quinta-feira, 17 de abril de 2014

As Pedras de Elementra. Parte 2. Capítulo 10.



             10. Jogos mentais.



Holofotes se acenderam, e quase fritaram meus olhos. Eles iluminavam um ponto fixo no chão, logo abaixo de mim. Eles tornavam tudo ainda mais confuso, com toda a neblina e a música alta. Tentei andar para frente para despistá-los, mas eles me seguiam. Sempre iluminando o solo abaixo de mim.
Prossegui sempre em frente, com os olhos ardendo. Até que em algum momento, varias luzes a laser se acenderam, e começaram a flutuar pelo lugar, como se estivessem cortando o ar. Minha cabeça estava girando, literalmente. Estava tudo muito confuso. Mas eu tinha que prosseguir!

-E agora nosso jogo começa! – a voz de Gar retumbou pela sala.

Joguei fogo ao redor para dissipar a névoa, mas estranhamente, isso não fazia efeito. E então, vi uma silhueta logo a frente. Reconheci na hora! Melody!
Me aproximei dela, mas parei antes de chamá-la.
“E se for um truque?” pensei encarando a silhueta tapada pela neblina.
“Não da pra saber sem tentar... Mas é arriscado...”
“Eu tinha que tentar.”
Levantei a mão devagar, e coloquei a mão sobre o ombro de Melody.

-Melody? É você?

Notei um cheiro estranho no ar. Virei Melody depressa. Era um boneco.
O cheiro aumentou um pouco. Olhei ao redor procurando pelo local de onde vinha.

-Esse cheiro... – falei comigo mesmo, jogando o boneco de lado. – Só pode ser...

Eu o reconheci. GÁS! Corri na direção oposta, a tempo de fugir da explosão. Fui jogado contra a parede, e uma força continuava me empurrando contra ela. Tentei me libertar, mas não conseguia. E então, a força parou de repente, e eu caí. Simplesmente caí. Mas por algum motivo eu não pousei no chão. Eu continuava caindo.
Tentei me proteger da queda, mas não consegui, caí de cara no chão. Quando levantei, eu estava zonzo. Tudo tremia, tudo. As paredes eram muito coloridas, cada parede era pintada de uma maneira psicodélica.

-Parece que alguém chegou ao nível 2! – Gar anunciou.

Ele já estava me irritando.
A música havia parado, e no lugar dela, se ouviam várias risadas frenéticas e nervosas. A neblina era baixa e completamente densa, não me permita nem ver o chão. Eu não via nenhuma porta para sair, e a abertura no teto por onde eu vim, havia sumido.
Minha cabeça doía e latejava.

-Parece que o ser divino está com problemas... – Gar notificou.

Mais uma vez isso de “ser divino”. O quê significa? Porque me chamam assim? Lembro que Grandark se referiu a mim desse jeito, no QG dele. E Snape também me chamou assim. Mas eu não faço idéia do que isso quer dizer.
E como Gar fazia tudo isso? Que tipo de poder ele tem? Isso é só um armazém! Não tem como portas e mais portas começarem a aparecer do nada. Certo?
Me escorei contra uma das paredes. Aquilo tudo parecia um circo. Só que as cores eram tão vivas que meus olhos doíam. Notei que as paredes se mexiam. Passei a mão no centro da espiral colorida de uma delas, era totalmente sólido. Eu não conseguia parar de olhar para a espiral, girando e girando. Sacudi a cabeça e cambaleei para trás.

-Preciso sair daqui. – decidi.

Comecei a caminhar rapidamente, com os olhos voltados para o chão, procurando alguma passagem. Por algum motivo, fui atirado no chão, e quando levantei, as espirais estavam diferentes. Estavam aumentando e diminuindo. Todas produziam um movimento como se estivessem na água, ainda diminuindo e crescendo. E então vi uma pessoa parada, com um sorrisinho olhando para mim, no canto da sala. Era Gar.
Corri até ele e o ataquei.

-NÃO! Parece que você venceu... – ele choramingou quando eu tranquei seus movimentos. – Mas eu tenho palavra, não se preocupe. Pode tê-la de volta agora.

Isso foi fácil... Fácil demais...
Gar se levantou, e atravessou uma das espirais. Eu o segui, para certificar que ele não fugiria. Parecia que a parede era feita de água. Do outro lado, Melody estava presa por correntes.

-SELION! - ela gritou surpresa.

-Você está livre... Eu perdi... – lágrimas caiam no chão, vindas do rosto de Gar, porém ele continuava sorrindo.

Ele se aproximou dela, e a libertou.

-Podem ir embora. – Gar anunciou.

Melody passou a mão pelos braços doloridos, chorando de felicidade. E então correu até mim e me abraçou forte.

-Obrigada... – ela agradeceu.

Eu não sabia o que fazer, eu estava vermelho, podia sentir isso.

-S-sério... Obrigada. E-ele me deixou presa aqui, com um monstro cruel de oito patas vagando por aí! – ela choramingava agradecida.

-Monstro? – perguntei já me esquecendo de Gar.

Ela apontou para uma cascavel no canto da sala. Ela... tinha medo de cobras? Mas eu não lembro de ela ter tido algum medo de Snape...
Deixei isso de lado. Vi que ela estava tremendo.

-E-ela rastejou em cima de mim, Selion. – ela explicou.

Ela me abraçou mais forte, com medo.

-Melody... Você está bem? – perguntei sem-jeito.

-Não, não estou... Eu quero sair daqui. Ficar longe desse monstro sanguinário! – ela confessou.

Encarei a cobra. Ela subiu a parede, e em um piscar de olhos, se tornou uma centopéia enorme, que caiu no chão, e começou a rastejar para longe de nós. Eu devia estar delirando.

-Sim... Vamos embora.

Lembrei de Gar. Procurei por ele ao redor. Eu só via uma pichação na parede de um homem com o dedo no nariz.
“Qual a necessidade disso Gar?”
Joguei uma bola de fogo contra a pichação, meio que por impulso, e ela se quebrou em milhões de pedacinhos.
Melody passava a mão pelos seus braços, como se tentasse se livrar da cobra. Do lado de fora, algumas árvores estavam com folhas coloridas. Esfreguei meus olhos e pisquei várias vezes. Elas tinham voltado ao normal.

-Isso é tão estranho... – exclamei.

-O quê foi? – Melody perguntou, um pouco mais calma.

-Eu... Acho que fui muito afetado por aquele lugar... – consegui responder.

Os olhos de Melody estavam inchados por causa das lágrimas de pavor. Tentei esquecer tudo, e me concentrar no que realmente importava. Ela estava bem. E isso era o suficiente para mim.

-Selion... Onde estamos? – ela quis saber.

-Eu... Não sei... – eu estava distraído.

Olhei para o céu. Listras coloridas estranhas faziam formas bizarras no céu. Em cima de árvores, esquilos colocavam luvas pequeninas de boxe. O QUÊ ESTAVA ACONTECENDO COMIGO?!

-Melody... Você está vendo algo anormal ao redor...? – perguntei.

-Pra falar a verdade sim... Mas é culpa disso aqui. – ela colocou uma pedra roxa na minha mão. – A pedra psíquica. Ela distorce nossos pensamentos, e não da pra “desligar” ela, então vamos ter que aturar...

Me sentia melhor em saber que eu não tinha endoidado. Mas algo ainda estava errado... Como ela conseguiu a pedra, se estava amarrada?

-Como você conseguiu essa pedra? – perguntei caminhando.

-Eu... An... Roubei de Gar antes de me raptar. – ela respondeu devagar.

-Se já estava com ela, porque não a usou para se soltar?

-Por que... Bem... Eram correntes anti-magia. – ela explicou.

-Mas eram tão fortes assim? Essas pedras não são tipo as forças mágicas mais poderosas? – continuei perguntando.

Havíamos chegado a praça de antes. Ela se sentou em um banco e abraçou os joelhos.

-O quê foi? – sentei ao seu lado.

-Nada... Só acho que eu fui muito fraca naquela hora... Como fui deixar ele me raptar? – ela estava de cabeça baixa.

-Melody, eu não entendi direito quais são as habilidades dele... Mas você foi pega numa armadilha. Você não é fraca. – eu a ajudei.

Ela levantou a cabeça e olhou para as estrelas.
Olhei também. As estrelas estavam alinhadas de uma forma que pudesse ser lido “ME FIRST. U TURN.” no céu. Será que ela também estava vendo aquilo? Será mesmo obra da pedra?
Eu estava pensando sobre isso, quando ela deitou a cabeça no meu colo, olhando as estrelas. Dava para ver que ela estava meio cansada. Não vou mentir, eu também estava exausto, mas naquele momento. Eu me sentia bem acordado.
Ela sorriu para mim.

-Melody... Melhor continuarmos nosso caminho... Gar pode voltar, e raptar nós dois... – pensei alto.

-Não... Está tudo bem aqui. Com você aqui, sei que tudo vai acabar bem.

Pude sentir que eu estava vermelho. Ela tava fazendo isso de propósito, não é?
De repente, ela se levantou rapidamente.

-Desculpe... Só fui notar agora que estava deitada em você. – ela se desculpou.

-Não precisa se desculpar, está tudo bem. – eu disse para ela.

Os olhos dela brilhavam por causa do resto das lágrimas. Ela limpou seus olhos.
Eu estava começando a estranhar tudo isso. Não estávamos tão longe assim do Gar, e ele nem sequer revidou. Nos deixou sair sem mais nem menos.
Um pato com roupa de marinheiro passou andando pelo banco onde estávamos. Será mesmo que era a pedra que estava fazendo tudo isso?

-Selion... – Melody chamou. – Porque você veio atrás de mim...?

-Você acha mesmo que eu deixaria você para trás? – respondi com outra pergunta. – Eu não deixaria um amigo para trás.

Ela se aproximou de mim.

-Obrigada de novo... Fico feliz por você não ter sido pego pelo poder hipnótico de Gar. – ela agradeceu.

Controle hipnótico...? Algumas coisas começaram a se ligar.
Notei que eu estava muito perto de Melody.

-U-uh... Estamos muito perto... Não é? – perguntei.

-Eu até que gosto de estar perto de você. – seus olhos estavam rosa.

Ela se aproximou mais ainda, lentamente.
Eu estava confuso. Controle hipnótico... Melody... Esta pedra...
Nossos lábios estavam quase se tocando, quando eu percebi tudo.

-Isso é uma armadilha. – declarei.

Tudo ao redor sumiu. Minha cabeça começou a doer, e uma confusão de imagens e cores me cercou. Eu abri meus olhos.
Eu estava em uma espécie de caixa roxa transparente. Inclinada como losango.

-V-v-você acordou?! – Gar se assustou e cambaleou para trás. – Não é possível...

-Parece que agora eu ganhei seu jogo. Desta vez de verdade. – tentei sair do cubo.

Ele era resistente. Mas era feito de algo que parecia uma espécie de vidro.

-Não pode ser... – Gar se desesperou. – Eu ainda não concluí!

Comecei a socar e chutar o vidro. Logo consegui rachá-lo.

-Se prepare Gar. Eu não vou te perdoar por brincar com minha mente.

O vidro rachou de novo.
Continuei o golpeando, até que ele se quebrou. Um gás roxo saiu junto comigo do cubo.

-Cadê a Melody? – caminhei lentamente até ele.

Ele estava encurralado. Ao lado esquerdo dele, havia caixas enormes. Ele não conseguiria subir em cima delas para fugir. E do outro lado estava a parede.
Ele não podia fugir. Eu havia ganhado o jogo.

-Não ouvi uma resposta. – eu me aproximava cada vez mais.

-Não vou dizer nada! – Gar tentou subir pelas caixas.

Ele caiu, mas se levantou logo depois.

-Você não pode me atingir. Eu leio seus movimentos! Sou intocável! – ele riu superior.

-É mesmo? – corri até ele e acertei um soco na barriga dele.

Ele caiu no chão fazendo muito drama.

-C-como? Você... Não está pensando? – ele se surpreendeu.

-Parabéns gênio. – acertei uma bola de fogo nele.

Ele gemeu de dor, e se esgueirou até a caixa, para tentar se levantar, mas eu fui mais rápido e pisei nas costas dele.

-Onde ela está? – perguntei novamente.

-Atrás do armazém! Agora me deixe em paz! – ele choramingou.

Eu disse que não com a cabeça. Peguei ele pela jaqueta, e o joguei na caixa ao seu lado, ele caiu no chão inconsciente.

-Até que você é fraco quando não tem poder sobre as pessoas. – dei de ombros.

Eu não sabia exatamente o que fazer com ele. Saí do armazém e o contornei. Ela estava presa em um cubo roxo também. Mas havia milhares de aranhas com ela. Ela estava desmaiada.

-Medo de aranhas... Isso faz mais sentido. – comecei a quebrar o cubo.

Pelo lado de fora ele era mais fraco. Se quebrou com poucos golpes. As aranhas saíram rapidamente, assim que o cubo foi quebrado. Melody continuava inconsciente, e eu não conseguiria acordá-la.
Me abaixei e a peguei no colo.

-Eu vou te levar para casa. – prometi.

Voltei para o armazém. Gar havia sumido.
“Eu me preocupo com ele depois. Já consegui o que realmente importava.” Pensei feliz.
Comecei a voar para casa. Ia ser uma longa viagem. Notei que Melody começou a se mexer. Pousei depressa.

-Está acordando? – perguntei sem ter certeza se eu obteria uma resposta.

Ela abriu os olhos devagar.

-A-aranhas por todo lado... – ela falou.

-Não se preocupe. Você está livre agora, e não tem nenhuma aranha. – expliquei.

Ela me abraçou.

-Obrigada...

Eu fiquei vermelho, mas sorri para ela. Eu estava feliz por que dessa vez, tudo era real. Sem mais loucuras. Sem joguinhos mentais.

-Porque estou no seu colo? – ela perguntou.

-Foi mal. – eu a coloquei no chão. – Eu pensei que não conseguiria te acordar...

Meu corpo pegou fogo sem querer. Eu o apaguei logo depois.
Ela estranhou, e eu também.

-Então... Vamos para casa? – ela sugeriu.

Usei minhas asas para sair do chão. Melody começou a flutuar.
Começamos a voar na direção de nossa casa. No fim tudo acabou bem. Na verdade... Até melhor do que eu esperava.

Melody sorria alegre por ter se livrado das aranhas. E seu sorriso me deixou feliz. Eu não estava mais com tanto sono agora.

                                                        ...

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