4. Qual o seu
nome?
Nos distanciamos da
porta, e nos escondemos em meio as máquinas e aparelhos. Conseguíamos ouvir os
passos daquilo que se aproximava. Eu me perguntava o que estava se aproximando.
Poderia ser Kathryn?
“Não, claro que não, se
fosse ela, não ouviríamos esses passos pesados.”
-Ei. – sussurrei para
Magna, que estava próxima a um aparelho que parecia uma máquina de sorvete. –
Não tem um jeito de ver o quê está vindo?
Ela fez que não com a
cabeça. Suspirei chateado. Só nos restava esperar. Os passos pesados
aumentavam, e ficavam mais barulhentos a cada segundo. Até que, de um momento
para o outro, tudo ficou em
silêncio. E um barulho de sino tocou.
A porta de entrada se
abriu, mas todos nós continuamos escondidos, mantendo o elemento surpresa.
Ouvimos um assobio fino,
e o barulho alto dos passos voltou mais forte e estridente.
“O QUÊ É ISSO?!” eu me
perguntava indignado, por pensamento.
Me levantei um pouco,
curioso, e vi o quê estava fazendo todo esse barulho.
Uma menininha.Havia uma menininha com
um vestido verde saltitando pelo laboratório da Magna. Eu me levantei por
completo e resolvi chamar a atenção da menina (que pelo barulho que fazia
quando tocava o chão, devia pesar no mínimo umas cinco toneladas), mas Magna me
puxou para baixo de novo.
-É só uma garotinha, deve
estar perdida. – sussurrei.
-O quê você acha que uma
menininha faz em uma ilha vazia no meio do oceano!? Isso é suspeito! Qual seu
nome mesmo? – Magna alertou.
-Selion. – disse meu nome
chateado.
Meu nome não é difícil de
gravar.
Se bem que... Demorou pra
eu gravar o dela mesmo...
-Deixa comigo. – Polar
sussurrou.
Ele flutuou até o meio da
sala, e ficou parado como estátua. O fogo em sua cabeça parou de subir, como se
estivesse paralisado no tempo.
A menininha continuou
olhando invenções por aí, mas de costas para Polar. Então peguei uma pedrinha
que achei no chão e toquei na perna dela.
Ela se virou assustada e viu Polar. Então ela se aproximou curiosa.
Ela se virou assustada e viu Polar. Então ela se aproximou curiosa.
-O quê é você? – ela
perguntou com uma voz fofa.
Polar se manteve imóvel,
e analisava a aparência da menina, cuidadosamente.
-Alô? É vivo? – ela
repetia, cutucando Polar.
Pela expressão no rosto
de Polar, podia-se ver que os cutucões estavam machucando-o. Havia algo nela.
Algo incomum.
Decidi arriscar. Me
levantei e chamei a menina. Magna tentou me parar, mas era tarde. Ela tinha me
visto. Mas, diferente do que eu havia pensado, a menina começou a gritar
escandalosamente.
E a voz dela ecoou por
todo o laboratório. Era uma voz muito aguda, que fez com que várias coisas de
vidro no laboratório se quebrassem em muitos pedaços.
Era ensurdecedor.
Coloquei as mãos nos ouvidos, mas não adiantou muito. Andei com dificuldade,
com os ouvidos quase sangrando, até a menina, e coloquei as mãos na boca dela.
-AAAAAAAAAAAAAHHH! –
gritei de dor. – VOCÊ ME MORDEU!
A menina mostrou a língua
e se escondeu pelo laboratório, com medo.
-Espera... Eu acho que já
vi essa menina antes... – Magna murmurou.
“Só agora que você
avisa?” tive vontade de dizer.
Magna flutuou devagar até
o balcão onde a menina havia se escondido. E então, suavemente, tentou falar
com a menina.
-Oi?
A menina estava atrás de
um balcão com um computador e alguns cadernos. Eu não conseguia vê-la. Mas para
evitar que ela começasse a gritar, me mantive bem distante dela.
Eu ouvia Magna e a menina
conversarem baixinho. A menina estava chorando.
Magna passou por mim e
foi até uma pia (que eu não havia visto antes) e serviu um copo de água, e
depois foi até a menina, e deu o copo para ela.
A menina levantou-se,
hesitante, e deu um passo para o lado.O vestido da menina
estava meio rasgado, dava a impressão de que tinha usado a mesma roupa por
meses.
-Venha, querida. – Magna
convidou a menina, tranquilamente.
Magna levo-a devagar até
Melody, Polar e eu. Dei um passo a frente e cumprimentei-a.
-Oi? – sorri.
A menina chegou mais
perto.
-O-oi... – ela disse
ainda com medo.
Notei que os passos dela
não faziam mais barulho como antes
-Qual seu nome? – Melody
deu um sorriso encorajador.
A menina sussurrou algo.
Mas não consegui ouvir.
-O quê? – Melody
perguntou. – Poderia falar mais alto, por favor?
-Meu nome... – a menina
começou a falar, mas desistiu.
-O quê foi? – Melody
questionou. – Se não quiser, não precisa falar, está bem?
Lágrimas escorreram dos
olhos da menina.
-Ela não sabe seu nome. –
Magna respondeu, num tom triste de voz.
-Coitadinha... Gostaria
de um sorvete? – Melody perguntou, tentando animá-la.
-O quê é sorvete? – ela
fez uma cara de dúvida.
Eu e Melody levamos um
susto.“Ela não sabe o quê é
sorvete?!” argumentei comigo mesmo por pensamento.
-V-V-VOCÊ NÃO SABE O QUÊ
É SORVETE?! – Melody gritou assustada.
-Eu nem sei mais
diferenciar o quê é real ou não... – a menina suspirou triste.
“O quê ela quis dizer com
isso?”
-Poderia explicar? –
Magna pediu.
-Isso não importa
vocês... É uma coisa boba...
-Claro que não! Vai,
conta! – encorajei-a.
-O-ok... – a menina
concordou.
Ela pegou uma cadeira e
se sentou nela.
-Bom... Eu... Estou nessa
ilha a mais ou menos... – ela tentava lembrar.
-Mais ou menos...? –
repeti suas palavras.
-Sei lá... Entre um a
três... – ela suspirou.
-Dias? – perguntei.
-Semanas? – Polar
perguntou também.
-Meses? – Magna
continuou.
-Entre um a três mil
anos. – ela completou.
Todos nós ficamos
boquiabertos.
-Viu? É bobo... – ela
disse com um tom triste de voz.
-P-poderia especificar? –
pedi.
-A mais ou menos esse
tempo que eu disse, minha família e eu passávamos por aqui, andando de barco.
Íamos até uma ilha perto, a ilha pertencia a um sócio de meu pai, não sei por
que tínhamos que ir para lá, mas papai disse que era urgente...
Ela parou no meio da história.
Ela parecia triste.
-E o quê houve? – Polar
perguntou.
-E então, vocês podem não
acreditar, mas um monstro-marinho nos atacou... Ele... Pegou meus pais e meus
irmãos com seus tentáculos, e foi para o fundo do mar com eles... Eu fiquei
sozinha no barco. O mar levava o barco para a direção que a maré ia. Eu ficava
gritando por ajuda, desesperada e assustada. – lágrimas escorreram de seus
olhos. – Até que eu avistei essa ilha. Tentei controlar o barco, mas não sabia
como. Minhas esperanças foram embora, quando uma onda surgiu e me levou para
longe.
Eu olhava para a menina
enquanto ela contava a história. Eu comecei a compreender a tristeza dela.
-Porém, para minha sorte,
- ela continuou. – um barco enorme surgiu. Eu gritei e gritei por ajuda, até que
um homem com uma grande barba apareceu... Ele era um pescador. Ele me acolheu,
e eu expliquei o quê houve. Por mais estranho que pareça, ele acreditou em
mim... – a menina fazia pausas durante sua história, e limpava suas lágrimas. –
Ele se ofereceu em me criar, no lugar de meus pais.
Magna a abraçou.
-Mas... um dia, eu
encontrei isto... – ela tirou uma pedra do bolso.
Deu um pulo de surpresa.
Aquilo não era uma pedra normal. Tinha um formato diferente, de todas as pedras
que tinha visto até agora na ilha. Me aproximei da menina. A pedra era
transparente, e dentro dela, podia-se ver o quê parecia uma montanha.
Eu não tinha dúvidas. Era
uma pedra de Elementra.
-Guardei esta pedra
comigo, por todos os anos que vivi aqui. O tempo passava, e eu continuei assim,
igual, eu não crescia. Mas... agora, se eu largar esta pedra... – ela colocou a
pedra em cima da mesa.
O braço dela,
vagarosamente virou poeira e se desintegrou. Fiquei horrorizado.
A menina pegou a pedra de
novo e a poeira do chão flutuou até o lugar onde ficava sua mão, e se
reconstruiu.
-E-eu... – ela começou a
chorar. – Eu não sei o quê fazer. A única pessoa que conhecia neste lugar, faleceu
com o tempo. E agora estou completamente sozinha.
Melody limpou suas
lágrimas.
-Não. Você não está sozinha.
Estamos aqui com você! – Melody encorajou. – E não vamos te deixar sozinha de
novo.
A menina começou a chorar
e abraçou Melody com força.
-O-obrigado! – as
lágrimas escorriam de seus olhos cor de mel.
-Shhh... Está tudo bem
agora... – Melody a acalmou.
-Magna, como você nunca
ajudou essa menina antes?! – sussurrei para Magna.
-Eu nunca a vi! Eu quase
nunca saio da caverna. – Magna devolveu a bronca.
Olhei para a menina.
“Será que aquela é a
pedra que procuramos? Se for... Acho que temos problemas.”
-Hora de te dar um nome,
não acha? – Melody sugeriu, limpando o rosto da menina.
-P-pode ser...
-Que tal... Me ajudem
gente! – Melody pediu.
-Uh... Ana? – Polar
sugeriu.
A menina pensou, e disse
que não com a cabeça.
-Então que nome? – perguntei,
ainda pensando.
Todos nós pensávamos em
um nome legal para ela. Mas estávamos sem idéias. A sala ficou em um silêncio
mortal, até que alguém quebrou esse silêncio.
-OLIVE! – a menina gritou
contente. – Consegui lembrar de meu nome! – ela comemorava.
-Seu nome combina com seu
vestido. – eu disse.
-O quê Olive têm haver
com verde? – Magna perguntou.
-A cor oliva é um tom de
verde.
Magna ficou um pouco
irritada, mas logo passou.
“Que sentimentalismo com
as cores” brinquei em pensamento.
-Muito bem, Olive. Você
lembrou seu nome, agora eu te pergunto, posso ver sua pedra, digo, de perto? É
rapidinho, e não precisa largá-la. – Melody pediu.
A menina fez que sim com
a cabeça, e então ergueu a pedra.
Melody a analisou. Um
livro estranho apareceu em sua mão. Melody começou a folhar as páginas, até que
escolheu uma e analisou a pedra enquanto via o livro.
-Ok, pode guardá-la. –
Melody agradeceu.
Melody chegou perto de
mim, Polar e Magna e mostrou o livro aberto.
-Esta é a pedra dela. –
ela apontou pra o livro. – A pedra das rochas. Ou seja, não precisamos dela.
-Oi? Que história é essa
de pedras? – Magna perguntou.
-Depois eu explico. –
Polar disse a Magna.
Melody fechou o livro, e
ele se dispersou em cinzas e sumiu.
Me aproximei de Olive.
-Olive, você está bem
solitária aqui, não é? – perguntei.
Ela fez que sim com a
cabeça, e apertou sua pedra com força.
-Então... Você gostaria
de ir para casa conosco? – ofereci.
Ela ficou surpresa e
animada. Ela disse que sim e abraçou cada um de nós com força (literalmente).
-Obrigado! – ela abraçou
Magna, e então começou a chorar de alegria.
-Não se preocupe. Tia
Magna está aqui com você. – Magna a abraçou também.
Me senti observado. Olhei
para a porta de entrada do laboratório.
Havia alguém nos
observando. Era Kathryn. Ela se aproximou com uma cara de raiva.
-O quê pensam que estão
fazendo?! – ela perguntou brava. – TEMOS UMA MISSÃO MUITO IMPORTANTE, E VOCÊS
ESTÃO PERDENDO TEMPO BRINCANDO?!
Saí da frente dela, e
Kathryn avistou Olive.
-Quem é essa?
-Olive. Uma menina que
ficou perdida na ilha a muitos anos atrás, muitos mesmo. E estávamos
ajudando-a. – Melody explicou com um tom frio na voz.
Kathryn congelou. Levou
um tempo para entender a história. Mas ela não se deu por vencido, continuou
irritada.
-Vocês poderiam ter me
avisado! – ela respondeu com a voz falhando.
-Te ganhei nessa. –
Melody riu.
Olive olhava Kathryn com
cara de dúvida.
-Olive, essa é a Kathryn,
ela veio conosco para a ilha. – expliquei.
-Certo. Olá. – Olive
sorriu.
Kathryn a olhou da cabeça
aos pés, analisando-a, e viu suas roupas rasgadas, e sua sujeira. Então ela
acariciou a cabeça dela.
-Você vai levá-la pra
casa, não é Melody? – Kathryn perguntou para Melody, como se já soubesse que
isso aconteceria.
-Eu ia, mas o Selion teve
a idéia primeiro. – Melody respondeu.
-Hm... – Kathryn
murmurou. – Bom, podemos ir embora.
Eu lembrei que não
tínhamos conseguido a pedra ainda.
-Mas e a pedra? –
perguntei constrangido.
-Qual? Essa aqui? –
Kathryn levantou uma pedra marrom escuro, com formato triangular. – Vocês
deixaram o trabalho todo para mim.
Eu, Melody e Polar nos
desculpamos.
-Posso ir com vocês? Aqui
é muito solitário... – Magna pediu, fazendo cara de cachorro que caiu da
mudança.
-Arg, ta bem. – Kathryn
bufou.
Magna e Polar comemoraram.
“Parece que nosso grupo
aumentou.” Pensei. “Mas o quê acontecerá quando Kathryn ver a pedra de Oliver?”
Voamos para fora da
caverna. Magna segurava Olive enquanto voava. Saímos voando além do oceano, em
direção ao QG do Grand Elementra. Mas antes de ir, olhei para trás e vi pela
última vez a ilha. Ela estava cheia de montanhas irregulares, árvores caídas, e
crateras chão.
Parece que a Kathryn teve
bastante trabalho.
Continuei a voar,
seguindo Melody e Kathryn.
Depois eu e Melody
compensamos ela.
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