12. Miragens de um pesadelo.
Parte 1.
Abri meus olhos devagar.
Parecia que havíamos desmaiado ou algo assim. Eu sentia uma dor de cabeça
terrível.
-Melody...? – chamei por
ela, um pouco zonzo.
Tudo ao redor parecia
tremer e minha visão estava embaçada, mas eu consegui avistar Melody. Ela
estava um pouco perto de mim, deitada no chão ainda inconsciente. Tentei me
levantar, mas fui detido por uma força estranha. Rastejei até ela e tentei
acordá-la.
Ela acordou depressa e
piscou algumas vezes.
-S-Selion? Onde estamos?
– ela passou a mão na cabeça.
A gravidade daquele lugar
parecia mais forte, nos empurrando para baixo. Tudo tremia e girava ao redor.
Melody parecia estar afetada por isso também. Tentei me levantar, mas a
gravidade era mais forte do que eu. Me transformei em dragão, e usei a força
extra obtida para me levantar. Consegui com muito esforço.
O estranho foi que ao
conseguir me levantar a tontura e a dor de cabeça passaram. Melody parecia
estar sofrendo mais do que eu estava, e tentava se levantar mas sem obter
sucesso. Peguei sua mão e a ajudei.
-Que lugar é esse? Onde
nós estamos? – Melody perguntou, enquanto esfregava seus olhos.
-Eu não sei. – observei
ao meu redor.
Estávamos em uma espécie
de clareira, cercados de árvore muito altas (muito altas mesmo!) e com uma
enorme lua vermelha sob nossas cabeças. Sua cor era muito viva, parecia sangue,
e a lua parecia pulsar no céu noturno negro. Não havia espaço entre as árvores,
e elas se estendiam em direção a lua, nos prendendo em um grande círculo.
-Não temos tempo pra
perder aqui! Vamos tentar voar lá para cima. – sugeri.
-Espere... O quê é
aquilo? – Melody apontou para um ponto negro se movendo no ar.
Desviei minha atenção
para o pequeno ponto preto se aproximando. Ele certamente não era amigável.
-Melody... Melhor se
afastar dele... – alertei.
-Não se preocupe... Eu já
percebi isso...
Nós dois andávamos de
costas. O ponto nos seguia e se tornava cada vez maior conforme nós fugíamos
dele. Estava claro que não era algo bom. Eu continuava me afastando, mas chegou
um ponto que eu não podia mais. Bati minhas costas nas árvores e senti uma dor
repentina. Me virei para elas e notei que elas estavam cheias de espinhos. Passei
a mão nas minhas costas. Elas estavam sangrando.
-Melody! Não toque nas
árvores! – escondi a dor que eu sentia para alertá-la.
Ela parou bruscamente
antes de se machucar como eu.
-Espinhos... Essas
árvores tinham isso antes? Espera... Você se feriu? – ela quis saber.
-Não, me virei a tempo. –
menti com um sorriso falso, escondendo minha dor.
“Não é hora para pensar
em ferimentos! Precisamos sair daqui!” pensei comigo mesmo.
Ouvi uma risada curta e
abafada. Não fui eu, nem Melody. Será que vinha do ponto negro nos seguindo?
Notei que ele estava do
nosso tamanho agora, e estava cada vez mais próximo. As árvores tapavam nossas
cabeças, não havia como sair sem se machucar. Só havia uma opção.
Me aproximei do círculo
enorme.
-Selion? O quê pretende
fazer? – Melody perguntou.
-Uma grande besteira. –
caminhei até o ponto.
Estiquei minha mão até
ele e o toquei. Uma luz negra cobriu o lugar, e desviou a luz vermelha da lua.
Minha voz e a de Melody foram abafadas e nossos olhos foram obrigados a se
fechar.
A gravidade aumentou
novamente, mas não fui jogado no chão.
Isso durou por alguns
segundos, mas logo isso passou.
-O quê foi isso...? –
perguntei quando meus olhos se abriram.
Melody olhava espantada
para algo atrás de mim. Já presumi que não tinha nenhum sorvete ou pudim lá. Me
virei depressa, e notei um monte de sombras. Sombras com o meu tamanho e
formato.
-Como...? – tentei
entender o que acontecia ali.
Milhares de sombras.
Algumas com mãos e braços de dragão, outras com arcos apontados para nós.
-Isso não pode estar
acontecendo... – Melody disse surpresa.
Os Selion’s em modo
dragão rugiram ao mesmo tempo, numa frequência que feriu meus ouvidos. Fui
forçado a tapar meus ouvidos e recuar para trás. Mas logo voltei e encarei
todos eles.
-São só sombras... Não
podem fazer como o original! – falei comigo mesmo e joguei bolas de fogo contra
alguns deles.
O fogo simplesmente
passou por eles sem atingi-los. Algumas sombras recuaram um pouco por causa
disso, mas não as afetou muito.
-O fogo virou inútil
contra vocês também?! – reclamei.
-Talvez sejam só
ilusões... Que não possam nos ferir... – Melody se aproximou de mim.
-Tudo que eu sei, é que
NÓS não podemos feri-los!
Melody conjurou uma
espécie de lanças de gelo no ar e as jogo em direção das sombras. Quando elas
os atingiram, elas explodiram iluminando o lugar. Todas as sombras continuaram
lá, e para minha surpresa, mais apareceram.
-Essa não...
Todas as sombras
começaram a se mover subitamente. Os com arcos e flechas miraram para o céu,
prontos para atacar, e os metade dragão começaram a caminhar devagar, com um
fogo negro cobrindo seu corpo.
“Existe a possibilidade
de eles não nos atingirem... Mas eu acho que não é uma boa ideia contar com
isso.” Pensei.
“O quê eu posso fazer?”
Estávamos em um lugar
desconhecido, sem contato com ninguém. Não podíamos voar, senão seríamos atingidos
pelas flechas, ou talvez não... Mas era perigoso arriscar. E se ficássemos
corríamos o risco de ser atingidos pelos Selion’s dragões. Só havia uma coisa a
ser feita. Corri até a direção da sombra mais próxima.
-Selion?! O quê você vai
fazer?! – Melody perguntou.
-Tirar a prova. –
respondi seguindo em frente.
Ela apareceu na minha
frente me impedindo de continuar. Por um segundo pensei ter visto seu corpo
coberto pelas sombras, mas o lugar estava escuro, meus olhos provavelmente
estavam me enganando.
-Selion, isso é muito
arriscado! Você viu o quê aconteceu da última vez que você tentou as coisas só
pioraram. Eles agem devagar, temos um tempo para pensar... – ela explicou.
Ela poderia ter razão.
Mas esse porém estava me matando! Talvez sejam só hologramas! Talvez nós
estejamos tomando cuidado pra nada!
De repente, a expressão
de Melody mudou.
-Melody...? Está tudo
bem? – perguntei.
Ela pareceu fraca por um
instante, e seus olhos perderam o foco.
-M-melody?
Ela começou a cair, mas
eu a segurei antes que caísse.
-O quê deu em você?
Melody? – chamei-a.
-S-Selion... – ela
respondeu.
Olhei para trás dela. Uma
de minhas sombras estava atrás dela, com uma expressão maligna no rosto.
Eu liguei os pontos.
-MELODY?! – eu a virei e
vi suas costas.
Uma flecha atravessava
suas costas, mas estava invisível do outro lado. Cheguei perto dela. Ela não
estava respirando.
-Não... Não... Não... –
eu a abracei, em choque.
Isso não podia estar
acontecendo. Eu não sabia o que fazer, nem o que pensar. Eu entrei em colapso.
-MELODY! – eu gritei seu
nome com lágrimas escorrendo pelos meus olhos.
Algo mudou dentro de mim.
Uma raiva que eu nunca havia sentido antes floresceu. Quando notei, meu corpo
estava pegando fogo. Minhas garras estavam maiores do que nunca e minhas
escamas estavam vermelho-sangue. Eu sentia um misto de dor e raiva.
Mais lágrimas escorreram
pelo meu rosto. Olhei para cima e notei que estava cercado pelas sombras. Elas
não hesitaram. E nem eu.
Nos atacaram com fogo. Um
fogo negro que escureceu toda a minha visão. Meu corpo se encheu de chamas, e
cobriu a mim e a Melody, nos protegendo.
“Eles a mataram... Eles a
tiraram de mim...”
Eu a coloquei no chão com
cuidado e me levantei. Eu não iria perdoar, seja lá quem ou o quê criou aquelas
sombras.
-VOCÊ NÃO MERECE VIVER! –
meu fogo se espalhou por toda a área.
As árvores começaram a
pegar fogo, e a sombra da lua sangrenta tremulava sobre mim. Eu fui em direção
das sombras, sem poder controlar meus movimentos, e tentei acertá-las. Minhas
mãos atravessaram as sombras e eu caí no chão. Me levantei rapidamente a tempo
de fugir de um monte de flechas sombrias que caíam do céu. Voltei a me
concentrar no fogo, jogando bolas de fogo contra as sombras. Quando o fogo os
atingia seus corpos de sombras tremiam, e pareciam se tornar mais fracos por um
instante, mas logo depois voltavam ao normal. Tudo aquilo era inútil? Eu não
tenho certeza. Eu não conseguia raciocinar direito.
Eu vi Melody deitada no
chão, sem vida. Ver aquilo partia meu coração e ao mesmo tempo me fazia perder
mais o controle.
Eu sabia o quê estava
acontecendo... Eu só temia admitir.
As sombras me
encurralaram. Corri na direção delas, pois sabia que eu as atravessaria, e
então meus ataques continuariam. Mas não foi assim que aconteceu. Bati com tudo
nas sombras. Elas haviam se tornado sólidas. Levantei voo para escapar, mas
várias flechas apareceram, e quase me acertaram. Eu voltei ao solo. Eu estava
indefeso? Não.
Uma bola de fogo se
formou ao redor de mim, e explodiu logo em seguida. Isso deteve
as sombras por alguns instantes. O suficiente para eu escapar e contra-atacar.
Eu queria vingá-la. Eu
queria matar todas essas sombras, e a pessoa ou coisa que está atrás delas. Eu
estava fazendo o certo! Não é?
Uma flecha atingiu minha
perna. Rugi de dor. Eu cheguei ao meu limite. Meu corpo começou a ferver, e as
flechas que o atravessavam começaram a desintegrar. Uma bola de fogo começou a
se formar em volta de mim. Mas ela não parava de crescer, e eu não controlava
minhas ações. Logo, toda a clareira estaria coberta de fogo. Isso exterminaria
as sombras? Isso era o que eu queria... Certo? Não... Se eu fizesse isso,
Melody seria levada embora para sempre... Talvez ainda tenha uma esperança para
ela!
A esfera incandescente ao
meu redor começou a ficar mais próxima do chão. As sombras atacavam, mas eu não
era atingido, e o fogo não diminuía. Eu precisava retomar o controle, ou então
eu a perderia para sempre.
-Selion... Pare com
isso... – falei comigo mesmo.
Não. Eu não conseguia me
controlar! Eu precisava dar um jeito. Mas como? COMO?!
De repente, ouvi um som
diferente. Era um grito? E de quem seria essa voz...? Melody...?
Nenhum comentário
Postar um comentário