8. Veneno.
Gritei por dentro quando
seus tentáculos me agarraram e me levantaram do chão. Abri meus olhos
lentamente. Ele estava cara a cara comigo e se tivesse olhos, aposto que
estaria me encarando!
Neste momento lembrei de
minha espada, eu podia usá-la para fugir! Mas eu a perdi no lago.
“Selion, Adrian, cheguem
logo por favor!” eu implorava por ajuda por pensamento.
O ser estranho me
carregou com seus tentáculos, e começou a andar para o lado de fora.
“O quê ele pretende fazer
comigo?”
Quando saímos da pequena
cabana, olhei ao redor.
Estávamos num lugar muito
mais dentro da floresta.
As árvores cobriam
totalmente o lugar, estava muito escuro, embora ainda fosse dia.
Fiz o possível para me
virar para trás. A cabana onde estávamos,
ela estava caindo aos pedaços. Toda destruída, com plantas crescendo
pela parede.
Observei o ambiente ao
redor procurando por algo que pudesse me ajudar. Notei o topo das árvores.
Haviam cordas amarradas no ponto mais alto dos troncos. E um pouco mais para
baixo, manchas vermelhas.
“I-Isso seria sangue?”
estremeci.
-O-onde está me levando?
– consegui perguntar.
Ele parou de andar e não
fez nenhum movimento.
Ele virou sua cara vazia
para os lados.
Estranhei a reação dele. Mas
não demorou muito para entender.
Passos. Era possível
ouvir passos vindos na nossa direção.
Imaginei imediatamente
que poderia ser Selion ou Adrian.
-AQUI! PESSOAL! EU FUI
RAPTADA! – gritei por ajuda.
O Ser colocou sua mão na
minha boca num movimento brusco.
Tentei continuar a
gritar, mas não conseguia. Ele se moveu rapidamente e se escondeu por trás das
árvores.
“Não estou entendendo...”
Eu continuei ouvindo
passos. Tentei emitir algum som, qualquer um, mas a estranha criatura começou a
apertar minha garganta cada vez mais forte, e fui obrigada a parar.
E então, ouvi um sibilo.
Alto e prolongado, que
não acabava mais.
E aos poucos, o som
começou a se multiplicar e multiplicar. Eram cobras. De fato eram cobras. E
adivinha o quê isso lembra?
Snape. Como se a situação
já não estivesse boa, ela agora piora.
Notei que o ser começou a
se mover. Ele ia a uma velocidade incrível, se escondendo atrás das árvores,
para longe daquele lugar. O quê ele pretendia fazer?
Aos poucos, os sibilos
foram deixados para trás. Eu ficaria aliviada, se não estivesse sendo carregada
por um monstro sem face. Tentei lutar novamente para me libertar, mas era
inútil.
Ao longo do caminho, a
floresta foi se tornando menos fechada. Alguns raios de sol tocavam o chão,
através das folhas das árvores.
A criatura saiu de trás
das árvores, e se moveu até a trilha mais próxima. Lá, ele soltou um pouco
minha boca. Já estava começando a doer.
Ele me encarou e me
colocou em cima de uma árvore, virada para baixo.
-PARE! O QUÊ ESTÁ
FAZENDO?! – gritei com ele.
Um de seus tentáculos
bateu na minha cara.
Dava para notar por um
gesto que ele fez com a mão, que ele queria silêncio. Mas eu não ia obedecê-lo.
Mordi o tentáculo que me
segurava na intenção de fazê-lo me soltar. O monstro pareceu ficar irritado.
Comecei a tentar
chutá-lo. Mas não conseguia. Só parei quando, de repente, ele me soltou e eu
caí de cara no chão.
Me levantei rapidamente e
tentei fugir. Corri para frente sem olhar para trás. Tomei o máximo de
distância dele que consegui. Quando achei que já estava segura, me escondi
atrás de uma árvore e retomei o fôlego.
-Ufa... – sussurrei para
mim mesma.
Esperei um tempinho, e
depois me levantei. Eu tinha que achar os outros, avisá-los sobre o Snape.
“Será que já encontraram
a pedra?”
Comecei a andar pela
sombra. Mas o local não era totalmente fechado como o de antes. Não havia
muitas sombras. Tive que me contentar com isso.
Nem caminhei muito, logo
a frente eu vi uma abertura totalmente iluminada. Mas a pergunta era: Onde ela
ia dar?
Será que eu estava no
mesmo local que comecei?
Não, isso não é
possível... Eu não passei por nenhuma bifurcação na trilha. Então eu devo estar
perto do lago. Talvez...
Comecei a correr para lá,
mas uma coisa estava tapando a saída. Adivinha o quê? A criatura de novo,
parada, me observando.
Dei um salto para trás.
“Como ele chegou aqui tão
rápido?!” pensei.
Desviei dele e corri em
direção a luz. Mas ele foi mais rápido, agarrou minha perna e me ergueu no ar.
-O QUÊ VOCÊ QUER DE MIM?!
– gritei com ele.
Ele me colocou entre duas
árvores, e eu notei uma outra trilha escondida.
“Ele quer que eu siga
esta trilha?” pensei relutante.
Não tinha opção, eu a
segui, procurando algum meio de escapar. Era uma trilha estreita, não dava pra
se mexer direito. E eu tinha que prestar muita atenção no chão, senão podia
acabar tropeçando nas raízes.
Notei que ele estava me
seguindo.
-Para onde está me
levando...? – perguntei.
-Para longe dele. – uma
voz sombria respondeu vinda de algum lugar.
Levei um susto.
Era ele que tinha falado
isso?! Mas ele não tem boca! Como isso é possível?!
-V-você sabe falar?! –
tentei perguntar.
-Monstros não são
analfabetos. – a voz sombria que vinha dele me respondeu.
-MAS COMO?! V-você não
tem boca!
Ele me ignorou, e me
empurrou para frente.
Tínhamos chegado ao fim
da trilha. Estávamos em uma grande clareira, com um enorme lago.
Ele havia me levado até
meus amigos! Mas agora têm uma coisa... Onde eles estavam?
Será que tinham ido me
procurar?
Procurei eles prestando
atenção ao redor. Vi um bando de cobras saírem da água e seguirem por uma
trilha. Com certeza elas iam me levar até eles!
Mas tem um detalhe... E
se Snape os capturou de alguma maneira? São muitas cobras... Não posso ir
indefesa! Se eu pelo menos tivesse minha espada...
-Caham. – o ser alto e
esguio me chamou.
Ele apontou para a água.
Notei que ela começou a
subir e a formar pequenos tornados de água. Me afastei do lago.
E então os tornados se
fundiram, e formaram uma cobra enorme de água.
-Essa não... Isso
significa que Snape está com a pedra! – murmurei infeliz me afastando da
criatura.
Porque eu tinha que ter
perdido minha espada?! Ela ta fazendo tanta falta!
Eu procurava por um meio
de me defender, quando um reflexo bateu no meu olho. Procurei da onde vinha.
Estava vindo da cobra gigante.
Minha espada estava
aparecendo perto da cabeça da criatura. Metade para fora, metade para dentro da
água.
Como eu iria pegá-la?! Eis
a questão.
Me virei para o ser sem
face. Será que ele me ajudaria?
Ele tinha sumido.
Evaporado. Desaparecido.
Se eu tinha tempo pra me
preocupar com isso? Não.
Eu me virei para a cobra
d’água a tempo de pular para o lado e desviar de seu ataque. Ela tentou me
devorar novamente, indo rapidamente com a boca aberta até mim, mas consegui
desviar por pouco. Estiquei a mão para pegar a espada. Não consegui.
Corri para a trilha onde
tinha visto as pequenas cobras irem. No meio do caminho, atropelei o ser de
terno.
-NÃO É UMA BOA HORA, SR.
APARECE E DESAPARECE! – gritei sem pensar no que dizia.
Ele me pegou com seus
tentáculos e me levantou no ar.
-O QUÊ ESTÁ FAZENDO?! –
tentei me soltar.
-Calada. Você tem uma
chance. – sua voz sombria respondeu a meus gritos.
A cobra pareceu encarar a
face em branco do monstro que me segurava. Notei que comecei a me mover. O ser moveu
seu tentáculo para trás, e me atirou contra a cobra.
A cobra abriu bem sua
boca. E eu ia na direção dela.
EU IA SER ENGOLIDA!
Eu iria ficar presa
dentro da cobra gigante, e morrer afogada!
E então, num ato de
desespero, notei que eu não estava sendo arremessada para a boca do monstro de
água, mas sim um pouco mais para cima. A mira exata iria passar direto pela
minha espada!
O monstro sem face estava
me ajudando! Mas por quê?
Foquei na espada, e a
agarrei quando me aproximei dela. O impacto do arremesso me ajudou a tirá-la da
água. Agora só tinha um problema. Pousar.
Caí de cara no chão.
Me levantei e limpei
minha cara rapidamente. Dessa vez eu não tinha perdido a espada na queda! A
cobra gigante pareceu sorrir.
Ela deu uma investida e
disparou em minha direção com sua boca aberta. Desviei aos tropeços. Quase
perdi minha perna.
Sem pensar duas vezes,
acertei a cabeça da cobra com um golpe rápido e preciso. A espada atravessou a
água, e parece que a cobra não gostou nem um pouco disso.
Dentes de água afiados se
formaram em sua boca.
“Ok, tenho a arma. Mas e
para matar esse bicho?” pensei enquanto corria.
E então tive uma idéia.
Me aproximei da cobra
(mas não muito, claro) e acertei parte de seu corpo. Ela rugiu e depois sibilou
como se estivesse afogada. Depois ela me encarou com seus olhos raivosos e
azuis feitos de água, e disparou em minha direção.
Exatamente como eu
queria.
-VENHA ME PEGAR BICHO
FRACO E INÚTIL! – gritei zombando da cobra.
Ela me atacou, mas eu
desviava aos tropeços e a cobra acabava comendo terra. Dava para ver ela se
diluindo na água. Não era uma coisa muito bonita de ser ver.
Corri em direção da
trilha. Aquela por onde as cobras foram.
Comecei a correr por ela.
Ela era estreita, a cobra não caberia ali.
Porém eu estava enganada.
A cobra entrou com tudo na trilha, arrancando as árvores ao redor. Corri a
plenos pulmões.
“Tomara que isso dê
certo!” choraminguei pensando no que aconteceria se eu falhasse.
Tropecei em uma raíz, e
bati de cara com um galho baixo de uma árvore. Me abaixei com dor e continuei a
correr de cabeça baixa.
Eu já podia ver a “luz no
fim do túnel”.
Eu estava quase no fim,
quando prendi meu pé em uma raíz.
-NÃO! – gritei comigo
mesma.
Tentei me soltar de todos
os jeitos. A cobra se aproximava rápido demais! Peguei minha espada e tentei
cortar a raíz. Eu não ia conseguir a tempo.
Novamente tentei me
levantar e fugir. E, estranhamente, dessa vez deu certo!
Aumentei o passo e corri
o máximo que pude.
Eu via um campo aberto
com mais um lago. Ele era maior que o outro, mas tinha menos água.
Desviei para o lado das
árvores, e a cobra atravessou como uma flecha o campo, e parou dentro do lago.
Esse não era meu plano,
mas deu certo.
Eu não tinha muito tempo.
Prestei atenção ao redor, e, num lugar mais escondido a esquerda, notei Selion
e Adrian.
Me aproximei deles.
-SELION! ADRIAN! –
chamei.
-SAKURA! – Adrian gritou
surpreso.
Ele fez um sinal
indicando para fugir.
Me virei para trás
surpresa. Duas cobras de água, do tamanho da que me perseguiu, me encaravam.
Corri para Selion e
Adrian.
-O QUÊ ESTÁ ACONTECENDO?!
– perguntei.
Percebi que eles estavam
um pouco ocupados. Havia um monte de cobras em cima deles. Eles estavam
tentando se livrar delas.
Fui acertada nas costas
por alguma coisa.
Ergui minha espada e me
preparei para ver o quê era. Cobras de água do tamanho de pessoas nos atacavam.
As duas maiores só
observavam, esperando alguma ordem.
Tentei cortar a que me
acertou, mas ela se dividiu em duas antes de atacar, e depois se fundiu em uma.
-SELION! PEGUE FOGO, TACA
FOGO NELES, QUALQUER COISA! TENTE EVAPORÁ-LOS! – pedi as pressas.
Pequenas cobras comuns
estavam me cercando. Na certa eram venenosas.
-N-não posso! – ele falou
sem ar, porque uma cobra estava apertando seu pescoço.
Ele se livrou dela com
muito esforço. E logo depois foi acertado na barriga por uma das cobras de
água.
-S-snape... – ele passou
a mão no pescoço, e depois tirou uma cobra de sua cabeça. – Ele está com a
pedra da água... E ele de algum jeito me impediu de usar fogo!
Meu plano se foi por água
abaixo. O quê iríamos fazer? Precisamos agir!
Eu era a única sem cobras
sobre o corpo. Eu tinha que aproveitar isso. Me distanciei deles para procurar
Snape. As cobras maiores me cercaram e impediram minha passagem. Ergui a espada
e cortei parte de seu corpo.
A cobra se dividiu,
criando uma fenda em seu corpo, para não ser acertada. Era isso que eu queria.
Aproveitei a situação
para passar por elas.
Uma das cobras de água
menores ia me atacar. Mas uma flecha a atravessou, e ela caiu no chão como água
comum. Selion apontou para um caminho aberto com poucas árvores.
Corri para lá. Eu vou dar
um jeito nisso!
Ao me aproximar, percebi
que o caminho estava todo devastado. Havia uma gosma estranha no chão e nas
árvores. O verde havia se transformado em um marrom acinzentado, como se as
árvores estivessem mortas.
Apressei o passo e corri
pelas sombras. Eu tinha o elemento surpresa, e queria manter ele.
Há medida que fui
correndo, o lugar se tornou sombrio. Logo, não havia sol. As árvores mortas e
murchas, algumas sem alguns pedaços, cobriam todo o lugar.
Comecei a ouvir vozes.
Seguidas de um sibilar.
-Venha... Temossssss uma
propossssta para você... – Snape chamava.
“Quem ele está
procurando?”
Corri com cautela, pelas
sombras, até ele. Eu estava a uma boa distância. Podia feri-lo!
-Vamossss Ssssslender...
Apareça. – ele continuava chamando enquanto andava.
“Slender? Quem é esse?”
Me aproximei sem barulho,
e eu o ataquei com toda a força que consegui reunir.
Snape se virou e segurou
minha espada com as duas mãos.
-Não pode sssssurpreender
uma cobra. Elas têm reflexossss melhores que os seus! – ele zombou.
Ele tentou tirar a espada
de mim, mas eu a segurei mais forte.
Me livrei de suas mãos, e
o ataquei com um corte perto das mãos. Ele desviou e começou a sibilar.
Notei que cobras
começaram a aparecer. Iam em minha direção, subiam pelos meus pés.
-PARE COM ISSO! – mandei.
Fingi que ia atacar o
pescoço de Snape, e quando ele foi se defender, cortei suas mãos. Gotas de
sangue saíram de seu braço. Não, espera, não era sangue. Era... um líquido
verde... Não podia ser sangue, não é?
Ele pegou meu braço, e o
torceu, depois me atirou no chão. Me levantei com dificuldade para não ser
atacado pelas cobras.
Pisei em algumas enquanto
corria até Snape para atacá-lo novamente. Eu não ia desistir! Selion e Snape
contavam comigo!
Uma das cobras gigantes
apareceu.
-Não... – comentei
ofegante.
Snape aproveitou a
situação e me deu uma cotovelada na barriga. Me dobrei de dor. Cambaleei até
uma árvore próxima.
A cobra estava prestes a
atacar, mas Snape fez um sinal para que ela parasse.
Grandes presas podiam ser
vistas fora de sua boca. Gotas de um líquido roxo saíam delas, como a gosma que
tinha na trilha.
-Esssstá vendo isso? É
veneno. Meu veneno. O veneno que irá te matar. – ele começou a se aproximar.
“O quê fazer... O quê
fazer...?!” pensei com medo.
Eu estava completamente
cercada. Mas eu tinha que me levantar!
Tentei me levantar, e
consegui, mas eu sabia que não iria suportar por muito tempo. Algumas cobras
começaram a se enrolar e apertar minha perna, interrompendo o sangue. Fiz o
possível para tirá-las de mim.
Mas elas continuavam a
subir pela minha perna.
Snape então se aproximou
mais, com suas presas afiadas bem expostas.
-Você perdeu! – ele riu.
– Fim de jogo!
A cobra de água me
cercou, e então começou a se apertar, até me prender.
-Onde prefere que eu
injete o veneno? – ele perguntou insano.
E então, num movimento
repentínuo, ele cambaleou para trás e caiu de costas. Depois começou a flutuar,
e foi jogado contra a cabeça da cobra de água.
Eu olhava a aquilo
aterrorizada, sem saber o quê fazer, ou pensar. E então, notei que ele não
estava flutuando. Estava preso por um tentáculo.
O Ser havia voltado! Mas
porquê?
Bem, tudo que eu sei é
que eu não iria reclamar disso.
Snape começou a
chacoalhar, e uma coisa caiu de seu bolso.
Era a pedra da água!
Ao tocar o chão, a cobra
de água perdeu sua forma, e caiu no chão como água comum. Depois dela, todas as
outras cobras também se transformaram em água pura e caíram no chão. Eu estava
ensopada, porém muito feliz!
Corri até a pedra,
ignorando as mordidas das cobras nas minhas pernas, e peguei a pedra. A abracei
para protegê-la de Snape.
O Ser então apareceu, e
rosnou. Eu já estava cansada de me perguntar como.
-Seu lugar não é aqui...
– a voz do monstro saiu muito alta e rouca, ela ecoou por todo o lugar.
-Eu vim atrássss de você.
Eu tenho o que você procura... – Snape respondeu a ameaça.
O Ser chegou perto de
Snape, e o encarou.
Eu estava confusa. Mas
tinha que agir.
Corri até Selion e
Adrian, retirando o resto das cobras que tinham em mim no caminho. Eles haviam
me encontrado no caminho.
-SAKURA! – Adrian chamou.
– Você está bem? Conseguiu derrotá-lo?
-Não exatamente... Mas
vocês precisam vir comigo. AGORA! – peguei o braço dos dois e os puxei.
Corremos até o lugar onde
tinha visto Snape e o Ser pela última vez.
Snape estava no chão,
rindo vitorioso. Eu me perguntava o motivo.
O monstro sem face estava
ao seu lado. Imóvel, como se tivesse parado para pensar.
Snape apontou para mim e
meus amigos.
O monstro deu passos
pequenos até nós, lentamente, e aos poucos, notei que algo se formava em sua
cara. Uma linha preta se abria em sua face, no lugar da boca. Uma fenda em sua
cara branca e sem nada.
-O quê é isso?! – Selion
perguntou.
Ele pegou seu arco e
mirou no monstro.
-NÃO! – eu o impedi me
colocando na frente dele. – Ele me ajudou!
-Não parece que ele quer
ajudar, Sakura. – Adrian apontou para ele.
Eu voltei meu olhar ao
monstro. A fenda em sua cara tinha ficado maior, e ia de um lado até o outro na
cara dele. Então aos poucos, ela foi se abrindo. Vários dentes surgiram da
fenda, muitos dentes mesmo. Eram afiados, e estavam cobertos por uma gosma
preta horrível.
“Então é assim que ele
falava...” foi meu primeiro pensamento.
“P-porque estava indo em
nossa direção daquele jeito?” pensei logo depois.
Eu realmente não estava
entendendo. E nem dava tempo para isso.
Ele parou na minha
frente, se abaixou e rosnou ferozmente. Um pouco da gosma respingou na minha
cara. Era muito nojento e assustador!
Me afastei aos tropeços.
-SNAPE, O QUÊ VOCÊ FEZ?!
– briguei.
-Um novo amigo... – ele
deu um sorriso malicioso.
Selion atirou flechas
contra o monstro.
Ele desviou agilmente, e
seus tentáculos apareceram por trás dele.
Ele nos agarrou e nos
levantou no ar.
-NOS SOLTE! PORQUE ESTÁ
FAZENDO ISSO?! – briguei tentando me soltar.
Selion atirou fogo nele
com sua boca, mas os tentáculos esquivavam. Ele era muito rápido e preciso.
Então me lembrei da
pedra. Eu a tinha colocado no meu bolso.
Tentei alcançá-la.
Snape percebeu isso.
-A, tire a pedra dela. Eu
preciso maissssss do que ela. – Snape ordenou.
O monstro me apertou, e
um de seus tentáculos entrou em meu bolso, e tirou a pedra de mim.
-A PEDRA! – Adrian gritou
surpreso.
Selion pegou fogo de
raiva.
Os tentáculos do monstro
não aguentaram o calor e o soltou.
Selion jogou bolas de
fogo no tentáculo com a pedra, e ele a largou.
Ele correu e a pegou
antes de cair no chão.
-CONSEGUI! – ele
comemorou aliviado e contente.
E então, algo deu errado.
Nas mãos de Selion, a pedra começou a saltar e a fazer um barulho, como se
estivesse fervendo.
-AAAAAARG! – Selion
gritou de dor e a pedra caiu no chão.
Quando a pedra caiu no
chão, ela voltou ao normal.
-O-o quê?! – fiquei
perplexa.
-O quê foi isso!? –
Selion perguntou encarando sua mão assustado.
Snape riu.
-Vocêsssss são
incompatíveissssss, não vê? Você é um ser divino de fogo. Essssta é uma pedra
suprema de água. Achou mesmo que poderia manipulá-la? – Snape explicou
zombando.
“Ser divino?”
Snape correu até Selion e
o atacou. Ele estava com cobras em suas mãos, e ele se aproximava e as jogava
nele, e logo depois as cobras o mordiam. O Snape aproveitava a situação e o
socava e chutava.
Selion tentava se livrar
das cobras mas elas eram rápidas.
Ele pegou fogo, e todas
caíram no chão.
-O mesmo truque não
funciona agora! – Selion o encarou.
Ele cuspiu uma bola de
fogo direto no Snape e o acertou. Ele cambaleou para trás, mas se recompôs e
deslizou no chão cheio de gosma de cobra até a pedra.
Selion colocou seu pé no
caminho dele e o parou.
-Não ouse.
Snape se transformou em
cobra, e desviou de Selion, mas ele conseguiu pegá-lo e jogá-lo contra o ser
com dentes enormes.
-O quê esssssstá
fazendo?! Acabe com essesssss doissss infelizesss em suassss mãossss! – Snape
ordenou.
Voltei minha atenção ao
monstro.
Uma língua bizarra muito
comprida saiu de sua boca, e limpou sua face da gosma preta. Depois ele abriu
bem sua boca e seus tentáculos começaram a nos aproximar dele.
-Sinto muito. Ele é mais
importante. – ele falou sem emoção.
“Ele? Ele quem? Snape?”
Comecei a chutar seus
tentáculos. Era inútil.
Quando cheguei perto da
cara dele, comecei a chutá-la.
Ele me afastou um pouco
dele e rugiu. Mais gosma saltou na minha cara.
Se eu conseguisse pelo
menos levantar o braço para atacá-lo com a espada... Mas eu não conseguia.
Snape começou a se
enrolar na mão do Selion, e a mordê-lo.
Será que ele seria
afetado pelo veneno?
Não dava para me
preocupar com ele. O monstro estava prestes a me devorar.
-POR FAVOR! NÃO! S-SOMOS
SÓ CRIANÇAS! – gritei no desespero.
O monstro parou por um
segundo.
-Você... Conseguiu
pará-lo? – Adrian perguntou desconfiado.
O monstro encarava o
além. Ele estava pensando?
-Crianças... – ele falou
com a voz fraca e rouca, porém ainda assustadora.
Ele nos largou no chão e
caímos com tudo.
Caí sentada no chão.
Me aproximei dele aos
poucos.
-O quê está
acontecendo...? – perguntei com cuidado.
-Se... Afaste. – ele
alertou me empurrando.
Eu tentei falar com ele,
mas ele se distanciou.
Então eu lembrei que
Selion precisava de ajuda. Peguei minha espada e corri até a pedra.
-NÃO! – Snape sibilou
pulando em cima de mim.
Ele mordeu meu pescoço.
Senti o veneno dentro de mim, era uma sensação horrível.
Selion o puxou. Berrei de
dor e caí no chão, fraca.
-SAKURA! – Adrian correu
até mim.
-HAHAHA! – Snape riu
freneticamente. – Você perdeu menina. Menossss um. Não exisssste antídoto para
meu veneno!
Selion segurou Snape e depois
o jogou para o monstro sem face.
O monstro o segurou no
ar, e o apertou bem forte.
-O quê essssta fazendo?!
– Snape reclamou. – VÁ MATA-LOS!
Ele disse que não com a
cabeça.
-Não. – ele respondeu
curto e grosso.
-SE ME TRAIR, NUNCA VERÁ
SEU FILHO! – Snape gritou voltando a sua forma humana e se libertando dele.
“O filho dele...?”
Tentei me levantar, mas
estava muito fraca. O veneno agia muito rápido.
-So...corro... – falei
fraca.
-Aguenta firme Sakura! –
Adrian pediu. – RETIRE O VENENO DELA!
-Não possssso, menino
imbecil. Não exissssste uma cura para meu veneno, lembra?
O monstro o pegou pelo
pescoço e começou a estrangulá-lo.
-P-PARE! É UMA ORDEM! SE
NÃO EU MATAREI ELE! – Snape ameaçou.
O monstro não parou.
-Não acredito em você. –
o monstro respondeu zangado.
Minhas pálpebras ficaram pesadas.
Tudo ao redor começou a distorcer e a perder o foco. Tudo se tornou um borrão,
que aos poucos se tornou escuridão. Só escuridão. Tudo que eu via era a
escuridão.
...
-Pessoal! Ela está
acordando! – uma voz avisou.
Abri meus olhos devagar.
Eu estava em uma espécie de cabana, uma casa pequena. Estava um pouco escuro e
eu não conseguia enxergar muito bem as coisas ao redor. Mas três pessoas me
encaravam.
Duas eu reconheci. Selion
e Adrian. Mas a outra não. Ela estava coberta pelas sombras.
-O... Quê aconteceu? –
perguntei tonta.
-Snape aplicou veneno em
você, um veneno mortal. Mas nós conseguimos tirá-lo a tempo, graças a ajuda do
Slender aqui. – Adrian apontou para a pessoa em meio as sombras.
Ele deu alguns passos a
frente.
Ele não tinha cara. Usava
um terno preto, e seu corpo era inteiramente branco. Estremeci.
-Q-q-quem ou o-o quê é
isso? – perguntei.
-Qual o problema? Não se
lembra dele? – Selion questionou com uma cara estranha.
-Nunca vi ele antes...
S-só sei que assusta. – respondi.
Adrian e Selion se
entreolharam e depois me pediram para esperar um pouco. Eles se afastaram e
falaram com o ser sem face.
Logo, eles voltaram com
uma cara tensa.
-Bem... Parece que você
perdeu um fragmento de sua memória... Devido aos métodos usados para tirar o
veneno... – Selion começou a falar.
-Método? Que método? –
perguntei.
-Slender usou a pedra da
água para controlar Snape, através de seu sangue... E parece que não foi
totalmente eficaz... Mas você está livre do veneno, isso eu garanto. – Adrian
completou.
Passei a mão pelo meu
pescoço. Havia um curativo em cima dele, mas ainda doía um pouco.
-Mas... e quanto ao
Snape?
-Ele conseguiu fugir
usando suas cobras chatas como distração... Nós capturamos ele na próxima. Até
lá, achamos um jeito de neutralizar o veneno. – Adrian respondeu.
Suspirei.
A criatura... Digo, o
“Slender” parecia me encarar com sua face branca. Aquilo estava começando a se
tornar desconfortável.
-Olha o lado bom da
coisa. – Selion quebrou o silêncio. – Temos todas as pedras! Todas as que
interessam. Podemos derrotar a Grand Destruction!
-É isso aí! Agora quero
ver eles se achando superiores. Estamos um passo a frente. – Adrian comemorou.
Eu fiquei feliz também...
Mas algo parecia errado. Se era uma busca pela pedra, porque a Grand
Destruction só mandou o Snape para cá? Se eles não tinham nenhuma das pedras
originais, não deviam se preocupar em trazer no mínimo um pequeno exército?
Comecei a pensar.
Será que eles enviaram um
exército, assim como eu penso? Só que atrás de Kathryn, Misake e Melody? Ou
então eles têm algum outro plano reserva...?
Comecei a raciocinar, a
juntar tudo devagar, e descobri tudo.
-PESSOAL! – me levantei
num pulo. – PRECISAMOS VOLTAR PRA CASA!
-O quê? – Selion e Adrian
perguntaram em sincronia.
-É uma armadilha! Eles
devem ter feito algo com Richard, eu senti isso! Tem algo de errado nela! E
adivinhem? Ela está sozinha em
casa. Com todas as pedras que temos, e mais a Blanorcana, que
é uma pedra ambulante! – expliquei rapidamente. – TEMOS QUE VOLTAR AGORA!
-Calma... Você acabou de
viver uma grande aventura, ainda deve haver venenos não-letais das outras
cobras em você. Richard
está bem. Todos sabemos disso, vimos ela antes de sair e estava tudo bem. –
Adrian a acalmou.
-Sabe... A idéia dela até
que faz sentido... – Selion argumentou. – No parque dos vulcões, lembro que
Sylfer e Lief fizeram alguma coisa com ela... E ela pareceu mais sombria depois
daquilo...
Todos ficamos com os
olhos arregalados e nos apressamos em sair.
-Obrigado por tudo,
Slender, mas temos que ir! – Selion agradeceu as pressas.
Ele ficou parado.
Simplesmente levantou sua mão, e abanou lentamente. Suas costas estavam
inclinadas, como alguém corcunda, e vários tentáculos balançavam atrás dele.
Estremeci e saí correndo o máximo que pude.
“Se eu nunca mais vir
esse monstro horrendo vai ser bom!” choraminguei por pensamento.
-EI! ESPERE POR NÓS! –
Selion pediu logo atrás de mim.
-NÃO! QUERO IR PARA LONGE
DAQUI! – berrei correndo na frente deles.
...
-Arf... Arf... – eu
respirava alto cansada de tanta correria. – Che...Gamos...
Abri a porta exausta e me
deixei cair no chão da cozinha.
-Agora tudo faz
sentido... – murmurei lembrando de Selion, que havia feito a mesma coisa da
última vez.
Selion e Adrian chegaram
logo atrás de mim.
-Você não sabe esperar?!
– Adrian brigou.
-Foi mal, gente... Eu
queria distância daquele ser... – expliquei ofegante.
Selion bebeu um copo de
água, e se dirigiu até a sala de estar.
-Richard? Blanorcana? –
ele chamou.
Não houve resposta. Um
silêncio invadiu o local.
-GENTE! ALGO MUITO RUIM
ACONTECEU! – Selion voltou com uma expressão de pavor no rosto.
Me levantei depressa e
corri até a sala.
O lugar estava todo
bagunçado, como se um furacão tivesse passado por ali. Haviam marcas de garras
em algumas paredes, tudo estava fora de ordem, quebrado, rasgado, destruído.
E no centro de tudo,
Blanorcana estava jogada, fraca e machucada.
-BLANORCANA! – gritei
enrolando as letras do nome complicado dela.
Me aproximei dela e me
abaixei para ajudá-la.
Ela estava inconsciente.
-O QUÊ HOUVE AQUI?! –
Adrian perguntou alto.
Não havia mais ninguém em casa. Senão já teria
aparecido e nos visto. Adrian correu pelo corredor, provavelmente para
verificar os quartos.
Eu e Selion levantamos
Blanorcana, e a deitamos nos restos do sofá destroçado.
Dei tapinhas leves na sua
cara, para ela acordar. Ela continuou inconsciente. Sua respiração estava
ofegante, ela estava agitada.
Só pode ter sido Richard!
Quem mais seria?
-Selion, o quê vamos
fazer? – eu perguntei trêmula.
Adrian voltou correndo.
-Os quartos estão em ordem. Não têm mais
ninguém aqui... Só tem um detalhe... AS PEDRAS SUMIRAM! – Adrian explicou apavorado.
– Sei disso porque ouvi Kathryn contando onde estavam as pedras! Não têm
nenhuma lá!
-Richard... – Selion
rosnou. – Lembro que ela tinha guardado as pedras com ela... E agora ela deu
elas de bandeja para a Grand Destruction... Estava fácil demais para ser
verdade...
Blanorcana continuava
dormindo, ofegante.
Adrian tirou a pedra da
água do seu bolso e a encarou.
“Agora só temos uma
delas...” pensei arrasada.
“Estamos de volta a
estaca zero... Tudo o quê fizemos... Por nada...”
Era uma cena triste...
Como nós poderíamos ganhar essa guerra agora? Devíamos desistir?
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