sexta-feira, 4 de abril de 2014

As Pedras de Elementra. Capítulo 8.

                                         

                                          8. Veneno.       



Gritei por dentro quando seus tentáculos me agarraram e me levantaram do chão. Abri meus olhos lentamente. Ele estava cara a cara comigo e se tivesse olhos, aposto que estaria me encarando!
Neste momento lembrei de minha espada, eu podia usá-la para fugir! Mas eu a perdi no lago.
“Selion, Adrian, cheguem logo por favor!” eu implorava por ajuda por pensamento.
O ser estranho me carregou com seus tentáculos, e começou a andar para o lado de fora.
“O quê ele pretende fazer comigo?”
Quando saímos da pequena cabana, olhei ao redor.
Estávamos num lugar muito mais dentro da floresta.
As árvores cobriam totalmente o lugar, estava muito escuro, embora ainda fosse dia.
Fiz o possível para me virar para trás. A cabana onde estávamos,  ela estava caindo aos pedaços. Toda destruída, com plantas crescendo pela parede.
Observei o ambiente ao redor procurando por algo que pudesse me ajudar. Notei o topo das árvores. Haviam cordas amarradas no ponto mais alto dos troncos. E um pouco mais para baixo, manchas vermelhas.
“I-Isso seria sangue?” estremeci.

-O-onde está me levando? – consegui perguntar.

Ele parou de andar e não fez nenhum movimento.
Ele virou sua cara vazia para os lados.
Estranhei a reação dele. Mas não demorou muito para entender.
Passos. Era possível ouvir passos vindos na nossa direção.
Imaginei imediatamente que poderia ser Selion ou Adrian.

-AQUI! PESSOAL! EU FUI RAPTADA! – gritei por ajuda.

O Ser colocou sua mão na minha boca num movimento brusco.
Tentei continuar a gritar, mas não conseguia. Ele se moveu rapidamente e se escondeu por trás das árvores.
“Não estou entendendo...”
Eu continuei ouvindo passos. Tentei emitir algum som, qualquer um, mas a estranha criatura começou a apertar minha garganta cada vez mais forte, e fui obrigada a parar.
E então, ouvi um sibilo.
Alto e prolongado, que não acabava mais.
E aos poucos, o som começou a se multiplicar e multiplicar. Eram cobras. De fato eram cobras. E adivinha o quê isso lembra?
Snape. Como se a situação já não estivesse boa, ela agora piora.
Notei que o ser começou a se mover. Ele ia a uma velocidade incrível, se escondendo atrás das árvores, para longe daquele lugar. O quê ele pretendia fazer?
Aos poucos, os sibilos foram deixados para trás. Eu ficaria aliviada, se não estivesse sendo carregada por um monstro sem face. Tentei lutar novamente para me libertar, mas era inútil.
Ao longo do caminho, a floresta foi se tornando menos fechada. Alguns raios de sol tocavam o chão, através das folhas das árvores.
A criatura saiu de trás das árvores, e se moveu até a trilha mais próxima. Lá, ele soltou um pouco minha boca. Já estava começando a doer.
Ele me encarou e me colocou em cima de uma árvore, virada para baixo.

-PARE! O QUÊ ESTÁ FAZENDO?! – gritei com ele.

Um de seus tentáculos bateu na minha cara.
Dava para notar por um gesto que ele fez com a mão, que ele queria silêncio. Mas eu não ia obedecê-lo.
Mordi o tentáculo que me segurava na intenção de fazê-lo me soltar. O monstro pareceu ficar irritado.
Comecei a tentar chutá-lo. Mas não conseguia. Só parei quando, de repente, ele me soltou e eu caí de cara no chão.
Me levantei rapidamente e tentei fugir. Corri para frente sem olhar para trás. Tomei o máximo de distância dele que consegui. Quando achei que já estava segura, me escondi atrás de uma árvore e retomei o fôlego.

-Ufa... – sussurrei para mim mesma.

Esperei um tempinho, e depois me levantei. Eu tinha que achar os outros, avisá-los sobre o Snape.
“Será que já encontraram a pedra?”
Comecei a andar pela sombra. Mas o local não era totalmente fechado como o de antes. Não havia muitas sombras. Tive que me contentar com isso.
Nem caminhei muito, logo a frente eu vi uma abertura totalmente iluminada. Mas a pergunta era: Onde ela ia dar?
Será que eu estava no mesmo local que comecei?
Não, isso não é possível... Eu não passei por nenhuma bifurcação na trilha. Então eu devo estar perto do lago. Talvez...
Comecei a correr para lá, mas uma coisa estava tapando a saída. Adivinha o quê? A criatura de novo, parada, me observando.
Dei um salto para trás.
“Como ele chegou aqui tão rápido?!” pensei.
Desviei dele e corri em direção a luz. Mas ele foi mais rápido, agarrou minha perna e me ergueu no ar.

-O QUÊ VOCÊ QUER DE MIM?! – gritei com ele.

Ele me colocou entre duas árvores, e eu notei uma outra trilha escondida.
“Ele quer que eu siga esta trilha?” pensei relutante.
Não tinha opção, eu a segui, procurando algum meio de escapar. Era uma trilha estreita, não dava pra se mexer direito. E eu tinha que prestar muita atenção no chão, senão podia acabar tropeçando nas raízes.
Notei que ele estava me seguindo.

-Para onde está me levando...? – perguntei.
-Para longe dele. – uma voz sombria respondeu vinda de algum lugar.

Levei um susto.
Era ele que tinha falado isso?! Mas ele não tem boca! Como isso é possível?!

-V-você sabe falar?! – tentei perguntar.

-Monstros não são analfabetos. – a voz sombria que vinha dele me respondeu.

-MAS COMO?! V-você não tem boca!

Ele me ignorou, e me empurrou para frente.
Tínhamos chegado ao fim da trilha. Estávamos em uma grande clareira, com um enorme lago.
Ele havia me levado até meus amigos! Mas agora têm uma coisa... Onde eles estavam?
Será que tinham ido me procurar?
Procurei eles prestando atenção ao redor. Vi um bando de cobras saírem da água e seguirem por uma trilha. Com certeza elas iam me levar até eles!
Mas tem um detalhe... E se Snape os capturou de alguma maneira? São muitas cobras... Não posso ir indefesa! Se eu pelo menos tivesse minha espada...

-Caham. – o ser alto e esguio me chamou.

Ele apontou para a água.
Notei que ela começou a subir e a formar pequenos tornados de água. Me afastei do lago.
E então os tornados se fundiram, e formaram uma cobra enorme de água.

-Essa não... Isso significa que Snape está com a pedra! – murmurei infeliz me afastando da criatura.

Porque eu tinha que ter perdido minha espada?! Ela ta fazendo tanta falta!
Eu procurava por um meio de me defender, quando um reflexo bateu no meu olho. Procurei da onde vinha. Estava vindo da cobra gigante.
Minha espada estava aparecendo perto da cabeça da criatura. Metade para fora, metade para dentro da água.
Como eu iria pegá-la?! Eis a questão.
Me virei para o ser sem face. Será que ele me ajudaria?
Ele tinha sumido. Evaporado. Desaparecido.
Se eu tinha tempo pra me preocupar com isso? Não.
Eu me virei para a cobra d’água a tempo de pular para o lado e desviar de seu ataque. Ela tentou me devorar novamente, indo rapidamente com a boca aberta até mim, mas consegui desviar por pouco. Estiquei a mão para pegar a espada. Não consegui.
Corri para a trilha onde tinha visto as pequenas cobras irem. No meio do caminho, atropelei o ser de terno.

-NÃO É UMA BOA HORA, SR. APARECE E DESAPARECE! – gritei sem pensar no que dizia.

Ele me pegou com seus tentáculos e me levantou no ar.

-O QUÊ ESTÁ FAZENDO?! – tentei me soltar.

-Calada. Você tem uma chance. – sua voz sombria respondeu a meus gritos.

A cobra pareceu encarar a face em branco do monstro que me segurava. Notei que comecei a me mover. O ser moveu seu tentáculo para trás, e me atirou contra a cobra.
A cobra abriu bem sua boca. E eu ia na direção dela.
EU IA SER ENGOLIDA!
Eu iria ficar presa dentro da cobra gigante, e morrer afogada!
E então, num ato de desespero, notei que eu não estava sendo arremessada para a boca do monstro de água, mas sim um pouco mais para cima. A mira exata iria passar direto pela minha espada!
O monstro sem face estava me ajudando! Mas por quê?
Foquei na espada, e a agarrei quando me aproximei dela. O impacto do arremesso me ajudou a tirá-la da água. Agora só tinha um problema. Pousar.
Caí de cara no chão.
Me levantei e limpei minha cara rapidamente. Dessa vez eu não tinha perdido a espada na queda! A cobra gigante pareceu sorrir.
Ela deu uma investida e disparou em minha direção com sua boca aberta. Desviei aos tropeços. Quase perdi minha perna.
Sem pensar duas vezes, acertei a cabeça da cobra com um golpe rápido e preciso. A espada atravessou a água, e parece que a cobra não gostou nem um pouco disso.
Dentes de água afiados se formaram em sua boca.
“Ok, tenho a arma. Mas e para matar esse bicho?” pensei enquanto corria.
E então tive uma idéia.
Me aproximei da cobra (mas não muito, claro) e acertei parte de seu corpo. Ela rugiu e depois sibilou como se estivesse afogada. Depois ela me encarou com seus olhos raivosos e azuis feitos de água, e disparou em minha direção.
Exatamente como eu queria.

-VENHA ME PEGAR BICHO FRACO E INÚTIL! – gritei zombando da cobra.

Ela me atacou, mas eu desviava aos tropeços e a cobra acabava comendo terra. Dava para ver ela se diluindo na água. Não era uma coisa muito bonita de ser ver.
Corri em direção da trilha. Aquela por onde as cobras foram.
Comecei a correr por ela. Ela era estreita, a cobra não caberia ali.
Porém eu estava enganada. A cobra entrou com tudo na trilha, arrancando as árvores ao redor. Corri a plenos pulmões.
“Tomara que isso dê certo!” choraminguei pensando no que aconteceria se eu falhasse.
Tropecei em uma raíz, e bati de cara com um galho baixo de uma árvore. Me abaixei com dor e continuei a correr de cabeça baixa.
Eu já podia ver a “luz no fim do túnel”.
Eu estava quase no fim, quando prendi meu pé em uma raíz.

-NÃO! – gritei comigo mesma.

Tentei me soltar de todos os jeitos. A cobra se aproximava rápido demais! Peguei minha espada e tentei cortar a raíz. Eu não ia conseguir a tempo.
Novamente tentei me levantar e fugir. E, estranhamente, dessa vez deu certo!
Aumentei o passo e corri o máximo que pude.
Eu via um campo aberto com mais um lago. Ele era maior que o outro, mas tinha menos água.
Desviei para o lado das árvores, e a cobra atravessou como uma flecha o campo, e parou dentro do lago.
Esse não era meu plano, mas deu certo.
Eu não tinha muito tempo. Prestei atenção ao redor, e, num lugar mais escondido a esquerda, notei Selion e Adrian.
Me aproximei deles.

-SELION! ADRIAN! – chamei.

-SAKURA! – Adrian gritou surpreso.

Ele fez um sinal indicando para fugir.
Me virei para trás surpresa. Duas cobras de água, do tamanho da que me perseguiu, me encaravam.
Corri para Selion e Adrian.

-O QUÊ ESTÁ ACONTECENDO?! – perguntei.

Percebi que eles estavam um pouco ocupados. Havia um monte de cobras em cima deles. Eles estavam tentando se livrar delas.
Fui acertada nas costas por alguma coisa.
Ergui minha espada e me preparei para ver o quê era. Cobras de água do tamanho de pessoas nos atacavam.
As duas maiores só observavam, esperando alguma ordem.
Tentei cortar a que me acertou, mas ela se dividiu em duas antes de atacar, e depois se fundiu em uma.

-SELION! PEGUE FOGO, TACA FOGO NELES, QUALQUER COISA! TENTE EVAPORÁ-LOS! – pedi as pressas.

Pequenas cobras comuns estavam me cercando. Na certa eram venenosas.

-N-não posso! – ele falou sem ar, porque uma cobra estava apertando seu pescoço.

Ele se livrou dela com muito esforço. E logo depois foi acertado na barriga por uma das cobras de água.

-S-snape... – ele passou a mão no pescoço, e depois tirou uma cobra de sua cabeça. – Ele está com a pedra da água... E ele de algum jeito me impediu de usar fogo!

Meu plano se foi por água abaixo. O quê iríamos fazer? Precisamos agir!
Eu era a única sem cobras sobre o corpo. Eu tinha que aproveitar isso. Me distanciei deles para procurar Snape. As cobras maiores me cercaram e impediram minha passagem. Ergui a espada e cortei parte de seu corpo.
A cobra se dividiu, criando uma fenda em seu corpo, para não ser acertada. Era isso que eu queria.
Aproveitei a situação para passar por elas.
Uma das cobras de água menores ia me atacar. Mas uma flecha a atravessou, e ela caiu no chão como água comum. Selion apontou para um caminho aberto com poucas árvores.
Corri para lá. Eu vou dar um jeito nisso!
Ao me aproximar, percebi que o caminho estava todo devastado. Havia uma gosma estranha no chão e nas árvores. O verde havia se transformado em um marrom acinzentado, como se as árvores estivessem mortas.
Apressei o passo e corri pelas sombras. Eu tinha o elemento surpresa, e queria manter ele.
Há medida que fui correndo, o lugar se tornou sombrio. Logo, não havia sol. As árvores mortas e murchas, algumas sem alguns pedaços, cobriam todo o lugar.
Comecei a ouvir vozes. Seguidas de um sibilar.

-Venha... Temossssss uma propossssta para você... – Snape chamava.

“Quem ele está procurando?”
Corri com cautela, pelas sombras, até ele. Eu estava a uma boa distância. Podia feri-lo!

-Vamossss Ssssslender... Apareça. – ele continuava chamando enquanto andava.

“Slender? Quem é esse?”
Me aproximei sem barulho, e eu o ataquei com toda a força que consegui reunir.
Snape se virou e segurou minha espada com as duas mãos.

-Não pode sssssurpreender uma cobra. Elas têm reflexossss melhores que os seus! – ele zombou.

Ele tentou tirar a espada de mim, mas eu a segurei mais forte.
Me livrei de suas mãos, e o ataquei com um corte perto das mãos. Ele desviou e começou a sibilar.
Notei que cobras começaram a aparecer. Iam em minha direção, subiam pelos meus pés.

-PARE COM ISSO! – mandei.

Fingi que ia atacar o pescoço de Snape, e quando ele foi se defender, cortei suas mãos. Gotas de sangue saíram de seu braço. Não, espera, não era sangue. Era... um líquido verde... Não podia ser sangue, não é?
Ele pegou meu braço, e o torceu, depois me atirou no chão. Me levantei com dificuldade para não ser atacado pelas cobras.
Pisei em algumas enquanto corria até Snape para atacá-lo novamente. Eu não ia desistir! Selion e Snape contavam comigo!
Uma das cobras gigantes apareceu.

-Não... – comentei ofegante.

Snape aproveitou a situação e me deu uma cotovelada na barriga. Me dobrei de dor. Cambaleei até uma árvore próxima.
A cobra estava prestes a atacar, mas Snape fez um sinal para que ela parasse.
Grandes presas podiam ser vistas fora de sua boca. Gotas de um líquido roxo saíam delas, como a gosma que tinha na trilha.

-Esssstá vendo isso? É veneno. Meu veneno. O veneno que irá te matar. – ele começou a se aproximar.

“O quê fazer... O quê fazer...?!” pensei com medo.

Eu estava completamente cercada. Mas eu tinha que me levantar!
Tentei me levantar, e consegui, mas eu sabia que não iria suportar por muito tempo. Algumas cobras começaram a se enrolar e apertar minha perna, interrompendo o sangue. Fiz o possível para tirá-las de mim.
Mas elas continuavam a subir pela minha perna.
Snape então se aproximou mais, com suas presas afiadas bem expostas.

-Você perdeu! – ele riu. – Fim de jogo!

A cobra de água me cercou, e então começou a se apertar, até me prender.

-Onde prefere que eu injete o veneno? – ele perguntou insano.

E então, num movimento repentínuo, ele cambaleou para trás e caiu de costas. Depois começou a flutuar, e foi jogado contra a cabeça da cobra de água.
Eu olhava a aquilo aterrorizada, sem saber o quê fazer, ou pensar. E então, notei que ele não estava flutuando. Estava preso por um tentáculo.
O Ser havia voltado! Mas porquê?
Bem, tudo que eu sei é que eu não iria reclamar disso.
Snape começou a chacoalhar, e uma coisa caiu de seu bolso.
Era a pedra da água!
Ao tocar o chão, a cobra de água perdeu sua forma, e caiu no chão como água comum. Depois dela, todas as outras cobras também se transformaram em água pura e caíram no chão. Eu estava ensopada, porém muito feliz!
Corri até a pedra, ignorando as mordidas das cobras nas minhas pernas, e peguei a pedra. A abracei para protegê-la de Snape.
O Ser então apareceu, e rosnou. Eu já estava cansada de me perguntar como.

-Seu lugar não é aqui... – a voz do monstro saiu muito alta e rouca, ela ecoou por todo o lugar.

-Eu vim atrássss de você. Eu tenho o que você procura... – Snape respondeu a ameaça.

O Ser chegou perto de Snape, e o encarou.
Eu estava confusa. Mas tinha que agir.
Corri até Selion e Adrian, retirando o resto das cobras que tinham em mim no caminho. Eles haviam me encontrado no caminho.

-SAKURA! – Adrian chamou. – Você está bem? Conseguiu derrotá-lo?

-Não exatamente... Mas vocês precisam vir comigo. AGORA! – peguei o braço dos dois e os puxei.

Corremos até o lugar onde tinha visto Snape e o Ser pela última vez.
Snape estava no chão, rindo vitorioso. Eu me perguntava o motivo.
O monstro sem face estava ao seu lado. Imóvel, como se tivesse parado para pensar.
Snape apontou para mim e meus amigos.
O monstro deu passos pequenos até nós, lentamente, e aos poucos, notei que algo se formava em sua cara. Uma linha preta se abria em sua face, no lugar da boca. Uma fenda em sua cara branca e sem nada.

-O quê é isso?! – Selion perguntou.

Ele pegou seu arco e mirou no monstro.

-NÃO! – eu o impedi me colocando na frente dele. – Ele me ajudou!

-Não parece que ele quer ajudar, Sakura. – Adrian apontou para ele.

Eu voltei meu olhar ao monstro. A fenda em sua cara tinha ficado maior, e ia de um lado até o outro na cara dele. Então aos poucos, ela foi se abrindo. Vários dentes surgiram da fenda, muitos dentes mesmo. Eram afiados, e estavam cobertos por uma gosma preta horrível.
“Então é assim que ele falava...” foi meu primeiro pensamento.
“P-porque estava indo em nossa direção daquele jeito?” pensei logo depois.
Eu realmente não estava entendendo. E nem dava tempo para isso.
Ele parou na minha frente, se abaixou e rosnou ferozmente. Um pouco da gosma respingou na minha cara. Era muito nojento e assustador!
Me afastei aos tropeços.

-SNAPE, O QUÊ VOCÊ FEZ?! – briguei.

-Um novo amigo... – ele deu um sorriso malicioso.

Selion atirou flechas contra o monstro.
Ele desviou agilmente, e seus tentáculos apareceram por trás dele.
Ele nos agarrou e nos levantou no ar.

-NOS SOLTE! PORQUE ESTÁ FAZENDO ISSO?! – briguei tentando me soltar.

Selion atirou fogo nele com sua boca, mas os tentáculos esquivavam. Ele era muito rápido e preciso.
Então me lembrei da pedra. Eu a tinha colocado no meu bolso.
Tentei alcançá-la.
Snape percebeu isso.

-A, tire a pedra dela. Eu preciso maissssss do que ela. – Snape ordenou.

O monstro me apertou, e um de seus tentáculos entrou em meu bolso, e tirou a pedra de mim.

-A PEDRA! – Adrian gritou surpreso.

Selion pegou fogo de raiva.
Os tentáculos do monstro não aguentaram o calor e o soltou.
Selion jogou bolas de fogo no tentáculo com a pedra, e ele a largou.
Ele correu e a pegou antes de cair no chão.

-CONSEGUI! – ele comemorou aliviado e contente.

E então, algo deu errado. Nas mãos de Selion, a pedra começou a saltar e a fazer um barulho, como se estivesse fervendo.

-AAAAAARG! – Selion gritou de dor e a pedra caiu no chão.

Quando a pedra caiu no chão, ela voltou ao normal.

-O-o quê?! – fiquei perplexa.

-O quê foi isso!? – Selion perguntou encarando sua mão assustado.

Snape riu.

-Vocêsssss são incompatíveissssss, não vê? Você é um ser divino de fogo. Essssta é uma pedra suprema de água. Achou mesmo que poderia manipulá-la? – Snape explicou zombando.

“Ser divino?”
Snape correu até Selion e o atacou. Ele estava com cobras em suas mãos, e ele se aproximava e as jogava nele, e logo depois as cobras o mordiam. O Snape aproveitava a situação e o socava e chutava.
Selion tentava se livrar das cobras mas elas eram rápidas.
Ele pegou fogo, e todas caíram no chão.

-O mesmo truque não funciona agora! – Selion o encarou.

Ele cuspiu uma bola de fogo direto no Snape e o acertou. Ele cambaleou para trás, mas se recompôs e deslizou no chão cheio de gosma de cobra até a pedra.
Selion colocou seu pé no caminho dele e o parou.

-Não ouse.

Snape se transformou em cobra, e desviou de Selion, mas ele conseguiu pegá-lo e jogá-lo contra o ser com dentes enormes.

-O quê esssssstá fazendo?! Acabe com essesssss doissss infelizesss em suassss mãossss! – Snape ordenou.

Voltei minha atenção ao monstro.
Uma língua bizarra muito comprida saiu de sua boca, e limpou sua face da gosma preta. Depois ele abriu bem sua boca e seus tentáculos começaram a nos aproximar dele.

-Sinto muito. Ele é mais importante. – ele falou sem emoção.

“Ele? Ele quem? Snape?”
Comecei a chutar seus tentáculos. Era inútil.
Quando cheguei perto da cara dele, comecei a chutá-la.
Ele me afastou um pouco dele e rugiu. Mais gosma saltou na minha cara.
Se eu conseguisse pelo menos levantar o braço para atacá-lo com a espada... Mas eu não conseguia.
Snape começou a se enrolar na mão do Selion, e a mordê-lo.
Será que ele seria afetado pelo veneno?
Não dava para me preocupar com ele. O monstro estava prestes a me devorar.

-POR FAVOR! NÃO! S-SOMOS SÓ CRIANÇAS! – gritei no desespero.

O monstro parou por um segundo.

-Você... Conseguiu pará-lo? – Adrian perguntou desconfiado.

O monstro encarava o além. Ele estava pensando?

-Crianças... – ele falou com a voz fraca e rouca, porém ainda assustadora.

Ele nos largou no chão e caímos com tudo.
Caí sentada no chão.
Me aproximei dele aos poucos.

-O quê está acontecendo...? – perguntei com cuidado.

-Se... Afaste. – ele alertou me empurrando.

Eu tentei falar com ele, mas ele se distanciou.
Então eu lembrei que Selion precisava de ajuda. Peguei minha espada e corri até a pedra.

-NÃO! – Snape sibilou pulando em cima de mim.

Ele mordeu meu pescoço. Senti o veneno dentro de mim, era uma sensação horrível.
Selion o puxou. Berrei de dor e caí no chão, fraca.

-SAKURA! – Adrian correu até mim.

-HAHAHA! – Snape riu freneticamente. – Você perdeu menina. Menossss um. Não exisssste antídoto para meu veneno!

Selion segurou Snape e depois o jogou para o monstro sem face.
O monstro o segurou no ar, e o apertou bem forte.

-O quê essssta fazendo?! – Snape reclamou. – VÁ MATA-LOS!

Ele disse que não com a cabeça.

-Não. – ele respondeu curto e grosso.

-SE ME TRAIR, NUNCA VERÁ SEU FILHO! – Snape gritou voltando a sua forma humana e se libertando dele.

“O filho dele...?”
Tentei me levantar, mas estava muito fraca. O veneno agia muito rápido.

-So...corro... – falei fraca.

-Aguenta firme Sakura! – Adrian pediu. – RETIRE O VENENO DELA!

-Não possssso, menino imbecil. Não exissssste uma cura para meu veneno, lembra?

O monstro o pegou pelo pescoço e começou a estrangulá-lo.

-P-PARE! É UMA ORDEM! SE NÃO EU MATAREI ELE! – Snape ameaçou.

O monstro não parou.

-Não acredito em você. – o monstro respondeu zangado.
Minhas pálpebras ficaram pesadas. Tudo ao redor começou a distorcer e a perder o foco. Tudo se tornou um borrão, que aos poucos se tornou escuridão. Só escuridão. Tudo que eu via era a escuridão.

                                                     ...

-Pessoal! Ela está acordando! – uma voz avisou.

Abri meus olhos devagar. Eu estava em uma espécie de cabana, uma casa pequena. Estava um pouco escuro e eu não conseguia enxergar muito bem as coisas ao redor. Mas três pessoas me encaravam.
Duas eu reconheci. Selion e Adrian. Mas a outra não. Ela estava coberta pelas sombras.

-O... Quê aconteceu? – perguntei tonta.

-Snape aplicou veneno em você, um veneno mortal. Mas nós conseguimos tirá-lo a tempo, graças a ajuda do Slender aqui. – Adrian apontou para a pessoa em meio as sombras.

Ele deu alguns passos a frente.
Ele não tinha cara. Usava um terno preto, e seu corpo era inteiramente branco. Estremeci.

-Q-q-quem ou o-o quê é isso? – perguntei.

-Qual o problema? Não se lembra dele? – Selion questionou com uma cara estranha.

-Nunca vi ele antes... S-só sei que assusta. – respondi.

Adrian e Selion se entreolharam e depois me pediram para esperar um pouco. Eles se afastaram e falaram com o ser sem face.
Logo, eles voltaram com uma cara tensa.

-Bem... Parece que você perdeu um fragmento de sua memória... Devido aos métodos usados para tirar o veneno... – Selion começou a falar.

-Método? Que método? – perguntei.

-Slender usou a pedra da água para controlar Snape, através de seu sangue... E parece que não foi totalmente eficaz... Mas você está livre do veneno, isso eu garanto. – Adrian completou.

Passei a mão pelo meu pescoço. Havia um curativo em cima dele, mas ainda doía um pouco.

-Mas... e quanto ao Snape?

-Ele conseguiu fugir usando suas cobras chatas como distração... Nós capturamos ele na próxima. Até lá, achamos um jeito de neutralizar o veneno. – Adrian respondeu.

Suspirei.
A criatura... Digo, o “Slender” parecia me encarar com sua face branca. Aquilo estava começando a se tornar desconfortável.

-Olha o lado bom da coisa. – Selion quebrou o silêncio. – Temos todas as pedras! Todas as que interessam. Podemos derrotar a Grand Destruction!

-É isso aí! Agora quero ver eles se achando superiores. Estamos um passo a frente. – Adrian comemorou.

Eu fiquei feliz também... Mas algo parecia errado. Se era uma busca pela pedra, porque a Grand Destruction só mandou o Snape para cá? Se eles não tinham nenhuma das pedras originais, não deviam se preocupar em trazer no mínimo um pequeno exército?
Comecei a pensar.
Será que eles enviaram um exército, assim como eu penso? Só que atrás de Kathryn, Misake e Melody? Ou então eles têm algum outro plano reserva...?
Comecei a raciocinar, a juntar tudo devagar, e descobri tudo.

-PESSOAL! – me levantei num pulo. – PRECISAMOS VOLTAR PRA CASA!

-O quê? – Selion e Adrian perguntaram em sincronia.

-É uma armadilha! Eles devem ter feito algo com Richard, eu senti isso! Tem algo de errado nela! E adivinhem? Ela está sozinha em casa. Com todas as pedras que temos, e mais a Blanorcana, que é uma pedra ambulante! – expliquei rapidamente. – TEMOS QUE VOLTAR AGORA!

-Calma... Você acabou de viver uma grande aventura, ainda deve haver venenos não-letais das outras cobras em você. Richard está bem. Todos sabemos disso, vimos ela antes de sair e estava tudo bem. – Adrian a acalmou.

-Sabe... A idéia dela até que faz sentido... – Selion argumentou. – No parque dos vulcões, lembro que Sylfer e Lief fizeram alguma coisa com ela... E ela pareceu mais sombria depois daquilo...

Todos ficamos com os olhos arregalados e nos apressamos em sair.

-Obrigado por tudo, Slender, mas temos que ir! – Selion agradeceu as pressas.

Ele ficou parado. Simplesmente levantou sua mão, e abanou lentamente. Suas costas estavam inclinadas, como alguém corcunda, e vários tentáculos balançavam atrás dele. Estremeci e saí correndo o máximo que pude.
“Se eu nunca mais vir esse monstro horrendo vai ser bom!” choraminguei por pensamento.

-EI! ESPERE POR NÓS! – Selion pediu logo atrás de mim.

-NÃO! QUERO IR PARA LONGE DAQUI! – berrei correndo na frente deles.

                                                      ...

-Arf... Arf... – eu respirava alto cansada de tanta correria. – Che...Gamos...

Abri a porta exausta e me deixei cair no chão da cozinha.

-Agora tudo faz sentido... – murmurei lembrando de Selion, que havia feito a mesma coisa da última vez.
Selion e Adrian chegaram logo atrás de mim.

-Você não sabe esperar?! – Adrian brigou.

-Foi mal, gente... Eu queria distância daquele ser... – expliquei ofegante.

Selion bebeu um copo de água, e se dirigiu até a sala de estar.

-Richard? Blanorcana? – ele chamou.

Não houve resposta. Um silêncio invadiu o local.

-GENTE! ALGO MUITO RUIM ACONTECEU! – Selion voltou com uma expressão de pavor no rosto.

Me levantei depressa e corri até a sala.
O lugar estava todo bagunçado, como se um furacão tivesse passado por ali. Haviam marcas de garras em algumas paredes, tudo estava fora de ordem, quebrado, rasgado, destruído.
E no centro de tudo, Blanorcana estava jogada, fraca e machucada.

-BLANORCANA! – gritei enrolando as letras do nome complicado dela.

Me aproximei dela e me abaixei para ajudá-la.
Ela estava inconsciente.

-O QUÊ HOUVE AQUI?! – Adrian perguntou alto.

Não havia mais ninguém em casa. Senão já teria aparecido e nos visto. Adrian correu pelo corredor, provavelmente para verificar os quartos.
Eu e Selion levantamos Blanorcana, e a deitamos nos restos do sofá destroçado.
Dei tapinhas leves na sua cara, para ela acordar. Ela continuou inconsciente. Sua respiração estava ofegante, ela estava agitada.
Só pode ter sido Richard! Quem mais seria?

-Selion, o quê vamos fazer? – eu perguntei trêmula.

Adrian voltou correndo.

-Os quartos estão em ordem. Não têm mais ninguém aqui... Só tem um detalhe... AS PEDRAS SUMIRAM! – Adrian explicou apavorado. – Sei disso porque ouvi Kathryn contando onde estavam as pedras! Não têm nenhuma lá!

-Richard... – Selion rosnou. – Lembro que ela tinha guardado as pedras com ela... E agora ela deu elas de bandeja para a Grand Destruction... Estava fácil demais para ser verdade...

Blanorcana continuava dormindo, ofegante.
Adrian tirou a pedra da água do seu bolso e a encarou.
“Agora só temos uma delas...” pensei arrasada.
“Estamos de volta a estaca zero... Tudo o quê fizemos... Por nada...”

Era uma cena triste... Como nós poderíamos ganhar essa guerra agora? Devíamos desistir?

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