quinta-feira, 2 de outubro de 2014

As Pedras de Elementra. Parte 2. Capítulo 15.



15. Segundo degrau. Blackout.


A luz havia sido ofuscada. Não era possível enxergar nada ao redor, mas eu sabia que Sylfer estava agindo. Era possível ouvir os gritos das pessoas que ele feria. 
Eu não suportava aquilo. Eu com certeza não iria ser uma das pessoas que ficariam paradas de pé esperando pela sua vez de morrer. 
Uma parte de mim estava com medo de usar meu modo dragão, Flamus, novamente. Mas eu não tinha escolha. Em algum momento ele seria necessário, eu tinha certeza disso. Mas até lá, eu preferia ter que evitá-lo.

-Annie, rápido! Você sabe o quê fazer! - alguma voz falou meio afastada de mim.

-Sim! - identifiquei a voz de Annie.

Com um piscar de olhos, lanternas de papel flutuantes apareceram pairando sobre a escuridão. Annie e Stephie se encontravam logo abaixo de uma delas.
Agora podíamos ver. Isso facilitava muito as coisas. 
Sylfer estava logo a minha frente, próximo de Misake. Um arco e uma flecha apareceram em minhas mãos. Eu não precisava ver para saber que Polar e Magna tinham pego para mim. Sylfer ergueu sua garra e ameaçou atacar Misake, mas ele jogou uma espécie de bomba em sua direção, o que fez Sylfer ficar atordoado e se afastar. Me aproveitei nesse momento para atirar a flecha nele. Ele rugiu de raiva.
Com certeza não era humano.
Aproveitei esse momento para verificar como estavam todos. Merith estava enrolando um curativo no braço de Adrian. Gen e Ingo também estavam feridos.

-Yuuya, tire os feridos daqui. Podemos dar um jeito nesses dois fácil. - pedi enquanto atirava outra flecha contra Sylfer.

-Yuuya era um pseudônimo. Pode me chamar de Lucius. - ele correu até Merith ainda sem mover seu braço.

Ele parecia não temer nem um pouco nossa situação atual. Provavelmente esta não é uma pergunta para ser feita agora mas ela me veio a mente. Será que ele já esteve no inferno?

-Não, não. Sem fugir. - Reap levantou seu cajado, fazendo a pedra emitir uma luz negra.

Sylfer recobrou instantaneamente os sentidos e me atacou. Troian o acertou com sua adaga antes de conseguir se aproximar. 
Yuuy... digo, Lucius, carregou Richard que ainda estava toda quebrada no chão, e a levou para longe dessa arena traiçoeira, sendo seguido por Adrian, Ingo, Gen e Merith. Parte deles tinham arranhões por todo o corpo, dos braços até o pescoço. Suas roupas não passavam de trapos velhos e destruídos agora. Mas também, se vestir de uma maneira casual para uma guerra não é uma ideia das mais brilhantes.
Eu atirava flechas contra Sylfer, mas ele as repelia com suas garras. Éolo se aproximou e mandou uma rajada de ar contra Sylfer, que o fez perder o equilíbrio. Seus olhos estavam parecendo saltar das órbitas. Ele parecia um animal selvagem, mais do que da última vez. Seus olhos pareciam olhos de gato, com a pupila mais parecendo um risco.
Ele correu até Éolo mas Troian se moveu rapidamente e impediu o golpe, acertando Sylfer com sua adaga e o afastando.
Melody estava com a mão em sua cabeça, como se estivesse sentindo dor. Ela fez um gesto para Annie e Stephie, e as duas se aproximaram. Elas sussurraram alguma coisa entre si e depois as duas ninjas gêmeas saíram correndo, na direção que Lucius/Yuuya havia seguido com os demais. Eu não sabia aonde tinham ido, mas não era mais possível vê-los, mesmo com a luz das lanternas.
Reap apontava seu revólver para Melody.

-Acha que vou temer uma simples arminha? - ela correu até ele com seu cajado em mãos.

Ele atirou sem hesitar. Ela facilmente se esquivou do ataque e o acertou com bolas de fogo, fazendo um corte no ar com seu cajado.

-O alvo nunca foi você. 

Ela olhou para trás devagar. Snape havia levado o tiro no lugar dela, no meio da cabeça.

-Por que você faria isso...? - ela indagou.

-Eu não faço as regras, só jogo o jogo. Sinceramente, eu não queria fazer isso. - ele levantou a pedra na ponta de seu cajado novamente.

Melody foi jogada para trás e acabou acertando Troian junto. As duas caíram no chão.

-Essa pedra é mesmo bem útil...

Yousuke correu até ele, junto de Aslan. Yousuke tentou cortá-lo com sua espada, mas ele se abaixou e colocou seu revólver na barriga dele. Por sorte, Aslan o acertou com seu machado antes de ele conseguir atirar.

-Vocês protegem um ao outro... Aproveitem isso, muita gente não pode ter amigos assim. 

Uma sombra se ergueu no chão e os prendeu no chão. Eles tentavam se mexer mas não conseguiam. Aslan fechou seus olhos. Ele estava mexendo suas orelhas?
Slyfer voltou a me atacar ferozmente. Baba escorria de sua boca aos montes.
Tentei me esquivar mas fui atingido e jogado no chão, mas eu não estava indefeso. Acertei meu pé em sua barriga e o empurrei para longe com força. Aproveitei meu tempo para me levantar. Minha besta flutuava no ar, eu a peguei e atirei contra Sylfer. Acertei bem em seu ombro.

-Obrigado, Polar ou Magna! - eu os agradeci, mesmo sem saber quem tinha me ajudado.

Sylfer abaixou sua cabeça e começou a rosnar. Ele pegou a flecha em seu ombro e a arrancou com força. Ele tentava ignorar a dor, mas era possível ver que ele a sentia.
Um barulho de tiro foi ouvido. Ele paralisou todos ao redor, até mesmo Sylfer. Ele virou a cabeça devagar, na direção do barulho. Eu esperei ver um de meus amigos mortos, mas por sorte, todos estavam inteiros (ou quase). Éolo estava atrás de Aslan e Yousuke. Ao que tudo indicava, ele havia impedido Reap de acertar os seus alvos.

-Você sabe com quem está lidando? - a voz de Reap parecia ameaçadora. - Não usei um quarto de meu poder contra vocês.

Ele levantou seu cajado e o bateu no chão com força. Sylfer abriu um enorme sorriso e deixou todos os seus dentes a mostra. Junto com seu longo cabelo bagunçado, ele mais parecia alguma espécie de tigre dente-de-sabre nesse momento. Um tigre com garras congeladas.
Um vente muito forte soprou, o que levou as lanternas para longe. O local ficou totalmente escuro novamente. Fiquei alerta.
Senti algo na minha perna, mas parecia ser só algum tipo de inseto, então não dei atenção. Porém a sensação não parou. Com o tempo, parecia que mais insetos haviam se juntado em mim, mas eu não tinha a menor ideia do porque aquilo estava acontecendo. 
As lanternas flutuaram rapidamente até o centro do lugar, e se espalharam novamente. Era provável que fosse por pedido de Éolo. Olhei para minhas pernas. Não eram insetos, pelo contrário, nem era algo vivo. Braços. Muitos deles. Eles agarravam minha perna, me enrolando aos poucos. Começaram só arranhando, mas então começaram a ficar agitados. Por um momento pude ver a palma de uma das mãos, havia uma boca lá. Não uma boca humana, claro. Mais parecia a boca da criatura que havia nos ajudado na floresta a lidar com Snape, só que menor. 
Uma delas mordeu minha perna. Urrei de dor e meu corpo pegou fogo. Elas pareceram gritar e recuaram, sumindo no chão.
Todos os outros também estavam sendo atacados.
Melody notou que as mãos não gostavam de fogo e usou isso para se livrar delas, e então começou a libertar os outros. 
Sem me dar nem tempo pra respirar, Sylfer cravou suas garras em mim. Elas pareciam estar mais frias que da última vez. Mas tão frias, que chegaram a congelar meu braço quando se aproximaram dele. Ele arrancou as garras e me empurrou no chão.

-Desgraçado... - rosnei.

Notei que Misake ainda estava lá, deitado. Pensei que Lucius iria tirar ele de lá, por que ele continuava ali? 
Troian e Melody se aproximaram de Reap, deixando Sylfer para mim e Éolo. 
Aslan havia se soltado de alguma maneira, e então libertou Yousuke. Ele levantou depressa e empunhou sua espada.

-Acham que me encurralaram? - Reap deu um longo suspiro.

Sylfer me deixou de lado e correu na direção de Reap. Ele cortou Aslan e Troian com suas garras.

-Vocês estão em desvantagem, logo irão perder. - Yousuke observou.

-Será mesmo? 

Uma tela apareceu apareceu logo a frente de Yousuke. Ela mostrava Raida no chão, sendo atacada diversas vezes por soldados inimigos.

-Isso é impossível, capitã Raida jamais perderia para soldados simples como os seus! - ele apontou a espada na direção de Reap.

O cajado reproduziu novamente sua luz negra, mas dessa vez estava muita mais intenso. O chão ao redor de Reap brilhou e espinhos e correntes apareceram aos montes. Os espinhos cresciam com uma velocidade assustadora, e miravam em cada um de nós. Tentamos recuar, mas eles foram mais rápidos. Acertaram nossas mãos, jogando nossas armas para longe. As correntes nos perseguiram fazendo movimentos de cobras. 

-Agora viram um terço de meus poderes atuais. 

Sylfer se mantinha atrás de Reap, em total segurança. 
Tentei atirar fogo contra as correntes que nos seguiam sem parar, porém não teve o mínimo efeito, no máximo dos máximos ela havia desacelerado um pouco. Melody e Éolo flutuavam no ar, acima da linha de luz criada pelas lanternas. As correntes não os seguiam, pelo menos era o que parecia. Aquilo me deu uma ideia.
Abri minhas asas e esperei a corrente se aproximar mais. Quando ela estava perto o suficiente, bati as asas e voei para longe. Ela tentou me seguir mas quando se aproximou das luzes, ela recuou. 
Elas tinham fraqueza a luz? Se sim, porque o fogo não as afetou tanto? Fogo emite luz, afinal de contas!
Aslan estava conseguindo cortar as correntes ao meio, mas cada vez que ele cortava uma, outra aparecia por perto dele. Tentei ajudá-lo, mas era tarde demais. As correntes o prenderam completamente. Elas deviam estar apertando ele, pois seus braços e pernas começaram a ficar roxos e sua armadura estava rompendo.
Yousuke correu até ele e usou sua espada para libertá-lo. Por acaso ela estava brilhando?
Sylfer e Reap pareciam irritados. Reap cravou seu cajado no chão e deu alguns passos a frente. Um outro revólver se materializou em sua mão. Ele era diferente do outro, ele era dourado com detalhes vermelhos perto do gatilho.

-Acabou a brincadeira. - ele apontou as armas para Aslan e Yousuke.

Melody apareceu atrás dele e o conjurou estacas de gelo bem afiadas contra seu pescoço.

-Sinto muito acabar com sua festa, mas se você se mover perde a vida. - ela o ameaçou firmemente.

Ela com certeza não estava de brincadeira.

-Melody, todos nós sabemos que você não faria isso... Eu sou só uma alma corrompida. É assim que você pensa, não é? - ele permanecia mirando com suas armas.

-Suas fontes erraram então. 

-Não, foi mentira mesmo. - correntes subiram por sua perna e a prenderam. Ela não teve nem tempo para reagir.

Ele mudou o alvo para ela.

-Você quer ser a primeira então? 

Eu peguei impulso para chegar até lá e arrancar aquelas armas dele mas ele não hesitou. Ele apertou o gatilho e atirou.

-MELODY! - foi a única palavra que ouvi qualquer um dizer.

Ela estava... rindo?

-O quê...? - Reap estava pasmo.

A bala flutuava no ar, a poucos centímetros dela. Éolo estava logo acima dela, mantendo a bala flutuando no ar.

-Essa não... - ele choramingou.

Ela girou seu cajado em suas mãos e acertou bem no meio de sua barriga. Ele caiu no chão dolorido, totalmente abatido.

-Essa foi... fácil... - eu pousei no chão.

-Espera! E quanto a Sylfer? - Yousuke lembrou.

Troian lutava com ele ao redor do cajado de Reap. Ela o jogou no chão e tentou cravar sua adaga nele, mas ele rolou para o lado e a fez perder o equilíbrio.
Reap apareceu do lado dele com a mão em sua barriga. 
"Como ele se recuperou tão rápido?! Ele parecia abatido!"
Ele atirou diversas vezes para o ar, mirando aleatoriamente. Ele havia perdido a sanidade?
Não, ele não estava só atirando no vazio. Ele atirava nas lanternas que ainda flutuavam. Uma a uma, elas explodiram e se apagaram. Em poucos segundos, ficamos novamente presos naquele lugar escuro onde a nossa única fonte de luz era a lua vermelha acima de nossas cabeças. Porém ela não brilhava, era só uma ilusão.
Meu corpo pegou fogo e iluminou ao meu redor. Não havia sinal de nenhum de nossos inimigos.
Notei pontos brilhantes no chão. 

-Isso vai impedir ataques surpresa... - Melody explicou.

As correntes ainda estavam no chão, junto com os espinhos que haviam crescido verticalmente, mas agora não apresentavam mais perigo.

-Eles são fáceis de vencer... Reap é fraco fisicamente, embora sua arma seja mais letal. Já Sylfer é mais primitivo, o jeito seria vencer na raça. Mas um protege ao outro, o quê faremos? - Aslan perguntou enquanto cortava as correntes que podíamos ver no chão, para evitar riscos.

Troian se aproximou com a mão no braço.

-Você está bem? Conseguiu roubar a pedra deles? - Éolo perguntou, analisando seu corpo (procurando ferimentos, eu espero).

Ela balançou a cabeça negativamente. 

-Selion, você lembra como nós quase perdemos da última vez para ele? - perguntou Melody.

-Sim... Ele me atraiu e depois fez cópias de sombras... 

-Ele deve estar tentando montar alguma espécie de armadilha... - Troian opinou.

-Exatamente. - Melody olhou ao redor para ter certeza de que eles não estavam por perto. - Eu acho que tenho um plano, mas eu acho que seria arriscado...

-Estar nesse lugar já é arriscado. - Yousuke lembrou. - Vamos fazer o possível e o impossível para derrotar esses dois. É o que Raida faria.

Melody sussurrou o plano baixinho. Eu tinha uma sensação ruim sobre aquilo mas não comentei nada. Era nossa única escolha, senão iríamos demorar muito e seríamos pegos.
Mas sabe, uma coisa me deixava intrigado. Reap provavelmente podia nos ver. Os pontos luminosos ao nosso redor nos entregava. Se era para ele nos matar, porque ele não atirava logo de uma vez? Parecia que ele estava dando uma chance para nós, mas se o objetivo é nos impedir o certo seria acabar com isso de uma vez. Mas não era o caso.
Se eu fosse um deles, só faria isso se tivesse tudo sob controle. Será que era essa a situação?


...

Mais pontos luminosos apareceram no chão. Não havia mais nenhum ponto escuro que pudesse nos afetar. Para nossa grande surpresa, Reap e Sylfer estavam sentados no chão, nos observando.

-Qual é a de vocês? - Aslan estava irritado. 

-Temos uma missão a seguir, não vou ser eu que vou mudá-la. - ele se levantou devagar com um olhar preocupado.

Ele parecia estar incomodado com alguma coisa, mas isso durou por poucos segundos. Ele já estava com aquela expressão vazia de sempre.
Fiz um sinal com a cabeça para meus amigos e depois avancei alguns passos a frente. Melody puxou meu braço e sussurrou:

-Tenha cuidado.

-Está tudo bem, morrer eu não vou. - por dentro, eu implorava a qualquer divindade que seja para que isso fosse verdade.

Sylfer andou devagar em minha direção. Ele mantinha seus olhos fixos em mim. Sua respiração estava ofegante e ele andava com as costas curvadas, pronto para atacar em resposta a qualquer movimento que eu fizesse.

-Resolveu desistir? - Reap perguntou com um sorriso no rosto. - Agradeço por facilitar as coisas.

Eu cheguei até Sylfer lentamente, um passo de cada vez. Ele parou para me analisar. Então, em um movimento rápido, dei um soco em sua cara. Ele simplesmente virou o rosto e me encarou.

-Alguém aqui perdeu a noção do perigo... - Reap murmurou.

Sylfer abriu seus olhos o máximo que pôde (não era algo muito bonito, pode acreditar) e me jogou no chão, colocando seu pé em cima de minha barriga. Agora que eu tinha parado para notar, ele estava descalço e suas unhas eram tão afiadas quanto suas garras.
Estava muito difícil de respirar.

-É só isso... Que você tem...? - me esforcei para falar.

Ele cravou suas garras nos meus dois braços. Ele havia trancado meus movimentos.
Eu tentei suportar a dor, mas não consegui. As garras frias amplificavam a dor, e bagunçavam meus sentidos.
Ele levantou seu pé e depois pisou com força. Eu já devia estar azul pela falta de ar.
Troian e Melody correram na direção de Reap, passando por mim e Sylfer.
Ele imediatamente me esqueceu e atacou as duas, como havíamos planejado. Mas não aconteceu bem como ele queria. Ele pulou na direção delas com as garras bem levantadas, próximas de seus pescoços. E ele ia conseguir acertá-las, mas um certo Selion da vida segurou seus pé e fez ele perder o equilíbrio, caindo de cara no chão.
Aslan e Yousuke se aproximaram depressa e encostaram suas armas em seus antebraços, o que limitou seus movimentos. Se ele tentasse se levantar, terias as mãos cortadas fora.

-Vocês... Vocês conseguiram neutralizá-lo?! - Reap estava espantado. - Isso é impossível!

-Nada é impossível. - Melody tentou acertá-lo com seu cajado, que tinha uma lâmina na ponta.

Ele recuou com um pulo e pousou graciosamente no chão, bem longe, como se tivesse o peso de uma pluma.
Ele cravou o cajado no chão ao seu lado. Então tocou diretamente a pedra da escuridão. Ela emitiu a luz negra de antes, e algo começou a surgir do chão. Três retângulos altos, que formavam uma pirâmide ao redor dele, uma pirâmide com falhas nos lados. Então eles se fecharam, e Reap desapareceu de nosso campo de visão. 
Agora não eram mais simples retângulos, eram espelhos. Espelhos que nos refletiam como sombras. Sombras com olhos vermelhos, repetindo cada movimento.

-Que palhaçada é essa? - Troian ergueu sua adaga e tentou quebrar o espelho.

Mal chegou a arranhar.
Agora, pelo visto, era a vez do espelho, porque a mão da sombra de Troian saiu de dentro do espelho, e a acertou com a adaga antes que ela pudesse reagir.

-ESPELHO DESGRAÇADO! - ela socou ele com força.

Como resposta, o espelho socou a mão dela, arrastando-a para trás.

-Ainda dá para prosseguir. - Troian mantinha sua mão sobre o ferimento.

-Como? Tudo que vai, volta. Nunca aprenderam a terceira lei de Newton? - a voz de Reap soava como um eco.

Sylfer resmungava, preso no chão. Espero eu que ele fique lá.
Melody fechou os olhos e começou a pronunciar palavras para si mesma. 

-Ela vai tentar quebrar isso... Esteja pronto nesse momento, Selion, nós teremos poucos segundos, talvez menos. - Troian alertou.

Coloquei as mãos nas minhas costas e peguei uma flecha em minha aljava. Por ação de Polar ou Magna, meu arco veio voando até mim. Mirei em direção a pirâmide e esperei. 
Melody estava totalmente concentrada. Suas mãos tremiam junto de seu corpo, ela parecia estar tendo problemas.

-Vocês não vão conseguir. Quebrar um feitiço fortalecido pela pedra da escuridão é impossível. - a voz pareceu ecoar mais perto dessa vez.

Um pequeno buraco se abriu no espelho. Saiu por ele uma das armas de Reap.

-Quem vai ser o primeiro a morrer?

A pirâmide parecia instável. Virei o olhar para Melody, ela parecia que ia cair no chão a qualquer momento. 

-Vamos começar por você. 

A arma se moveu para Melody e estalou. Mirei na arma e esperei o momento certo para agir.
"Não vai vacilar..." eu repetia para mim mesmo.
A arma disparou e a pirâmide se fechou novamente, sólida como antes.
Melody caiu no chão lentamente. Tudo parecia se mover em câmera lenta.

-Não... - eu não consegui pronunciar mais nada.

Reap riu vitorioso. Sua voz ecoando pelo lugar chegou a me dar dor de cabeça.
Porém, a risada dele sumiu de repente. O motivo? A pirâmide se desestabilizou, se abriu como uma laranja descascada.
Atirei minha flecha imediatamente. Ela voou na direção dos espelhos e passou por eles. Mas ele se reconstruiu mais rápido do que havíamos calculado. Minha flecha ficou presa. Metade dentro, metade fora, atravessando o espelho.

-Como... Como é possível? EU MATEI ELA! - Reap parecia instável, desesperado.

Troian arrancou a flecha do espelho, arrastando ela para o lado. O espelho agiu como um líquido, e uma linha ficou aberta. Então, de algum lugar, um tiro passou direto pela linha e acertou Reap.
Ele caiu no chão, junto de seu "escudo espelhado".
Isso não era previsto. Procurei o local de onde veio o tiro. Misake tinha em mãos um fuzil. Ele podia estar quase desmaiando, mas conseguiu realizar a façanha de acertar Reap.

-Eu... Não... Perco... - ele caiu no chão novamente.

-Como... Como isso... - Reap se perguntava.

-Surpreso? - Melody se levantou.

-Eu... Eu matei você... - ele murmurava. - DEVIA ESTAR MORTA!

Ele se levantou com dificuldade e tentou se apoiar no cajado, mas falhou e bateu de cara com ele.

-Eu jamais morreria tão fácil. Obrigado Éolo, bom trabalho. 

Éolo flutuava no ar, perto do teto. Estava tão escuro lá que era muito difícil vê-lo. 
Logo abaixo dele, o tiro de Reap estava parando no ar. Preso numa corrente de vento, pela segunda vez Reap havia sido enganado.

-Vocês... Me enganaram de novo... - ele agarrou o cajado. - Então é hora de acabar com isso.

Seus olhos ficaram totalmente escuros e sombras começaram a subir por seu corpo. As sombras o encobriram completamente, até não conseguirmos ver mais nenhuma parte do seu corpo. Ele guardou suas armas, provavelmente em algum bolso que ele tivesse fácil acesso, e elas desapareceram nas sombras. 
Ele levantou sua mão e duas mãos negras se levantaram do chão e empurraram Yousuke e Aslan para o lado, libertando Sylfer.
Reap parecia nos encarar, mas era difícil saber, seus olhos estavam camuflados. Eu nem tinha certeza de qual lado da cabeça era aquele.
Ele levantou as mãos e duas novas armas surgiram a partir das sombras de seu corpo. Eu não conseguia identificar como eram, mas sem dúvidas eram maiores que as outras.
Reap estalou o pescoço e abriu um enorme sorriso. Seus dentes pareciam brilhar por efeito da escuridão em seu corpo.
Através dele eu observei que o cajado com a pedra estava desprotegido. Se eu pudesse pegá-lo...

-Aonde pensa que vai? - Reap não parecia estar muito feliz.

Sylfer atacou Yousuke, que tentara alcançar o cajado mas não teve sucesso. Ele bloqueava os ataques usando sua espada, mas ele parecia ter problemas. Troian correu para ajudá-lo, cravando sua adaga nas costas de Sylfer e a puxando para baixo, abrindo uma enorme ferida.
Ele nem reagiu. Não gritou. Pareceu nem sentir dor.
As sombras o cobriram, como fizeram com Reap, começando pela ferida. Elas a envolveram completamente, possivelmente curando-a. 

-Somos invencíveis agora. Desistam. - o corpo de Reap começou a se deformar.

Espinhos cresceram por seu corpo. Em suas costas, os ossos de sua médula pareciam ter saído e se alongado. As mesmas mudanças ocorreram com Sylfer, porém suas garras, que já estavam de um tamanho absurdo, ficaram ainda maiores, e seu longo cabelo branco bagunçado não estava coberto pelas sombras.
Yousuke deferiu um golpe em Sylfer usando sua espada. Ele se afastou um pouco mas depois investiu no ataque, obrigando Yousuke a recuar. Troian tentou ajudar, mas não conseguia se aproximar de Sylfer sem se ferir.
Reap atirou em minha direção. 
Eu esperei a dor. Mas, estranhamente, eu não senti nada. Então lembrei de Éolo. Ele continuava no teto, contendo as balas. E novamente, Reap caía no mesmo truque.

-Você já me irritou bastante. - Reap mirou em Éolo.

Melody murmurou algumas palavras incompreensíveis (pelo menos para mim) e raios acertaram Reap. Ele pareceu fraquejar por um momento, mas logo depois se recompôs.
Éolo aproveitou a situação e subiu mais para cima, se escondendo completamente.
Reap voltou sua atenção para Melody. Ele atirou diversas vezes contra ela. Éolo podia estar invisível, mas continuava nos defendendo.

-Isso é inútil. Parece que você não tem tanto poder agora, não é? - debochei.

Minha besta flutuava no ar. Eu a peguei e atirei contra Reap. Os espinhos de seu corpo cresceram e quebraram as flechas antes de o acertarem, e logo após voltaram ao normal. Melody e Aslan aproveitaram esse momento em que ele estava distraído para atacar. Melody o golpeou com seu cajado diversas vezes. A cada vez que o cajado o acertava mais um raio o acertava. Ele parecia estar sendo danificado, mas não desistiu de lutar. Usou as vantagens de sua nova forma monstruosa para atacá-los. Eles foram obrigados a recuar alguns passos.
Não muito longe de mim, Troian e Yousuke pareciam ter problemas. Sylfer atacava ensandecidamente. Eu não ia ficar só assistindo. 
Parti para cima dele, usando minhas próprias mãos. Eu ainda não estava seguro quanto a usar o meu eu dragão.
Ele se esquivou de meus golpes e cortou meus braços. As garras não estavam mais congeladas.
Ele arranhou minha cara com uma força descomunal e eu fui jogado contra o chão. Mas não desisti. Me levantei e acertei seu rosto. Ele urrou de raiva.
Naquele momento eu notei que o rosto dele não estava protegido como o resto do corpo. Poderia ser um ponto fraco em potencial.
Pelos seus olhares, Yousuke e Troian haviam notado o ponto fraco. Eu dei um golpe certeiro em sua cara usando meu punho, ele parece perder um pouco os sentidos, mas se recuperou logo. Eu aproveitei seu momento de fraqueza para prender uma de suas mãos. Troian seguiu meus movimentos e agarrou a outra, cortando seus movimentos. Os espinhos começaram a agir, perfurando nossas mãos, nossos braços, rasgando nossas roupas, porém nos mantemos firmes.
Yousuke notou que não aguentaríamos muito e atacou ele o mais rápido e forte que pôde, cortando seu corpo e principalmente seu rosto.
Meus braços sangravam, mas eu suportei, afinal, estava funcionando.
As sombras começaram a abandoná-lo aos poucos, descobrindo-o. Yousuke cravou a espada em seu peito, em um ponto que não o matasse. Nós o deixamos cair no chão.

-SYLFER! - Reap chamou em um tom preocupado.

Um vilão se importando com o outro? Isso não me parece comum.
As sombras do corpo de Reap explodiram, mandando Melody e Aslan para longe. Melody usou magia para flutuar no ar e impedir sua queda, já Aslan teve uma ajuda de Troian.

-Vocês... - Reap mantinha a cabeça baixa. - Vão todos morrer... Começando por você.

Reap se virou e atirou múltiplas vezes contra Éolo. Nem eu havia notado que ele se aproximava vagarosamente da pedra. 
Foi um ataque muito rápido e repentino, Éolo não conseguiu desviar. Ele foi acertado em cheio por todas as balas. Antes de cair ele ergueu sua mão e arrancou a pedra do cajado. As sombras ao redor de Reap se dissiparam, junto com a grande lua vermelha (que mais servia de decoração) e toda a escuridão ao redor. Mas algo deu errado. A pedra não continuou em suas mãos, ela se DESINTEGROU.
Troian e Aslan ignoraram Reap e correram para ajudar Éolo. 
Eu estava chocado. Tanto por Éolo ter sido atingido quanto pela pedra que simplesmente desapareceu, se reduziu a pó.

-Eu não vou perdoá-lo por isso. - Melody o atacou misturando fogo e golpes com seu cajado.

Ele esquivava e usava sombras como escudo, mas elas eram fracas e mal aguentavam um ataque. Seus velhos revólveres apareceram em suas mãos. Ele os usou para trancar os movimentos do cajado, mas foi inútil.

-O quê foi? Cadê toda sua arrogância? Perdeu a vantagem é? - Melody o acertou na barriga e ele caiu no chão. 

-Melody... Acho que ele já está derrotado... - me aproximei dela.

Yousuke ficou entre Melody e Reap para cessar os ataques. Reap estava no chão, tentando se afastar. Yousuke cravou sua espada no chão, prendendo sua calça ao solo. 

-Vai ficar aí até termos novas ordens. - ele ordenou.

Ele ameaçou levantar sua arma. Eu atirei uma flecha em sua direção antes que ele agisse.

-Quer mesmo tentar? 

Ele largou a arma, derrotado.

-Yousuke, fique de guarda. - Melody pediu.

Ele assentiu. Eu e Melody corremos até Éolo, que estava com Troian e Aslan ao redor.

-Ele... Está bem? - perguntei.

Ele estava com cinco buracos de balas no meio do corpo e um em sua coxa. Obviamente, minha pergunta foi idiota.

-Acho que não preciso responder, não é? - sua voz estava rouca. - Me desculpem, devia ter agido mais rápido...

Ele tossiu sangue.

-Não há porque se desculpar, fui eu que expus você a isso. - Melody confessou. - Sinto muito...

-É como Yousuke disse. Estar nesse lugar já é um... - ele cuspiu sangue - grande risco. Eu só seria um covarde se me negasse a lutar. Mas deixemos isso de lado.

Ele apontou para mim.

-Selion, tem uma coisa que você precisa saber. - ele parou por um instante.

-O quê é? 

Fiquei atento ao redor. Não teríamos tempo para descansar, Gar havia dito. Inimigos podiam surgir a qualquer momento.

-Você... Já conhece meu sobrenome? 

-Seu... Sobrenome? Eu preciso saber seu sobrenome? - eu não lembrava o sobrenome de ninguém.

Ele tirou algo do bolso de sua bermuda. Era um pequeno objetivo circular reluzente com uma corda de veludo fixada a ele. Uma medalha.

-Éolo W. de Lux. - ele me entregou a medalha.

Lux? Lux faz parte do MEU sobrenome.

-Espera, isso que dizer que... 

-Você sabe o que o W significa? - ele me interrompeu.

-Não... 

-Wisor. Na língua de nosso povo, isso significa Vigia dos Ventos. Algo faz sentido para você? - ele tossiu.

-O que quer dizer com "língua de nosso povo"? 

Ele estava insinuando que veio do mesmo lugar que eu? Se é um vigia... Ele estava vigiando a mim?

-Eu cumpri o meu dever. Agora vocês - ele fixou seu olhar em cada um de nós - devem cumprir o de vocês e acabar com isso de uma vez.

-Ei, mudar de assunto não vale! 

Ele apontou para a medalha com um sorriso satisfeito no rosto e fechou os olhos devagar.

-Ele... Se foi...? - Aslan abaixou sua cabeça.

-Ainda não, mas eu queria uma forma - Éolo tossiu de novo - dramática de morrer, mas você estragou, parabéns. 

-Ah, foi mal! - Aslan se desculpou.

Notei Misake rastejando para perto com dificuldade. Melody e Troian o ajudaram a se aproximar.
Observei com cuidado a medalha. Ela havia uma inscrição mas estava danificada e impossível de ler, e atrás da inscrição havia a imagem de um planeta. Em órbita dele havia algo semelhante a dois cristais triangulares paralelos, um de cada lado.

-Eu ainda não entendi, porque você...

Era tarde demais, ele estava morto.
Aslan tentou carregá-lo para longe dali, mas quando o tocou o corpo virou pó imediatamente. Os restos de Éolo foram levados pelo vento e tudo que restou foram suas roupas e um pequeno pingente.
"Você fará falta na equipe. Adeus Éolo." me despedi por pensamento.

-Ora ora... O que temos aqui... Mais uma peça para minha coleção! - uma voz feminina disse empolgada.

Uma mulher segurando um chicote acenou para nós.

-Poderia mostrar seu lado dragão, por favor? - ela sorriu. 

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