terça-feira, 7 de julho de 2015

As Pedras de Elementra - Parte 2. Capítulo 25


25. Reta final.

Atordoada, Melody estremecia enquanto tentava dizer alguma palavra.
Eu tinha uma noção da dificuldade em que ela estava imersa. Havia duas personalidades em seu corpo, assim como eu e Flamus, embora o caso não seja exatamente idêntico. 
A luta parou. Aron aproximou-se de Melody.

-Finalmente, Melorry. - ele estendia seus braços para ela - Eu esperei séculos por você!

Os olhos de Melody encaravam o vazio entre mim e Aron. Ela estava desnorteada. Seu corpo ameaçava perder o equilíbrio e cair. 

-M-Melody! - uma terceira voz chamou - A-Acorde...

Kathryn. A pata gigantesca ainda estava lá, tentando esmagar a todos, mas agora havia um diferencial. Um encanto de Kathryn continha a enorme pata firmemente usando um círculo mágico em forma de escudo. Ao seu redor, Merith, Richard e Gar lutavam contra os clones de sombra restantes. 
Ela estava prestes a sucumbir.
Melody não reagiu à voz de Kathryn. Manteve-se da mesma maneira. Eu não sabia o que se passava com ela, mas precisava fazer algo a respeito. Sei que ela já conseguiu me tirar de um transe semelhante, então talvez seja possível fazer o mesmo com ela.
Embora nossas situações estivessem um tanto quanto diferentes.

-O seu mundo está para surgir, minha amada. 

A cabeça de Aron perdeu seu brilho, revelando sua verdadeira face sem vestígio algum de sua falsa pele dourada interferindo. Porém, o resto de seu corpo continuava a brilhar como ouro.
Não era hora para eu ficar parado. 
Com as asas abertas, empurrei o chão, pegando impulso, e voei em sua direção. Baixar minha guarda foi uma grande burrice. Aron bruscamente levantou sua mão esquerda e a desceu logo em seguida. Meu corpo começou a pesar toneladas. Caí no chão, imóvel, com uma força gigantesca empurrando-me para baixo. Logo, teorizei que se tratava de um aumento gigantesco de gravidade.

-Eu não sou tão tolo, Selion. - Aron continuou seu caminho até Melody - Você não vai estragar a cabeça de Melorry com suas ideias idiotas. E se o fizer, deixará de existir.

Lutei para levantar diversas e diversas vezes. Em todas elas, ao conseguir manter-me de joelhos no chão, meu corpo despencava logo depois, voltando à estaca zero.

-Você não consegue me derrotar, não é mesmo? - falar era tão difícil quanto levantar, mas a chama ardente de Flamus me dava forças extras para continuar agindo - Você ameaça, mas é só isso. Não consegue acabar comigo, nenhum de vocês conseguiu. E agora, em seu momento de covardia, resolve cessar meus movimentos.

Concentrei-me em meu objetivo: usar as asas para sair daquela área circular com gravidade aumentada. Eu conseguia ver toda a área afetada, pois o chão rachava pela intensidade da força puxando-o para baixo. 
Pensei em minhas asas batendo, meu corpo decolando para longe, indo na direção de Melody, antes de Aron fazer qualquer coisa com ela. A imagem de Melody atordoada ficou estampada em minha mente. Eu precisava ajudá-la. Eu devia ajudá-la. Era meu dever ajudá-la.

-Você é só uma barata. Pode sobreviver a explosões nucleares, mas não pode fugir para sempre. Por esse motivo, vai ficar bem aí, onde não causa problemas ou espalha podridão.

-Não sou eu quem quer estragar o mundo. - urrei de dor ao sentir a gravidade intensificar ainda mais.

-Mente fechada. Corpo frágil. Alma impura. Isso torna você o traste dos trastes. Você não serve para nada. Você não tem utilidade neste mundo. Você é um lixo sem salvação, Selion Grand Lux. - Aron exclamou com nojo de minha existência.

O tempo desacelerou para mim. Meu corpo era empurrado contra o chão com força, impedindo meus movimentos. Melody lutava por sua existência, não muito longe de mim. Kathryn fazia seu máximo para manter nossos amigos em segurança. Lucius sumira. Misake não estava em meu campo de visão. 


-Desista, Selion. É o melhor que faz. - Aron completou.

"Mente fechada?"
Tive de encarar esse mundo de magia e guerra bruscamente, e por mais que eu quase tenha desistido, de qualquer maneira acabaria nesse mesmo lugar. 
"Corpo frágil?"
Suportei quantidades de ataques e perfurações em meu corpo que um ser humano normal JAMAIS conseguiria suportar. 
"Alma impura?"
Por mais que seja "bifurcada", conforme Aron chamou, de maneira alguma ela seria impura. Todas as minhas decisões até agora me tornaram possível vencer criaturas sombrias muito mais pútridas que eu. Em alguns casos, consegui até mesmo purificar um ente querido de um companheiro.
"Não sirvo para nada? Não tenho utilidade?"
Talvez. Seria exagerar muito dizer que sou realmente útil para todas as pessoas no mundo. Posso realmente ser uma escória, ser um tolo, mas eu tenho uma utilidade. Para algo eu sirvo. Meu dever é enfrentar Aron. Meu dever é ajudar Melody. Meu dever é impedir a Grand Destruction de estragar o mundo, de destruir a vida de bilhões de pessoas.
E estas coisas, além de muitas outras, são o motivo pelo qual...

-EU NÃO SOU UM LIXO SEM SALVAÇÃO! - rugi como nunca antes havia rugido.

Minhas chamas azuis brilharam como nunca. 
"Este é o meu limite máximo" eu pensava.
Eu conseguia perceber isso. Eu não conseguiria aumentar meu poder além de meu estado atual. Para minha sorte, só isto já me parecia necessário.
Ergui meu corpo lentamente, vencendo a gravidade pesada. Logo após, apoiei-me sobre meus joelhos. Logo, eu estava de pé. 
"Eu sempre posso contar com minhas chamas" este recado ficaria marcado para sempre em mim.
Minha fonte de força, minha energia vital destruidora, a manifestação física de meu poder.  

-Aron. - falar era tão difícil quanto permanecer na mesma posição - Não se vira as costas para seu oponente no meio do combate.

Pasmo, Aron virou o rosto para minha direção.

-Impossível. - ele ergueu sua mão e baixou-a novamente, agora segurando-a para baixo.

A gravidade foi intensificada novamente. O chão rachou-se, criando uma cratera, levando-me junto com ela. O chão de pedra ao meu redor foi estilhaçado.

-Seja esmagado como o inseto que é! 

Dei um passo a frente. Mais uma cratera foi formada no chão. Outro passo. Outra cratera.

-Enquanto eu viver, seu plano NUNCA será completo. Você NUNCA irá aproveitar-se de qualquer maneira dela. Você NUNCA MAIS irá ferir qualquer pessoa. - minha força aumentou.

Era hora de deixar o campo gravitacional.
Concentrei minhas chamas no meu arredor. Elas queimaram o ar, produzindo ainda mais brasas. Canalizei minhas forças. 

-Inútil. - Aron resmungou.

Três objetos voadores fizeram um círculo ao redor de mim. Os triângulos mortíferos feitos pelas pedras.

-Achou ter se livrado deles? 

Então, com um apontar de dedos de Aron, um ataque começou. Vieram girando em minha direção, prontos para perfurar meu corpo diversas e diversas vezes. Bem, isto teria acontecido, mas não dessa vez. Ao terem contato com o fogo, sua força pareceu diminuir, e ao mesmo tempo, a imagem de Aron começou a tremer. Agora mais lentos e débeis, a força gravitacional fez efeito sobre eles, esmagando-os no chão.

-O quê fez?! - Aron estava perplexo.

-Você me chama de dragão divino por algum motivo, não é mesmo? - dei um passo a frente, usando a força extra concedida pelas chamas - Você usa a força das pedras para aumentar a gravidade. Aparentemente, uma pode anular a outra.

Agora só me restavam poucos centímetros para ser libertado.

-Diga-me. De quê adiantaria abusar tanto das pedras, caso seu corpo não resistisse? - pus o pé para fora do círculo de gravidade.

-Asneiras. Esse poder me aceita, e só EU possuo capacidades de suportá-lo! - Aron bradava palavras falsas, eu sentia que ele sabia disto.

-Ah, é? - um sorriso maldoso foi formado, o sorriso de um dragão prestes a esmagar uma vítima.

Dei um passo a frente. Agora, liberto da gravidade aumentada, movi-me mais rápido do que o som, aparecendo à frente de Aron. Cara-a-cara com ele. Era hora de confrontá-lo uma última vez.

-Mostre-me esse poder do qual tanto se gaba. - minha voz dracônica desafiou, socando sua barriga com um poderosíssimo golpe.

O cristal em meu peito ardia muito, mas em momento algum isto tornou-se sinônimo de algo ruim. Estaria a luta trazendo-me empolgação? 
Avancei contra Aron, deixando um rastro incendiário para trás. Ao aproximar-me, minhas chamas encobriram Aron, queimando-o, mas não limitando-se somente a isto. O dourado do corpo de Aron começou a ser apagado, revelando sua forma anterior por debaixo dele. Estaria meu fogo anulando seu poder, visto de sua condição pobretana?

-Um lixo como você não tem o DIREITO de tocar em seu novo DEUS! - Aron gritou, aparecendo por trás de mim e pondo uma das mãos em minhas costas.

Seu toque congelou minhas escamas, trazendo grande dor à meu corpo. Infelizmente, ao menos para Aron, minhas chamas queimaram o local, restaurando a temperatura e criando um pequeno impacto explosivo, afastando Aron e criando uma brecha para um ataque. 
Com minha cauda, agarrei sua perna e joguei-o para cima. Novamente usando o chão para pegar impulso, pulei na direção dele. Era uma pena a manobra ser um pouco repetida, mas deveria bastar para o momento.
Com um soco, levei-o para cima junto comigo, lançando-o contra um pedaço restante do teto ao final do golpe. Mantive-me no ar com minhas asas. 
Sem dar tempo de resposta, minhas chamas agiram por conta própria. Juntaram-se em uma dúzia de espirais flamejantes, logo transformando-se em lanças, e partiram em direção de Aron, agora caindo para o chão.
Confiante, aproximei-me dele, já pronto para dar continuidade com mais golpes corporais, abusando da força de Flamus fortificado com as misteriosas chamas azuis. Porém, um flash azul e branco cegaram meus olhos. Afastei-me o mais rápido que pude, mas não foi o suficiente. Fui empurrado para o chão com uma força sobre-humana. Caí como um meteorito, devastando qualquer matéria no lugar onde meu corpo escamado tocou. Não sofri muito dano, embora ferimentos antigos tivessem incomodado um pouco. 
Ao olhar para cima, vi Aron flutuando no céu. Um círculo mágico partia seu corpo ao meio, este agora completamente branco da cabeça aos pés. No céu noturno atrás dele, estrelas cadentes voavam. Dessa vez eu já sabia que se tratavam de pedras. Elas desceram em conjunto e rodearam Aron. As demais pedras jogadas no chão ascenderam em sua direção ao mesmo momento. 

-Eu esperava não precisar disso, mas já é hora do ápice desse combate. - Aron foi completamente tapado por uma cortina de pedras. 

Entre elas, feixes de luz escapavam e perdiam-se na escuridão da noite, nada além disso conseguia ser visto. 
"Misake pediu para avisar que está chegando a hora." uma voz alertou dentro de minha cabeça.
"Gen? Gar?" perguntei.
"Gen." a voz respondeu com um gemido abafado logo ao final da frase. "Perdão, esse golpe doeu."
"Sua dor logo irá acabar. Prometo isto a você!"
"Conto e acredito em você." dito isto, a voz cessou.
Pensei por um momento. O quê seria melhor? Tentar atacar a luminária brilhante, digo, Aron, ou esperar sua forma concretizar? Podia não ser a opção mais astuta, mas segui a primeira.
Voei em sua direção, trajeto este que não demorou para ser concluído, e tentei quebrar a formação das pedras. Fui repelido para trás. Momentaneamente, perdi a sensibilidade de minhas mãos. Quando consegui senti-las novamente, as pedras começaram a girar em um ritmo apressado.
De longe, conduzi o fogo em sua direção, jogando raios flamejantes com o simples apontar de meus dedos. Aparentemente, só fiz o movimento giratório acelerar. Não tive outra escolha a não ser recuar por ora.
Parei minha asas e deixei-me cair no chão, abrindo-as no último segundo para evitar impacto. Ao pousar, comecei a ouvir gritos agoniados vindos de dentro da esfera formada pelas pedras de elementra. Algumas começaram a desgrudar da esfera formada, outras a afundar dentro dela. A luz intensificava.
As pedras que caíam deixavam uma cratera enorme e linear no solo, eliminando completamente a matéria do lugar onde pousaram. Com certeza não era uma boa ideia estar perto delas. Dito isto, percebi a aproximação de uma pessoa andando zonza, como se tivesse dificuldade em dizer se estava no mundo real. Esta pessoa era Melody.
Uma pedra púrpura caía, indo a seu encontro. Meu coração se apertou. Apressadamente, quase teletransportei, de tão rápido, para seu lado. Abracei-a com força e a cobri com minhas asas. A pedra tocou minhas escamas e depois caiu no chão, inofensiva. Senti minha força ser sugada de mim. Minhas chamas ameaçaram apagar, mas eu não permiti. Dentro de mim, no cristal em meu peito, minha chama interna ainda queimava como nunca antes. Com Melody em mãos, eu não podia vacilar. Carreguei-a para longe e a deixei cautelosamente em um lugar longe de qualquer coisa perigosa. Para minha sorte, havia uma enorme parede de pedra ereta no chão, produto de uma das lutas. Ela poderia usá-la como escudo, visto que ainda não estava estável.

-Você está bem, Melody? Consegue me ouvir? Consegue me entender? - perguntei, com esforço para não expressar minha ansiedade pelas respostas. 

-Quem... É você? - ela finalmente respondeu.

Meu corpo simplesmente travou. Não só corpo, como mente e espírito, foram paralisados pelo choque de ouvir suas palavras.
"Ela não tem memórias sobre mim" esse pensamento assustou-me profundamente.
Então, lembrei de estar usando o corpo dragônico de Flamus. Respirei fundo, acalmando-me. Depois, revelei minha verdadeira face, continuando com o corpo escamado do pescoço para baixo.

-Sou eu, Selion. Você lembra de mim, não é? - eu começava a temer a resposta.

-Eu deveria conhecer? - ela aparentava fazer esforço para lembrar, embora não conseguisse.

Ela abaixou-se por um momento, cobrindo a cabeça com os braços. Após levantar-se, murmurou algo como "Minha cabeça dói".
Abalado, nem percebi a coisa chegar. Alguma espécie de força agarrou minhas asas e me levou para longe dela, que olhava através de mim assustada.
Quando reparei no que me atacava, não pude evitar de ficar perplexo. Um enorme colosso branco de cristal. E dentro do peito transparente da enorme criatura, o corpo de Aron mostrava-se de braços abertos. Seu estava disforme, mas eu sabia que estava lá.
Tentei livrar-me do controle da criatura colossal, mas era impossível. Então, em um movimento veloz, fui atirado com força no chão, sendo praticamente enterrado. Mas não acabou por aí. A criatura agarrou meu corpo e repetiu o golpe muitas e muitas vezes, até perceber que eu estava realmente ferido. Neste momento, ele preferiu deixar-me estatelado no chão. 

-Ainda respira? - a criatura aproximou sua cabeça de mim, cutucando-me com dificuldade.

Fiz um pouco de esforço para levantar e acabei conseguindo manter-me de pé.
A criatura de cristal branco ergueu seu dedo e jogou-me contra a parede, sem nem ao menos eu ter um tempo para respirar.
Após isso, a criatura começou a caminhar em minha direção. Seus passos estrondosos quebravam o chão de pedra abaixo de si, criando mais deformidades.
Enquanto ele aproximava-se, percebi que seu destino não era eu, mas sim Melody. Eu não podia deixar este contato acontecer. Desgrudei-me da parede e voei em sua direção, empurrando a criatura centímetros para trás. Era muito mais pesada e resistente do que pensei.

-O quê é isso? - Melody perguntou assustada.

-Eu sou a pessoa que você ama, Melorry. Eu trabalhei muito para criar o mundo perfeito para você! Ele está quase completo, só preciso agora de seu apoio, minha dama. - Aron agarrou-me e jogou-me para trás, como se não passasse de uma mosca, e depois pôs suas mãos no chão, pedindo para Melody subir.

-N-NÃO O ESCUTE! - eu gritei o mais alto que pude antes de chocar-me contra algo incrivelmente resistente.

Era algo quente e pulsante. Após cair no chão e levantar, percebi que era o meio cachorro demoníaco. Precisávamos dar um jeito nele, mas não havia tempo. 

-Me desculpe, Kathryn. Não posso ajudar agora. - desculpei-me.

-E quem pediu sua ajuda? - sua voz expressava seu imenso cansaço e fraqueza - Vá! Ela precisa de você.

Uma bomba explodiu, não muito longe de mim. Mal consegui acreditar ao ver Merith lutando, jogando pequenas granadas e usando armas de fogo de pequeno porte em clones sombrios de Mellany. 
Logo atrás dela, os olhos e mãos de Ingo brilhavam. Uma nova arma surgia. Desta vez, uma aranha de borracha.

-Vamos, vácuo! Algo de útil, por favor! - Ingo jogou a aranha para longe e fechou os olhos, concentrando-se.

Coincidentemente, ela caiu aos meus pés. Uma ideia brotou. Eu não me sentia feliz em realizá-la, mas era uma situação extrema. Agarrei a aranha e a escondi atrás de minha orelha. Eu não esperava que funcionasse, mas por algum motivo, lá ela ficou.
Voei novamente na direção de Melody e Aron. Ela estava para ceder, prestes a subir em cima das mãos do colosso. Isto era ruim. Eu a estava perdendo.

-Você me ama. Eu amo você. Damos o nosso melhor para sermos felizes, mas há uma terceira pessoa que dificulta nosso relacionamento. Acredite em mim! - Aron insistia.

Amedrontada, Melody tomou uma posição:

-Por que eu amo uma estátua cristalina gigante? 

Faltava pouco para alcançá-los, quando algo começou a crescer no chão. Vindo diretamente do joelho da criatura colossal, agora abaixada para ter contato com Melody, um rastro de grama seguia em minha direção.
Instintivamente, suspeitei dele. Meu fogo azul incendiou cada pedaço de planta visto. Porém, mesmo assim, não foi o suficiente. Cipós começaram a erguer-se, tentando agarrar-me. Flores começavam a brotar, espalhando uma nuvem de fumaça branca no ar, logo a minha frente. Segurei a respiração e segui em frente. Ao ter contato com ela, aparentemente, o fogo a fez reagir. Fui coberto por uma série de explosões em massa. Eu deveria não ter sentido dor, mas eu não possuía escamas para proteger minha cabeça, o que acabou resultando em dano pesado. Planei no ar em direção de Melody, caindo desajeitadamente próximo de seus pés.

-Por favor, não! - eu tossia.

Quem poderia prever uma planta que espirrasse pólvora?

-Eu não... - ela curvou-se, ponde as mãos na cabeça.

Eu não fazia ideia do quanto ela sabia, no que pensava, do que achava sobre essa situação, mas eu tinha uma certa noção de sua instabilidade. Talvez estivéssemos forçando-a demais, mas não havia outra opção. Era meu dever impedi-la de escolher o lado de Aron.

-Eu não sou um gigante nem nada parecido, amada Melorry. - Aron moveu-se dentro do colosso, como se nadasse em uma piscina gigantesca, e pulou para fora dela, pousando nas mãos abertas da criatura - Eu sou um anjo. Sou o seu anjo. - suas asas foram abertas - E este, é um dragão herege de médio porte. Não é digno de sua presença.

Aron pisou em cima de minha cara e afundou seu pé. 

-Criatura imunda. Não merece a vida que possui. - fui levantado no ar com um movimento de Aron e depois jogado com força por um golpe de braço de Aron, acertando minha barriga.

Era sangue que saía de minha boca? 

-O quê ele fez de errado? - Melody questionou.

-Você o odeia. Odeia todas as pessoas presentes aqui, menos a mim. Elas são más. Impedem-me de criar um mundo bom e de paz. Sem dor, sem doença, sem guerra. Eles são contra isso. - Aron contava, omitindo detalhes cruciais das informações - Você gosta do mundo que tento criar?

Hesitantemente, ela aproximou-se dele a passos curtos. Ela mantinha uma mão cobrindo seu braço, provavelmente ferido. Aron pagaria por isso logo.

-Por que eles são contra um mundo sem guerra e dor? 

-Melody, você não entendeu a questão! Ele está mentindo! - bati minhas asas para levantar.

Pedras foram separadas do chão e acertaram minha face, movendo-me para trás e criando mais ferimentos.

-Você vê aquilo? - apontei para trás, lacrimejando por meu olho ferido, quase cego - Kathryn está sofrendo. Merith, Gen e Ingo estão lutando em uma guerra desnecessária, por culpa de Aron. Richard já foi corrompida duas vezes, por comando de Aron! E o mundo que ele quer criar para você... - despejei as verdades que ele precisa ouvir o mais rápido possível, mas não foi o suficiente.

Aron apareceu a minha frente, levantando poeira do chão e cravando em meu peito estacas de cristal. Aguentei firme e segurei seus ombros, pressionando-os. Cravei minhas garras nele, com olhos cegos pela poeira levantava. 

-Como ousa tocar em um DEUS? - Aron levantou-nos no ar.

-Deus? Onde? Só vejo um demônio babaca! - acertei uma cabeçada nele, e afastei-me, investindo com um ataque de joelho logo depois - Eu não ia morrer, Aron? Esta é a prova. Você não consegue. 

-Parem! - Melody pedia, abaixo de nós, tapada pela sujeira levantada pelo confronto.

Eu tentei parar, já Aron, por outro lado, intensificou seus golpes. Ele materializava cristais ao meu redor, cristais estes que cresciam em forma de lanças e quase perfuravam meu corpo. Aron aproveitava a falta de proteção para atingir minha cabeça em quase todos os ataques. Eu não duraria muito mais tempo desta maneira.

-Sabe, eu percebi uma coisa. Eu não deveria perder tempo com você, ralé. - Aron chutou-me, lançando-me na direção oposta a sua, em linha reta. 

Bati em uma parede branca e rígida. Ao chocar-me a ela, senti um movimento. Odiei-me profundamente por não ter conseguido desviar, acabando assim na palma da mão do colosso.
A criatura agarrou-me com dois dedos e começou a pressioná-los contra meu corpo. Eu seria esmagado em pouco tempo. Mas, sem desistir, mantive-me vivo fazendo força para impedir o esmagamento.
Quando eu estava para ceder, sem conseguir mais suportar, feixes de luz ergueram-se ao meu redor, originados do chão. Os feixes aumentaram de tamanho e deixaram de ser só luz, tornando-se uma substância física e poderosa. A mão do colosso foi fatiada em círculo. Caí junto com seus restos, sem conseguir usar as asas.

-Isso já está se tornando absurdo, Selion. - Aron reclamou.

-Não fui eu. - levantei-me dos destroços.

Ligado ao lugar de onde os feixes surgiam, uma linha púrpura era traçada, terminando em Melody. Ela encontrava-se abaixada, com a mão levantada acima da cabeça. Seus lábios moviam-se, em uma discussão interna consigo mesma, ou então, em um conjuro. 
"Eu sabia que ainda estava aí, Melody!" pensei, infinitamente alegre por saber que dentro dela, a consciência de Melody ainda vivia e lutava para se libertar.

-Melorry? Mas por quê?! - Aron flutuou até ela - Por que defende uma criatura impura como ele, minha amada Melorry? 

-Eu não sei. Algo me obrigou a isto... - ela olhava para suas mãos enquanto falava.

Atrás de mim, o colosso começou a recompor-se.

-Bom, não importa, certo? - Aron exibiu um sorriso frouxo - Vai unir-se a mim? Só preciso de você, Melorry. Tudo isso é por você. Sempre foi. 

-Um mundo sem dor? Um mundo sem guerra ou sofrimento? - ela indagou, pensativa.

-Sim, Melorry. E você seria a deusa desse mundo. Só precisa vir comigo. - Aron estendeu sua mão a ela.

É um pacto.
A voz esclareceu.
A voz de Rexion?

-Tire o sofrimento destas pessoas. - Melody agarrou sua mão.

-NÃO! - voei em sua direção, em desespero.

Vitorioso, Aron gargalhou, levitando em direção do céu junto de Melody.

-Você perdeu, dragão divino. Aceite. - Aron disparou em direção do céu noturno.

Um círculo de luz surgiu à minha frente. De dentro dela, um projétil em forma de mão luminosa surgiu e empurrou-me em direção do chão. Lá, fiquei preso. 

-MELODY, POR FAVOR! - minha voz confundiu-se com um rugido suplicante - NÃO ESTÁ CERTO!

Era tarde. Ela não conseguia mais ouvir minhas palavras. Porém, eu conseguia escutá-los claramente devido a minha audição dragônica. 

-Observe, Melorry. - Aron beijou sua mão - O início de uma nova era iniciar.

Lá de baixo, eu assisti o rumo de suas ações enquanto livrava-me da mão luminosa. Aron podia ser confundido com um vaga-lume no ar. Brilhava e piscava, como se passasse um código morse. Não parecia bom. Melody não conseguiria resistir caso caísse daquela altura e, no momento, não tinha capacidade de usar suas capacidades mágicas. 
Novamente, o fogo intensificou. Forcei meu corpo a absorver mais força do fogo.
"Vou acabar sobrecarregando este corpo" eu pensava. "Mas não posso me dar ao luxo de fraquejar!"
Lá em cima, pedras amontoavam-se ao redor de Aron, fazendo Melody sentir-se estranha e perdida ao seu lado. O colosso deu passos pesados, posicionando-se logo abaixo dos dois.
No céu noturno, um prisma ascendente era desenhado como resultado da união das pedras. Uma figura digna de ser vista em um caleidoscópio formava-se. 

-É lindo, não é? - Aron tentava conquistá-la ainda mais.

-O quê acontecerá com eles? - Melody cortou a tentativa de paquera de Aron.

-Bem, o quê vai acontecer com o resto das pessoas? Serão substituídas. - Aron disse as palavras como se fosse algo normal, simples.

-Como é? - Melody pareceu não acreditar - É uma brincadeira?

-É claro que não. Eu não brincaria com algo tão sério. É necessário. Você logo entenderá, e verá como o mundo pode ser perfeito se as pessoas certas o construírem. - as pedras começaram a se espalhar.

Todas tinham agora a mesma cor negra. Algumas desceram e espalharam-se pelo salão.

-Você está pensando em APAGAR a existência dessas pessoas?! - Melody respondeu-o ríspida.

-Está tudo bem, acalme-se. Preservarei a alma de boa parte da população, só as colocarei em corpos apropriados. 

-Você vai destruir lares, famílias, vidas... Isso... É loucura! - Melody afastava-se dele devagar, caminhando no ar.

-Como pode dizer uma coisa dessas, Melorry? - os olhos de Aron estavam completamente negros - Eu esperei muito por isso. Esperei muito por você. Pretende me deixar? Você tem noção do que passei para chegar até aqui?

O brilho que cobria seu corpo começou a escurecer, transformando em cinza. Suas asas começaram a perder suas penas, mostrando um caule demoníaco.

-BURST! - gritei.

A mão foi desintegrada. Voei até Melody e a segurei nos braços, levando-a para longe de Aron.

-COMO OUSA ROUBÁ-LA DE MIM, SELIONIS GRANDIUS LUXIO?! - Aron berrou, criando ondas de anomalia no espaço ao seu redor.

Eu nunca havia ouvido meu nome ser chamado de tal forma.
Ignorando esta questão, continuei a decolar para cima. Melody precisava ficar a salvo. Os outros ficariam bem. Precisavam ficar.
Mas então, fui detido. Bati de cara no vazio e fui repelido para trás. Ataquei com minhas garras no local onde ocorreu a batida. Havia uma barreira.

-O quê faremos?! - Melody mordeu seu lábio.

Neste momento, lembrei-me de uma coisa.
"Gar, está ouvindo? Gen?" supliquei por pensamento.
Imediatamente recebi uma resposta dupla: "Sim!".
"Misake está pronto, certo? Rápido, respondam!" apressei-os.
Novamente, uma resposta dupla em uníssono: "Sim!".

-Você confia em mim? - perguntei a Melody, olhando em seus olhos.

-Sim. - ela concordou.

Em nossa direção, raios de energia vindo das pedras negras eram disparados. Esquivei de todos eles, seguindo cautelosamente em direção do terrível covil. 

-Há uma pessoa chamada Misake. Vão te guiar até ele. Preciso que pegue um item com ele. Acha que consegue no seu estado atual? - desviei mais uma vez dos raios, fazendo uma pirueta no ar.

-Eu consigo muito mais que isso. - ela respondeu, confiante.

Como não amá-la?

-Há uma coisa que eu preciso saber... 

-Meu nome é Selion. - lembrei-a.

-Certo, Selion. Mas a questão é outra. Eu realmente amo aquele ser? 

-Eu não sei a verdade sobre seu coração, Melody, mas uma coisa é certa. Você não ama nem nunca amou Aron, embora uma versão antiga sua já tenha amado alguém chamado Ariel Neville. 

Ela pareceu não entender a ligação entre minhas palavras, tentando assim encaixá-las. 
Procurei por uma brecha para invadir o local, mas era impossível. Várias pedras estavam posicionadas lá, atirando em minha direção, e em seu centro, Aron , parado, apontava, mirando o alvo dos tiros. 
Então, lembrei-me do lugar por onde eu havia entrado. Realizei a volta ao redor do templo antigo e encontrei sua entrada. Uma cena horrível era vista lá.
Yousuke lutava com sua vida para defender sua mestra, Raida, que estava no limite de sua força, da ameaça conhecida como Aslan. Annie e Stephie jogavam objetos afiados como distração, mas era inútil. Troian lutava cara-a-cara com Lief, afastados dos demais. A batalha era acirrada, mas Lief parecia sobressair-se. 

-Me desculpem, me desculpem! - passei a toda velocidade, cruzando por cima de todos.

-Contamos com você, Selion! - Troian disse, defendendo-se de um ataque da espada flamejante de Lief.

-Não vá vacilar, lagarto novato. - Raida rosnou, rígida.

Após atravessarmos a entrada e pairarmos pelos corredores em direção do salão principal, Melody perguntou-me:

-Quem eram aqueles? 

-Amigos, companheiros e inimigos. Esta é uma guerra, Melody. Infelizmente, não conseguimos evitá-la. - senti-me culpado.

Tudo poderia ser evitado se as pedras não tivessem sido roubadas. Talvez eu devesse ter ficado para trás na busca delas. Teria sido melhor assim?

-Mas não se preocupe. Prometo para você: colocarei um fim nisso, e você poderá voltar para casa com todos, sã e salva. - jurei.

-Não é necessário prometer. Eu confio em você, Selion. 

Uma extrema preocupação emergiu em minha cabeça. Com quem eu realmente estava falando? Era uma dúvida já ultrapassada, mas que agora martelava minha cabeça. Suas dores de cabeça parecem ter diminuído (ou ela só não as estaria demonstrando?). O quê isto poderia significar?
Ao chegarmos ao salão, mais uma cena chocante foi interceptada por meus olhos.
A pata de animal gigante havia desaparecido, junto de Kathryn. Os restantes corriam, evitando os tiros das pedras negras, exceto Gar. Ele mantinha-se a frente de Misake, disposto a ser atingido por ele caso necessário. Eu não via Richard em lugar algum.
Pousei no chão.

-Já pode me largar agora. - Melody pediu, parecendo um pouco vermelha, mas provavelmente era só impressão.

Larguei-a de pé, no chão. Senti muito medo ao fazer isto. Eu não sei o que aconteceria se ela fosse acertada por uma das pedras. Mas então, lembrei-me de quem as atirava. Aron não a machucaria. Certo?
Agora com os pés fixos ao chão de pedra irregular, corri em direção de Aron, atirando bolas de fogo com as mãos enquanto avançava.

-VOCÊ FALHOU MAIS UMA VEZ! - gritei para ele.

Imediatamente, Aron desceu dos céus. As pedras formaram um círculo ao meu redor e dispararam. Em defesa, pulei a cima da linha dos tiros e voltei ao correr após sua execução.

-Ainda estou vivo! - zombei.

"Incrementei o plano" Gar notificou-me via telepatia.
A pergunta era: como?
Melody correu em nossa direção. Uma de suas mãos permanecia nas costas durante todo o trajeto.

-A-Aron! - ela chamava, tendo dificuldade em usá-lo corretamente.

-Você voltou para mim, Melorry? - a cor cinzenta de Aron começou a brilhar novamente.

-Bem, sim. É claro. - ela forçou um sorriso.

Estava blefando. Por sorte, Aron não parecia notar. 
Ao chegar perto dele, Aron agarrou-a pelo braço e a girou, abraçando-a por trás.

-Fique por perto, Melorry. - ele pediu.

Melody expressava nojo por Aron. Por alguma razão, eu estava feliz em saber disto.

-Espere, o quê é isso? - Aron indagou, ultrajado.

Ele arrancou da mão de Melody uma espécie de controle remoto futurista, de formato retangular. Havia uma pequena antena na ponta e dentro da arma localizava-se a pedra do som. No centro do item, via-se um grande botão azul.

-Por que você tem isso? - Aron começou a enraivecer.

Olhei ao redor, procurando alguma maneira de salvá-la.

-Por que, Melorry? Por que tentas me trair? 

-Eu não estou te traindo! Eu só roubei o objeto dele! Aquele nerd pretendia usar contra você, meu amor. - ela engoliu em seco antes de pronunciar esta palavra.

Pensativo, Aron fitou-a. Por fim, acabou acreditando no blefe.

-Você ainda está confusa, então, por precaução, segurarei isto para você. - Aron rodou o dispositivo no ar, e lá ela ficou - Agora, nosso triunfo, Melorry. Assista todas as pessoas desmerecedoras apagarem!

As pedras vibraram. Sua luz negra piscava. Todas moveram-se em formação, encurralando a todos, inclusive a mim.

-Não! - Melody segurou o braço de Aron.

Ele moveu seus olhos para ela, irritado.

-Não é certo apagá-los! Seu mundo não pode começar com violência. - ela tentou convencê-lo a parar - Certo?

-Claro que pode, é simples. - ele apontou seu dedo indicador para Gen.

As pedras dispararam em sua direção rajadas de luz branca, semelhantes a estrelas cadentes no céu. Perplexo, Gen não conseguiu reagir, não conseguiu se mover. Mas Gar sim. Gar correu para frente de Gen, uma fração de segundo antes dos disparos serem acertados.

-É a minha vez de salvar você, maninho. Dead end. - Gar disse antes de desaparecer na frente de nossos olhos.

Os olhos de Gen imediatamente encheram-se de lágrimas. Suas pernas fraquejaram, fazendo-o cair no chão imóvel.

-G-Gen! - Merith correu até ele.

De cabeça baixa, Gen apoiou-se no chão com os braços e joelhos. Eu conseguia notar as gotas de água que caíam de seus olhos.

-Aron... Como você pôde...? - Melody enfureceu-se. 

-Foi fácil e eficaz. - Aron ergueu sua mão e mostrou uma frágil esfera de luz com aspecto gelatinoso, rodeada de fogo azul - Preservei sua alma. Não sou o vilão aqui, viu?

Melody levantou sua mão e agarrou o aparelho de Misake, correndo para longe logo em seguida.

-Então, esta foi sua escolha. - Aron suspirou, magoado - Você tem ideia do que está fazendo? Ir contra mim, é pedir para a humanidade ser destruída. Eu sempre quis ajudar, somente ajudar. 

Seus olhos ficaram fixos em Melody, que corria em minha direção em busca de refúgio. 

-Eu almejava mudar o mundo por uma pessoa. No momento em que ela te trai, você percebe o quão insignificante sua existência pode ser. - ele disse, por fim.

O colosso voltou a se mover.

-Você foi corrompida, minha doce Melorry. Não se preocupe. Pessoalmente, arrancarei sua alma e a farei voltar ao normal!

As pedras agitaram-se no ar e seguiram em nossa direção, disparando raios brancos crescentes no chão, vaporizando-o.
Preparei-me para investir em um ataque. Meu trabalho era tirar a atenção de Melody. Mas meus serviços não foram necessários. Uma estridente voz metálica surgiu atrás de Aron:

-Protocolo Fábrica-De-Íons. Código/040: Distribuição de matéria. 

Pequenas torres de metal surgiram pelo chão, preenchendo parte das deformidades do solo. Todas possuíam diferentes alturas, mas uma característica era comum a todas: antenas localizadas em seu topo.
Emocionado e chocado, vi Polar flutuando, agora totalmente são, sem nenhum sinal de trevas corrompendo seu ser. Magna conseguira curá-lo afinal, mas onde estaria ela?
Melody estava próxima de mim quando uma parede ergue-se entre nós.

-Purificarei-a da maneira menos indolor possível, Melorry. - Aron formou um semi-círculo de pedras negras ao redor de Melody, prendendo-a.

Ela agarrou o aparelho em suas mãos com força. Pude perceber sua tentação em ativá-lo, mas algo a impedia.

-Selion, ataque-o. - Melody pediu - Rápido!

Obedeci imediatamente.
"Uma última vez, Flamus!"
Potencializei o fogo azul emergente em meu corpo. As chamas pulsavam em ritmo contínuo e acelerado, imitando o batimento de meu coração.
Voei na direção de Aron, com o punho a frente do corpo.
Uma parede caiu do céu e instalou-se a minha frente. Bati meu punho contra ela com força, esperando quebrá-la. Sem resultado, percebi imediatamente do quê seria o objeto em questão. Um enorme colosso branco com formato humanoide.
Cabisbaixo, Aron marchou em direção do colosso e penetrou seu corpo, atravessando suas costas. Dentro dele, Aron ficou. Seus braços e pernas foram abertos e seu corpo transformou-se em uma massa de luz.
Em um pulo, afastei-me, fugindo assim de um golpe de braço vindo do colosso. Voei ao redor de Aron, procurando um ponto frágil para atacar. Não havia nenhum. Aquela criatura encontrava-se praticamente invencível agora, nutrida pelo poder de Aron. Sozinho, não conseguiria quebrá-la.
Procurei por outra alternativa. Ainda aptos para combate, estavam Merith, Ingo e Misake. Espere, adicione Gen a lista. Ele agora reerguia-se. Seus músculos estavam tensos, principalmente os de sua cabeça, e seu corpo tremia.
Procurei por Richard, mas não via sinal algum dela. 
Nas mãos de Ingo, notei uma flecha larga de ponta vermelho-escarlate. Eu nunca vira uma daquele tamanho. Pergunto-me se a intenção seria eu usá-la.

-Venha até mim, Melorry. - a voz de Aron retumbava pelo local, reagindo ao eco do lugar destruído.

Embora eu conseguisse escutá-lo, não fazia ideia de como um lugar aberto poderia possuir um eco daqueles.
As pedras começaram a cintilar, carregando um disparo que roubaria a alma de Melody de seu corpo. Sabendo disso, Melody passeou com os olhos por todos os lados, procurando uma outra alternativa. Porém, antes que encontrasse alguma, as pedras entraram em vigor. Um alto som de espadas quebradas foi omitido. Pedaços de metal voaram no ar. E Melody assistia a tudo, perplexa.

-Há uma linha, Aron. - Gen começou a falar, de cabeça baixa - Uma linha que não deve ser cruzada. Você vai pagar caro por a ter ultrapassado.

Espadas e outras armas desgastadas levantaram-se do chão, flutuando no ar, como se um guerreiro invisível as segurasse. Não era uma dúzia dela, muito menos uma centena. Eram milhares delas. Todos os restos deixados por Ingo, todas as atiradas por Mellany, todas as criadas por Aron e por mim
O colosso reagiu. Ergueu sua mão e a passou pelo ar, como se espantasse uma mosca gigantesca para fora de seu caminho. As espadas driblaram a mão e voltaram a sua posição.

-Extermine-os! - a voz de Aron ordenou.

Mais pedras apareceram. Raios negros voaram pelo céu, em direção de Gen, Merith e Ingo. As espadas sacrificaram-se para conter os raios, que desintegrou suas lâminas.
Não me contive. Voei na mesma linha aérea do corpo de Aron. Absorvi o fogo de meu peito em minhas mãos e moldei-o em maciças esferas de fogo azul, arremessando-as logo depois contra Aron. As esferas desenharam espirais no ar, deixando um longo rastro vermelho neon para trás, que desaparecia logo em seguida. Ao ser acertado, o colosso foi empurrado para trás, embora não danificado. 
Dei uma última olhada para trás antes de enfrentar o colosso. Melody estava muito bem protegida. Polar exibia uma espécie de mapa holográfico para Misake, apresentando uma espécie de gráfico com ondas em movimento. Merith e Ingo comunicavam-se com Gen, apoiando-o e dando-lhe palpites de lugares para defender.
Preparei-me parar dirigir toda a minha força e poder em direção da criatura colossal, quando recebi uma mensagem dentro de minha cabeça.
"Selion, temo que minha estratégia possa render melhores resultados que a sua, baseada em comparações físicas e mentais, sem esquecer suas ações imprevisíveis oriundas de sua parte animal descontrolada." 
Reconheci a voz imediatamente.
"Polar!" 
Ele realmente estava de volta!
"Peço que siga especificamente cada passo da estratégia que montei." ele pediu "E também estou feliz em voltar."
"Diga" respondi-o.
Enquanto ele contava sua ideia para mim, percebi o nível de perigo da luta atual. Baseava-se em uma estratégia arriscada, mas ao mesmo tempo lógica. Talvez funcionasse, talvez não. 
De qualquer maneira, não havia escolha. Eu a cumpriria de qualquer maneira, protegendo assim Gen, Ingo, Merith, Misake e, principalmente, Melody. 
Minhas chamas intensificaram. Minha visão foi bloqueada pelas chamas.
Voei em direção de Aron, carregando comigo o início do plano que colocaria um fim a esta guerra infernal de uma vez por todas.


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