quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

As Pedras de Elementra - Origem 02


Δ. Ingo, o artesão do Vácuo


O quê são escolhidos?
Seriam pessoas melhores que outras? Pessoas mais especiais? Ou, então, seria o oposto? 
Algumas pessoas creem na teoria das pessoas serem escolhidas. Nascidas com um propósito. Albert Einstein teria sido escolhido para herdar tamanha inteligência? Hitler teria sido escolhido para gerar tamanha maldade? Os seres humanos teriam sido escolhidos para ser a espécie dominante? Coelhinhos poderiam ser os manda-chuvas do pedaço, em outra realidade.
Irei diretamente ao ponto.
E quanto a mim? Dentre tantas pessoas, com melhores capacidades e dons, por que justo eu fui selecionado?
Meu nome é Ingo Nova H.O.P.E e eu fui escolhido por... sabe-se lá o quê, para ser o herdeiro de um imenso poder. O poder do vácuo.
Normalmente, o vácuo é a ausência de matéria. Para mim, para minha tribo, ele é muito mais que isso. É uma força de poder passada de geração em geração. 
A tribo H.O.P.E (Habitat de Origem à Proteção do Elementra) é um pequeno vilarejo onde são treinados os futuros guardiões do Elementra, ou então os futuros soldados que se juntarão ao grupo Grand Elementra, ou qualquer outra filial.
E essa é a história de como eu acabei nesse grupo.


- - -

Desde o momento em que nasci, eu só conheci um único lugar. Neste lugar eu vivi, cresci e me preparei para a vida lá fora. 
Este lugar era um tribo chamada H.O.P.E, localizada em uma área isolada do mundo. Uma zona florestal onde os únicos habitantes são animais, plantas e, obviamente, os moradores da tribo. 
Durante todo esse período de minha vida, morei com meu pai: Eithan Nova H.O.P.E.
Ele sempre foi meu herói, durante todos os momentos. E ainda é.

-Vamos, Ingo! Você consegue! - meu pai encorajou.

Como sempre, ele estava lá, presente. 
Para mim, uma criança de, nesse momento, seis anos, que nunca teve a oportunidade de conhecer sua mãe, a atenção de meu pai foi extremamente importante. 
Minha mãe não conseguiu suportar, mas conseguiu me trazer ao mundo. Nesse momento de minha vida, eu acreditava que mamãe estava lá fora, em algum lugar. Haviam mentido para mim sobre sua morte. 
Em alguns anos eu descobri a verdade. Mas não tive coragem de me zangar com ninguém por ocultarem esse fato tão doloroso.

-Suas habilidades estão progredindo cada vez mais. Sei que um dia você conseguirá dominar o seu poder. - meu pai sorriu enquanto bagunçava meu cabelo.

Eu dava tudo de mim para concentrar o poder de criação do vácuo, mas obtinha nada mais além de fracassos. Porém, quanto mais eu tentava, mais minha energia se manifestava. Meus olhos e mãos brilhavam intensamente nos treinos, indicando a potência da energia do vácuo dentro de mim, por mais que eu não possuísse a técnica para a ativar.

-Estou cansado... - confessei.

-Tudo bem, Ingo. Você trabalhou duro hoje, merece um descanso. 

-Podemos comer agora? - pedi.

-Mas é claro! - meu pai se levantou.

Estávamos sentados um de frente para o outro, enquanto meu pai me dava dicas para como manusear o vácuo.
Nesse momento, eu vestia uma camiseta branca com a escritura H.O.P.E no centro, em letras verdes, e uma calça comum. Já meu pai, Eithan, vestia uma camisa cinza sem mangas, uma de suas favoritas, também com a escritura com o nome da tribo, porém com a coloração preta, e uma bermuda curta preta. 
Eu e ele eramos bastante parecidos. As cores de nossos cabelos eram praticamente idênticas - um loiro fraquíssimo, quase branco. O que nos diferenciava eram nossos olhos. Devido ao poder do vácuo, meus olhos são verde fluorescentes. Um pequeno "efeito colateral". Enquanto isso, os olhos de meu pai não possuem todo esse brilho, embora possua a mesma cor primária. 

-Alguma notícia da mamãe? - perguntei, inocentemente.

O sorriso no rosto de meu pai permaneceu. A parte debaixo de seu rosto era coberta por uma curta barba loira.

-Desculpe, Ingo, mas não tenho novas notícias dela. - meu pai disse.

Era uma verdade encoberta em uma mentira. Ele realmente não tinha novas notícias. Ninguém nunca mais teria. Entretanto, eu não sabia disso.

-Meu aniversário está chegando, não é mesmo? - corri para dentro de nossa casa.

Era um local pequeno. Uma cabana cinza com quatro cômodos - um quarto, um banheiro, uma sala e uma cozinha. 
A vila ficava no meio da floresta, mas com o uso combinado da magia dos líderes foi possível construir habitações semelhantes as das cidades comuns, além de distribuir luz e água para todos.

-Quem sabe ela apareça esse ano, não é mesmo? - meu pai adentrou a porta e a fechou logo atrás de si.

-Sim! - eu respondi, esperançoso.

-Sei que ela vai ficar orgulhosa ao ver você, Ingo! Daqui a pouco você estará dominando completamente o poder do vácuo, e poderá fazer coisas incríveis! 

Fomos para a cozinha.

-Não temos muito tempo hoje, Ingo. As pessoas sugeriram que as crianças durmam cedo hoje. - meu pai explicou.

Sua postura alegre continuava intacta. Eu sempre admirei o modo como meu pai sempre sorria, mesmo em momentos tristes. Ele distribuía uma aura de felicidade que comovia a mim e a todos à sua volta.

-Podemos sobreviver por hoje com alguns sanduíches, certo? 

Respondi afirmativamente com a cabeça e sentei em um banco, enquanto meu pai preparava a comida.

-Por que preciso dormir mais cedo hoje? - perguntei, aborrecido.

-Há uma reunião hoje, preciso comparecer. - meu pai bocejou - Essas coisas são sempre tão chatas. Você tem sorte de ficar em casa dormindo.

Eu costumava não aceitar o fato de ser excluído das reuniões e afins, mas dessa vez, algo me dizia para aceitar a situação, e foi o que fiz.
Após meu pai terminar a preparação, jantamos em silêncio. Após isso, escovei meus dentes. Durante esse processo, meu pai bagunçava o armário do quarto que compartilhávamos.

-Eu preciso me vestir um pouco mais adequado pra isso, sabe? - meu pai gargalhou, nervoso - Socorro.

Ele estava embolado em uma série de camisas.

-Gomo bez isso? - perguntei, com a boca cheia de espuma de pasta de dente.

Limpei-me e corri para ajudá-lo.

-Depois de te ajudar, eu deveria ir com você! - resmunguei.

-Ingo... - meu pai suspirou.

Eu o ajudei a desembaraçar as camisas e separei um traje mais adequado para a reunião.

-Por que é necessário vestir você assim? - indaguei.

-De vez em quando eles gostam de criar treinamentos surpresa. Nunca se sabe quando é preciso lutar. - meu pai tirou sua camisa sem mangas - Pode procurar a armadura?

Corri pela casa, à procura da armadura. Eu a encontrei jogada na cozinha.
"Nem mesmo a percebemos aí antes..."
Quando retornei ao quarto, ele estava sentado na cama de baixo de nosso beliche, vestindo um conjunto de roupa feitos de uma fibra especial, muito mais resistente que as normais e à prova de fogo, ácido e eletricidade.

-Essa coisa coça. - meu pai resmungou.

-Aqui está. - eu alcancei a armadura.

Ela era muito leve, porém resistente. Eu que a havia "construído". Certo dia, eu invoquei essas peças uma atrás da outra. Meu pai pediu para profissionais analisarem, e é de alta qualidade. Com certeza um produto feito por um artesão do vácuo.
Porém, ainda não controlo meus dons. É o mesmo de sempre. 
Meu pai terminou de vestir a armadura.

-E aí? Como estou? Está tudo certo? - meu pai rodou algumas vezes, olhando para todos os cantos da armadura, em busca de algumas falhas - Nossa, é mais leve do que eu lembrava! Bom trabalho, Ingo.

Eu sorri, demonstrando completamente o quanto eu estava convencido.

-Hey, não se ache demais! Vai acabar estragando seu caráter. - meu pai brincou.

-Eu não posso mesmo ir? - perguntei, hesitante.

Meu pai parou para pensar um pouco, chateado.
Segundos depois, ele ergueu a cabeça e revelou um sorriso.

-Vamos fazer um jogo, então. - meu pai sugeriu.

-Jogo?

-Sim. Uma aposta. Eu vou na reunião e voltarei o mais rápido possível. Você precisa... - ele olhou ao redor - subir e descer o beliche cem vezes seguidas, dar cinquenta socos exatamente centro do alvo no saco de pancada, a ponto de afundar o alvo, - ele apontou para um saco de areia preso ao teto por uma corrente, no canto do quarto - , fotografar um inseto bem de perto, correr por todos os cômodos da casa duzentas vezes e comer o último pote de sorvete da geladeira, tudo isso antes de eu voltar. 

-O quê?! Como vou fazer tudo isso?! - protestei.

-A reunião pode demorar, sabia? Você tem bastante tempo. Você pode fazer várias pausas para descansar durante o tempo. Se eu chegar antes de você completar tudo, eu venço. - ele explicou.

-E caso eu vença?

-Daí... Hm... - meu pai procurou por algum prêmio ao redor.

-Podemos pedir aos magos da vila para tentar localizar a mamãe? - perguntei, empolgado.

O sorriso de meu pai ameaçou desaparecer.

-Sim, claro. Podemos.

Vibrei de alegria.

-O seu prazo começa assim que eu sair de casa. - meu pai caminhou até a sala de estar e pôs a mão na maçaneta.

-Voltarei o mais rápido possível, viu? - meu pai pressionou, abrindo a porta - Pronto?

Peguei a câmera fotográfica na mesa da sala de estar. Tínhamos uma sempre a mão, pois gostávamos de fotografar momentos marcantes e engraçados que vivíamos. Meu pai tirava uma foto engraçada de cada objeto que eu conseguia criar a partir do vácuo. 

-Manda ver! - fiquei atento ao campo aéreo da sala, a procura de algum inseto.

-COMEÇOU! - meu pai saiu e fechou a porta.

"Vencerei! Por você, mamãe!"


...

Meia noite, marcava o relógio.
Eu estava deitado na grama, olhando o luar. 
Das tarefas impostas, só faltava tirar a foto, acertar mais alguns socos - não se preocupe, o saco de pancadas era preparado, ou seja, não era necessário grande quantidade de força para tirar sua forma, mas do mesmo jeito era o bastante para cansar - e terminar o sorvete.
Meu pai havia deixado a casa à três horas atrás. Normalmente, as reuniões não ultrapassam uma hora.

-Pai, você está demorando. - eu disse para mim mesmo - Vai acabar perdendo.

Repentinamente, comecei a ouvir vozes vindas de trás de mim. Eram crianças gritando.
Furtivamente, esgueirei-me ao redor da casa e observei a casa mais próxima.

-NÃO, NÃO, NÃO! PAPAI! - a criança gritava.

Era Yago, um mago em treinamento especializado em magias climáticas. Uma luz branca cobriu todo o interior da casa, escapando pela porta escancarada e janelas.

-O que está acontecendo? - sussurrei para mim mesmo.

Mais gritos ecoaram. Esgueirei-me para o outro lado da casa, para ver outras casas. As crianças gritavam em desespero. Não conseguiam reagir a seja lá o que estivesse dentro das casas.
E, ao longe, eu via fogo. Muito fogo. Vindo da direção da longa construção onde as reuniões eram executadas. Eu conseguia ouvir espadas colidindo umas contras as outras. Era um som muito baixo.
"Pai..."
Eu sentia que devia ir até lá e ajudá-lo, mas como? Eu era uma criança tola. Sem força, inteligência, armas, armaduras... 
E então, enquanto encarava a situação horrenda a minha frente, eu o vi. Alguém marchava na direção de minha casa. Eu não conseguia ver seu rosto, mas ele vestia uma armadura pesada e carregava consigo um enorme machado de lâmina dupla.
Segurei minha respiração e corri para os fundos da casa, onde eu esperava que ninguém me encontrasse.
Ouvi uma batida. Ele havia, provavelmente, quebrado a porta de minha casa e forçado sua entrada.

-Ô de casa? Papai chegou. - ele riu, histericamente.

"Você não é o meu pai... monstro..." fechei minha mão com força.

-Pode aparecer, criança! - eu conseguia ouvir seus passos dentro da casa - APAREÇA!

Seus passos continuavam. Eles vinham em minha direção. 
"Ele não pode me ver. Não pode"

-Eu sei que está aí! 

Seus passos pararam.

-Certo, não está aqui...

Suspirei de alívio.
E então...
Meu coração parou. A lâmina de seu machado atravessou a parede onde eu estava escorado, a pouquíssimos centímetros de minha orelha.
Assustado, minha voz falhou. Não produzi um único som.
A lâmina lentamente voltou para dentro da casa, deixando uma fenda na parede e um garotinho assustado.

-INGO! INGO! - uma voz gritava.

Vinha na mesma direção das chamas.
"Essa voz... Pai!"

-INGO, ONDE ESTÁ VOCÊ?!

Com o coração na mão, corri ao redor da casa. 
Entrei em choque, novamente, ao ver a cena. Meu pai estava com o braço ferido. Seu cabelo loiro estava pintando de vermelho - pintado de sangue - e estava chamuscado. O lado direto de seu rosto estava igualmente coberto de sangue.
A pessoas com o machado encarava meu pai.

-Eithan Nova, que honra! - o homem disse - Bela casa essa sua. 

-Cadê o Ingo? ONDE ESTÁ O INGO? - meu pai ergueu seu punho.

-Uh? Eu não o encontrei. Meu plano era torturar você para o encontrar. Vai se render sem luta, como um bom pai, não é mesmo? - o homem apoiou o machado em cima de seu ombro.

Meu pai abriu um sorriso.

-Conhecendo meu filho, sei que ele está bem. Não posso dizer o mesmo de você.

-O quê quer dizer?

O olho esquerdo de meu pai cintilou.

-Eu posso não ser agraciado com o poder do vácuo, como meu filho. Mas ainda sou da mesma linhagem! - meu pai correu na direção do homem do machado.

-Lá vem mais um... 

O homem preparou seu machado. Raízes começavam a se erguer da grama.
Minhas mãos ficaram quentes. Algo estava para ser criado pelo vácuo.
Eu senti uma descargar elétrica passando por todo o meu corpo. Aproveitei a chance e concentrei todos os meus sentimentos em minhas mãos. Uma imagem surgiu em minha mente. Era uma espécie de lança que eu nunca havia visto.

-Vácuo, faça deste item uma fonte de poder. - sussurrei - Faça deste item uma fonte de força e perseverança. Faça deste item algo que possa salvar meu pai.

Ergui minhas mãos. Uma longa linha de luz branca surgiu sob minhas mãos. Aos poucos, elas se moldou e moldou. Um mastro, uma lâmina... A lança foi criada com perfeição.
Ela era incrivelmente leve. 
"Não tenho medo!" eu disse para mim mesmo.
Lembrei das palavras que meu pai costumava dizer, quando eu tinha pesadelos: Filho, você não teme os pesadelos. Você teme sua incapacidade de vencer os pesadelos. Você sabe a maneira de vencê-los, não é mesmo?

-Sorrir. - completei, avançando alguns passos - Acreditar em sua própria força e traçar um objetivo.

Meu pai se aproximava das raízes.

-Meu objetivo é proteger meu pai e amigos! 

Meu pai apontou seu braço bom na direção do inimigo, enquanto continuava a correr.

-Explosão de poeira! - meu pai conjurou.

Um círculo foi traçado ao redor do inimigo. Uma nuvem de poeira surgiu ao seu redor, explodindo logo depois.
Neste momento, as raízes atacaram meu pai.

-PAI! - eu chamei.

Imediatamente, meu pai mudou seu olhar para mim.

-INGO, FUJA! - ele respondeu, pulando para trás, fugindo do golpe das raízes.

Elas continuaram a surgir e se multiplicar, seguindo meu pai.

-Então aí estava você. - o homem bateu seu machado com força no chão, dissipando a poeira. 

Ele parecia um pouco cansado, mas sem danos corporais.

-Eu estava te procurando. 

Apontei a lança para ele.

-Uma alabarda? O que uma criança de... qual sua idade mesmo? Bem, não importa. O que uma criança fará com uma alabarda? Cutucar minha armadura?

Sua armadura escarlate brilhava à luz do fogo.

-Eu vim para capturar você, mas eu não gosto da sua família, então resolvi matar você. - ele apontou seu machado para mim.

Eu me forcei a sorrir. Eu sentia muito medo, mas não podia deixar ele perceber isso. É o que meu pai faria.

-INGO, EU DISSE PARA FUGIR! - meu pai gritou.

Ele explodia as raízes e corria para perto quando conseguia, mas acabou ficando encurralado.
Uma nuvem de poeira cobriu ele e as raízes. Após uma explosão, ele correu em nossa direção.

-Sabe o que é interessante no meu serviço? - o homem perguntou - Quando um pai quer proteger um filho, ele fica cego.

"O quê?"
Movi meus olhos ao redor. Havia uma grande quantidade de raízes no chão logo a frente. Meu pai estava tão concentrado em mim que não as via, camufladas na grama.

-PAI, NÃO! - eu tentei avisar.

-EU PROTEGEREI VOCÊ, INGO!

-NÃO! - meus olhos lacrimejaram.

Meu pai continuou a correr.
Ele pisou em uma das raízes. As demais foram disparadas, executando meu pai. 
Vi as raízes atravessando seu corpo, atravessando sua armadura como se fosse feita de papel.
"Não era forte o bastante para aguentar um golpe direto..."
"Ele se distraiu por minha causa..."
Caí de joelhos no chão, traumatizado.

-Foi culpa sua, você sabe. - o cara de machado falou, caminhando em minha direção - Só venha comigo, está bem?

-Tá... 

-Você aceitou? Nossa, isso é inesperado. Fico feliz que possa te levar sem problemas. - o homem parou ao meu lado.

-...achando que sou idiota? - completei.

Reergui-me e golpeei-o com a lança, perfurando sua armadura em um ponto frágil.

-O-o quê? - ele estava surpreso demais para reagir.

Após o choque, ele agarrou minha lança.

-Sua alabarda não é boa o bastante. - ele retirou-a de seu peito - Eu não morrerei tão facilmente.

Ele jogou minha "alabarda" para longe.

-Tem certeza disso? 

Uma lâmina cruzou seu peito.
Atrás dele, meu pai sorria.

-P-pai? 

O inimigo caiu no chão, petrificado. Em outras palavras, ele não se movia mais. Ou seja...

-Membro da Grand Destruction bom, é membro morto. - meu pai cuspiu sangue.

-PAI! - corri até ele.

Ele caiu no chão. Seu corpo estava coberto de furos que atravessavam seu corpo.

-C-como está vivo?! Pai?! 

Ele tossiu.

-Se chama Espírito de Pó. - meu pai sorriu, tentando levar sua mão até minha cabeça, mas não possuía forças - A-antes de ser atingido, concentrei meu elementra.

-Seu... Elementra?

-Minha força vital, Ingo. - ele tossiu sangue novamente - Eu a concentrei em um ponto fixo e fiz uma projeção de meu espírito...

Olhei para trás. O verdadeiro corpo de meu pai continuava atravessado pelas raízes, morto.
O corpo que falava comigo começava a ser desintegrado.

-Pai! Não me deixe! - eu chorava, segurando sua mão - O que a mamãe vai pensar se você morrer?! Não pode morrer! Pai!
-Filho... Olhe... 

Alguém corria em nossa direção.

-Ajuda! Eles podem cuidar de você! 

Lentamente, meu pai negou com a cabeça.

-Temo que não haja mais tempo. 

Pela primeira vez na vida, o sorriso no rosto de meu pai... Ele me fazia chorar.

-Eles explicarão para você sobre o significado de H.O.P.E, o significado de elementra... - a voz de meu pai falhou.

Seu corpo da cintura para baixo havia sido desintegrado, havia se transformado em cinzas.

-Você está no caminho certo. Mais um pouco e você se tornará um grande artesão...

-Por que está dizendo essas palavras...?

-Ingo, eu tenho orgulho da pessoa que você está se tornado. Por favor... Não se afaste desse caminho.

-Não... Não...

-Eu me encontrarei com a mamãe e direi a ela o quão forte você é. O quanto seu potencial é imenso.

-PAI! 

-Ingo Nova H.O.P.E, meu filho... Eu amo você. Sei que sua mãe sente o mesmo. 

Sua cabeça agora era a única parte restante.

-Pai...

-EITHAN! INGO! - a pessoa que se aproximava correndo gritava.

A cabeça de meu pai se tornou cinzas. A pessoa que se aproximava correndo viu o corpo de meu pai preso nas raízes. Com lágrimas nos olhos, ela cortou as raízes ao mover sua mão como uma lâmina de espada. O corpo de meu pai flutuou, caindo lentamente no chão. As raízes desapareceram, mas os furos deixados... ainda estavam lá.
Corri na direção de meu pai.
A pessoa que havia deslocado seu corpo era uma mulher. 

-Ingo, não se aproxime, é perigoso! Por favor, venha...

-PAI! - eu a ignorei completamente.

Debrucei-me no chão e segurei sua mão.

-Não consigo acreditar...

E gritei de dor a plenos pulmões.
A moça ajoelhou-se ao meu lado. 

-ALI ESTÃO ELES! - alguém avisou.

Mais inimigos estavam chegando. Todos armados.

-Ingo, precisamos ir. - a moça tentou me levantar, mas eu não permiti.

-Não vou deixar meu pai! Prefiro morrer com ele!

-Ele gastou seu último suspiro de vida para deixar você viver, não desonre seu sacrifício! - a moça brigou.

-Eu nem mesmo sei quem é você!

Após olhar para ela, vi sua armadura feminina e sua espada. Ela não cortou as raízes com um movimento mágico. Ela cortara com sua espada tão rápido, que eu nem mesmo consegui perceber sua espada.

-Por favor, Ingo...

-Estão cercados! - um dos guerreiros inimigos disse.

-DEIXE-ME! - gritei.

-Perdão, Ingo... - a moça agarrou minha mão.

Tudo ao redor desapareceu por uma fração de segundo. Quando percebi, estava segurando um punhado de terra.

-O quê você fez...?

-Eu salvei sua vida.

-Quem é você? Como fez isso? DEVOLVA MEU PAI! - eu implorei.

-Não podemos voltar lá, Ingo. - ela tentou ser sensível, mas não parecia boa nisso.

Antes de conseguir protestar, alguém chamou a moça, interrompendo-me.

-Raida! Você finalmente voltou! - um jovem de cabelo acinzentado e olhos azuis surgiu correndo.

Ele segurava uma espada semelhante a da mulher.

-Ingo, sinto dizer isso. A tribo H.O.P.E foi dizimada. 

"O quê?" o choque me impediu de pronunciar qualquer palavra. 

-Esta é a sede do Grand Elementra do Japão, o Majestic Elementra. Você foi o último que sobrou de H.O.P.E, Ingo Nova. 

Arrasado, permaneci abaixado no chão.
A mulher se aproximou e me abraçou.

-Eu sinto muito.


~~~

Os dias após essa notícia foram um inferno para mim. 
Eu levei tempo, mas consegui superar minha perda, sem esquecê-la. 
Meu pai sempre esteve presente em minha vida, e agora eu o mantenho presente em minhas memórias. 
O tempo me trouxe amigos e pessoas com quem eu posso confiar. 
Em honra a tribo H.O.P.E, Habitat de Origem à Proteção do Elementra, eu, Ingo Nova, mantenho-me firme e vivo. O sacrifício de meu pai não foi em vão, tenho certeza disso. 
Dominarei o poder do vácuo e farei a linhagem continuar!
Mas, houveram complicações...

- - - - -

-O quê vocês farão depois da aula? - Gen perguntou.

-Eu estava pensando em entrar para algum clube... - revelei.

-Essa me parece uma boa ideia! - Merith levantou sua voz - Ops, desculpe.

-Você se deixa levar pelos sentimentos bem fácil, não é mesmo? - Sakura riu.

-Ei! - Merith protestou - Não é bem assim!

-Talvez tenha um clube em que todos possamos participar... - Gen refletiu.

Era nove horas da manhã. Havia uma pausa entre as aulas neste momento.
Meu pequeno grupo de amigos e eu conversávamos sobre nossos planos. Estávamos reunidos ao redor da carteira de Gen Nightmare Baku. Podemos classificá-lo como meu melhor amigo.

-Eu pensei no clube de fotografia... - confessei.

Sakura me olhou meio estranho.

-Esse clube não é misturado com o clube de ciências? Sei que eles gostam de fotografar insetos e outras coisas incomuns...

-Você gosta mesmo de fotografia, não é mesmo? - Merith notou - Tem algum motivo para isso?

Pensei. Estranhamente, eu não sabia o porquê do meu gosto por fotografias.

-Eu não sei, mas eu só gosto de fotografar. - dei de ombros.

-Inclusive insetos, não é mesmo?

-Bem, eu acho eles interessantes. São criaturas que não conseguimos admirar no dia-a-dia. Eles possuem tantos detalhes em seu corpo que nunca vemos por causa de seu tamanho. Através da fotografia, podemos admirar isso. - expus. 

-Isso pareceu um pouco nerd... - Sakura notificou.

-Bom, cada um tem seus gostos. - Merith sentou-se na cadeira mais próxima - Mas eu quero passar longe desse clube, obrigada. 

-Já que estamos falando de manias estranhas do Ingo... - Gen abriu um sorriso malicioso.

Eu o cutuquei.

-Estou brincando, calma. - Gen soltou uma gargalhada.

-Olha só, Merith. Conseguimos fazer os dois se abrirem um pouco. - Sakura levantou a palma de sua mão.

Merith bateu sua palma com a dela.

-A dupla mais séria do colégio sabe demonstrar sentimentos agora, é um progresso.

-Parem com isso. - protestei.

Conversamos até o sinal tocar. Após isso, tivemos mais aula.
Eu e Gen somos conhecidos por não demonstrarmos muitas emoções, mas posso garantir que é somente aos olhos do público. Somos relativamente tímidos, afinal.
E, quanto as manias que Gen iria citar caso não fosse interrompido, ele mencionaria algumas atividades noturnas que faço diariamente. Não sei quando isso começou, mas meu dia não fica completo sem isso. 
Ao fim de cada dia, preciso praticar socos algumas vezes - e para isso eu possuo um saco de pancadas em meu quarto - e verificar se não há nada do outro lado da janela - mas isso é culpa da minha fobia de ser observado por... bem... não importa o que é, prefiro não falar sobre.

-Hey, Ingo. - Merith sussurrou.

Meu corpo se arrepiou. Ela cutucou meu pescoço de um momento para o outro. 
"Merith quer falar comigo? Diretamente comigo? No meio da aula? O que será que eu posso fazer por ela?"

-S-sim? 

-Minha borracha caiu. - ela apontou.

"Ah, claro."
Alcancei a borracha para ela.

-Obrigada. - ela sorriu.

Senti meu rosto ficar quente.

-Ingo?

Virei meu rosto de volta para a lousa. A professora copiava um texto sobre regras de português e erros mais comuns cometidos por alunos.

-Ta tudo bem? - Merith perguntou.

-Aham... - suspirei.

"Algum dia."
"Algum dia..."

Nenhum comentário

Postar um comentário