andei sorrateiramente até a janela e olhei para onde o pequeno dragão estava indo. Ele estava indo para a leste do meu quarto. Fui até a porta do meu quarto e a abri. Richard me encarava. Forcei para não gritar de susto, daí percebi que ela estava de olhos fechados. Ou seria “olho fechado”? Essa história de tapa-olho confunde.
Enfim, Richard ficou me encarando, depois se virou até a cozinha, pegou um biscoito, e voltou para seu quarto rapidamente.
Me recuperei do choque e segui até a cozinha.
“Uau, ela é sonâmbula. Eu não esperava por isso!” pensei enquanto caminhava.
O corredor estava escuro, mas eu já tinha decorado a localização dos móveis e das portas. A única luz que se via, era a luz do luar que saia da janela aberta do meu quarto e atravessa uma fresta da minha porta. Quando cheguei a cozinha, me certifiquei de ver pela janela.
Sim, o pequeno dragão branco, pairava sob o céu, em direção a janela que eu estava.
“Está muito escuro... Ele não deve ter me visto.” Pensei fechando a janela.
Então, me escondi em meio a escuridão. O lugar ficou no maior silêncio.
Tum.
Eu ouvi um leve barulho de passos, sob o chão de madeira. Alguém estava acordado? Ou será que é só o barulho do chão mesmo?
Tum.
Eu ouvi de novo.
Tum.
O som continuava se repetindo, mais rápido, mais forte. E então me virei para a porta que levava para fora da casa.
Tum.
O som estava vindo de lá. Alguém estava batendo na porta. E eu tenho certeza que era o dragão tentando entrar.
Olhei ao redor, procurando algo para bater nele.

-Arg, eu esqueci meu arco e minhas flechas... – reclamei.

E então lembrei que eu sabia lutar. Um pouquinho, mas sabia.
Me lembrei da “aulinha” de Lief. Ele tinha ficado bravo por eu ter conseguido passar tão facilmente. Pelo menos eu acho que era por isso que ele tinha ficado bravo.
A batida da porta ficou mais constante, até que um leve estalar rompeu o barulho das batidas, e deixou um som que ecoou por todo o lugar. A porta havia sido aberta.
Me preparei para o que viria.
Estava muito escuro, mas algo estava entrando pela casa. Então eu me alevantei e ataquei.

-AAAAAAAA! – o intruso gritou.

Continuei a golpeá-lo até ser interrompido pela luz ofuscante que se ligou.

-O quê...? – me perguntei.

-ARGH! – o intruso me atirou contra o chão. – VALEU, EU AINDA NÃO FUI ESPANCADA ESSA MADRUGADA!

Olhei ao redor. Eu não estava atacando o dragão de Lief. Eu estava atacando uma menina que eu nunca vi.

-Valeu, Selion. – Melody falou sarcasticamente. – Eu queria ter batido nela, mas você chegou primeiro. – ela continuou, ainda sarcástica.

-O quê está acontecendo? – falei envergonhado.

Kathryn apareceu atrás de Melody.

-Essa é uma das integrantes do Grand Elementra do Canadá. – Kathryn explicou aborrecida. – Ela veio nos dar uma mensagem, mas pelo jeito, quis falar pessoalmente.

-E não foi uma das minhas idéias mais brilhantes. – ela reclamou.

-Desculpa, pensei que fosse o dragão do Lief! Eu vi ele passeando aí fora, vindo pra cá.

Melody olhou pela janela, talvez tentando ver alguma coisa.

-Está ficando louco? – ela indagou.

Me sentei na cadeira mais próximo, ainda envergonhado.

“Muito bem, Selion. Foi dar um de espião e acabou batendo em uma mensageira qualquer.” Reclamei por pensamento.

-Bem, Kathryn, podemos conversar na sala? Não quero ser atacada de novo. – a menina pediu.

-Está bem... – Kathryn falou enquanto bocejava. – Mas não podia vir em um horário mais acessível?

-Foi mal, essa coisa de dormir de dia me atrapalha.

Melody foi até a geladeira e pegou um copo de água, enquanto Kathryn e a “mensageira” foram para a sala de estar.

-Quem era essa Melody? – perguntei.

-É a Ming. Ninguém que você conheça, ou vá conhecer. – ela falou.

Depois, bebeu um grande gole d’água.

-Como eu estava com sede... – ela exclamou. – Mas, e então Selion, deixa eu adivinhar, insônia?

-É... Não consegui pegar no sono. – reclamei. – Devo estar parecendo bem cansado.

-Na verdade não. Mas que idéia foi essa de dar uma de guarda noturno? Nós temos sistema de segurança. – Melody perguntou, bebendo outro gole de água.

-Nós... Temos? – perguntei.

Melody riu.
Eu sou um idiota mesmo.

-Concordo. – ela riu.

-PARA DE LER MINHA MENTE!

-Shhh. Calma, senão acorda os outros. – Melody lembrou.

-Agora é meio tarde. – Adrian falou, perto da porta, coçando o olho.

-Isso é uma festa do pijama ou o quê? – Blanorcana perguntou.

-O quê vocês dois faziam aqui sozinhos...? – Misake perguntou com um olhar estranho.

Eu e Melody o encaramos com raiva.

“Pronto. Era o quê faltava. A mente de poluída de um qualquer pra completar a noite.” Pensei bravo.

-Você ainda estava aqui? Nem notei. – Melody riu.

-Que inteligente. – Misake reclamou.

A porta da sala bateu forte contra a parede, e Kathryn apareceu com uma cara assustada.

-Pessoal, estamos com problemas.

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