terça-feira, 27 de outubro de 2015

Agradecimentos

As Pedras de Elementra foi finalmente finalizado. Chegamos ao primeiro final! Parabéns para nós!
Sim, NÓS.
Desde 2012 (ou seria mais tempo?) eu, Zac, venho trabalhando na primeira obra de minha vida: As Pedras de Elementra. O primeiro livro ou seriam dois? da série Elementra, que será seguido algum dia por (até o momento): O Clone de Elementra, A Manopla de Elementra, O Eclipse de Elementra e O Elementra Negro.
Pretendo fazer cada um deles, mas em seu devido tempo.
Eu me esforcei bastante e consegui finalizar o livro em Outubro de 2015, certo? Certo. 
Eu devo muito a um seleto grupo de pessoas por isso. 
Quem escreveu fui eu, mas as pessoas que realmente merecem aplausos são vocês que me apoiaram e me incentivaram durante todo esse tempo. 
Vamos começar por ordem.
Tudo começou no Transformice. "Um jogo de ratos". Plataforma onde conheci pessoas muito importantes em minha vida e que pretendo manter relações para sempre. Em especial, temos aquelas que além de me inspirarem, foram de grande significância para a progressão de Elementra: 
Juh, Cah e Sig.
(Juh, caso esteja lendo isso
vá para o final do post)

Seus RPG's, seu interesse em ler o que escrevi... Obrigado por tudo. Por mais que eu não fale mais com a Sig, saiba que ainda a agradeço por ajudar isso a começar.
E... Não há palavras que expliquem o quanto vocês, Juh e Cah, significaram para mim. Não só em minha vida literária, mas também em minha vida-vida.
Vocês ficarão no meu coração para sempre, suas diwas.
Sei que é um parágrafo meio pequeno, e vocês merecem sim muito mais, porém eu não consigo expressar minha gratidão. Espero que meus futuros capítulos possam animar vocês e recompensá-las por me aguentarem ajudarem por tanto tempo. Sinto muito se dependi demais de vocês em algum momento ><

Ainda falando do Mice, não pense que esqueci de todas as outras pessoas que, além de fazerem parte do processo, participaram da obra. Eu agradeço vocês por tudo!

Bea = Troian
Safi = Blanorcana
Túlio = Adrian (por mais que tenhamos passado um bom tempo brigando e discutindo, ainda considero você)
Flynn
Zeca = Grandark
Micku = Lief
Ivi = Misake
Dih
Fany = Richard (agradecimentos especiais por ter projetado o blog)
Gabriel = Éolo (desculpe se enganei seu personagem... não o vejo a séculos)

Arigato, minna! 
Há mais gente que se encaixa nessa lista, eu sei, mas minha memória falha acabou engolindo um desses nomes, espero que entendam.

Fora isso, ainda temos pessoas novas que começaram a me apoiar. Obrigado por tudo, iu-kunsenpai.

É uma homenagem simples, eu sei, mas espero que vocês possam captar a mensagem: vocês foram de crucial importância para eu ter chegado tão longe! ^^


Por fim, sintam-se homenageados!
.
..
...
....
.....
......
.......
.........
...........

Peço que somente a Juh passe deste ponto. Agradeço pela colaboração.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

As Pedras de Elementra - Parte 2. Capítulo 26 - Epílogo (Capítulo Melody)

Melody
Parte 2: Vestígios.

Acordei extremamente cansada. Cada centímetro de meu corpo ainda estava dolorido, embora o motivo fosse desconhecido. Como parte de minha rotina, levantei de minha cama, vesti minhas roupas e vaguei na direção da cozinha, sentindo-me um pouco tonta. 

-Olha só quem acordou. - uma voz disse.

Esfreguei meus olhos antes de ver quem falava. Era Kathryn. 

-Bom dia. - minha voz saiu mais baixa que o habitual.

-Anotou a placa? - Kathryn esboçou sua repetitiva questão.

-Não fui atropelada, Kath. - sentei-me à mesa.

Kathryn cozinhava o café da manhã, ao lado de Sakura. Sentados à mesa junto comigo estavam: Richard (com seu olhar de tédio absoluto matinal), Blanorcana, Adrian e Frank. Alguns deles, como Blanorcana, optaram uma fruta para começar seu dia. Frank parecia muito feliz, embora odiasse acordar cedo.

-Dormiram bem? - Frank perguntou.

"Dormiram?"

-Bom, eu estou exausta, por alguma razão. Acho que dormir foi muito trabalhoso essa noite. - respondi-o.

-Fui acordada umas duas vezes. Meu ciclo de sono ficou incompleto, não gostei. - alguém disse próximo a mim.

Virei-me para trás. Mellany acordara.

-Bom dia, versão fofinha de mim. - cumprimentei-a, brincando.

Ela acertou um peteleco em minha testa e sentou-se ao meu lado.

-Você as vezes é muito malvada, sabia? - minha irmã gêmea suspirou.

Richard riu.

-Senti saudades dessa relação de vocês. - confessou.

Fazia um bom tempo que Mellany não era vista por nenhum de nós. Ela passou um tempo em Londres, junto de Misake, o namorado de Kathryn. Foram poucas as vezes que fomos visitá-los, cerca de uma vez por ano.

-Agora estamos todos reunidos. - Frank comentou - Não é fantástico?

Todos concordamos, embora não fosse durar por muito tempo. Alguns de nós teriam de partir em breve. Annie e Stephie, por exemplo, voltariam na manhã seguinte para seu país de origem. Elas foram criadas por um senhor, dono de um dojo. Ele as treinou desde pequenas e agora são mestres das artes marciais. Algum tempo atrás, foram mandadas para esta casa em um intercâmbio, através do pedido de um amigo de Kathryn. Nós as acolhemos e nos tornamos amigos. É uma pena elas precisarem partir. 
Junto delas, Raida Kasai e Yousuke partiriam. Raida é uma pessoa de grande influência em uma cidade próxima ao dojo onde vivem as duas irmãs, Annie e Stephie, e Yousuke age como um guarda-costas, por mais que Raida o trate como um filho. Ele não sabe disto, mas nos foi contada sua história. 
Quando Yousuke era criança, sua vila foi atacada por um grupo terrorista, devido a problemas que nem mesmo Raida conhecia. A vila foi incendiada durante a noite. Um grupo foi mandado para procurar sobreviventes, e entre estas pessoas estava Raida, que por fim encontrou Yousuke, o único sobrevivente. Curiosamente, ela o encontrou agarrado a uma espada. Sim, uma arma. Por mais que não a saiba usar, Yousuke a carrega para todo lugar, atualmente. Pode não parecer, mas só o ato de possuir uma arma junto consigo já é o suficiente para defender Raida.
Porém, a protegida em questão não precisa necessariamente de proteção. Igualmente a Annie e Stephie, Raida foi treinada em artes marciais e luta com armas brancas. Yousuke só faz o quê faz em forma de agradecimento, por ter sido salvo.

-Onde estão os outros? - Mellany indagou.

-Gen, Gar, Ingo e Merith estão dormindo, presumo eu. - Richard expôs.

-Annie e Stephie estão passeando pela última vez na floresta. Brincando com Wulf. - Kathryn tentou enxergá-las através da janela.

bichinho de estimação delas era um lobo cinzento.

-Está pronto. - Sakura avisou.

Momentos depois, ajudei Kathryn e Sakura a servirem os omeletes e waffles na mesa. 

-Eu que fiz os omeletes! - Sakura disse, orgulhosa - É a segunda vez essa semana, devo estar bem treinada... - ela sussurrou para si mesma.

Não entendi completamente o quê quis dizer, então achei melhor ignorar. 
Devorei a comida no mesmo ritmo habitual. Após me levantar e pôr meu prato na pia, caminhei até a mesa e encarei uma cadeira vazia.

-Algum problema, Melody? - Frank quis saber.

Ele era a pessoa mais próxima daquela cadeira.

-Quem normalmente senta aqui? - perguntei, sem saber o motivo.

-Não é como se fosse um lugar delimitado, mas... Troian. Por quê? - Kathryn terminou de beber sua água.

"Estranho... Por um momento, senti falta de alguém sentado ali. Alguém além de Troian."
Eu deveria estar realmente exausta. 

-Sabe, Melody... Você acabou de acordar e tal. As vezes, você pode acordar mas seu cérebro permanece dormindo, em algumas partes. Talvez seja só isso. - Frank sugeriu.

-É, talvez. - bocejei.

Eu não estava convencida, mas era a explicação mais sensata e lógica possível. 

-Por falar nela, está dormindo? - perguntei.

-Ela saiu a um tempo, dizendo que faria compras para hoje a noite. - Sakura respondeu.

Na noite de hoje, faríamos uma festa de despedida para Troian, Raida, Yousuke, Annie e Stephie. As chances de nos reunirmos novamente eram extremamente baixas, então decidimos deixar marcado em nossas memórias este momento, enquanto ainda o temos.
Estranhamente, eu não lembrava de quem havia tido a ideia de realizar este evento.

-Acho que vou voltar para o meu quarto. Não temos aula hoje, certo? - andei em direção do corredor.

Sakura procurou o calendário. Ao encontrá-lo, respondeu:

-Sim, hoje é sábado.

Agradeci e caminhei de volta para meu quarto, fechando a porta no instante em que entrei. Os segundos de diferença entre o entrar no quarto e o deitar na cama foram mínimos. Desabei por cima dela.
Meu corpo ainda doía. Ficar de pé era algo realmente difícil.
Peguei meu celular e o liguei.

-Nove horas da manhã. - disse para mim mesma.

Pluguei os fones de ouvido e coloquei uma música para tocar. Fiquei ouvindo-a em silêncio. Eu tentava relaxa. Eu encarava a parede. Até que as luzes foram diminuindo. E em algum momento tudo apagou.

...

Meu sonho foi um compilado de imagens rápidas. Em sequência, vi a mim junto de uma pessoa desconhecida. O rosto desta pessoa estava apagado, mas eu com certeza o conhecia. Eu vi ele, eu e Kathryn em algumas cenas. Rimos juntos. Choramos juntos. Lutamos juntos. Sim, lutamos. Aquelas imagens expunham um mundo onde eu possuía algo como super-poderes. Eu era como uma usuária de magia. Louco, não é? Talvez, não. Parecia um mundo bem legal.
Algumas imagens me trouxeram sentimentos estranhos. Indignação, confusão, arrependimento e dor são alguns exemplos. Além dos sentimentos ruins, eu só sentia boas vibrações daquelas figuras. Mas em todas elas, o rosto dele estava borrado. 
Em algum momento, as imagens ganharam vida. 
Um monstro escamado olhava para mim.

-Eu agora entendi o que sinto por você. - ele disse - Eu amo você, Melody.

Fogo rodeava seu corpo em um movimento circular ascendente. Sua imagem tremeluziu e desapareceu. Logo depois, tudo ficou escuro. Faíscas brilhantes iluminavam um ponto fixo na escuridão. De pouco em pouco, seu brilho foi ofuscado, imergindo-me na mais plena escuridão.

...

Mellany cutucava meu braço.

-Você dormiu de novo. - Mellany disse, ao notar meus olhos abertos - Você está bem? Está doente? 

Então, pôs a mão em minha testa.

-Eu estou bem. - obriguei-a a parar de cutucar meu braço, agarrando sua mão - Que horas são?

-Você não lembra do evento de hoje? É noite agora, Melody. 

Tirei meus fones de ouvido, peguei meu celular e parei a música. 

-Eu tive um sonho. Você e Kathryn estavam nele. - comentei enquanto levantava da cama.

-Prefiro não saber como foi. - Mellany estremeceu - Da última vez que eu soube sobre seu sonho, eu acabei tendo pesadelos.

-Hey, não foi um sonho ruim! - protestei.

Mellany então fez um gesto para a porta, convidando-me a sair.

-Meus sonhos não são sempre ruins. - resmunguei em um fraco murmúrio.

Caminhei ao lado de minha irmã. Durante o caminho, tentei recordar o máximo de detalhes possíveis do sonho. Minha memória parecia ter sido apagada de um momento para outro, pois eu não possuía recordação alguma do sonho. A única parte lembrada era a presença de Mellany e Kathryn. 

-Ninguém estava me esperando, certo? - indaguei.

-Bem, até mesmo Troian já chegou. É costume dela atrasar. 

Chegamos à cozinha, onde há uma porta que concede acesso ao quintal dos fundos. Pus a mão na maçaneta e a girei devagar, tentando não chamar atenção.

-Não sinta vergonha, maninha. - Mellany me empurrou para fora.

Todos encaravam me encaravam.

-D-Desculpem o atraso. - pedi, sem graça.

Após minha fala, todos voltaram suas atenções ao que estavam fazendo. Alguns bebiam refrigerante, outros conversavam, Annie quebrava troncos com um chute no ar para mostrar suas habilidades...
Não pude deixar de ser contagiada por alegria ao ver todos sorrindo e interagindo entre si, iluminados pela luz do sol ao entardecer. 
"Eu dormi por tanto tempo assim?"
Frank veio me cumprimentar.

-Boa tarde e noite, senhoritas. - ele curvou-se de maneira extremamente desajeitada.

Frank usava suas roupas típicas: uma camisa social de mangas curtas, calças pretas e tênis monocromático. Seu curto cabelo negro havia sido penteado - eu estava presenciando uma ocasião muito rara.

-Olá, Frank. Eu percebi a falta de Gar e de Stephie... - procurei por eles - Mellany disse...

Virei-me para minha irmã, mas ela não estava mais lá. Em algum momento, ela se esgueirou para perto de Kathryn. Não entendo o motivo, mas as duas tem um certo gosto por provocar uma a outra. Sempre quando podem, aproveitam a situação para implicar. Mesmo assim, no fundo elas ainda gostam uma da outra, tenho certeza.

-Não faço ideia. - Frank procurou-os também.

O fim da tarde foi passando lentamente, parecendo durar uma estação inteira. O sol aos poucos continuou a se pôr. Quando o céu tornou-se extremamente laranja, Kathryn chamou a atenção de todos.
Antes de falar, ela tossiu.

-Pessoal, eu quero dizer algumas palavras para todos, caso permitam. 

O silêncio foi absoluto. Kathryn, então, prosseguiu.

-Nos reunimos aqui hoje para dizer adeus para Raida, Yousuke, Annie, Stephie e Troian. Como sabemos, farão sua viagem na manhã seguinte e talvez não os veremos mais por um bom tempo. As chances de estarmos todos juntos de novo são baixíssimas, mas isto todos sabemos, certo?

Alguns murmuram um "sim" como resposta. Eu ouvia suas palavras com atenção.

-Peguem seus copos, por favor. - ela pediu.

Todos fizeram como solicitado. Meu copo estava cheio pela metade de refrigerante.

-Muitos de nós estão sozinhos. Gen e Gar, por exemplo. Os dois formam sua própria família. Conhecemos a história de cada um de nós, conhecemos todos os nossos problemas e nós os aceitamos e lidamos com eles da melhor maneira possível. 

Era um discurso comovente. Lágrimas vão cair, isto é certo.

-O universo nos uniu e agora estamos aqui presentes. - Kathryn fixou seus olhos em cada um de nós, um por um - Essa casa foi construída por todos nós. Ela representa nosso refúgio, o refúgio que encontramos e formamos. Enquanto ela existir, continuará representando o símbolo de nossa união como uma grande família. 

Ouvi um som estranho. Procurei de onde vinha e encontrei Merith chorando. Gen e Ingo enxugavam suas lágrimas e a ajudavam a se acalmar.

-Então, eu, Kathryn McAllen, promovo um brinde para celebrar a existência dessa família criada e formada por nós. Quero que ela possa existir para sempre e, também, quero ninguém tenha dúvida de uma coisa: Nenhum de nós, em momento algum, estará sozinho. 

Ao término de suas palavras, um forte clarão surgiu atrás de mim. Assustada, virei-me. Um círculo de luz reluzia de cima da casa. Uma sombra era projetada na frente dele.

-It's my time to shine! - Gar apresentou-se.

Ele usava uma roupa espalhafatosa. Sua jaqueta costumeira fora trocada por uma mais comprida - pode parecer que não, mas é possível - e pela primeira vez eu o via vestindo uma camiseta. Ela era preta e mostrava um alvo bem no centro. Vestia sapatos extravagantes com espinhos nas pontas e calças rasgadas em alguns locais da perna. Gar ainda usava sua cartola, mas agora tapava parte de sua face com ela. Por baixo dela, Gar usava uma faixa, presumo eu. Ele sempre escondeu a parte superior de seu rosto, pois não havia olhos lá. Nem mesmo o buraco das órbitas. Ele nunca contou para ninguém o motivo e Gen se recusa a expô-lo.
Quando meus olhos finalmente acostumaram à luz forte, percebi de onde vinha a luz. Havia um grande holofote em cima do telhado. Misake e Stephie estavam logo atrás dele, enquanto Gar se exibia na frente.
Então, Gar andou poucos passos para trás e correu para frente, pulando o telhado. Durante o caminho, rodopiou em um salto mortal e caiu de pé no chão, com os braços erguidos, formando um Y.

-Qual a necessidade disso, irmão? - Gen quis saber.

-Ninguém viu pra onde o holofote aponta? - Gar reclamou, tentando não desfazer seu sorriso.

Seguimos a luz com os olhos. Seu brilho branco iluminava um ponto específico no gramado. Gen quase insistiu em sua pergunta mas foi interrompido quando o feixe emitido pelo holofote foi dividido em várias marcações, formando um círculo de pequenas esferas de luz. O número de esferas era igual ao de todas as pessoas presentes.

-A ideia foi minha. Não é bem mais legal brindar assim? - Gar colocou seu braço ao redor do pescoço de Gen.

Gar empurrou Gen, Merith e Ingo na direção dos círculos. Eles se posicionaram em cima das marcações. A distância entre eles era ideal para todos conseguirem brindar juntos e ao mesmo tempo. Pouco a pouco, todos assumiram seus lugares. Misake e Stephie desceram do telhado, ou melhor dizendo, Misake foi carregado enquanto Stephie pulava do telhado. Kathryn fora a última.

-Como eu disse antes... Um brinde! À nossa família! - Kathryn levantou seu copo.

-E qual o nome dessa família? - interferi.

Kathryn não sabia. Pelo seu olhar, eu facilmente identifiquei sua confusão. Todos começaram a pensar nisso. No entanto, algo veio à minha cabeça como em um estalo.

-Eu sugiro... Elementra

Vários entreolharam-se. 

-O que seria isso? - Sakura indagou.

Uma gota de suor escorria de sua testa, embora ela não tivesse corrido ou praticado qualquer ação física.

-Essa palavra veio na minha cabeça. O quê acham? 

Aparentemente, a ideia havia sido aprovada. Ninguém foi contra. 

-Espere.

Falei cedo demais.

-Acho que esse nome não fica bem sozinho. - Misake opinou.

-Elementra Immortalis? - Kathryn disse - Acho que flexionei um pouco o latim, mas... Expressa o quanto nosso grupo será eterno.

-Está perfeito, para mim. - Mellany respondeu.

Todos assentiram. 

-Então, pelo nome de nossa família, Elementra Immortalis, brindemos! - Kathryn convidou.

O tilintar de nossos copos soou alto e harmônico.

-E para finalizar a noite, pensei em assistirmos o final do pôr do sol. 

A ideia parecia boa. O sol se punha através da floresta, dando visão do planalto erguido logo ao lado da cidade. 

-Que tal uma foto? - Troian sugeriu.

-O problema é a câmera. - Blanorcana falou.

Gen e Merith trocaram olhares. Ingo foi focado pelos dois.

-Sabemos de alguém com uma câmera! - Gen se dirigiu à Ingo.

Eles começaram a brigar amigavelmente. Ingo não queria emprestar sua câmera, mas Merith e Gen fizeram o possível para o convencer. A briga deles foi expandida até os outros. Não demorou muito para Ingo estar rodeado de pessoas, sendo o centro das atenções. Ele odeia isso. Possui um certo pânico, aparentemente.
Pouquíssimos momentos depois, Ingo desistiu e correu para dentro de casa. Ele retornou pouco depois com sua câmera digital. Ela era pequena mas possuía uma lente potente e produzia imagens e vídeos em alta qualidade. 
Meus amigos iniciaram uma pequena confusão com esse lance de foto. Fiquei de lado enquanto eles decidiam como proceder.
Admirei as árvores, o pôr do sol através delas... De repente, lembrei-me de meu sonho e senti uma sensação desagradável. Algo faltava. O quê seria?
Observei meu arredor. A rua, deverás longe de nós, estava parada. As demais casas próximas, além de consideravelmente afastadas, estavam em silêncio. Meus amigos e companheiros brincavam e já arrumavam uma posição para a dita fotografia. 
"O pôr do sol está bonito." pensei.
Volto então a admirá-lo, quando uma sombra surge. No exato momento em que pus meus olhos naquela direção, vi uma pessoa. Não, não era uma pessoa, era algo diferente. Seu corpo era maior que o de um humano comum, mais encorpado também. Atrás dele, duas protuberâncias surgiam. Lentamente, elas abriram-se, revelando ser asas.

-O quê é isso? - falei, sem querer.

Desviei meu olhar por um momento. Felizmente, ninguém prestava atenção em mim. Então, voltei minha atenção àquele ser. Eu conseguia sentir seus olhos penetrando os meus. 
"O quê você é?"
Ver sua forma fez minha cabeça doer. Ele estava em meu sonho? Não, seria uma coincidência enorme, nunca seria real... não é? Eu já estava incerta.
Preparava-me para interromper esse momento hipnótico quando ele moveu-se. Levantou seu braço e abanou para mim. Uma fina camada de fogo ascendeu por seu corpo e desapareceu da mesma forma pela qual surgiu. Meu coração bateu mais forte, apertou-se.
Ele então se virou e voou para longe, sendo seguido por dois objetos não identificados. Dentro de mim, eu não queria que ele partisse. 

-Melody? - minha irmã chamou, aproximando-se de mim - Ta tudo bem?

A silhueta dele continuava em minha mente.

-Sim, sim. Desculpe. Talvez eu ainda esteja um pouco dormenta. - menti.

-Você está doente? Como pode ter tanto sono assim? - ela pôs sua mão em minha testa - Não parece estar febril.

-Eu estou bem, acredite em mim. 

Mellany estava desconfiada, mas se rendeu. Unimos-nos aos outros. Alguns fizeram pose, outros fizeram chifres naqueles amigos com quem tinham afinidade, enquanto eu simplesmente sorri. Em minha mente a dúvida ainda consumia meus neurônios. Aquele ser... ele era importante, de alguma forma. Ele era? Foi? É? Eu não sei, não havia modo de saber.
A foto foi tirada. Todos aglomeraram-se ao redor de Ingo. Ele concordara sem hesitar em tirar a foto e não participar dela.
Minha cabeça agora doía, junto de meu corpo.
O resto da noite passou rapidamente. Gar brincou com o holofote e quase cegou a todos nós. Raida, Yousuke, Annie, Stephie e Troian receberam alguns presentes, para se recordarem de nós quando estiverem em suas casas. Bebemos e comemos como se no dia seguinte enfrentássemos uma terrível guerra, da qual não sairíamos vivos - é uma comparação exagerada, eu sei.
A noite caiu e nossos homenageados preferiram descansar. Fazia sentido, pois suas viagem seria longa. Aos poucos, os demais também se retiraram. Sobraram eu, Sakura, Frank e Mellany. Guardávamos parte dos objetos usados enquanto conversávamos.

-E assim, quase perdi minha perna! - Mellany terminou de contar uma curiosa história sobre seu tempo em Londres - Nunca confie em bueiros. 

Rimos.

-Você precisa ter mais cuidado, Mel! - briguei - Não seria legal ter de carregar você pelos lugares. 

-Sei que você faria isso com prazer. Pode dizer, você ama sua irmãzinha do coração, não é? - ela se esforçou para fazer uma carinha fofa, posicionando-se em diagonal.

-Olha só, agora você admite ser a menor entre nós? - eu ri.

Ela parou um pouco para pensar na besteira dita. Provocamos gargalhadas de Sakura e Frank.

-Richard estava certa. O tratamento de vocês é divertido de assistir. - Sakura disse.

-Vocês podiam pregar peças nas pessoas... - os olhos de Frank revelavam um pingo de maldade. 

Continuamos a conversar entre nós. Quando a última mesa foi guardada, decidimos entrar e encerrar a noite. Íamos fazer isso, mas eu e Frank ouvimos sons estranhos. Sakura dispôs-se a ver quem era, junto de Frank.

-Eu vou na frente, estou armada. - Sakura sussurrou enquanto esgueirava-se ao redor da casa.

Sakura gosta de espadas. Raida treinou-a no combate e Yousuke em seu manuseio fora dele. Poucos dias atrás, Sakura ganhara uma espada de madeira dos dois - aquela que era segurada neste exato momento - , e Sakura à carregava consigo para quase todos os lugares desde então.
Fiquei junto de Mellany. Ainda conseguíamos ouvi-los, mesmo sussurrando.

-Um... Dois... - Frank contou, fazendo sinais com sua mão para Sakura.

No três, ela correu enquanto gritava "Estou armada!". Gritos de dor foram emitidos logo após. Mellany segurava meu pulso.

-HEY! Desculpe! Pare! - a voz desconhecida disse. 

Mellany e eu seguimos o mesmo caminho de Frank e Sakura. Nossa curiosidade nos incentivou a prosseguir. Chegando lá, vi um garoto ferido de cabelos pretos e olhos amarelos. Pensei já ter visto aqueles olhos antes.

-Quem é você, o quê faz aqui e o quê quer? RESPONDA RÁPIDO! - Sakura rugiu.

-Acalme-se, Sakura! - corri até ela e abaixei suas mãos.

Ela estava preparada para nocautear o rapaz indefeso.

-Ele não parece ser alguém mau. - Mellany percebeu.

-Diga quem é ou saia daqui. - Frank parecia pálido, mas provavelmente era pelo fraco brilho das lâmpadas dos postes da rua.

-Eu sou... - ele parou de falar e curvou-se para frente. 

Sakura e Frank se entreolharam e engoliram em seco. Eu não sabia o que pensar daquilo.

-Eu estou ferido e preciso de ajuda. Todos bateram a porta na minha cara e os outros nem chegaram a me ver. Por favor, me ajudem! Eu imploro! - ele mostrou seus ferimentos e suas mãos manchadas de sangue.

-Sim, podemos ajudar. - abaixei-me para ajudá-lo a levantar - Eu não consigo levantar ele sozinha, galera.

-C-Certo. - Sakura gaguejou - Vá, Frank.

Juntos, erguemos o garoto ferido e o levamos para dentro de casa. Pedi para Mellany acordar Merith e Kathryn, logo após de o sentarmos no sofá de nossa sala de estar. Sakura e Frank foram à cozinha para buscar a caixa de primeiros-socorros. Fiquei sozinha com ele. Aproveitei o momento para perguntar sobre ele.

-Desculpe ser tão direta. - pedi - Mas preciso dessa informação. Qual seu nome?

-Meu nome é Lief.

...

Após despertada, Merith cuidou dos ferimentos de Lief facilmente e o pôs para descansar em uma das camas não usadas da casa. Após este pequeno incidente, Sakura e Frank disseram que ficariam acordados por um tempo, para o caso dele precisar de algo. Eles pareciam assustados, por algum motivo.
Cansada, fui para meu quarto e desabei sobre minha cama. Caso pense que eu esqueci a silhueta vista ao sol poente, saiba que ela continuava em minha mente. Meu corpo ficava aquecido ao pensar nisso. Era uma sensação parecida à de quando se pensa em algo extremamente vergonhoso, porém a sensação não era exatamente ruim.

-Toc, toc. - alguém disse do outro lado da porta.

-Entre. - eu respondi com a cara tapada pelo travesseiro. 

A porta foi aberta. Descobri meus olhos e encontrei Gen.

-Eu não deveria estar tão tarde no seu quarto, mas tem uma coisa na minha cabeça a um tempo e você precisa saber. - Gen praticamente despejou as palavras, querendo acelerar a situação para dar o fora dali.

Calmamente, sentei na cama.

-Está tudo bem, eu não estou dormindo mesmo. Diga.

-Eu também vi, Melody. A criatura. - Gen revelou.

-Você... viu?

Ele assentiu e andou em círculos.

-E, por algum motivo, eu dei um nome a ela. 

-Você escolheu um nome? 

-Não, não é bem isso! O nome... VEIO para mim. - Gen esclareceu, pensativo e nervoso.

Sua aflição começou a me preocupar.

-Por quê está tão nervoso? 

-Deixei Merith esperando no quarto de Ingo e estou com medo dela acabar brigando comigo se descobrir aonde estou. Vamos só falar rápido, por favor.

Deixe-me explicar resumidamente: Merith sofre de um pequeno transtorno de bipolaridade. Ele não a afeta 100%, mas quando afeta acaba transformando Merith em uma versão nervosa de si. Resumidamente, é isso, usando palavras sutis.

-Certo, continue. - pedi.

-O nome Rexion veio para mim. Eu não sei explicar, é algo um pouco estranho. Tudo bem caso não acredite ou não queira usá-lo.

Gen preparava-se para sair mas eu o impedi.

-Você me viu prestando atenção naquele ser? Pensei ter sido cuidadosa.

-Eu o vi, você o viu, mas ele prestava atenção somente em você. Pude notar isso. - Gen pensou um pouco antes de prosseguir - E, Melody, pensei que talvez pudéssemos descobrir juntos o quê ele era. 

-Sim. - concordei.

-Ótimo. Agora, me desculpe mas...

-Vai logo, Gen. - apressei-o.

E então, ele correu para fora e fechou a porta atrás de si.
Desabei na cama pela terceira vez e soltei um suspiro. 

-Rexion, é? - abracei meu segundo travesseiro e fechei meus olhos.

Esse nome, de alguma forma, parecia me fazer bem, mas algo ainda faltava. Exausta, acabei caindo em sono profundo.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Unholy ✶ A Gravidade do Inferno // Piloto

Íllyasviel
Ponto 0: Casa.


-Já chegamos? - resmunguei para minha mãe.

-Pela terceira vez, não. Espere um pouco mais, Íllya. - ela respondeu irritada.

Neste momento, eu, Íllyasviel Sepharim, viajo em direção de minha cidade natal: Swil Side. De forma resumida, eu a um bom tempo mudei-me para um estado vizinho, devido a exigência do trabalho de minha mãe. Isso ocorreu a cerca de seis anos. Hoje possuo 14 anos e começo a cursar o segundo ano do ensino médio em cerca de uma semana. Antes que questione, eu já respondo: é inusitado, mas uma verdade. É possível estudar no segundo grau com esta idade.

-Está animada? - mamãe tentou superar o clima tenso deixado por sua indelicadeza.

Ela é um pouco sensível quanto a situações assim. Grita com as pessoas e logo se arrepende. 

-Um pouco nervosa. Voltar para minha antiga escola assim, sem avisar ninguém... - desabafei.

Pela janela do carro, vi árvores e mais árvores sendo deixadas para trás. Passávamos por uma larga rua rodeada por uma alta vegetação. Lembro-me de passar por este exato caminho, embora ao contrário, quando deixava a cidade anos atrás.

-Você está de acordo com os termos, certo? Como sua mãe, não gosto nada da ideia de deixá-la por conta própria, mas é preciso. Você entende, né? - ela arrumou o espelho do carro para olhar diretamente meus olhos.

Minha mãe, Diana Sepharim, trabalha como membro da polícia. O carro em que viajo neste momento nada mais é que uma viatura. O banco onde eu sento é habitado rotineiramente por ladrões e criminosos. Eu lido com isso muito bem.
Como já mencionado, mudei-me novamente por causa de seu trabalho. Ela foi transferida pois os melhores oficiais da área deixaram seus postos. Como consequência, minha mãe foi chamada para assumir a liderança.
É bizarro pensar no motivo pelo qual houve esta migração de policiais. A cidade está segura demais. Não há mortes, roubos graves, crimes ou delitos a mais de anos. Nada mesmo. Nadinha.
Porém, minha mãe agora está na chefia. Ao chegarmos, sua ideia é reforçar a segurança. Ela teme muito que esta calmaria possa ser derrubada momentaneamente.
Justamente por isso, ficarei um tempo sozinha em minha nova casa, ou melhor dizendo, antiga casa. 

-Sim, sim. - respondi.

Seus cabelos cor de caramelo estavam presos em um rabo de cavalo, e eram violentamente jogados para trás pelo vento de sua janela aberta. 
Diferente de minha mãe, meu cabelo é extremamente loiro, quase chegando ao branco. Puxei isso de meu falecido pai. 
Por alguns quilômetros permanecemos em silêncio. Assisti as árvores passarem, a única atividade possível. O ideal seria pegar meu celular e jogar alguma coisa, para deixar a viagem menos entediante, mas infelizmente eu faço parte do grupo de pessoas enjoadas que não conseguem fazer nada dentro do carro sem ficar tontas.
Eu quase caía no sono quando minha mãe chamou:

-Olhe, Íllya. 

Uma imensa placa surgia. Nela se lia, em espaçosas letras prateadas: 


Você está chegando em Swil Side. Aproveite sua estadia.

Vibrei de alegria. Estávamos perto!
Ultrapassamos a placa. Tecnicamente, já havíamos chegado.

-Eu pensei que estivesse nervosa. - mamãe apontou.

-Silêncio, deixei-me ter meu momento. 

Nós duas rimos um pouco. Continuamos a caminho de nossa casa. Minha mãe percorria todo o trajeto como se o fizesse todos os dias. Paro para admirar as casas e lojas. Estranhamente, muitas casas exibiam seu conteúdo com as portas e janelas escancaradas. Ninguém parecia temer invasores em suas casas. 
Eram quatro horas da tarde. O caminhão de mudança provavelmente já chegara. Prevejo passar o resto do dia inteiro recolhendo caixas. Com esse pensamento, suspirei profundamente. Quando voltei meus olhos à janela, reparei em um garoto. Não pense errado! Não é algo como: "Ele é tão lindo... gamei." Muito pelo contrário. Meu pensamento foi "Qual o problema dele?", pois o vivente desconhecido estava deitado na calçada com a cara virada para baixo. Pela sua posição, deduzo que ele tropeçou e caiu. O estranho está no fato de que ele não levantou. Outra anormalidade nele eram suas roupas. Vestia roupas compridas e pretas. Estamos em pleno fim de verão, o sol continua intensamente quente, e é completamente impossível entender como ele aguentava usar em seu corpo a cor mais quente existente.
Logo, ele sumiu de minha vista e de minha cabeça.
Prossegui o resto do caminho pensando no quão bem eu dormirei esta noite. 

...

Agora são dez horas da noite. Muitas caixas foram abertas, calos surgiram em minhas mãos - faça sempre o possível para convencer sua mãe a não montar os móveis sem auxílio profissional, é sério! - e meu corpo ficou sujo de poeira.
Sento-me em minha cama improvisada e encaro o espelho do outro lado do quarto. Sou então inundada de sentimentos nostálgicos. Lembro de meus antigos amigos, minha antiga escola, minha antiga vida. 
Reencontrarei todos os meus amigos de infância em breve. Espero que eles não tenham mudado muito, pensei.
Após esta fala mental, algo importante emergiu em minha cabeça. Uma memória foi puxada à tona. 
Eu reencontrarei meu melhor amigo de infância. 
Espere... Qual é seu nome?
Eu não consigo lembrar. Esforço minha mente ao máximo, faço o possível para lembrar de meus momentos com ele. Quando brincávamos juntos, quando comíamos sorvete, adivinhando o que as pessoas na rua falavam... Mas mesmo assim seu nome permanecia oculto.
Lembro-me de todos os nomes de todos os amigos, exceto o dele. Porém, sua imagem permanece fixa em minha memória. Ele possuía curtos cabelos pretos, uma pele levemente corada e olhos castanho-claro. Era a pessoa mais sorridente que se podia encontrar.
Desculpe por esquecer de você, desculpo-me em meus pensamentos.
Chego então ao meu limite. Precisava tomar um banho e dormir, pois o dia cansara-me mais que o esperado. Por sorte, mamãe adiantara o trabalho e contratou alguém para limpar o encanamento, antes abandonado, e tornar os banheiros usáveis. Estavam agora como novos. 
Banhei-me rapidamente, vesti meu pijama e deitei em meu colchão, por mais que estivesse no chão. Fecho meus olhos e começo a tentar planejar meu dia, mas o sono me abate. Caio no mais profundo sono.


...

Dois dias depois, a casa já estava em ordem. Mamãe e eu trabalhamos nela inteiramente durante esse raso tempo. O calendário marcava oito de fevereiro, uma sexta-feira. Dentro de três dias, eu voltarei à escola. Sinto-me um pouco estranha por ficar tão animada por ter aulas.

-Íllya, estou saindo. Voltarei logo. - mamãe disse, na porta da frente de nossa casa - Tenha cuidado e seja responsável.

-Pode contar comigo e blá, blá, blá. Vai logo. - encorajei-a a partir.

A porta fechou-se. Deito-me então em minha cama, soltando um longo suspiro.

-Uma tarde inteira sozinha. - murmuro - O quê fazer?

Minha real vontade é contatar alguma amiga e encontrá-la, mas meu nervosismo me impediu. É um estranho sentimento de confusão entre o fazer e não fazer. Simplesmente não consegui agir.
Por fim, acabo perdendo algum tempo jogando Frutas contra Ghouls em meu celular. Durante o jogo, recebo uma mensagem em um aplicativo não usado a um bom tempo. Eu o abro imediatamente.

A quanto tempo, Íllya. Preciso falar com vc, sua sumida! Tô esperando na praça. Lembra onde fica, certo?

Da mesma maneira que abri a mensagem, respondo-a afirmativamente. Levanto-me de minha cama e verifico o estado de meu cabelo no espelho da parede. Continuava claro e na cabeça, então estava perfeito. Analiso então minhas roupas. Eu vestia uma camisa roxa onde exibia escrito Mind Exposed com uma explosão cheia de elementos aleatórios, como letras, números e símbolos, logo atrás e uma calça jeans comum com um pequeno rasgo no joelho esquerdo - não, ela não foi comprada assim.
Minha emoção era tanta que eu quase esquecera o principal: quem havia falado comigo? Nenhum de meus amigos sabia sobre meu retorno. Leio a mensagem novamente. Não há identificação alguma, nem mesmo uma foto. 
Olhei então para o relógio no canto da tela. Duas da tarde. O quê de ruim aconteceria caso eu fosse dar uma olhada? Eu não possuo planos mesmo.
Desisti de relutar. Abri a porta e saí. Agora ao ar livre, pude sentir os calorosos raios de sol sob minha pele. O dia estava lindo, com certeza. Nem quente, nem frio, poucas nuvens no céu e uma brisa leve e suave o tornava perfeito. 
Tranco a porta de minha casa e saio caminhando com o celular no bolso. Quando passo, noto as pessoas ao redor. Todos pareciam muito contentes com suas vidas. Não havia uma sequer alma tristonha a vista. 
Sigo o caminho que me levaria ao parque mais próximo, aquele onde eu brinquei durante minha infância. Senti muito mais nostalgia ao andar por aquele trecho. 
Chega um momento em que passo por minha sorveteria preferida. Planejei visitá-la no dia seguinte.
Finalmente, chego em meu destino. 
Nervosa, sento-me em um banco no centro do pequeno parque e procuro ao redor qualquer conhecido. Não consegui reconhecer ninguém. Por outro lado, visitar aquele lugar trouxe-me boas recordações. Eu perdera meu primeiro dente caindo daquele balanço. Ai, ai... Lembranças.
Enquanto procuro pelo(a) meu amigo(a), noto um estranho garoto entre as árvores. Ele vestia-se completamente de preto e possuía um olho vendado por uma faixa vermelha. Eu o reconheci imediatamente. Era o jovem deitado no chão de cabeça para baixo do outro dia. 
Seu olho encontrava o meu. Um calafrio subiu pela minha espinha.

-Com licença, moça! - uma voz chamou.

Procurei pela dona da voz. Era uma mulher alta. Ela acenou para mim e depois apontou para uma bola em meus pés.

-Poderia chutar ela? 

-Eu não sou muito boa nisso. - avisei.

Levanto-me e chuto a bola de futebol em direção dela. O chute acaba saindo errado e fazendo uma curva, levando-o para um lugar oposto ao da senhora. 

-De qualquer jeito, obrigado. Ao menos está mais perto. - então ela correu para buscá-la, sendo seguida por uma criança.

Passado isto, volto a olhar para as árvores. O garoto desaparecera.
Resolvo esperar algum tempo. 
Não houve resultados. 
Pego meu celular e tento ligar para a pessoa, torcendo para que ela também tenha internet em seu aparelho. O telefone chama. Durante o terceiro bipe, alguém responde.

-Alo? - a pessoa do outro lado disse.

-Ahn... Olá, eu sou a Íllya. Eu estou aqui esperando no parque como pediu...

-Houve uma pequena mudança de planos, desculpe.

A ligação foi encerrada. 
Ótimo.
Respiro profundamente e solto um grande suspiro recheado de decepção. Tristonha, levanto e volto pelo mesmo caminho pelo qual vim. 
Voltei ao meu dia vago, pensei.
Enquanto voltava para casa, notei novamente a sorveteria do outro lado da rua. Coloco as mãos em meus bolsos, em busca de algum dinheiro. Sou profissional em esquecer coisas importantes em meus bolsos. Fazendo jus a isso, encontrei uma nota de cinco.
Atravesso a avenida, empolgada. 
Quem sabe eu encontre algum velho amigo lá?
Eu caminho quieta. O tempo anda mais devagar. Ao longe, altos sons começam a surgir, elevando-se cada vez mais. Buzinas e gritos histéricos.
Viro meu rosto vagarosamente. Minhas mãos são abertas, fazendo-me largar a cédula que segurava. 

-CORRA! - as vozes gritavam, desesperadas.

Meu corpo travou. Não pude mover um músculo sequer. Ao ver aquele carro vindo diretamente em minha direção, eu já soube que era meu fim. 
Ele não conseguiu frear. Continuou correndo em alta velocidade. Chegou cada vez mais perto. Até que tudo ficou escuro. Neste momento, sinto algo caloroso tocar as laterais de minha barriga. De qualquer maneira, minha consciência foi apagada.


...

-Francamente, Íllya. - uma voz conhecida diz, em voz de reclamação - Você pretende passar MESMO seu tempo DORMINDO?! - a voz quase gritava.

Levanto-me, um pouco zonza. Eu estava deitada em minha cama. Como é possível? Eu lembro nitidamente: fui acertada em cheio pelo carro. Porém, aparentemente, as forças sobrenaturais do trânsito disseram "Hoje, você vive".

-Olha só você! O que te atropelou? 

Minha mãe reclamava sem parar. Seu dia com certeza não fora bom.

-Um carro...? - respondi, incerta.

Logo me recompus. Não sinto dor alguma, porém, em compensação, minha memória não se recorda de nada sobre como cheguei em casa. Quem me trouxe de volta? Por quê? Quando? Onde estão meus ferimentos?

-Eu saio por uma tarde e te encontro nesse estado. DORMINDO. Enquanto eu trabalho duro para sustentar nós duas! - ela bateu seu pé freneticamente.

-Já entendi, já entendi. Desculpe. - decido o melhor para a situação: fingir estar bem - Aliás, o quê faz por aqui?

-Tivemos um problema na cidade, o primeiro em anos. Aparentemente, um garoto foi atropelado. O estado dele está péssimo, você não faz ideia. Ao menos você estava segura enquanto dormia... - mamãe explicou - O acidente foi próximo daqui, na frente daquela sorveteria que você gostava, lembra-se dela?

-Sim. Lembro. - faço o possível para responder sem demonstrar meu terror.

Eu sou a pessoa atropelada. 
Algo está errado. Disso eu sei.
Ainda há dois dias antes da volta às aulas. Usarei o tempo sabiamente. 

-Já passei tempo demais por aqui. Você vai ficar bem? 

-Eu sempre fico. Pode ir.

Minha mãe lança para mim um olhar desconfiado e me dá as costas, andando para fora do quarto. Agora sã e acordada, pude ver seu estado. Seus cabelos continuam presos em seu rabo de cavalo habitual. A grande diferença é sua roupa: está fardada com a típica roupa policial, roupa esta que ela odeia. Em seus pés, usa sua também típica bota de couro preta.
A porta bate atrás dela ao sair.
Imediatamente, corro para frente do espelho da parede e ergo um pouco minha camiseta.

-Como suspeitei.

As laterais de minha barriga estão vermelhas. Como havia suspeitado, eu estive naquele local na hora do acidente, mas eu ainda não sei o quê ocorreu depois.
Na manhã seguinte, irei fazer o possível para descobrir!

...

??? - Perto do quintal de Íllyasviel Sepharim

-Íllyasviel... - minha voz quase gagueja ao dizer seu nome.

Olho para minhas mãos ensanguentadas. 

-Desculpe-me. 

Viro-me na direção oposta e caminho para longe. Alguns passos depois, meu coração se contrai de maneira dolorosa. Abaixo-me e fico apoiado em meu joelho por um momento. 

-Bons sonhos. - tosso sangue no chão e volto a andar, deixando um rastro de sangue na grama por onde passo.

Isso me trará muitos problemas... 
Eu lhe imploro: não se torne um deles.