sábado, 19 de outubro de 2013

As Pedras de Elementra - Parte 2. Capítulo 4.


4. Qual o seu nome?


Nos distanciamos da porta, e nos escondemos em meio as máquinas e aparelhos. Conseguíamos ouvir os passos daquilo que se aproximava. Eu me perguntava o que estava se aproximando. Poderia ser Kathryn?
“Não, claro que não, se fosse ela, não ouviríamos esses passos pesados.”

-Ei. – sussurrei para Magna, que estava próxima a um aparelho que parecia uma máquina de sorvete. – Não tem um jeito de ver o quê está vindo?

Ela fez que não com a cabeça. Suspirei chateado. Só nos restava esperar. Os passos pesados aumentavam, e ficavam mais barulhentos a cada segundo. Até que, de um momento para o outro, tudo ficou em silêncio. E um barulho de sino tocou.
A porta de entrada se abriu, mas todos nós continuamos escondidos, mantendo o elemento surpresa.
Ouvimos um assobio fino, e o barulho alto dos passos voltou mais forte e estridente.
“O QUÊ É ISSO?!” eu me perguntava indignado, por pensamento.
Me levantei um pouco, curioso, e vi o quê estava fazendo todo esse barulho.
Uma menininha.Havia uma menininha com um vestido verde saltitando pelo laboratório da Magna. Eu me levantei por completo e resolvi chamar a atenção da menina (que pelo barulho que fazia quando tocava o chão, devia pesar no mínimo umas cinco toneladas), mas Magna me puxou para baixo de novo.

-É só uma garotinha, deve estar perdida. – sussurrei.

-O quê você acha que uma menininha faz em uma ilha vazia no meio do oceano!? Isso é suspeito! Qual seu nome mesmo? – Magna alertou.

-Selion. – disse meu nome chateado.

Meu nome não é difícil de gravar.
Se bem que... Demorou pra eu gravar o dela mesmo...

-Deixa comigo. – Polar sussurrou.

Ele flutuou até o meio da sala, e ficou parado como estátua. O fogo em sua cabeça parou de subir, como se estivesse paralisado no tempo.
A menininha continuou olhando invenções por aí, mas de costas para Polar. Então peguei uma pedrinha que achei no chão e toquei na perna dela.
Ela se virou assustada e viu Polar. Então ela se aproximou curiosa.

-O quê é você? – ela perguntou com uma voz fofa.

Polar se manteve imóvel, e analisava a aparência da menina, cuidadosamente.

-Alô? É vivo? – ela repetia, cutucando Polar.

Pela expressão no rosto de Polar, podia-se ver que os cutucões estavam machucando-o. Havia algo nela. Algo incomum.
Decidi arriscar. Me levantei e chamei a menina. Magna tentou me parar, mas era tarde. Ela tinha me visto. Mas, diferente do que eu havia pensado, a menina começou a gritar escandalosamente.
E a voz dela ecoou por todo o laboratório. Era uma voz muito aguda, que fez com que várias coisas de vidro no laboratório se quebrassem em muitos pedaços.
Era ensurdecedor. Coloquei as mãos nos ouvidos, mas não adiantou muito. Andei com dificuldade, com os ouvidos quase sangrando, até a menina, e coloquei as mãos na boca dela.

-AAAAAAAAAAAAAHHH! – gritei de dor. – VOCÊ ME MORDEU!

A menina mostrou a língua e se escondeu pelo laboratório, com medo.

-Espera... Eu acho que já vi essa menina antes... – Magna murmurou.

“Só agora que você avisa?” tive vontade de dizer.
Magna flutuou devagar até o balcão onde a menina havia se escondido. E então, suavemente, tentou falar com a menina.

-Oi?

A menina estava atrás de um balcão com um computador e alguns cadernos. Eu não conseguia vê-la. Mas para evitar que ela começasse a gritar, me mantive bem distante dela.
Eu ouvia Magna e a menina conversarem baixinho. A menina estava chorando.
Magna passou por mim e foi até uma pia (que eu não havia visto antes) e serviu um copo de água, e depois foi até a menina, e deu o copo para ela.
A menina levantou-se, hesitante, e deu um passo para o lado.O vestido da menina estava meio rasgado, dava a impressão de que tinha usado a mesma roupa por meses.
-Venha, querida. – Magna convidou a menina, tranquilamente.
Magna levo-a devagar até Melody, Polar e eu. Dei um passo a frente e cumprimentei-a.

-Oi? – sorri.

A menina chegou mais perto.

-O-oi... – ela disse ainda com medo.

Notei que os passos dela não faziam mais barulho como antes

-Qual seu nome? – Melody deu um sorriso encorajador.

A menina sussurrou algo. Mas não consegui ouvir.

-O quê? – Melody perguntou. – Poderia falar mais alto, por favor?

-Meu nome... – a menina começou a falar, mas desistiu.

-O quê foi? – Melody questionou. – Se não quiser, não precisa falar, está bem?

Lágrimas escorreram dos olhos da menina.

-Ela não sabe seu nome. – Magna respondeu, num tom triste de voz.

-Coitadinha... Gostaria de um sorvete? – Melody perguntou, tentando animá-la.

-O quê é sorvete? – ela fez uma cara de dúvida.

Eu e Melody levamos um susto.“Ela não sabe o quê é sorvete?!” argumentei comigo mesmo por pensamento.

-V-V-VOCÊ NÃO SABE O QUÊ É SORVETE?! – Melody gritou assustada.

-Eu nem sei mais diferenciar o quê é real ou não... – a menina suspirou triste.

“O quê ela quis dizer com isso?”

-Poderia explicar? – Magna pediu.

-Isso não importa vocês... É uma coisa boba...

-Claro que não! Vai, conta! – encorajei-a.

-O-ok... – a menina concordou.

Ela pegou uma cadeira e se sentou nela.

-Bom... Eu... Estou nessa ilha a mais ou menos... – ela tentava lembrar.

-Mais ou menos...? – repeti suas palavras.

-Sei lá... Entre um a três... – ela suspirou.

-Dias? – perguntei.

-Semanas? – Polar perguntou também.

-Meses? – Magna continuou.

-Entre um a três mil anos. – ela completou.

Todos nós ficamos boquiabertos.

-Viu? É bobo... – ela disse com um tom triste de voz.

-P-poderia especificar? – pedi.

-A mais ou menos esse tempo que eu disse, minha família e eu passávamos por aqui, andando de barco. Íamos até uma ilha perto, a ilha pertencia a um sócio de meu pai, não sei por que tínhamos que ir para lá, mas papai disse que era urgente...

Ela parou no meio da história. Ela parecia triste.

-E o quê houve? – Polar perguntou.

-E então, vocês podem não acreditar, mas um monstro-marinho nos atacou... Ele... Pegou meus pais e meus irmãos com seus tentáculos, e foi para o fundo do mar com eles... Eu fiquei sozinha no barco. O mar levava o barco para a direção que a maré ia. Eu ficava gritando por ajuda, desesperada e assustada. – lágrimas escorreram de seus olhos. – Até que eu avistei essa ilha. Tentei controlar o barco, mas não sabia como. Minhas esperanças foram embora, quando uma onda surgiu e me levou para longe.

Eu olhava para a menina enquanto ela contava a história. Eu comecei a compreender a tristeza dela.

-Porém, para minha sorte, - ela continuou. – um barco enorme surgiu. Eu gritei e gritei por ajuda, até que um homem com uma grande barba apareceu... Ele era um pescador. Ele me acolheu, e eu expliquei o quê houve. Por mais estranho que pareça, ele acreditou em mim... – a menina fazia pausas durante sua história, e limpava suas lágrimas. – Ele se ofereceu em me criar, no lugar de meus pais.

Magna a abraçou.

-Mas... um dia, eu encontrei isto... – ela tirou uma pedra do bolso.

Deu um pulo de surpresa. Aquilo não era uma pedra normal. Tinha um formato diferente, de todas as pedras que tinha visto até agora na ilha. Me aproximei da menina. A pedra era transparente, e dentro dela, podia-se ver o quê parecia uma montanha.
Eu não tinha dúvidas. Era uma pedra de Elementra.

-Guardei esta pedra comigo, por todos os anos que vivi aqui. O tempo passava, e eu continuei assim, igual, eu não crescia. Mas... agora, se eu largar esta pedra... – ela colocou a pedra em cima da mesa.

O braço dela, vagarosamente virou poeira e se desintegrou. Fiquei horrorizado.
A menina pegou a pedra de novo e a poeira do chão flutuou até o lugar onde ficava sua mão, e se reconstruiu.

-E-eu... – ela começou a chorar. – Eu não sei o quê fazer. A única pessoa que conhecia neste lugar, faleceu
com o tempo. E agora estou completamente sozinha.

Melody limpou suas lágrimas.

-Não. Você não está sozinha. Estamos aqui com você! – Melody encorajou. – E não vamos te deixar sozinha de novo.

A menina começou a chorar e abraçou Melody com força.

-O-obrigado! – as lágrimas escorriam de seus olhos cor de mel.

-Shhh... Está tudo bem agora... – Melody a acalmou.

-Magna, como você nunca ajudou essa menina antes?! – sussurrei para Magna.

-Eu nunca a vi! Eu quase nunca saio da caverna. – Magna devolveu a bronca.

Olhei para a menina.
“Será que aquela é a pedra que procuramos? Se for... Acho que temos problemas.”

-Hora de te dar um nome, não acha? – Melody sugeriu, limpando o rosto da menina.

-P-pode ser...

-Que tal... Me ajudem gente! – Melody pediu.

-Uh... Ana? – Polar sugeriu.

A menina pensou, e disse que não com a cabeça.

-Então que nome? – perguntei, ainda pensando.

Todos nós pensávamos em um nome legal para ela. Mas estávamos sem idéias. A sala ficou em um silêncio mortal, até que alguém quebrou esse silêncio.

-OLIVE! – a menina gritou contente. – Consegui lembrar de meu nome! – ela comemorava.

-Seu nome combina com seu vestido. – eu disse.

-O quê Olive têm haver com verde? – Magna perguntou.

-A cor oliva é um tom de verde.

Magna ficou um pouco irritada, mas logo passou.
“Que sentimentalismo com as cores” brinquei em pensamento.

-Muito bem, Olive. Você lembrou seu nome, agora eu te pergunto, posso ver sua pedra, digo, de perto? É
rapidinho, e não precisa largá-la. – Melody pediu.

A menina fez que sim com a cabeça, e então ergueu a pedra.
Melody a analisou. Um livro estranho apareceu em sua mão. Melody começou a folhar as páginas, até que escolheu uma e analisou a pedra enquanto via o livro.

-Ok, pode guardá-la. – Melody agradeceu.

Melody chegou perto de mim, Polar e Magna e mostrou o livro aberto.

-Esta é a pedra dela. – ela apontou pra o livro. – A pedra das rochas. Ou seja, não precisamos dela.

-Oi? Que história é essa de pedras? – Magna perguntou.

-Depois eu explico. – Polar disse a Magna.

Melody fechou o livro, e ele se dispersou em cinzas e sumiu.
Me aproximei de Olive.

-Olive, você está bem solitária aqui, não é? – perguntei.

Ela fez que sim com a cabeça, e apertou sua pedra com força.

-Então... Você gostaria de ir para casa conosco? – ofereci.

Ela ficou surpresa e animada. Ela disse que sim e abraçou cada um de nós com força (literalmente).

-Obrigado! – ela abraçou Magna, e então começou a chorar de alegria.

-Não se preocupe. Tia Magna está aqui com você. – Magna a abraçou também.

Me senti observado. Olhei para a porta de entrada do laboratório.
Havia alguém nos observando. Era Kathryn. Ela se aproximou com uma cara de raiva.

-O quê pensam que estão fazendo?! – ela perguntou brava. – TEMOS UMA MISSÃO MUITO IMPORTANTE, E VOCÊS ESTÃO PERDENDO TEMPO BRINCANDO?!

Saí da frente dela, e Kathryn avistou Olive.

-Quem é essa?

-Olive. Uma menina que ficou perdida na ilha a muitos anos atrás, muitos mesmo. E estávamos ajudando-a. – Melody explicou com um tom frio na voz.

Kathryn congelou. Levou um tempo para entender a história. Mas ela não se deu por vencido, continuou
irritada.

-Vocês poderiam ter me avisado! – ela respondeu com a voz falhando.

-Te ganhei nessa. – Melody riu.

Olive olhava Kathryn com cara de dúvida.

-Olive, essa é a Kathryn, ela veio conosco para a ilha. – expliquei.

-Certo. Olá. – Olive sorriu.

Kathryn a olhou da cabeça aos pés, analisando-a, e viu suas roupas rasgadas, e sua sujeira. Então ela acariciou a cabeça dela.

-Você vai levá-la pra casa, não é Melody? – Kathryn perguntou para Melody, como se já soubesse que isso aconteceria.

-Eu ia, mas o Selion teve a idéia primeiro. – Melody respondeu.

-Hm... – Kathryn murmurou. – Bom, podemos ir embora.

Eu lembrei que não tínhamos conseguido a pedra ainda.

-Mas e a pedra? – perguntei constrangido.

-Qual? Essa aqui? – Kathryn levantou uma pedra marrom escuro, com formato triangular. – Vocês deixaram o trabalho todo para mim.

Eu, Melody e Polar nos desculpamos.

-Posso ir com vocês? Aqui é muito solitário... – Magna pediu, fazendo cara de cachorro que caiu da mudança.

-Arg, ta bem. – Kathryn bufou.

Magna e Polar comemoraram.
“Parece que nosso grupo aumentou.” Pensei. “Mas o quê acontecerá quando Kathryn ver a pedra de Oliver?”
Voamos para fora da caverna. Magna segurava Olive enquanto voava. Saímos voando além do oceano, em direção ao QG do Grand Elementra. Mas antes de ir, olhei para trás e vi pela última vez a ilha. Ela estava cheia de montanhas irregulares, árvores caídas, e crateras chão.
Parece que a Kathryn teve bastante trabalho.
Continuei a voar, seguindo Melody e Kathryn.
Depois eu e Melody compensamos ela.

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