segunda-feira, 14 de abril de 2014

As Pedras de Elementra. Parte 2. Capítulo 9.




Selion


9. Negativismo.


-E agora...? – Sakura se perguntava deprimida. – Está tudo acabado...

Realmente... A situação não era boa... Estávamos cheios de veneno percorrendo nosso sangue, nossa companheira Blanorcana está muito ferida, perdemos todas (ou quase) as nossas pedras... E agora elas estão com o inimigo. Que sabem mais sobre elas do que a maior parte de nós. Que sabe como usá-las a seu favor.
A situação era desesperadora... O quê nós vamos dizer a Kathryn? Ela iria surtar! Ela já estava preocupada por causa do acontecido com a suposta irmã de Melody, e agora fazemos o favor de perder as pedras...
Mas não é nossa culpa, certo?

-Não devíamos ter demorado tanto... Eu atrasei vocês... Poderíamos ter chegado a tempo para impedir tudo isso de acontecer! – Sakura choramingou se culpando.
-Sakura, a culpa não foi sua. Sem você, não teríamos pego a pedra da água, e ainda por cima perderíamos de qualquer jeito todas as que já temos... Ou tínhamos... – expliquei.

-Mas o quê vamos fazer? Olhe o estado de Blanorca! – ela apontou para Blanorcana, que estava inconsciente.

-É... A situação não é boa... Mas nós não vamos desistir! Não podemos! Têm muita coisa em jogo, desistir não é uma opção! – tentei motivá-la.

Ela revirou os olhos, sentada no chão, e passou a mão pelo seu pescoço. Ela ainda deve estar sofrendo pela mordida.
Adrian estava cuidando dos ferimentos de Blanorcana, colocando curativos. A sala expelia uma energia negativa enorme, uma onda de derrota e mágoa.
Isso não estava certo... Não pode acabar assim!
Era um silêncio absoluto. Era possível sentir nosso sofrimento.
Um barulho de porta se abrindo quebrou o silêncio.

-Chegamos... – Kathryn alertou com uma voz baixa e tristonha.

Levantei em um pulo e fui até ela.

-Como se saíram? – perguntei tentando prepará-la para a grande má notícia.

-Não muito bem... – Misake entrou logo em seguida.

Perguntei o quê houve. Eles me responderam com olhares preocupados.

-O quê foi? – perguntei novamente.

-Bem... Acontece que... Nós falhamos... – Kathryn ainda tinha uma expressão preocupada.

-Tudo bem. Nós conseguimos a pedra! – eu tentei alegrá-los. – Só que... – comecei a falar,mas parei.

Notei que Melody ainda não havia aparecido.
-Ué... Cadê a Melody? – perguntei.

-Esse é o problema... Nós... Acreditamos que ela tenha sido raptada... – Kathryn estava com uma expressão mais preocupada ainda.

Sakura e Adrian apareceram atrás de mim.

-Como é? – perguntei assustada.

Eu ouvi direito?
Ela havia sido raptada?

-Você ouviu! Uma hora estava com a gente, outra não! – Kathryn respondeu irritada.

-E vocês não ficaram para procurá-la? – Adrian perguntou.

-O quê acha que a gente estava fazendo? Somos só duas pessoas, mas procuramos por todo lugar! Mas só achamos isto, - ela mostrou um pedaço de tecido. – é da camisa dela...

Mais essa agora! Além de termos perdido tudo, agora Melody estava desaparecida?! Como isso aconteceu?! Por que isso está acontecendo?! Tudo bem que estamos em uma guerra... Mas... Porque logo ela...?

-Kathryn... T-também temos uma má notícia... – Sakura fazia esforço para falar.

Sakura cutucou Adrian com o braço, pedindo para que ele falasse.

-Está bem... – Adrian deu um passo a frente. – Bem... Parece que algo aconteceu com a Richard... E ela atacou a Blanorcana e... Roubou todas as outras pedras...

Kathryn ficou paralisada.
Totalmente imóvel, com uma expressão de fúria, medo e preocupação em seu rosto.

-K-kathryn? – Misake chamou com medo da reação dela.
-C-como é...? Isso é uma brincadeira não é? Olha, não é uma boa hora para isso! – Kathryn reclamou, sem acreditar.

Sakura e Adrian saíram da frente, para que Kathryn pudesse ver o estado da sala. Ela ficou boquiaberta.

-Não... Pode ser... – lágrimas escorreram pelo seu rosto. – Isso não pode estar acontecendo...

-Não pudemos fazer nada... – Adrian tentou explicar. – Chegamos tarde demais.

Misake e Kathryn foram até a sala de estar, onde Blanorcana estava desmaiada.

-Blanorcana...! – Misake se surpreendeu.

Ele se aproximou dela e a analisou.

-Richard fez isso? – ele perguntou assustado.

-Temos quase certeza que sim... – Sakura respondeu rapidamente.

Kathryn olhava horrorizada para a sala destruída.
Misake tentou acordar Blanorcana, empurrando-a levemente. Ela só gemeu e depois voltou a seu estado de antes.

-Perdemos tudo... – Kathryn choramingou. – Perdemos a guerra... Eu... Decepcionei a todos...

Lágrimas caiam de seus olhos.
Ela se deixou cair no chão e lá ficou. Misake tentou acalmá-la, mas ela gritou com ele e depois desapareceu no ar.

-Ela... Precisa de um tempo para se acalmar... Então voltará a si... – ele explicou.

Ouvi uma porta batendo no corredor. Devia ser Kathryn se fechando no quarto para se acalmar.

-O quê faremos agora? – Sakura perguntou chateada.
-Não podemos fazer muita coisa... – Misake respondeu. – Mas vocês fizeram um bom trabalho, agora vamos descansar e amanhã sairemos atrás de Richard. Certo?

-Errado. – respondi ríspido. – Nós temos que procurar pela Melody! Ela pode estar correndo perigo!

-O mundo está correndo perigo. – ele debateu. – Melody achará um jeito de se livrar.

-O mundo tem salvação enquanto ainda tivermos a pedra da água, ele pode esperar. Não vamos deixar ninguém para trás! – reclamei.

-Selion... Não seja teimoso! Entenda isso: ela vai ficar bem, precisamos ir atrás do mais importante agora! – Misake explicou.

-E se não ficar bem? Não podemos garantir nada! Ela precisa de ajuda e se você não quiser ajudá-la, eu vou atrás dela sozinho! Eu não vou abandonar ninguém! – bufei.

-Eu concordo com o Selion. – Sakura se aproximou. – Devemos ir atrás dela.

Misake nos encarou por uns instantes.

-Por mais que vocês queiram, vocês não podem... Olha, eu também quero poder ajudar, mas não podemos. Estamos muito ocupados, Richard roubou as pedras! E além do mais, vocês acabaram de sair de uma missão, está na cara que vocês estão exaustos e fracos! E pelas marcas, foram mordidos por cobras. – Misake explicou calmamente. – Não pense que vamos deixá-la para trás, só não temos condições para isso agora.

Eu ignorei o discurso dele, não me importava. Eu já estava decidido que ia ajudá-la e ponto. Eu só precisava de uma coisa.

-Acho que vocês entenderam. Não se preocupem, vamos atrás dela assim que possível. – Misake foi até seu quarto.

Sakura e Adrian voltaram para a cozinha de cabeça baixa.
Eu olhei para o chão, onde Kathryn desapareceu, e vi o pedaço da roupa de Melody. Era só disso que eu precisava para encontrá-la.

                                                    ...

A luz pálida da lua passava pela janela e iluminava meu quarto.
Meia noite. Eu era o único acordado (até onde eu saiba pelo menos). Me levantei da cama e coloquei meu casaco.
Polar me observava no canto do quarto, flutuando quieto.

-O quê está aprontando? – perguntou num sussurro.

-Você ouviu minha conversa com Misake. Você acha mesmo que eu iria deixar pra lá como ele estava pedindo? Até parece. – respondi baixinho.

-Vai precisar de ajuda? - ele se aproximou.

Disse que não com a cabeça e andei em silêncio até o outro lado do quarto, e coloquei o pedaço de tecido de Melody no bolso.

-Você sabe que é idiotice não é? Você ainda têm veneno correndo pelo seu sangue, não se recuperou completamente. Vai acabar morrendo. – Polar falou, frio.

-Eu não ligo. Eu nunca pude ter amigos, Polar... E isso mudou agora, e não vou deixar nenhum para trás. – sussurrei.

-Como espera encontrar ela? Você nem sabe onde procurar. – Polar lembrou.

-Através do faro. Eu vou usar meu nariz de dragão para encontrá-la. – expliquei.

-Você está bem preocupado com ela não é...? – Polar riu.

-Agora é você e o Misake com isso? – reclamei.

Polar ficou quieto, mas aposto que ainda estava rindo por dentro, e pensando bobagens.

-Vai dar tudo certo. Amanhã vamos estar de volta, você vai ver. – eu abri a janela devagar e pulei por ela, depois a fechei.

-Boa sorte. – Polar desejou, e depois fechou a janela.

Minhas asas e nariz de dragão apareceram.
“Eu espero que não demore muito para encontrá-la...” pensei.
“Por onde devo ir?”
Peguei o pedaço de roupa e o farejei.
“Por aqui! Eu acho...” pensei duvidando.
Eu confio nas minhas habilidades de dragão! Sei que posso confiar nelas e que tudo acabará bem.
“Pensar negativo não vai ajudar. Só vai piorar tudo, certo? Certo!” falei comigo mesmo.
Se você diz...
Pisquei várias vezes. Pensei ter ouvido uma resposta. Fiquei atento ao meu redor. Só algumas árvores e casas.
É, foi só minha cabeça.
Farejei novamente. Desci por um pequeno morro, e continuei a andar. As casas ficaram para trás. Haviam várias árvores ao redor.
Olhei para cima enquanto andava. As estrelas estavam brilhando intensamente no céu.
Estrelas... Lembro do tempo em que elas eram minhas únicas amigas... Sempre estavam lá em cima, me observando. Ou será que era eu que observava elas?
Tropecei em alguma coisa.

-Ok... Olhar para baixo... – comecei a prestar atenção no caminho.

Vi uma coruja num galho bem alto mais a frente. Ela ficou me observando enquanto eu passava.
Farejei novamente e mudei de caminho.
Um vento frio e forte me atingiu. Estremeci. Peguei um galho e coloquei fogo nele. Usei ele como uma tocha para poder ver ao meu redor.
Mais árvores.

-É... Isso vai demorar um pouquinho.

                                                       ...

Eu já estava bem longe quando parei por um instante para descansar. No meio do caminho, o veneno na minha perna começou a me afetar, e causava um formigamento esquisito, mas eu não quis parar. Continuei em frente.
Mas agora é outra história, parada pra descansar se tornou necessária.
Olhei meu relógio. 3 horas da manhã.

-É... Andei bastante... – suspirei. – Sinto que estou quase lá! É isso aí! Pensamento positivo Selion!

Eu estava sentado em um banco, no que parecia ser uma praça. Era bem pequena, e tinha um pequeno lago com formato de círculo, entre vários outros bancos que o cercavam. A lua estava se escondendo atrás de algumas nuvens, o lugar está escuro e silencioso. Só se ouvia o barulho que o vento fazia na água.
Melody, eu espero que você não esteja muito longe...
Bebi o resto da minha garrafa de água, e a joguei no lixo.
Me levantei, pronto para continuar. Segui o rastro do cheiro do tecido. Ele estava mais forte desta vez. Eu estava chegando perto!
Corri atrás dele.
“Estou chegando! E então vamos voltar pra casa e fazer a Richard recobrar o juízo!” pensei contente.
O cheiro ficou mais forte. E então parei. Não conseguia mais andar, tinha uma espécie de armazém no caminho.
“Achei. Agora vamos pôr um fim nisso!” pensei confiante.
Empurrei o portão, e joguei fogo para o alto, para ver o local.
Vazio.
Completamente vazio.
Abri totalmente as portas, pra não correr o risco de ficar trancado, e entrei. Joguei bolas de fogo para cima e para os lados.
Não havia nada lá. Somente caixas, escadas, e uma espécie de “caminho” que podia ser acessado através das escadas, que funcionava como segundo andar.
Não havia nada nem ninguém.
E então, ouvi um ranger alto. A porta estava se fechando!

-Isso é tão clichê... – corri para fora.

Estranhamente, eu consegui a tempo, e a porta se fechou com tudo.

-Ué... Nos filmes e desenhos não acontece assim... Fui o único que não caiu nessa? – me perguntei.

Pensei em analisar aquelas caixas. Talvez ela esteja presa em uma delas. Abri bem as portas novamente, e empurrei uma caixa menor que eu para frente da porta. Assim eu não ficaria preso.
Corri até a primeira caixa que eu vi, e tentei abri-la.
A lua não estava mais coberta pelas nuvens, sua luz pálida passava pela porta e iluminava um pouco do lugar. Procurei uma fenda para abrir a caixa de papelão (depois eu me preocupava com as de madeira). Não havia nenhuma, era fechado a vácuo.
Tentei abrir do mesmo jeito. Cravei as garras na caixa e a abri.
Um gás colorido começou a sair da caixa destruída.

-O quê é isso? – me perguntei tapando o nariz rapidamente.

A luz se apagou.
Olhei para trás, as duas portas haviam se fechado completamente, e a caixa havia voltado para o mesmo lugar que estava, antes de eu movê-la.
“O quê está acontecendo?”
Uma luz muito forte no teto se acendeu de repente.
Fiquei cego por uns instantes, mas depois recobrei a visão quando me acostumei a luz.
E então, rapidamente a luz forte se apagou, causando um escuro absoluto repentínuo, e outras luzes se acenderam pouco depois, elas vinham de uma parede, mas eu não conseguia ver por causa da dor que meus olhos sentiam.
Quando voltei ao normal, notei uma silhueta no chão, um pouco perto de mim.
Uma silhueta de uma pessoa.

-Quem é? – forcei a vista para enxergar contra a luz forte.

Ela se apagou novamente, e se reacendeu atrás de mim. A silhueta também mudou de lado.

-PARE COM ISSO! – joguei fogo aos redores.

As luzes se apagaram de novo. E dessa vez se acenderam de algum lugar no chão, perto dos quatro cantos do armazém.
Eu não tinha notado, mas eu estava respirando o gás estranho! Tapei meus nariz rapidamente.

-Agora é tarde demais. – uma voz riu.

As luzes ficaram fracas, e direcionavam para uma parede. Era como uma espécie de cinema. Só que sem o filme, a pipoca, o projetor, e as pessoas chatas que ficam levantando e sentando, levantando e sentando... Quem vai no banheiro tantas vezes?!

-Quem é você?! Devolva JÁ a Melody! – exigi.

-Ora, ora. Mas a diversão mal começou. – a pessoa falou com uma voz debochada e histérica.

Eu já enxergava perfeitamente. Era um ser alto, com cabelo bem comprido que escondia seus olhos. Ele vestia uma jaqueta roxa, e calça jeans também roxa. Ele era totalmente pálido. Sua jaqueta estava aberta, e ele não usava camisa, ou roupa alguma por baixo dela. Será que era ele que tinha raptado a Melody? Ou será só algum vilão idiota qualquer? Ou pior, um idiota qualquer sem poder algum que está me fazendo perder tempo?

-Olha, eu estou ocupado. Me deixe ir embora, AGORA! – ordenei.

-Mas você ainda nem participou do show! – ele pulou e parou de pé em uma pose meio estranha, a vários metros na minha frente.

-Quem é você? – falei me transformando.

-Calminha, dragão esquentadinho. – ele riu.

Ele ia continuar a falar, mas começou a morrer de rir da própria piada, como se ela tivesse sido muito engraçada.
Grand Destruction virou um hospício agora?

-Ai, ai... Mas voltando, eu ainda não me apresentei não é? – ele estava chorando de tanto rir.

Dava para ver as lágrimas escorrendo pelo rosto, embora a franja cobrisse totalmente seus olhos.
-Eu sou Gar. – ele se curvou de uma maneira estranha. – Gar Nightmare Baku, o devorador de sonhos! E agora você se pergunta, porque devorador de sonhos?

-Na verdade, não. – me virei de costas e tentei abrir os portões.

-O QUÊ ESTÁ FAZENDO?! ISSO NÃO FAZ PARTE DO SHOW! – Gar reclamou.

-Não me lembro de ter feito audição nenhuma. – usei as garras para tentar abri-los, mas não consegui.

Sabe quando você dá uma resposta na cara da pessoa, e é praticamente como se tivesse dado uma chinelada nos dedos dela? Eu senti isso nesse momento.

-Idiota. Se vai ser arrogante, eu vou ser arrogante. Eu vou MATAR sua amiguinha. – ele ameaçou.

Me virei para ele.
Então era ELE que estava com Melody? Como ela foi raptada por alguém assim?

-Está me subestimando... Mas vamos fazer um jogo. – ele fazia poses bizarras, como uma dança estranha e doida. – Se eu vencer, você se juntará a nós. Mas se eu perder, eu devolvo sua amiguinha especial.

-Qual é o problema que você, o Polar e o Misake têm?! – reclamei angustiado.

-Não se preocupe, não vou contar pra ninguém. – ele estalou os dedos.

Avancei pra cima dele e cravei minhas garras na cara dele.

-Você é muito apressado. Nem disse as regras ainda! – Gar reclamou, atrás de mim.

“O quê?”
Ele havia se teleportado? Percebi que estava com as garras presas em mais uma caixa.

-C-como isso aconteceu?! – me perguntei, puxando minhas garras para soltá-las.

-Você me subestima demais sabia? Isso me entristece. – ele fez barulho de choro. – Vai querer jogar ou não?

Me soltei, e joguei uma bola de fogo na cara dele.
Ele começou a pegar fogo, e virou cinzas no chão.

-Eu... Já venci? – me perguntei.

-Não exatamente. – ele me cutucou atrás de mim.

Olhei para ele horrorizado, e depois observei as cinzas no chão. Havia uma pilha de papel queimando no chão.

-O quê é você...? – eu me afastei.

Ele reapareceu atrás de mim.

-Seu pior pesadelo. Gar Nightmare Baku, devorador de sonhos! – ele deu um riso maquiavélico. – Mas eu já me apresentei antes, não é? Devia prestar mais atenção!

-EU VOU ACABAR COM VOCÊ! – tentei socá-lo.

Ele se abaixou, e eu bati com o punho numa viga de aço.

-ARG! – gemi de dor.

Senti uma dor na perna. Era o veneno reagindo mais uma vez. Só que agora, não era só um formigamento, era uma dor que impedia o movimento da minha perna.

-Parece que alguém não sabe brincar com cobras... – Gar fez um beicinho.

Fiquei incapacitado de andar. Mas continuei tentando acertá-lo com fogo.

-Vou aproveitar sua deficiência para ditar as regras do nosso jogo. – Gar deu um sorriso estranho.

Tentei mexer minha perna, mas ela não saia do lugar. A única coisa que eu podia fazer era ganhar tempo para me recuperar.

-Muito bem. Não gosto de me vangloriar, mas é um jogo que eu criei, e nunca perdi nele. – Gar se gabou. – É o seguinte. Vê aquela porta? – ele apontou para uma parede do armazém.

Não havia porta nenhuma lá.

-Não. Não estou vendo. – respondi mal-humorado.

Eu não queria jogar jogo nenhum. Mas era o único jeito de salvar a Melody.
Gar balançou as mãos, e depois apontou para a parede vazia novamente. Eu ainda não via nada.

-A, eu esqueci, desculpe. – Gar se desculpou.

Ele chutou o chão, e um monte de poeira veio nos meus olhos. Esfreguei-os com a manga da camisa. Eu já começava a sentir minha perna, o efeito do veneno estava se enfraquecendo. Quando abri meus olhos novamente, havia uma porta brilhante e escandalosa, no lugar onde Gar apontava.

-O quê é isso? – perguntei tentando mexer minha perna disfarçadamente.

-Nosso palco. - sua voz ecoou pelo armazém.

-E quais são as regras? – resmunguei.

-Que bom que perguntou! – ele bateu palmas alegres. – É o seguinte. Será um jogo de resistência, você vai entender tudo quando começar. Você terá que me encontrar, quando encontrar você vence. É simples. – Gar deu um sorriso enorme.
Uma bengala apareceu em sua mão, em uma pequena explosão, e ele a usou para apontar para a porta. Ela se abriu vagarosamente, e uma música começou a tocar, uma trilha sonora com um tom assustador. Até que não era ruim.

-Pode se preparar, quando estiver pronto é só passar pela porta. – ele se virou de uma maneira espalhafatosa e marchou até a porta.

Ele parou no meio do caminho, do nada.

-Mas não demore muito. Não se sabe quanto tempo ela tem. – sua voz era, agora, séria e preocupada.

Ele voltou a andar, agora normalmente, e fechou as portas atrás dele. Eu não tinha notado antes, mas placas com setas apontando para a porta piscavam em volta dela. Como não vi isso antes?
Andei com dificuldade até a porta. No meio do caminho, eu já conseguia andar. Não perfeitamente, mas conseguia.
“Esse veneno vai ser um problema... Eu devia ter ficado em casa um pouco mais, até retirarem o resto do veneno...” pensei.
“Não! Eu não devia! Melody precisa de mim! E eu vou ajudá-la, custe o que custar.”
Parei em frente a porta e respirei fundo. Olhei para trás primeiro, e analisei ao redor. Gar não estava por ali. As portas estavam bem fechadas. E eu não sei por que estava olhando o armazém.
Empurrei a porta, e ela se abriu lentamente. Ela era pesada, embora não parecesse.
Uma neblina começou a sair de dentro da porta.

-É HORA DO SHOW! – Gar gritou lá dentro.

Uma música começou a tocar novamente, mas essa era diferente. Tinha uma frequência tão aguda que chegava a doer os ouvidos, e ao fundo se ouviu um violino baixinho.
Eu não sabia o quê esperar. Mas eu ia fazer o quê fosse preciso para vencer esse jogo.
Passei pela neblina e entrei na sala confiante.

E foi nesse momento que toda a minha sanidade mental deixou de existir.

Nenhum comentário

Postar um comentário