segunda-feira, 4 de maio de 2015

As Pedras de Elementra - Parte 2. Capítulo 23


23. Minha alma.

A batalha não começou de imediato. Antes disso, tivemos algumas declarações.
Agora livre, Lucius se pôs a frente de todos nós e encarou Aron. Sua forma demoníaca ganhava mais e mais força, aumentando tanto sua massa corporal quanto suas asas e garras. Por fim, ele havia novamente demonstrado outra face demoníaca, aparentemente a pior delas.

-Veja, meio-irmão. A força obtida com meu próprio sangue. A força de um dos juízes de Umbra! - Lucius mostrou-se.

Tatuagens tribais vermelhas surgiram em seu corpo. Elas apareciam a partir de sangue escorrendo do corpo de Lucius, embora eu não compreendesse como, pois para mim, ele mais parecia uma fortaleza, uma armadura impenetrável, de quase 3 metros de altura. Seu corpo podia ser comparado com o cristal negro onde eu fui preso a certo tempo atrás, devido a magia da pedra da escuridão.

-Venha, Scyther! - a voz de Lucius ribombou nos ouvidos de todos.

A foice de Lucius apareceu à sua frente, agora maior, com três lâminas verticais, uma em baixo da outra, tendo algo semelhante a um olho em sua extremidade. O cabo de sua foice havia aumentado e linhas fluorescentes brilhavam e apagavam em um ritmo constante. 
Apressado, já preparava-se parar correr em direção de Aron, mas Melody e Kathryn o impediram com um chamado.

-Sua vingança chegará, Lucius. Espere um momento. - Kathryn advertiu-o.

Hesitante, ele concordou e deu passos atrás.
Nossas atenções foram voltadas a Richard. Ela agora estava de pé, purificada, e eu mal tinha notado. Normalmente eu me sentiria péssimo por isto, mas este era um caso que fugia dos padrões comuns.

-Richard, Merith, Ingo e Gen. - Kathryn dirigiu-se a cada um individualmente, e logo após voltou a falar no geral - Afastem-se da batalha. Eu agradeço a ajuda de vocês, mas era para chegar até este momento. 

-QUÊÊÊ?! - Ingo, Gen e Merith protestaram juntos.

-Eu já me sinto pronta, Kath. Acho que vou surpreender você. - Richard abriu seu leque e analisou os espinhos em suas pontas - Por quê nunca pensei nessa atualização?

-Quanto a vocês três... - Kathryn continuou.

-Não queremos perder mais ninguém. Vocês precisam ficar na formação tática. - Melody explicou - Merith, você é uma excelente curandeira. Com certeza precisaremos de você!

Merith não pareceu nem um pouco feliz. Ela cerrava seu punho com força, tendo o longo cabelo cobrindo seus olhos.

-Ingo, embora não controle o seu poder, suas armas vão vir a ser muito úteis. - eu lembrei-o.

-E Gen. - Gar aproximou-se dele e passou a mão em sua cabeça - Obrigado por me resgatar, maninho. Eu prometo sobreviver, para voltarmos para casa e assistirmos à Supernatural de novo, como fazíamos. - era a primeira vez que eu ouvia Gar terminar uma frase com uma voz normal, possivelmente sua voz verdadeira.

O rosto de Gen ficou vermelho e ele começou a chorar, enquanto abraçava o irmão, repetindo "Se você morrer, eu te mato!"
Ver as lágrimas escorrendo do rosto de Gen me fez lembrar o quanto essa missão era importante. E também o quanto ela vale a pena. Estávamos ali, dispostos a sacrificar nossas vidas pelo bem das pessoas boas do mundo, por aqueles que amamos e que não merecem a injustiça imposta pela Grand Destruction.
Inconscientemente, me vi olhando para Melody. Será que ela havia percebido?

-Caham. - Mellany tossiu ao longe.

Era impressionante como você conseguia ouvir uma tosse do outro lado daquele lugar. Parando para pensar, talvez fosse culpa do eco, devido a grande distância do chão para o teto, mas quem sou eu pra dizer? A acústica daquele lugar devia ser realmente incrível.

-Acalme-se. Eles estão se despedindo, coisa que eu nunca pude fazer. Permitirei o último desejo destes tolos. - Aron replicou.

-Desculpa, mas isto aqui? - Merith contornou seu corpo - É só de fachada.

Ela pegou seu vestido e o rasgou com um movimento. Por debaixo dele, ela vestia uma farda militar com direito a colete a prova de balas estampado com camuflagem invernal.
Todos ficamos boquiabertos, exceto Ingo, Melody e Kathryn.

-Uma garota tem seus truques. - ela prendeu o cabelo em um rabo-de-cavalo no lado direito da cabeça.

-Aquilo sim foi uma surpresa. - Aron comentou - Mas nada que eu não derrube com meu simples querer.

Triunfante, Merith virou-se para Kathryn, esperando alguma resposta.

-Estar preparada não é estar pronta, Merith. Por favor...! - Kathryn pedia.

-Deixe-a. - Ingo pediu - Gen e eu a protegeremos ao longe, não será problema de vocês, não é, Gen? - ele deu um cutucão no amigo, que ainda chorava abraçando o irmão.

-S-sim! - ele respondeu choroso. 

Kathryn afundou a mão em sua face e parou para pensar. Ela teria ficado mais tempo assim, mas Melody a convenceu com um simples "Eu acredito nela."
E esta era a situação. 
7 pessoas. Eu, Melody, Kathryn, Richard, Gar, Merith e Misake, lutando juntos para impedir a maior ameaça já vista na face da Terra. O terrível líder da Grand Destruction, sob posse do maior poder já existente. 
Olhando desta maneira, enfrentá-lo pareceria burrice, certo?
Vou lhe contar uma coisa: Eu sou pura burrice.


...

Como eu já estava prevendo, Lucius foi aquele a dar o bote no inimigo. Com uma fúria inigualável (o.k, talvez igualada a minha) ele avançou contra Aron, cortando o ar usando sua foice, aparentemente apelidada de Scyther. Seu poder era impressionante. Seus cortes pareciam distorcer a realidade, deixando para trás vestígios de alguma força sombria contida em sua foice.

-ESTÁ É PELA HONRA DOS DEMÔNIOS! - Lucius bradou, cada vez mais próximo de Aron, que agora mais parecia um cavaleiro celestial.

Antes do ataque ser finalizado, uma janela de luz circular se abriu acima de Aron. Uma enorme mão desceu por ela, acertando Lucius diretamente, enterrando-o no chão em uma cratera. 

-A honra dos demônios anda em baixa ultimamente. - Mellany caçoou. 

A mão recuou e desapareceu. Para surpresa de todos, Lucius estava intacto.
"Vai precisar de mais se quiser me ferir", foram as palavras de Lucius enquanto ele corria novamente contra seu inimigo. 
Já era hora de agirmos. Eu não pretendia assistir enquanto o demônio da equipe levava a pior. Foi neste momento que Mellany agiu. Em um piscar de olhos, ela apareceu a minha frente, sorrindo alegre.

-É uma enorme pena você ter escolhido a gêmea falsa. - ela me disse angustiada.

"Quando vão me esclarecer essas indiretas retas?" resmunguei por pensamento.
"São só xingamentos, não há explicação" a voz de Kathryn me respondeu.
"Ela está certa" Melody confirmou.
"Tem lugar pra mais um nessa festa?" Gar vibrou.
E tudo isso, dentro de minha cabeça. Espero que tenham lembrado de limpar os sapatos antes de me invadir assim. 
Aproveitando a curta distância entre nós, movi minhas mãos até sua garganta, pronto para fatiá-la em pedaços, mas ela foi mais rápida. Desapareceu da mesma forma como surgiu. Instintivamente, virei-me para trás a ponto de evitar um golpe direto em minha coluna. De alguma maneira, eu havia previsto a aparição de Mellany atrás de mim. Agora ela tinha uma espada em mãos. Não tive escolha a não ser bloquear o ataque com as mãos. Recomendo que não façam isso em casa. Nem todos tem garras resistentes para impedir um ataque desses.

-Acho que vai ser um pouco mais difícil. - agarrei sua espada, aproveitando a situação.

-Nah. - ela negou - É bem fácil quando o oponente colabora. 

Sua espada começou a ficar fria. Dois segundos depois, minhas mãos estavam congeladas. Não tive outra escolha a não ser berrar de dor enquanto empurrava Mellany para longe. 

-JÁ CHEGA! - meu corpo foi envolto em chamas.

Todas as minhas escamas voltaram. Definitivamente, agora eu era Flamus. Um dragão furioso pronto para descontar sua raiva em algumas pessoas merecedoras. E adivinha quem estava logo a minha frente?
Antes de avançar contra ela, Richard tomou a iniciativa. Investiu contra Mellany usando seu leque pontiagudo. Esferas negras flutuavam seu corpo, integrando cada golpe de Richard, embora todos tenham sido desviados.

-Está com raivinha? A culpa foi sua por cair em tentação. - Mellany gargalhou, esquivando de todos os golpes.

Os golpes de Richard se intensificaram, mas o resultado continuou o mesmo. Mellany se esquivava de todas as formas possíveis, Richard não fazia nada a não ser cansar-se a toa. Já irritada, cravou o leque no chão, fazendo cristais negros brotarem. De início, pensei serem inúteis, mas então, começaram a atirar pequenos feixes de luz negra para cima, acertando Mellany entre alguns deles. Aparentemente, não houve dano, mas algo a havia afetado.

-Sabe, até que ser consumida por trevas não é tão ruim. Você aprende uns lances bacanas, tipo privar os inimigos de teleportarem por magia. - com suas palavras ditas, os cristais de Richard explodiram.

Melody e Kathryn aproveitaram este momento para agir. Com sua katana, Melody desferiu golpes contra a irmã, enquanto Kathryn materializava barreiras, impedindo o movimento da inimiga perversa. Estava acontecendo tudo tão rápido. Estava sendo tão fácil. Fácil demais.
Após o fim da série de ataques, Mellany ainda estava de pé. Aterrissou no chão com cortes em todo o corpo, o vestido em pedaços e com sangue escorrendo de todos os lados. Mas ela não parecia sentir-se na desvantagem.

-Bravo. - ela aplaudiu - Agora se inicia o segundo ato.

Seu longo vestido pereceu e desintegrou-se, tendo seu lugar tomado por um manto escuro como piche. Havia um véu atrás de sua nova roupa que se abria como asas, embora só parecesse um longo pedaço de tecido. Junto de sua nova roupa exuberante, uma nova lâmina compôs-se em sua mão. Com um cabo de couro, tinha cerca de 45 centímetros e emitia corrente elétrica ao redor de si. 

-Selion, vá em frente. O objetivo é Aron, Mellany é um assunto meu. - Melody ordenou.

Assenti e dei alguns passos a frente. Algo me fez olhar para trás.

-Não morra, tá? 

-Voltaremos vivos. Não é uma hipótese, é uma promessa. - respondi-a confiante.

Dito isso, abri minhas asas e percorri o caminho até Lucius. Agora era a vez de travar a minha luta. 


...


-Parece que meu oponente real chegou. - Aron bateu palmas vagarosamente - Pensei que fosse desistir.

Ele certamente estava muito convencido de si. Suas palavras faziam soar como se eu fosse um desafio, mas se ele estava tão seguro de si e conseguiu abater Lucius tão rapidamente, por que me via como uma ameaça tão grande? Não cabia a mim dizer, só descobrir.
Ao meu lado, Lucius parecia irado. Praguejava coisas em alguma língua demoníaca incompreensível. Após interromper sua conversa íntima, novamente desafiou Aron e lançou-se em sua direção. Girando sua foice, Scyther, ele voou ao encontro de seu rival. Neste meio tempo, Misake aproximou-se de mim.

-Eu venho trabalhando numa coisa que talvez possa desestabilizá-lo no estado atual. Minha inconsciência me impediu de progredir, então preciso que o enrole por um tempo, faça-o fixar em você, apenas em você. Acha que consegue? - Misake rolava uma moeda de metal vermelho entre os dedos.

Vi duas mãos saírem de portais ao lado de Lucius e o esmagarem como a uma mosca. Dei alguns passos a frente e respondi Misake:

-Já me disseram que eu posso ser bastante irritante. 

Então, Misake afastou-se um pouco, saindo da linha de visão de Aron, pelo menos da linha de visão que achávamos que ele tinha. Era impossível enxergar seus olhos. Eu nem mesmo sabia se ele de fato ainda possuía olhos.
Aron parecia fazer o possível para não abusar de plenos poderes. Usou a mesma técnica anterior para afastar Lucius: criou um portal de luz, de onde saiu uma mão brilhante. Parecia não afetar Lucius, embora o retardasse, mas segundos depois ele já fazia um novo ataque. Chegou a minha hora de ajudá-lo.
Abri minhas asas e voei ao encontro de Lucius, que havia conseguido parar uma das mãos no ar, agora empurrando-a no sentido oposto. Era um esforço desnecessário. Resolvi ajudar. Sobrevoei a mão e a parti sem dificuldades, posso dizer que foi fácil até demais, usando minhas garras. A mão se dissipou em pó dourado e o portal por onde havia vindo desapareceu numa pequena explosão.

-Se vai deixar fácil assim, desiste logo. Eu tenho animais em casa que precisam de atenção, sabia? - disse eu.

-Deve me desculpar, Selion, mas você não vai voltar para vê-los. - Aron levantou uma mão devagar.

Seu primeiro movimento sólido. Algo estava por vir.

-Espero que me aceite como um aliado, Lucius. - me pus à seu lado.

-Contanto que não me impeça de chutar o lugar onde a luz não toca dele, eu não me importo. - ele ergueu sua foice e voou até Aron novamente. 

Não houve mãos desta vez. Nada o impediu de se aproximar. Só se via o demônio monstruoso vagando pelo ar em direção de uma armadura dourada brilhante. Foi aí que Aron fez seu segundo movimento sólido: abaixou sua mão rapidamente e uma luz surgiu no teto. Um raio poderosíssimo desceu e atingiu Lucius, derrubando-o no chão com muita força. Por sorte, ele conseguiu sobreviver de alguma maneira. Estava parado de pé, embora parecesse um pouco ferido. Isso simbolizava que ainda estava habilitado para dar tudo de si contra Aron.

-Não importa quantos ataques fizer. Não importa quantas vezes se esconda. Eu vou acabar com você e quebrar todos os seus ossos! - Lucius novamente cruzou o ar em direção de Aron.

Ao aproximar-se, foi repelido por alguma coisa.

-Mas o quê diabos... - depois de dizer isto, fiquei um pouco envergonhado pois eu podia ter ofendido Lucius de alguma maneira.

Joguei duas bolas de fogo contra Aron, para testar uma hipótese. Elas foram repelidas em minha direção. Obviamente não senti dor alguma quando chocaram-se contra mim.

-Um escudo refletor? Mas é um covarde mesmo. - voei até ele com os punhos prontos para quebrar sua proteção invisível.

-Estou esperando a hora certa. - a voz de Aron parecia animada.

A questão seria o porquê. 
Rapidamente, dei uma olhada para trás enquanto fingia encarar Lucius. Uma chuva de lâminas caía perante Richard, Kathryn e Melody, enquanto um pequeno exército de sombras idênticas a Mellany lutava contra Merith e Gar. Misake mexia em sua arma com um pedaço de metal em mão. Ele ainda não estava pronto.
Eu mantinha a ideia de que Aron não tinha plenos poderes ainda. Talvez fosse necessário se acostumar a eles para ter controle total, ou então, na melhor das hipóteses, ele não pudesse aguentar tanta força dentro de si. Meu plano era sobrecarregá-lo e ver o que acontecia. Para isso, usei o que mais me parecia apropriado: força bruta. 
Fogo começou a rodear meu corpo, mais intensamente do que antes. Era um pequeno sinal de que eu tinha ao menos um pouco mais de poder para oferecer. Afastei-me devagar, peguei impulso no ar e investi contra Aron. O escudo me parou, porém pareceu consumir um pouco de energia de Aron, pois por um breve momento, vi sua imagem oscilar. Pude ver seu rosto por debaixo da armadura. 
Não precisei fazer esforço algum para avisar Lucius sobre meu plano, ele automaticamente começou a tentar cortar o escudo com sua foice tripla. 

-Parece que eu estava certo. - falei, fazendo o máximo para ignorar a dor de ser esmagado pelo escudo - Você não controla esse poder. Já é hora de parar de brincar de ser deus! 

-Você é realmente tolo, não é? - Aron pôs-se a rir - Não vê que estou só fazendo você perder tempo enquanto outras ameaças são eliminadas? 

A imagem de Melody, Kathryn e Richard lutando contra Mellany veio a minha mente. Na posição em que eu estava, era impossível ver se elas estavam bem.

-Ficou com medo? É admirável como sua mente é facilmente manipulada, Selion. - Lucius rosnou - Não vê que esse babaca está tentando controlar você? FOCO! 

Ele tinha razão. O perigo real estava à minha frente. Eu confiava em todos, sabia que iriam derrotar Mellany sem grandes problemas. 

-Onde está sua fúria, Selion? Eu quero saber onde está aquele dragão megazord! - Lucius incentivou - Quebre esta maldita barreira! - ele continuou a golpear a barreira com sua foice, sem muito resultado.

Fúria. Era o que menos me faltava. Eu havia perdido um companheiro nesta guerra. Vi meus amigos serem feridos, incapaz de impedir. Eu não iria deixar isto acontecer novamente. Usei a barreira como impulso e pulei para trás, usando a força de minhas asas para interromper meu recuo e acertar mais um golpe. Repeti o processo várias vezes, tendo o fogo ao meu redor aumentado a cada vez.

-Eu não vou desistir, não vou desistir! - eu repetia.

E por um breve momento, durante minha série de ataques, a estrutura do escudo vibrou, revelando sua aparência. Era uma esfera branca transparente formada ao redor de Aron. Ao ter algo tocando sua superfície, sua cor mudava para vermelha. Ela ia para frente com o ataque e voltava para trás logo depois, empurrando o atacante, como se fosse feita de borracha. Porém, uma borracha de algum material sólido. Poderia ser quebrado. Sabendo disto, insisti ainda mais com meus ataques. Chegando a certo ponto, Aron pareceu não gostar.

-Sua existência é triste, Selion. Você não sabe o quê faz, você defende a coisa errada. - Aron sussurrou áspero.

Ele interrompeu sua voz "angelical" de propósito. Agora não havia mais quem seduzir, ele realmente não precisava dela.

-Posso sentir seu medo, Aron! - Lucius continuava a arranhar a barreira, sem efeito, ensandecidamente - Vamos quebrar sua proteção e depois cada um de seus ossos! 

A expressão de Lucius chegava a me amedrontar. Se existia algo para as crianças terem medo a noite, seria algo parecido com ele nesse momento.
Parei com meus ataques. Era hora de tentar outra tática. Ao ver meu punho brilhando como lava, tive uma ideia interessante. Concentrei todo o fogo ao meu redor em minhas mãos e me pus a socar a barreira. De primeiro, senti a dor pelos ataques refletidos, mas de qualquer modo, eu não ligava. Eu precisava chegar a Aron!

-Sabe, se vocês me obrigarem a usar todo o meu poder, lágrimas desnecessárias cairão. Principalmente as suas, dragão divino. 

Não ouvi suas ameaças. Não me importava com elas.
Acompanhando meu raciocínio, Lucius afastou-se e ergueu Scyther o mais alto que pôde. Um par de olhos dourados surgiram, um em cada lado da extremidade da foice. 

-Junto comigo, meu amigo. - Lucius pediu.

Ouvi um sussurro rouco, estranhamente omitido pela foice. E então, as lâminas da foice separaram-se do cabo, girando como bumerangues ao seu redor. Ao comando da mão de Lucius, as três lâminas afiadas moveram-se simetricamente, alternando seus movimentos pelo ar, até a barreira, onde não puderam mais seguir em frente. Agora elas cortavam a barreira firmemente, e pareciam fazer efeito.
Como resultado de nossos esforços, uma fenda se abriu na proteção de Aron. Ele não tinha mais onde se esconder.

-Eu já não aguentava mais esperar para acabar com você! - voei em sua direção com o punho erguido, enquanto o escudo era quebrado em um milhão de pedaços ao meu redor.

A poucos centímetros de seu "rosto" (diz-se elmo dourado), estranhamente, minha mão parou. Meus movimentos foram cessados. Ao redor de mim e Aron, o tempo corria mais devagar. Percebi isto ao reparar nas lâminas giratórias de Lucius. Elas agora giravam tão lentamente que seria impossível continuarem no ar.

-Vou dar cinco chances para você. Esta é a primeira. - Aron levantou sua mão até mim e tocou em meu ombro.


Sua mão estava transparente com tatuagens tribais fosforescentes por toda a pele. Elas pareciam se mover e alterar seus padrões com base nos movimentos de Aron. Ao toque, senti meu ombro se mover do lugar. Abruptamente, fui atirado para longe de Aron, porém desta vez eu não bati contra parede alguma. Ainda no ar, usando as asas para impedir a continuidade de meu voo forçado, duas fendas foram abertas. Simplesmente passaram a existir lá. Uma acima de mim e outra em baixo, ambas acompanhando meu movimento. 
Eu olhava para cima quando de dentro da fenda vi uma estranha forma circular. Era um olho. Apressei-me em sair de meu rumo, mas eu não conseguia. O lado esquerdo de meu corpo endureceu, com exceção de meu braço esquerdo, ao qual Aron havia tocado. Este eu não conseguia sentir. 
Ouvi barulhos de espadas e um grito em agonia. A luta de Melody não parecia ir muito bem. Meu coração chegou a parar no instante em que uma enorme lança passou voando acima de meu ombro, quase cortando minha cabeça para fora. Mas eu tinha problemas piores. Os olhos abriram-se, formando uma fenda ainda maior no ar. Foi aí que vieram os dentes. Dentes enormes e assustadores, semelhantes ao da criatura que viva na floresta ao lado de nosso quartel-general, minha suposta casa. 
Continuei a relutar, tentando fazer minhas asas baterem. Ao mesmo tempo, as fendas se aproximavam, ficando cada vez maiores. Elas iriam me devorar? Ser devorado por olhos dentados com certeza não estava no meu plano de vida.
Com minha mão que funcionava, tentei atirar fogo contra os olhos malignos. Agora os dentes pegavam fogo. 
Comecei a cair. Agora eu me movimentava diagonalmente, ao invés de horizontalmente. Eu ia ser engolido por aquelas criações bizarras de Aron. 
Sem desistir, me concentrei. Eu precisava trazer o dragão gigante que outrora eu fui. Mas eu não consegui. Fechei meus olhos e continuei a tentar. Foi neste instante em que algo me prendeu. De dentro dos olhos, cipós com espinhos se ergueram e prenderam-me. Minha visão ficou turva por algum motivo. Minhas escamas aqueceram.

-Pelo amor de... - uma voz resmungou.

Duas lâminas negras giratórias apareceram e cortaram os cipós. 
Percebendo a interrupção, as fendas resolveram apressar o serviço. Me vi exatamente entre as duas "coisas". Eu poderia esticar a mão e tocar nos dentes, caso fosse eu louco o bastante para tentar. 
Nhac!
Eu vi meu corpo ser separado em três partes. 
Mas por sorte, foi só uma visão. Uma mão sombria enorme me agarrou e me atirou no chão na hora certa. 

-Eu pensei que você fosse mais útil. Se é para ficar salvando você, não me atrapalhe. -Lucius rosnou.

Havia uma projeção feita de sombras de outra mão, esta maior e mais longa, cobrindo seu braço esquerdo. 
Levantei-me. Eu ainda não sentia meu braço esquerdo, mas já conseguia bater minhas duas asas em sincronia. Voei novamente para cima, decepcionado por ter sido tão facilmente abatido. Mas isso não iria acontecer novamente.

-Diminuí suas chances para três, caso não se importe, Selion. - a voz de Aron pareceu vir por trás de mim.

-Vamos ver quem vai rir quando eu der um soco na sua cara. - respondi-o, já planejando uma abordagem diferente.

Concentrei minhas forças nas mãos. Eu havia feito pilares de fogo a pouco tempo, talvez eu pudesse fazer algo parecido contra Aron.
Enquanto eu preparava o próximo golpe, Lucius não hesitou em ir para cima de seu rival. Usando alguma magia de Umbra, fez outra projeção de sombras, dessa vez no seu braço normal. Com suas garras agora aprimoradas, ele pôs-se a atacar Aron sem parar. Cada golpe era refletido por alguma coisa rápida demais para ser identificada. Lucius parou o ataque por um momento e pegou os restos de sua foice, o cabo sem lâminas. Ele controlou as lâminas giratórias para atacarem Aron de três direções diferentes. 
Ele usou uma nova tática para evitá-las. Um ponto brilhou em seu ombro esquerdo. Eu via a pedra do fogo residindo naquele lugar. Outro ponto surgiu, agora marrom. Em seu ombro direito, dentro de sua armadura, brilhava a pedra da terra. 
Mais portais foram abertos, desta vez ao redor de Aron. De lá, uma infinidade de armas apareceram, entre elas pequenas esferas voadoras. Seriam os tais drones que eu já ouvi falar? 
As armas e os drones cercaram as lâminas. Por mais que tentassem cortá-las, as armas eram indestrutíveis. As demais armas que surgiram caíram no chão. Havia instrumentos de diversas épocas, inclusive alguns medievais que eu nem mesmo o nome sabia. 

-Pessoas fracas precisam de uma infinidade de armas. Um guerreiro de verdade pode se virar com apenas o que lhe é concedido! - Lucius grunhiu.

O cabo em sua mão tornou-se uma lança mortal, com uma totalmente não macabra decoração feita de crânios humanos. Com ela, Lucius atacou. O caminho percorrido pelo demônio deixava um rastro de fumaça negra para trás. Eu poderia julgar aquilo como energia sombria pura. Pois era exatamente o que parecia.
Senti-me pronto. Mirei minhas mãos (no caso de um dragão, seriam patas?) em direção de Aron. Manipulei o fogo mentalmente. Imaginei lâminas de fogo cruzando o corpo de Aron inúmeras vezes. O resultado não foi como o de esperado.
Um círculo fino de fogo se formou ao redor de Aron. Em quatro pontos diferentes, brocas giratórias apareceram, feitas inteiramente de fogo. Eu não sabia como havia feito aquilo, mas de alguma maneira eu havia conseguido. 
Aron surpreendeu-se. Aproveitando a brecha na defesa de Aron, Lucius investiu sua lança contra a frente da armadura que agora era Aron. Imediatamente, uma das mãos de Aron se moveu, impedindo o ataque de continuar. 
Concentrei-me. As brocas desgrudaram do círculo de fogo e perfuraram a defesa de Aron. Um ponto azul brilhou em sua armadura. Eu não precisava pensar muito para saber o que aconteceria.
Uma nuvem de vapor surgiu, mas logo foi dissipada por Lucius, que continuou seu ataque no vazio à sua frente. Aron não estava mais lá. 

-É. - Aron suspirou - Parece que subestimei vocês. Aliás, decepcionei-me com estas pedras. Parece que vou ter que adiantar o plano.

Ele havia despencado no chão. Parecia intacto, mas eu consegui tirá-lo do ar, o que com certeza era um progresso. Eu podia abatê-lo. Eu podia vencê-lo.

-Aonde está o anjo que queria ser Deus agora? - com os olhos faiscantes, voei a toda velocidade na direção de Aron.

Planei rente ao chão em direção de seu encontro. Ele agora não se encontrava no mesmo estado paralítico de outrora. Até mesmo alguém como ele consegue ver quando está perdendo. Eu não só deveria, como estava, preparado para sua próxima reação. 
Acima de mim, Lucius batia suas asas, parado no mesmo lugar, segurando sua lança e sendo cercado por suas lâminas, agora novamente livres. Ele estava pronto para dar continuidade a meu ataque, no primeiro momento possível.
Passei pelas milhares lâminas jogadas no chão. Um enorme desperdício de armas fabricadas tão cuidadosamente. 

-Aron Nephrim não vai ser abatido por um reles dragão invocado. - Aron virou-se para mim, fechando suas asas atrás do corpo.

Meu corpo todo pegava fogo. Um rastro flamejante era deixado atrás de mim. Eu movia-me como um cometa.
Cerrei o punho. Ele iria pagar por todos os seus maus feitos contra a humanidade.

-A Grand Destruction está agora ENCERRADA! - dei um soco com toda a minha força no elmo de Aron.

Tudo que ouvi foram risadas. 

-Devia ter ficado com o fogo. - Aron agarrou o braço que o socava. 

A pedra marrom em seu ombro brilho novamente.
Senti algo fincar minha barriga.
Ao olhar para baixo, vi uma espada sendo cravada em mim. Perfurando minhas escamas. 
Outra lâmina se juntou. Agora uma alabarda. 
Depois um machado duplo.
Uma foice.
Uma lança.

-Eu tenho inteligência. Força. Poder. Tudo o necessário para governar este mundo de maneira correta. Como meu primeiro ato para fazer um mundo melhor, elimino uma mancha de tinta do manto da humanidade: Selion Grand Lux. - Aron largou meu braço.

Sendo mantido no ar por Aron, cuspi sangue. 
As espadas eram cravadas cada vez mais fundo. Minhas escamas vermelho-vivo perdiam suas cores, retornando para o acinzentado que fora inicialmente.

-Essa foi sua última chance. Agora privarei você de seus sentidos, um a um. Seu castigo por não ter facilitado as coisas. - Aron esticou suas mãos e fechou meus olhos.

Automaticamente ao ter suas mãos tiradas de meus olhos, abri-os o máximo que pude. Eu não conseguia ver. Tudo estava escuro.
Não, eu via algo. Ou quase. Podia sentir a presença de Aron logo a minha frente. Podia sentir a presença de todos. Ouvir cada passo, cada fala, cada batida de cada coração. E fazendo as contas, novamente, eu sentia falta de três batimentos. Aron, Lucius e...? Quem seria a terceira pessoa sem coração? Esperei que a resposta viesse com o tempo.

-Agora tratarei de sua audição. - eu pude sentir Aron aproximar sua mão vagarosamente de mim.

"Não, não!" eu lutava para me mover. 
A mão de Aron se aproximava mais e mais. Sentir ela a cada centímetro mais próxima me fazia entrar em desespero. Se eu perdesse mais um sentido seria meu fim. Eu não conseguiria ver ou sentir com exatidão. Acabaria para mim.
"Vamos, Flamus!" eu gritava comigo mesmo.
"Desperte o poder." uma voz sussurrou em meu ouvido. "Tipo agora."
Eu reconheci-a imediatamente. Gar. 
"Você consegue!" outra voz surgiu. "E se não conseguir, ainda há quem consiga. Pelo menos você tem saúde. Ou quase." 
Este último era Gen. Realista até demais.
Inconscientemente eu agi. Libertei-me do controle de Aron mais uma vez. Soquei sua cara com toda a força contida em meu ser e senti seu corpo se afastar de mim.
Caí com tudo no chão. As lâminas cravaram-se mais fundo em mim. Minha visão completamente escura se tornou vermelha.
O quê era isto saindo de minha boca? Saliva?
Não. Sangue. 
Senti o meu calor abaixar. Minhas escamas enfraquecerem.

-Como...? - Aron abafou sua pergunta.

Ouvi espadas se confrontando logo depois, junto de alguém chamando meu nome.

-SELION! 

Eu me recusava a perder. Recusava-me a desistir. 
Com dificuldade, apoiei-me com as mãos e virei-me para o lado. Ao tocar em uma das lâminas, meu corpo todo agoniou. 

-Acabou para ele. - uma voz feminina riu.

-CALE A BOCA! - outra voz gritou.

Seria Kathryn? E a primeira Mellany? Era difícil saber.

-Caiu um pouco rápido, dragão divino. - a voz de Aron parecia decepcionada - Parece que você foi um grande erro. Como sua namoradinha, um simples erro. 

"Chega." 
"Já basta."
"Estou cansado."
"Não suportarei mais isto."
"NÃO SUPORTAREI MAIS GENTE COMO VOCÊ!"
Esta série de pensamentos me acordou. Meus olhos que já se fechavam, embora não pudessem abrir, foram abertos ao máximo.

-ARON! - rugi a plenos pulmões.

Já no meu limite, levei minhas mãos até a espada cravada em minha barriga e a arranquei. Logo depois, fiz o mesmo com o machado e a alabarda.
Trêmulo, levantei-me. Não pense que foi fácil, pois cada centímetro de meu corpo doía e latejava. Cada movimento me fazia ter dor semelhante a ser cortado ao meio. Eu já senti essa sensação algumas vezes e a cada uma parecia doer ainda mais.

-É assim que eu gosto de ver. - Lucius levantou a voz - Não desista, Selion. 

Minhas pernas tremiam. Ergui minhas mãos e toquei minha face. Minhas garras, agora mornas, aqueceram minha pele. Meus olhos haviam lacrimejado em algum momento.
"Ajudaremos com isto, campeão." a voz de Gar soava como um treinador de algum time esportivo. "Open your mind to me, baby!
Flashes passaram por minha mente. Vi o dia em que me transformei em dragão pela primeira vez. A dificuldade que tive para retornar a minha forma normal. Meu banho de lava no vulcão Kilauea. O momento em que perdi o controle e fiquei preso em minha mente. Todos os momentos que passei com Flamus, o lado mais radical e descontrolado de meu ser, mas que de alguma maneira eu não conseguia odiar.

-FLAMUS! - eu chamei sem pensar.

-Falando sozinho? Patético. - Aron se movia mais do que o normal enquanto falava.

Algo estava para vir. E eu não falava só de um ataque de Aron.

-FLAMUS BURST! 

Por um segundo, um longo e tenso segundo, tudo manteve-se normal, até que eu de alguma forma reagi. 
O fogo que os ferimentos haviam levado retornou com força total. Uma verdadeira erupção vulcânica foi gerada abaixo de mim.

-Interessante. - Aron exclamou - Eu também sei brincar disso. 

Ouvi mais lâminas chocarem-se, junto de um bater de asas frenético. Um corpo foi jogado para longe. Um corpo alto e encorpado. Lucius.
Outro aproximava-se a passos leves. Este seria Aron? 
O fogo me consumia. Algo mudava em mim e em meu corpo.
"Vamos, Selion! Você consegue!" Gen torcia por mim em meus pensamentos.
"LET'S B-B-BURN!" Gar incentivava em êxtase.
Os buracos em meu tronco deixado pelas armas começou a cicatrizar. Minhas garras pareciam crescer. Uma sensação incontrolável de emoção e fúria subiu por meu corpo. Dos pés a cabeça, meu corpo ardia por dentro, e isso era bom demais.
Fechei meus olhos com força. Cada nervo de meu corpo queimava enquanto transportava meu sangue. Uma sensação grandiosa.
Meus punhos cerraram-se sozinhos. 
Minha cauda pôs-se a mover em movimento de chicote. Junto deste movimento, senti algo surgir. 
Energia pura era expirada de meu corpo. Elementra...? 
Mais uma vez renovado, sentia-me pronto.
E a pouco menos de 10 metros de mim, Aron marchava angustiado, sendo seguido por uma estranha onda de poder.
Abri meus olhos devagar, com medo do que aconteceria. 

-Incrível... - eu mal conseguia falar.

Eu conseguia ver novamente.

-Sua magia é fraca, Aron. Eu conheço uma fonte de poder muito mais poderosa! - eu o encarei com um sorriso no rosto.

-Nada é mais potente do que estas pedras. São as forças mais poderosas já criadas, a origem de tudo. - Aron respondeu sério.

Com a visão renovada, dei uma olhada em mim mesmo. Minhas escamas não eram mais vermelhas, como haviam se tornado nas outras vezes em que eu exibira tanto poder. Eram acinzentadas, praticamente prateadas. Um cinza puro e limpo reluzia em minhas escamas.
Minhas garras estavam impecáveis. Eu podia ver meu reflexo nelas. Meus olhos eram do mais limpo tom de azul. Meu rosto draconiano estava diferente. Era como se Flamus houvesse envelhecido, tornado-se um dragão totalmente renovado. 
Meu corpo exibia o mais completo equilíbrio entre humano e dragão. Eu conseguiria usar o arco e a flecha nesta forma, se quisesse, coisa praticamente impossível outrora.  
Minha cauda exibia espinhos expostos simétricos de ambos os lados e na ponta havia uma espécie de substância, que com toda a certeza não era escamas ou espinhos saltados, pontiaguda, fazendo de minha cauda semelhante a uma lança. 
E de todas as mudanças, a mais berrante era meu peito. As marcas deixada pelas armas não existiam. Não havia sangue. Aparentemente, o fogo o havia levado embora, evaporado-o.
Fora a falta das marcas, havia algo a mais. Uma saliência no meio de meu peito escamado definido brilhava. Uma espécie de cristal por onde eu conseguia ver um fogo intenso queimar.
Ao redor de tal substância, símbolos estranhos foram desenhados sozinhos em mim, surgiram a partir de brasas que simplesmente cresceram, deixaram os símbolos e desapareceram. Eles brilhavam com a mesma intensidade do fogo e pareciam permitir ver por dentro de mim. Dava a impressão de que dentro de meu corpo havia somente o fogo que em meu peito queimava. Eu não via aquilo como algo ruim. 

-Estas marcas, estes símbolos...! - Aron deixou sua fala escapar.

Ele sabia algo. Infelizmente, não era hora para conversar. Para o azar de Aron, eu já estava cansado de ouvir falar dele. 
Avancei. Voei em sua direção e soquei o centro de sua armadura com força.

-Esqueceu que é inútil? - Aron levantou sua mão, pronto para fazer algum ataque - Ugh! - ele exprimiu. 

Uma marca funda foi deixada em sua armadura, no exato local onde meu soco o acertara. Aron foi jogado para trás, sendo forçado a pressionar seus pés nus contra o chão para parar. Sua imagem tremeluziu, como se sua forma tivesse desestabilizado.
Não muito longe, Lucius assistia sentado no ar, sendo mantido por suas asas que não paravam de bater. Ao me ver, levantou seu polegar em minha direção, demonstrando aprovação. 
Não hesitei. Corri incrivelmente rápido até Aron e o acertei novamente, agora socando seu peito de baixo para cima, levantando-o no ar. 

-Subestimou a minha força. Humilhou meus ideais. Vou retribuir o favor com todo o prazer! - pulei no ar e girei meu corpo a 360 graus, usando minha cauda cortante para cortar sua armadura e jogá-lo no chão com força. 

Minhas asas se abriram sem meu consentimento. Elas também estavam mudadas. Exibiam um símbolo parecido com os de meu peito: pequenas asas sendo abertas. Uma estampada no centro de cada uma de minhas asas.

-Está cansado? Mal começamos. - avancei a passos largos, animado com a batalha.

Aquela animação não vinha diretamente de mim, mas eu não conseguia evitar de aproveitar dela. 
Em silêncio, Aron se levantou e limpou sua armadura com a mão. Ela foi imediatamente consertada. 

-Certo, certo. Você conseguiu, pararei de pegar leve. - Aron ergueu as mãos.

Sua armadura se desfez. Cada peça caiu no chão produzindo um contínuo tilintar ao chocarem-se umas as outras. O corpo de Aron por debaixo da armadura estava diferente. Um frágil véu branco cobria seu corpo, agora totalmente "tatuado" com as tatuagens tribais antes vistas somente em seu braço. 
Elas formavam algo na testa do anjo-demônio. Formavam o desenho das seis pedras de elementra reunidas em um círculo, coladas juntas, como se não bastassem de um único item. 
Ao elevar sua mão, um terremoto abalou a todos. Ao olhar pra trás, vi a luta contra Mellany ser interrompida. Lembrei-me de Misake neste momento. Ele encarou-me de volta e assentiu. Sua invenção estava pronta? Eu esperava que sim.

-Sabe por que as pedras são tão fortes? - Aron perguntou para mim.

Ele atropelou minhas palavras antes que eu pudesse abrir a boca.

-Elas são feitas do mais puro elementra, da força mais implacável existente. Mas como pode ver, elas não parecem tão capazes, certo? 

O corpo de Aron brilhava em dourado, mas mesmo assim eu conseguia identificar cada traço de seu corpo, enquanto Lucius desviava o olhar devido a claridade.

-Há um motivo para elas serem o poder supremo. - uma a uma, as pedras deixaram o seu corpo, que continuou no mesmo estado brilhante - As seis juntas causam um efeito a todas as outras. Tendo as seis em posse, o usuário tem a capacidade de ter o poder de TODAS as pedras existentes no planeta ao seu desejo! - Aron declarou - Sabe o quê isso significa?

-Tá, tá. Você ta podendo. - flexionei os dedos das mãos - Não entende que nunca vou desistir? Você sempre cairá. Pode trazer o poder que quiser. Você não saberia usá-lo mesmo. Está se segurando desde o início da luta. Está instável. Não é mesmo?

Irritado, Aron cerrou o punho. Logo depois, respirou fundo e acalmou-se.

-Você sabe irritar alguém, não é mesmo? - Aron sorriu desajeitado.

-É um dom. 

Mais um terremoto. 
Aron levantou seu braço em direção do teto de nosso campo de batalha. Uma majestosa rajada de energia deixou seu corpo e dizimou o teto de pedra sólida a nada. Se havia mais andares acima de nós, caso houvesse mais alguém lá em cima, esses andares, essas pessoas, não existiam mais. Tudo acima de nós foi vaporizado. 
Na penumbra do fim da tarde, luzes surgiram no céu. No início pensei tratar-se de uma chuva de meteoros. Quem me dera se fosse. As luzes desceram até Aron e formaram um círculo ao seu redor, semelhante ao criado pelas seis pedras originais a pouco atrás.
Eram pedras de elementra desconhecidas. Primeiro vieram duas. Depois, o grupo aumentou para cinco. Agora dez pedras de diferentes cores e formatos rodeavam Aron.

-Começarei só com dez delas. Não será problema chamar mais se necessário. - Aron explicou com desdém.

Falha minha. Neste momento, algo não planejado aconteceu. A visão de Aron focou em Misake. Apressei-me em colocar-me entre eles.

-A luta é aqui, covarde. - briguei.

-Ah, sinto muito, não quis ofender, só que ele está com uma coisa que me pertence. - Aron simulou a ação de arrancar algo das coisas de Misake.

Um pedaço de metal brilhante voou para longe de Misake e parou na mão de Aron.

-Não! - ele exclamou espantado - Selion e Lucius, precisamos disto de volta!

-Entendido. - respondi sem questionar.

Neste momento percebi que não era um pedaço de metal. Era uma pedra com formato indefinido, aparentemente quebrada. 

-A pedra do som, é? - Aron sacudiu a cabeça negativamente - Não foi dessa vez, tente novamente na próxima encarnação.

Fogo criou-se ao meu redor em um estalar de dedos. Detalhe: fogo azul. O estranho fogo de cor diferenciada retornara. 
Não me prendi a este detalhe. De minha boca, uma rajada de fogo azul foi jogada na direção de Aron, que com um simples tapa conseguiu fazê-la dissipar. Mas não por completo. Uma pequena queimadura em seu braço foi deixada para trás, quebrando a formação completamente dourada de seu corpo.

-Impossível! - ele analisava sua mão, incrédulo.

-Cheque-mate. - Lucius gargalhou.

Ele estava próximo de mim, ainda com sua lança em mãos e lâminas girando ao redor dela.
Aron começou a rir.

-É neste momento que os dois desistem. - seu sorriso me incomodava.

Uma pedra azulada surgiu em sua mão esquerda e uma roxa em sua direita. Usando a roxa, ele desenhou um quadrado no ar. Nele, a imagem de um campo de batalha gigantesco foi mostrada. O foco era o general com quem havíamos falado antes de entrar neste covil. Ele liderava uma tropa de guerreiros, uma tropa não muito numeroso, contra uma infinidade de criaturas que eu nem mesmo conhecia. Elas mudavam de forma e seu corpo assemelhava-se ao elemento mercúrio. Junto de tais criaturas, haviam também alguns humanos e no meio deles, comandando todo o caos, estava Grandark. 
Eu esperava encontrá-lo aqui, defendendo Aron, mas pelo visto eu havia sido enganado.
Na horrível visão, muitos pereciam perante as forças das tropas inimigas. Aquela luta não iria parar até que alguém pusesse um fim em Aron. 
Em momento algum eu pensei na guerra lá fora. Nosso ataque já era esperado, pelo visto, nunca tivemos o elemento surpresa.

-Você poderia evitar tudo isso. - Aron suspirou, como se tudo fosse cansativo e monótono - Agora a segunda coisa para mostrar a vocês. Isto bem aqui. - ele largou a pedra roxa, que voltou ao movimento giratório, e ergueu a pedra azul.

-Pedra das almas... - Lucius pareceu sufocar.

Eu não via qual o problema nisso. 
Atrás de mim, ouvi uma explosão. Não ousei virar-me. Eu não podia desfocar de meu objetivo. Eu sabia que não precisavam de mim por lá. 

-Você percebeu que Mellany tem uma implicância com sua irmãzinha, não é? - Aron indagou.

Aproveitei o falatório para carregar energia. Pus minhas mão atrás das costas e condensei o fogo azul atrás dela sem ser notado.

-Sabe por quê? Vou dizer agora. - nas mãos de Aron, a pedra brilhou.

Imediatamente, Melody apareceu em seus braços, confusa.

-Olá, doçura. - Aron trouxe de volta sua voz angelical.

Eu teria estraçalhado a cara dele, mas não foi preciso.

-Corta essa, mestiço surtado. - ela girou para o lado, caindo no chão e livrando-se dele, mas não antes de deixar um corte com sua katana no meio dos braços de Aron.

Ela pulou para trás, afastando-se. Não, algo a deteve. Uma parede azul se mostrou visível quando Melody tentou se afastar.

-Acalme-se, milady. - Aron aproximou-se devagar de braços abertos.

Eu não ia ficar assistindo. Corri entre eles e usei meu pé para chutar Aron para longe dela. Aproveitando a situação, Melody desenhou um semi-círculo com as mãos, cortando-o com sua katana no final.. O chão onde Aron pisava explodiu, deixando de existir. Nuvens foram formadas acima de sua cabeça. Um estrondoso raio acertou-o em cheio.

-Como são impacientes. - Aron bufou, intacto.

Lucius caminhou até nós, sem pressa. 

-Esta fêmea é falsa, Selion. - Aron disse - Se ainda não entendeu, veja isto. 

A pedra em sua mão brilhou novamente. O corpo de Melody flutuou até Aron, mas em momento algum ela parou de lutar para se libertar. 

-Tsc. Além de corromper minha irmã, tenta trair ela? Deixe-me enquanto eu ainda estou pedindo! - ela ordenou. 

-Você é encrenca de Mellany, não pretendo interferir nisto. Só quero mostrar uma coisa para vocês dois, depois poderá se matar com sua real identidade. - Aron a repreendeu.

Rapidamente, na intenção de evitar distrações ou luta, Aron tocou a pedra na mão de Melody. Não tive outra escolha sem ser assistir boquiaberto enquanto via sua mão ser sugada para dentro da pedra e desaparecer.

-Tente você. - Aron jogou a pedra para cima, em minha direção.

Hesitante, eu a peguei. Estava mais que na cara o potencial de ser uma armadilha, mas resolvi arriscar. Ele não parecia tramar coisa alguma.
Minha mão não sumiu. Meu corpo permaneceu intacto. Já minha mente...
Uma dor de cabeça forte me abateu. Caí de joelhos no chão, segurando a cabeça com as mãos. Deixei a pedra cair no solo.

-Isto é inesperado. Eu realmente não fiz nada. - Aron coçou a cabeça, indiferente.

Flashes de memória cruzaram minha mente. Vozes foram captadas por meus ouvidos. Alguma coisa lutava em minha mente. Lutava para se libertar. Mas o quê poderia ser? Eu já estive lá, posso dizer que não havia nada! Com exceção do elfo estranho.
Comecei a rugir de dor. Minha cabeça latejava.
As imagens foram despejadas em minha mente.

Vi um menino de cabelos roxos passeando próximo a uma floresta e de uma pequena praça com prédios gigantescos erguidos no solo. O maior deles tinha paredes espelhadas e uma grande fonte de luz em seu topo. Havia um nome escrito, mas eu não consegui ler. O garoto era idêntico ao que eu tinha encontrado em minha ilusão, quando preso no cristal negro gerado pela pedras das sombras. O mesmo pode ser dito da floresta.
Em uma espécie de templo, vi o menino passeando enquanto conversava sozinho. Haviam algumas estátuas macabras expostas mas o menino de cabelos roxos não esboçou medo algum. Ele parecia até... feliz. 
A imagem de um homem e uma mulher com um fundo brilhante surgiu. Seus rostos estavam escuros demais para ver, mas seus lábios mexiam-se vagarosamente, passando uma mensagem. Eu não sabia qual. 
Uma poça de água conhecida se abriu. Sua água límpida tornou-se piche. Vi o garoto ser empurrado lá dentro. Ele gritava sem parar até afundar. Quando erguido, estava irreconhecível. Sua face estava encouraçada, como se usasse uma máscara negra, e o formato de seu corpo agora era irregular. Parecia um humano tornando-se demônio, um dos demônios de Umbra para ser específico.
Imagens sem sentido apareciam entre a troca das cenas. Símbolos estranhos, pessoas desconhecidas...
Elas continuaram passando em minha mente, como um filme sendo reproduzido em câmera super rápida. A velocidade só aumentava. Minha cabeça doía, sem conseguir acompanhar.
Ossos emergiram de mais piche, desta vez em um vasto lago. Enquanto a imagem se afastava, um nome foi formado pelos ossos: Lanos.
Uma garota pálida com grandes olhos verdes apareceu sorrindo, sumindo vagarosamente logo depois.
Ao fim da compilação de imagens, o foco foi o vazio. Eu via pelos olhos de outra pessoa o mais claro e limpo tom de branco. Minha mente.
A visão andou e andou. Até enfim chegar em algum lugar. Era uma porta vermelha de maçaneta cor de rosa. Assisti enquanto a mão de alguém segurava a maçaneta e a girava devagar. Quando a porta se abriu, eu havia voltado ao campo de batalha.

Aron parecia divertir-se mantendo Melody tão próxima de si. Eu, por outro lado...

-Ela não consegue se mover. - Lucius explicou, assistindo à cena - Selion, ele está falando a verdade dessa vez. 

Ameacei avançar contra Aron, mas percebi que uma faca estava próxima as costas do pescoço de Melody. 

-O quê você quer provar?! - eu rugi, fazendo força para levantar do chão.

A pedra havia mexido comigo, e o estrago foi grande. Todo o equilíbrio que eu havia conseguido impôr estava agora quebrado. Minha cabeça ainda doía, como se alguma coisa estivesse batendo dentro de meu cérebro, tentando sair.

-Quero provar que o motivo pelo qual luta não é real. Mellany, pode dar um pulinho aqui? - Aron chamou.

Atrás de mim, um exército de sombras com formato de Mellany ocupava Richard, Kathryn, Merith e Gar. Ao fundo, Gen trocava mensagens telepáticas com Merith, dizendo a posição das guerreiras sombrias, permitindo-a acertá-los habilmente com uma pequena faca de guerra de cabo azul neon. 
Mesmo desconvertida, Richard mantinha seu modo de luta: abusava de esferas sombrias e cortes com seu leque, nada mais de ventos ou tornados.
Kathryn parecia desafiar seu limite. Eu conseguia ver de longe o suor escorrendo de sua testa, enquanto ela jogava peças de mobília em cima de Mellany. Antes que se pergunte algo do tipo "de onde veio a mobília?", todas as peças surgiam a partir de pontos luminosos no campo de batalha. Portais instantâneos, talvez.
Ao ouvir o chamado, Mellany flutuou para longe. Agora distanciada, formou um círculo mágico acima de seus próprios clones e meus amigos. Uma imensa pata de animal desceu dos céus e esmagou a todos. Ou, pelo menos, era para ser assim, porém, Kathryn criara no último instante uma barreira logo acima de sua cabeça. Ela a mantinha segurando-a com as mãos. Richard pôs-se a protegê-la.

-Então, aí estava você. - Mellany passou por mim, estranhamente animada - Resolveu fugir? Temo ser tarde demais.

-Não é hora de lutas, Mel. - Aron pediu.

A pedra brilhou. Mellany juntou-se de Melody, flutuando próxima de Aron. Ele as colou juntas, quase espremidas uma contra a outra.

-O quê p-pensa que está fazendo?! - Mellany protestou, completamente pasma.

-Algo que eu espero para fazer no instante em que cheguei a este plano. 

Avancei contra ele, atirando bolas de fogo de minha boca, tentando impedi-lo. Uma sombra negra ergueu-se na minha frente e impediu minha passagem. Era uma sombra encorpada, de pele rígida como pedra. Ela segurava uma foice de três lâminas. Lucius impedia minha passagem.

-Por quê?! - caí no chão.

Eu estava mais fraco do que pensava. Se ao menos a coisa em minha mente se acalmasse...!

-Ele está agindo certo. Dividir almas é algo completamente fora das noções éticas e morais de Umbra. Não vou deixar você impedi-lo. - Lucius agarrou-me pela asa e jogou-me no chão com força.

-Pare! A-Aron, sou eu! Mellany! P-por que está fazendo isso comigo?! Por favor, não! - Mellany suplicava.

Melody, por outro lado, sussurrava palavras baixinho, enquanto se mantinha calma. 
A pedra das almas faiscava.

-Você não tem culpa, Melorry. - Aron passou a mão no queixo de Melody - Foi por causa disso que não nos encontramos, não é? Você renasceu primeiro, meu amor, mas agora eu estou aqui com você.

Seu olhar foi trocado para Mellany. Ele fez cafuné em sua cabeça. Os olhos dela começavam a enrubescer. Ela estava a ponto de chorar.

-Não, por favor! Eu não quero deixar de existir... Já não basta minha existência ser patética?! - uma lágrima escorreu de seu rosto - Já não basta eu não passar de uma versão inútil dela?!

A concentração de Melody foi quebrada. Ela encarou a irmã com uma expressão confusa.

-Lucius, me deixe passar! Agora! - ordenei.

Com um salto, levantei-me do chão. Corri a toda velocidade. De alguma maneira, lá estava ele, exatamente à minha frente.
O demônio ergueu o punho e socou minha cara. Fui jogado para longe, quebrado o chão com minha queda. Minha visão estava voltada à luta de Kathryn. Ela não estava mais aguentando suportar a pata gigante. Agora, tanto Kathryn quanto qualquer outro ser abaixo da barreira, estava de joelhos, fazendo força para cima.
Não havia mais quem pudesse ajudar. Misake estava livre da barreira, mas ainda trabalhava em algum dispositivo. Por que ele não agia?! 

-Vou trazer você de volta, eu prometo! Vou consertar você! Ficaremos juntos novamente, lembra-se de nossa promessa? - agora Aron falava com Mellany - Irei cuidar pessoalmente da pessoa que fez isto com você, da pessoa que corrompeu sua linda e pura alma!

Sem nem mesmo tentar levantar, Lucius antecipou um ataque. Pulou em cima de mim e manteve o pé em meu peito. O fogo azul dentro do cristal, antes incandescente, agora mostrava-se fraco. 

-Me deixe sair. - eu repetia.

Só dependia de mim. 

-ME DEIXE SAIR! - meu rugido soou estridente.

Os ouvidos de Lucius foram feridos. Tapou-os depressa com a mão, fazendo menos força com o pé. O cristal ferveu. Ferveu mais do que da última vez. Minha visão ficou azul. Eu via o mundo por trás de uma espessa parede de chamas, mas visão não era necessária. Eu sentia tudo ao meu redor.
Segurei a perna de Lucius e a ergui, jogando-o na direção da grande pata criada por Mellany. Sem sentir dor, levantei e voei na direção de Aron, enquanto rugia descontroladamente. Mas era tarde demais. A pedra tocou o corpo das duas ao mesmo tempo.
Ambas caíram no chão, com o corpo brilhando. 

-ARON! - gritei a plenos pulmões enquanto esferas de fogo azul, semelhantes a meteoros, caíam do céu em sua direção. 

Aproximei-me dele, já socando o ar, pronto para o momento em que sua cara tivesse um encontro as cegas com os meus dois punhos flamejantes. Choquei-me com uma barreira novamente. Desta vez não artificial. Aron usava as pedras como escudo contra mim. 

-Venha, meu amor! Venha reinar o mundo ao meu lado! O mundo perfeito, seu ideal! Criado só parar você! - Aron continuava a sonhar acordado.

Eu a vi. Jogada no chão, inconsciente, estava o corpo de Melody. Seus corpos... Suas mentes... Suas almas... Fundidas em um único corpo. 
Meu corpo entrou em desespero. Minha mente em colapso. Perdi o controle das chamas. Minhas escamas perfeitas, meu corpo equilibrado, a joia no meio de meu ser, tudo, tudo se desfez. 
Ouvi um clique em minha mente.
A dor se dissipou. Meu corpo humano foi repelido pelas pedras e jogado no chão.
Meus olhos recusavam-se a abrir, mas em minha cabeça, eu continuava a tentar me reerguer.
Algo em mim se moveu. Meu corpo levantou-se sozinho.

-Chegou a minha vez. - uma voz mais forte que a minha falou.

-Acorde, minha amada. - Aron tinha o corpo de Melody em seus braços. 

Meus olhos se abriram. Eu via por eles, mas outro alguém os controlava. Meu corpo gesticulou as mãos, como se nunca antes eu tivesse controle sobre elas. Meu pescoço foi girado para o lado, estralando suas juntas.

-Sinto muito, Selion. Precisava ser feito. - Lucius desculpou-se.

Eu encarei-o sério.

-Olhos... Roxos...? - ele disse, raciocinando - Você também...! - pegou sua foice e a usou para levantar.

-Silêncio. - minha voz, agora mais forte e séria, pediu - Você é Aron? 

Lucius simplesmente mudou seu olhar para o ser de corpo dourado com um escudo de pedras cintilantes.

-Temos contas a acertar. - uma espada surgiu em minhas mãos.

Aron não me deu a menor importância.

-Pelo modo difícil. Sempre é assim. - empunhei a espada.

Meu corpo se moveu um passo a frente e desapareceu. Reapareci alguns metros atrás de Aron, com a espada em outra posição. Em cinco segundos, o corpo de Aron fraquejou e ajoelhou no chão. Melody permanecia intacta.

-Como...? - Aron deixou-a no chão e apontou seu escudo de pedras em minha direção. 

Uma gota de sangue dourado descia por sua bochecha.

-Sou um oponente que você não deveria ter feito.

Perplexo, cambaleei para trás e caí. Minha visão se tornou branca.
Assustado, levantei. Eu assistia as coisas por uma tela quadrada. Tudo ao meu redor era branco.
Trancado novamente em minha própria mente.

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