10. Jogos
mentais.
Holofotes se acenderam, e quase fritaram meus
olhos. Eles iluminavam um ponto fixo no chão, logo abaixo de mim. Eles tornavam
tudo ainda mais confuso, com toda a neblina e a música alta. Tentei andar para
frente para despistá-los, mas eles me seguiam. Sempre iluminando o solo abaixo
de mim.
Prossegui sempre em frente, com os olhos ardendo.
Até que em algum momento, varias luzes a laser se acenderam, e começaram a
flutuar pelo lugar, como se estivessem cortando o ar. Minha cabeça estava
girando, literalmente. Estava tudo muito confuso. Mas eu tinha que prosseguir!
-E agora nosso jogo começa! – a voz de Gar retumbou
pela sala.
Joguei fogo ao redor para dissipar a névoa, mas
estranhamente, isso não fazia efeito. E então, vi uma silhueta logo a frente.
Reconheci na hora! Melody!
Me aproximei dela, mas parei antes de chamá-la.
“E se for um truque?” pensei encarando a silhueta
tapada pela neblina.
“Não da pra saber sem tentar... Mas é arriscado...”
“Eu tinha que tentar.”
Levantei a mão devagar, e
coloquei a mão sobre o ombro de Melody.
-Melody? É você?
Notei um cheiro estranho
no ar. Virei Melody depressa. Era um boneco.
O cheiro aumentou um
pouco. Olhei ao redor procurando pelo local de onde vinha.
-Esse cheiro... – falei
comigo mesmo, jogando o boneco de lado. – Só pode ser...
Eu o reconheci. GÁS!
Corri na direção oposta, a tempo de fugir da explosão. Fui jogado contra a
parede, e uma força continuava me empurrando contra ela. Tentei me libertar,
mas não conseguia. E então, a força parou de repente, e eu caí. Simplesmente
caí. Mas por algum motivo eu não pousei no chão. Eu continuava caindo.
Tentei me proteger da
queda, mas não consegui, caí de cara no chão. Quando levantei, eu estava zonzo.
Tudo tremia, tudo. As paredes eram muito coloridas, cada parede era pintada de
uma maneira psicodélica.
-Parece que alguém chegou
ao nível 2! – Gar anunciou.
Ele já estava me
irritando.
A música havia parado, e
no lugar dela, se ouviam várias risadas frenéticas e nervosas. A neblina era baixa
e completamente densa, não me permita nem ver o chão. Eu não via nenhuma porta
para sair, e a abertura no teto por onde eu vim, havia sumido.
Minha cabeça doía e
latejava.
-Parece que o ser divino
está com problemas... – Gar notificou.
Mais uma vez isso de “ser
divino”. O quê significa? Porque me chamam assim? Lembro que Grandark se
referiu a mim desse jeito, no QG dele. E Snape também me chamou assim. Mas eu
não faço idéia do que isso quer dizer.
E como Gar fazia tudo
isso? Que tipo de poder ele tem? Isso é só um armazém! Não tem como portas e
mais portas começarem a aparecer do nada. Certo?
Me escorei contra uma das
paredes. Aquilo tudo parecia um circo. Só que as cores eram tão vivas que meus
olhos doíam. Notei que as paredes se mexiam. Passei a mão no centro da espiral
colorida de uma delas, era totalmente sólido. Eu não conseguia parar de olhar
para a espiral, girando e girando. Sacudi a cabeça e cambaleei para trás.
-Preciso sair daqui. –
decidi.
Comecei a caminhar
rapidamente, com os olhos voltados para o chão, procurando alguma passagem. Por
algum motivo, fui atirado no chão, e quando levantei, as espirais estavam
diferentes. Estavam aumentando e diminuindo. Todas produziam um movimento como
se estivessem na água, ainda diminuindo e crescendo. E então vi uma pessoa
parada, com um sorrisinho olhando para mim, no canto da sala. Era Gar.
Corri até ele e o
ataquei.
-NÃO! Parece que você
venceu... – ele choramingou quando eu tranquei seus movimentos. – Mas eu tenho
palavra, não se preocupe. Pode tê-la de volta agora.
Isso foi fácil... Fácil
demais...
Gar se levantou, e
atravessou uma das espirais. Eu o segui, para certificar que ele não fugiria.
Parecia que a parede era feita de água. Do outro lado, Melody estava presa por
correntes.
-SELION! - ela gritou
surpresa.
-Você está livre... Eu
perdi... – lágrimas caiam no chão, vindas do rosto de Gar, porém ele continuava
sorrindo.
Ele se aproximou dela, e
a libertou.
-Podem ir embora. – Gar
anunciou.
Melody passou a mão pelos
braços doloridos, chorando de felicidade. E então correu até mim e me abraçou
forte.
-Obrigada... – ela
agradeceu.
Eu não sabia o que fazer,
eu estava vermelho, podia sentir isso.
-S-sério... Obrigada.
E-ele me deixou presa aqui, com um monstro cruel de oito patas vagando por aí!
– ela choramingava agradecida.
-Monstro? – perguntei já
me esquecendo de Gar.
Ela apontou para uma
cascavel no canto da sala. Ela... tinha medo de cobras? Mas eu não lembro de
ela ter tido algum medo de Snape...
Deixei isso de lado. Vi
que ela estava tremendo.
-E-ela rastejou em cima
de mim, Selion. – ela explicou.
Ela me abraçou mais
forte, com medo.
-Melody... Você está bem?
– perguntei sem-jeito.
-Não, não estou... Eu
quero sair daqui. Ficar longe desse monstro sanguinário! – ela confessou.
Encarei a cobra. Ela
subiu a parede, e em um piscar de olhos, se tornou uma centopéia enorme, que
caiu no chão, e começou a rastejar para longe de nós. Eu devia estar delirando.
-Sim... Vamos embora.
Lembrei de Gar. Procurei
por ele ao redor. Eu só via uma pichação na parede de um homem com o dedo no
nariz.
“Qual a necessidade disso
Gar?”
Joguei uma bola de fogo
contra a pichação, meio que por impulso, e ela se quebrou em milhões de
pedacinhos.
Melody passava a mão
pelos seus braços, como se tentasse se livrar da cobra. Do lado de fora,
algumas árvores estavam com folhas coloridas. Esfreguei meus olhos e pisquei
várias vezes. Elas tinham voltado ao normal.
-Isso é tão estranho... –
exclamei.
-O quê foi? – Melody
perguntou, um pouco mais calma.
-Eu... Acho que fui muito
afetado por aquele lugar... – consegui responder.
Os olhos de Melody
estavam inchados por causa das lágrimas de pavor. Tentei esquecer tudo, e me
concentrar no que realmente importava. Ela estava bem. E isso era o suficiente
para mim.
-Selion... Onde estamos?
– ela quis saber.
-Eu... Não sei... – eu
estava distraído.
Olhei para o céu. Listras
coloridas estranhas faziam formas bizarras no céu. Em cima de árvores, esquilos
colocavam luvas pequeninas de boxe. O QUÊ ESTAVA ACONTECENDO COMIGO?!
-Melody... Você está
vendo algo anormal ao redor...? – perguntei.
-Pra falar a verdade
sim... Mas é culpa disso aqui. – ela colocou uma pedra roxa na minha mão. – A
pedra psíquica. Ela distorce nossos pensamentos, e não da pra “desligar” ela, então
vamos ter que aturar...
Me sentia melhor em saber
que eu não tinha endoidado. Mas algo ainda estava errado... Como ela conseguiu
a pedra, se estava amarrada?
-Como você conseguiu essa
pedra? – perguntei caminhando.
-Eu... An... Roubei de
Gar antes de me raptar. – ela respondeu devagar.
-Se já estava com ela,
porque não a usou para se soltar?
-Por que... Bem... Eram
correntes anti-magia. – ela explicou.
-Mas eram tão fortes
assim? Essas pedras não são tipo as forças mágicas mais poderosas? – continuei
perguntando.
Havíamos chegado a praça
de antes. Ela se sentou em um banco e abraçou os joelhos.
-O quê foi? – sentei ao
seu lado.
-Nada... Só acho que eu
fui muito fraca naquela hora... Como fui deixar ele me raptar? – ela estava de
cabeça baixa.
-Melody, eu não entendi
direito quais são as habilidades dele... Mas você foi pega numa armadilha. Você
não é fraca. – eu a ajudei.
Ela levantou a cabeça e
olhou para as estrelas.
Olhei também. As estrelas
estavam alinhadas de uma forma que pudesse ser lido “ME FIRST. U TURN.” no céu.
Será que ela também estava vendo aquilo? Será mesmo obra da pedra?
Eu estava pensando sobre
isso, quando ela deitou a cabeça no meu colo, olhando as estrelas. Dava para
ver que ela estava meio cansada. Não vou mentir, eu também estava exausto, mas
naquele momento. Eu me sentia bem acordado.
Ela sorriu para mim.
-Melody... Melhor
continuarmos nosso caminho... Gar pode voltar, e raptar nós dois... – pensei
alto.
-Não... Está tudo bem
aqui. Com você aqui, sei que tudo vai acabar bem.
Pude sentir que eu estava
vermelho. Ela tava fazendo isso de propósito, não é?
De repente, ela se
levantou rapidamente.
-Desculpe... Só fui notar
agora que estava deitada em você. – ela se desculpou.
-Não precisa se
desculpar, está tudo bem. – eu disse para ela.
Os olhos dela brilhavam
por causa do resto das lágrimas. Ela limpou seus olhos.
Eu estava começando a
estranhar tudo isso. Não estávamos tão longe assim do Gar, e ele nem sequer
revidou. Nos deixou sair sem mais nem menos.
Um pato com roupa de
marinheiro passou andando pelo banco onde estávamos. Será mesmo que era a pedra
que estava fazendo tudo isso?
-Selion... – Melody
chamou. – Porque você veio atrás de mim...?
-Você acha mesmo que eu
deixaria você para trás? – respondi com outra pergunta. – Eu não deixaria um
amigo para trás.
Ela se aproximou de mim.
-Obrigada de novo... Fico
feliz por você não ter sido pego pelo poder hipnótico de Gar. – ela agradeceu.
Controle hipnótico...?
Algumas coisas começaram a se ligar.
Notei que eu estava muito
perto de Melody.
-U-uh... Estamos muito
perto... Não é? – perguntei.
-Eu até que gosto de
estar perto de você. – seus olhos estavam rosa.
Ela se aproximou mais
ainda, lentamente.
Eu estava confuso.
Controle hipnótico... Melody... Esta pedra...
Nossos lábios estavam
quase se tocando, quando eu percebi tudo.
-Isso é uma armadilha. –
declarei.
Tudo ao redor sumiu.
Minha cabeça começou a doer, e uma confusão de imagens e cores me cercou. Eu
abri meus olhos.
Eu estava em uma espécie
de caixa roxa transparente. Inclinada como losango.
-V-v-você acordou?! – Gar
se assustou e cambaleou para trás. – Não é possível...
-Parece que agora eu
ganhei seu jogo. Desta vez de verdade. – tentei sair do cubo.
Ele era resistente. Mas
era feito de algo que parecia uma espécie de vidro.
-Não pode ser... – Gar se
desesperou. – Eu ainda não concluí!
Comecei a socar e chutar
o vidro. Logo consegui rachá-lo.
-Se prepare Gar. Eu não
vou te perdoar por brincar com minha mente.
O vidro rachou de novo.
Continuei o golpeando,
até que ele se quebrou. Um gás roxo saiu junto comigo do cubo.
-Cadê a Melody? –
caminhei lentamente até ele.
Ele estava encurralado.
Ao lado esquerdo dele, havia caixas enormes. Ele não conseguiria subir em cima
delas para fugir. E do outro lado estava a parede.
Ele não podia fugir. Eu
havia ganhado o jogo.
-Não ouvi uma resposta. –
eu me aproximava cada vez mais.
-Não vou dizer nada! –
Gar tentou subir pelas caixas.
Ele caiu, mas se levantou
logo depois.
-Você não pode me
atingir. Eu leio seus movimentos! Sou intocável! – ele riu superior.
-É mesmo? – corri até ele
e acertei um soco na barriga dele.
Ele caiu no chão fazendo
muito drama.
-C-como? Você... Não está
pensando? – ele se surpreendeu.
-Parabéns gênio. –
acertei uma bola de fogo nele.
Ele gemeu de dor, e se
esgueirou até a caixa, para tentar se levantar, mas eu fui mais rápido e pisei
nas costas dele.
-Onde ela está? –
perguntei novamente.
-Atrás do armazém! Agora
me deixe em paz! – ele choramingou.
Eu disse que não com a
cabeça. Peguei ele pela jaqueta, e o joguei na caixa ao seu lado, ele caiu no
chão inconsciente.
-Até que você é fraco
quando não tem poder sobre as pessoas. – dei de ombros.
Eu não sabia exatamente o
que fazer com ele. Saí do armazém e o contornei. Ela estava presa em um cubo
roxo também. Mas havia milhares de aranhas com ela. Ela estava desmaiada.
-Medo de aranhas... Isso
faz mais sentido. – comecei a quebrar o cubo.
Pelo lado de fora ele era
mais fraco. Se quebrou com poucos golpes. As aranhas saíram rapidamente, assim
que o cubo foi quebrado. Melody continuava inconsciente, e eu não conseguiria
acordá-la.
Me abaixei e a peguei no
colo.
-Eu vou te levar para
casa. – prometi.
Voltei para o armazém.
Gar havia sumido.
“Eu me preocupo com ele
depois. Já consegui o que realmente importava.” Pensei feliz.
Comecei a voar para casa.
Ia ser uma longa viagem. Notei que Melody começou a se mexer. Pousei depressa.
-Está acordando? –
perguntei sem ter certeza se eu obteria uma resposta.
Ela abriu os olhos devagar.
-A-aranhas por todo
lado... – ela falou.
-Não se preocupe. Você
está livre agora, e não tem nenhuma aranha. – expliquei.
Ela me abraçou.
-Obrigada...
Eu fiquei vermelho, mas
sorri para ela. Eu estava feliz por que dessa vez, tudo era real. Sem mais
loucuras. Sem joguinhos mentais.
-Porque estou no seu
colo? – ela perguntou.
-Foi mal. – eu a coloquei
no chão. – Eu pensei que não conseguiria te acordar...
Meu corpo pegou fogo sem
querer. Eu o apaguei logo depois.
Ela estranhou, e eu
também.
-Então... Vamos para
casa? – ela sugeriu.
Usei minhas asas para
sair do chão. Melody começou a flutuar.
Começamos a voar na
direção de nossa casa. No fim tudo acabou bem. Na verdade... Até melhor do que
eu esperava.
Melody sorria alegre por
ter se livrado das aranhas. E seu sorriso me deixou feliz. Eu não estava mais
com tanto sono agora.
...
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