domingo, 6 de setembro de 2015

As Pedras de Elementra - Parte 2. Capítulo 26. Season Finale!


26. As Pedras de Elementra

"Por quê?" eu me perguntava.
"Eu não era forte o suficiente?" era outra questão.
As indagações batiam em minha mente, enquanto meu corpo abatido lutava para se levantar do quebradiço chão de pedra. 
Ao meu redor, eram poucos os que restavam de pé. Gen aguentava de joelhos, esforçando-se mais do que nunca para defender Ingo e Merith dos raios negros, sacrificando as espadas que controlava. Misake havia sido acertado pelos raios e consequentemente tornou-se energia azul concentrada em uma esfera gelatinosa, igualmente a Gar.
Para ser franco, a única restante de pé era Melody, embora era visto que ela não duraria por muito mais tempo. Poderia eu protegê-la de mais ataques em meu estado atual?
Esforcei-me um pouco mais e consegui erguer meu corpo dracônico. As escamas de meu braço esquerdo haviam ficado vermelhas. Pela raiva? Por outra transformação? Errado. Pelo sangue dos ferimentos abertos pelos ataques que eu recebera.
Abri minhas asas e voei na direção de Aron. Seu corpo residia agora o centro do gigantesco colosso branco. Ao aproximar-me, uma das mãos impediu-me de continuar. Com um hediondo tapão, caí com tudo no chão pela décima vez.

-Selion, pare com isso! Vai acabar morrendo! - Melody pedia.

Seus pés estavam presos ao chão por magia de Polar. Ele impedia-a de se mover. 

-Você precisa impedir ele! - ela encaminhou sua fala para Polar.

-Usuária Melody. Somente você porta da capacidade de finalizar este confronto. - Polar informou-a.

Tentei novamente. Da mesma maneira fui derrubado. Meu olho direito estava muito ferido.

-Mais uma vez! - impulsionei-me em sua direção.

Porém, dessa vez, Aron reagiu diferente. As pedras formaram uma barreira. Freei com minhas asas e afastei-me o mais rápido possível. Uma espiral negra aproximou-se de mim, aumentando e aumentando de tamanho, sem parar. Ao virar-me para o caminho ao qual eu seguia, algo bateu em minhas asas. Primeiro, senti somente a batida. Depois, percebi uma força puxando-me para trás. Por fim, descobri que Aron, ou melhor, o colosso, segurava minhas asas.

-Certo, agora temos problemas. Gen? - chamei, nervoso.

No mesmo momento, Gen desmaiou. Ingo e Merith aproximaram-se dele para acudi-lo. Habilmente, Merith sacou um frasco pequeno com um líquido azul dentro e deu-o para Gen. Pedras restantes aproveitaram-se do momento para atirar seus raios ceifadores de almas. 

-NÃO! - rugi contra minha vontade.

Uma parede de fogo levantou-se, absorvendo os disparos negros. Ela não os protegeria por muito tempo. As pedras já começavam a se reposicionar.
"Suas costas..." Gen avisou em uma mensagem telepática, mais parecendo um sussurro dentro de minha mente.
Queimei minhas chamas o máximo que pude, na tentativa de libertar-me do colosso. Soquei seus dedos da maneira que pude, devido minha posição desconfortável. Não adiantou muito. Fiz seus dedos escorregarem para o lado, mas a dor gerada era tanta, mas tanta, que eu tinha certeza que não poderia repeti-la por vontade própria sem meu corpo impedir-me.
Ao olhar para baixo, Polar focou seus olhos em mim. Ele balançou sua cabeça flutuante positivamente. 
Melody tentava manifestar movimento de qualquer maneira, desde tentativas falhas de chutes em si mesma até bater em seu pé com seus punhos. Constatei em seu olhar seu sentimento de medo. 
"Sinto muito, Melody. Eu realmente sinto muito por fazer você passar por isto, mas é nossa única opção." desculpei-me por pensamento.
Minhas escamas foram perfuradas pela luz negra. Fechei meus olhos, torcendo para a hipótese de Polar estar certa.

-FINALMENTE! - Aron bradou - Não aguentava mais você, lagartixa voadora.

Minhas escamas desapareciam conforme o contato dos raios negros. 
Pouco a pouco, eu perdia os sentidos da área tocada pelo raio espiral. Senti meu corpo tornar-se mais leve, como se estivesse a ponto de sumir para sempre. E realmente estava. Minha visão tornava-se turva. 
Não OUSE perecer.
A voz. Rexion.
De alguma maneira, foi o suficiente para me fazer acordar. 
A trajetória da espiral mudou. Desenhou um arco no ar, sendo eu a ponta dele, e completou-o no chão, espremendo-me contra o solo. 

-Por que seu corpo não se desfaz? - Aron questionou.

Os raios intensificaram. Meu rugido saiu de controle, tornando-se estridente. 

-PARE! - Melody gritou.

-O quê vai fazer? - Aron lançou-a um olhar frio, através do colosso - Espere sua vez. Purificarei-a. Nem lembrará da existência deste verme.

Minhas chamas lentamente avermelharam-se, largando por completo sua coloração azulada ao fim.

-Não... - minha voz dracônica apagou-se - O quê...?

-Olha só... Esse resultado é inesperado, mas tão agradável ao mesmo tempo! - Aron comentou, extasiado por finalmente me conter.

Mas, será que havia mesmo contido?
Enfim, minhas chamas apagaram. Minha forma dracônica esvaiu-se. Minhas garras desapareceram. O cristal em meu peito degenerou-se até deixar de existir, deixando para trás uma marca escura de forma losangular.
Deitei minha cabeça para o lado, sem mais conseguir reagir à dor. Lágrimas caíram de meus olhos ao ver Melody. Um pilar de luz erguia-se a partir dela. Suas mãos tingiram-se na cor vermelha e preta, uma em cada mão. Seus olhos tornaram-se completamente azuis.

-Melorry? - Aron chamou, embora não houvesse se dado ao menos ao trabalho de olhar para ela. 

-S-Solte... - Melody sussurrou para Polar.

-Protocolo de Contenção: Lock_Down. - Polar tocou sua testa.

Suas pernas fraquejaram e Melody despencou de joelhos. Seu rosto foi coberto por seu cabelo. Normalmente, suas pontas estariam coloridas, refletindo seu humor. Mas agora não havia mais cor alguma. Eu não sabia o quê ela pensava, como ela estava.
Os raios negros bifurcaram-se uma, duas, três vezes. Meus braços e pernas foram perfurados enquanto minhas costas continuavam a ser fortemente feridas.
Não... Ouse...
Rexion silenciou-se. Algo parecia impedi-lo de completar a frase.
Lentamente, Melody levantou-se. 
Os raios amplificaram-se.

-Não se desfaz... - Aron parecia-me incomodado.

Ele não percebeu Melody chegar.
Em um feixe de luz, sua localização mudou para a frente do gigante colosso. Do lugar onde eu estava, conseguia assistir a tudo. 
Ela permanecia como o centro de um pilar da mais pura luz, que se estendia para cima no céu noturno. 
Seus cabelos moveram-se para o lado, deixando seu rosto a mostra. Raízes negras, como caminho de lágrimas, desciam de seus olhos, ainda completamente azuis e faiscantes.

-Recobrou a consciência, meu amor? - uma fissura de formato côncavo surgiu no rosto do colosso enquanto as palavras eram ditas por Aron.

-Ímpecto Chanmnas. - Melody recitou, forte e decisivamente.

A fissura moveu-se formando uma cara triste (não consideremos o fato de não existir olhos, por favor). Aron instantaneamente moveu-se, fazendo os raios negros vindo das pedras de elementra unidas tornarem-se notavelmente débeis, embora ainda rijos e em processo de avanço contra meu corpo. As mãos do colosso ergueram-se o mais depressa possível, na tentativa de prender Melody entre suas mãos. Infelizmente - para Aron -, o colosso não conseguiu realizar a ação a tempo. 
O corpo de Melody foi rodeado de chamas. Elas condensaram-se ao seu redor, formando uma espécie de camada de proteção oval, que se deformou até tomar forma de uma cruz fulminante. 

-Rúdita Guardia. - ela continuou.

Raios desceram do céu noturno, sem nuvens, trancando o colosso e Melody dentro de barras elétricas.
Em uma tentativa potencialmente falha, Aron tentou novamente pegá-la em suas mãos. Falhou. A eletricidade das barras que os cercavam 

-Sanos Submerte. 

O chão abaixo deles rachou-se. O colosso foi pressionado para baixo, tendo de apoiar-se no chão pelos joelhos.

-Mortrix Spektra. 

Algemas transparentes surgiram nos braços e pernas do colosso, prendendo-o no ar. Aron parecia sentir muita dor. Nitidamente, era possível notar que o corpo, tanto do colosso quanto de Aron, eram puxados para baixo brutalmente.

-Melorry, por que faz isso?! Não percebe quem está atacando?! - Aron sentia-se a vítima.

Melody não era estúpida. Ele pensar isso dela só fazia-me ter mais vontade de bater em sua cara até começar a chorar.

-Vaartro Canpo.

Duas linhas cruzadas dividiram o colosso em quatro, tem como centro o exato local onde Aron estava. Das linhas, fogo ergueu-se. Nesse momento, os raios negros que perfuravam meu corpo pararam.
As pedras agruparam-se em linhas e iniciaram um movimento de rotação ao redor das barras elétricas.  
Pela primeira vez em muito, mas muito tempo, eu me senti vazio. Como se não houvesse nada dentro de mim.
"Flamus?" chamei.
Nenhuma resposta.
"Rexion?" 
Idem.
"S-Selion!" houve uma resposta, embora não exatamente de quem eu esperava.
"Como está a situação, Gen?" pensei, respondendo-o, de olhos fechados.
Senti toques nos meus braços e costas. Abri os olhos em um susto, instintivamente.
Era Merith quem verificava a gravidade de meus ferimentos. Ao seu lado, Ingo carregava Gen extremamente exausto. As veias ao redor de seus olhos estavam nítidas e volúveis. 

-Sua cabeça está vazia. - Gen disse rispidamente.

Engoli em seco.

-Eu sei.

-Selion. - Ingo colocou algo em volta de minha mão - Por algum motivo, o vácuo fez isto para você. Sinto-me extremamente fraco após criá-la. Talvez ajude.

Uma flecha. Uma flecha comum, igual as outras atiradas durante qualquer luta minha.

-Obrigado, Ingo. - agradeci, por mais que doesse muito falar.

Ao voltar meus olhos para Melody, reparei uma enorme lança rodeada por zagaias. Melody parecia a ponto de cair. Seu corpo não conseguiria manter-se no ar por muito mais tempo.

-Preciso... ajudá-la. - tentei levantar-me, mas meu corpo estava debilitado demais.

-Deixe-me tratar você! Não seja teimoso, ou vai acabar morrendo! - Merith brigou, pegando poções e outros itens usados por curandeiros.

-Eu não preciso. Não preciso de cuidados. Eu posso me virar. - dispensei-a - FLAMUS BURST! - gritei.

Senti imediatamente uma enorme dor circular por meu corpo. Fechei meus olhos e imaginei as chamas surgindo, as garras e dentes crescendo, as escamas se formando... Porém, ao abrir os olhos, percebi que nada acontecera. Entrei em choque.
Ninguém dizia nada, exceto Melody, que continuava a dizer palavras em línguas estranhas.

-FLAMUS! BURST! FLAMUS BURST! - invoquei.

Flamus não apareceu desta vez.

-Selion. Apresse-se. Minha contenção não poderá resistir por maior quantidade de tempo. - Polar pediu, de braços erguidos na direção de Melody.

-Preciso levantar...! - tentei novamente.

Caí de queixo, quase quebrando o maxilar.

-Já acabou seu showzinho? - Aron estremeceu junto do colosso.

As mãos do colosso moveram-se, arrancando as algemas de lugar. 

-Este poder é absoluto. Por que vocês simplesmente não aceitam? - Aron fez força para deixar o colosso de pé, mas fracassou - Por que não usa essa lança de uma vez? Algo está impedindo? Sejamos francos. Mesmo que você tenha a magia de duas magas poderosíssimas combinadas, você não tem capacidade para quebrar a arma perfeita.

Um segundo par de braços surgiu ao lado das costelas do colosso. Ele usou seus novos órgãos para agarrar as barreiras elétricas, que nada mais eram que puras rajadas de eletricidade, como aquelas vistas em dias de tempestade, e as usou para estabilizar-se de pé.
Em seguida, as pedras de elementra atravessaram as barreiras e circularam os dois.

-Selion. Seu tempo de reação é curto. - o pequeno apetrecho criado por Misake flutuou no ar perto de minha cabeça.

-Diga-me. Como vou executar o plano desse jeito? - resmunguei.

Meus braços e pernas tinham seu centro perfurado, enquanto minhas costas haviam recebido dano massivo. Eu não conseguiria levantar por conta própria de maneira alguma.

-Merith. - Gen estendeu sua mão para ela.

Ela sacudiu a cabeça negativamente.
Com um olhar de seriedade absoluta ele convenceu-a. Merith tirou de seu bolso um pequeno frasco contendo minúsculas cápsulas de remédio, abriu a tampa e pegou uma. Novamente, Gen encarou-a. Tristonha, Merith pegou uma segunda e colocou-a na boca de Gen, exibindo um sorriso bobo.

-Ingo, solte-me. - Gen ordenou.

Imediatamente, Ingo obedeceu. Gen usou seu poder psíquico para manter-se suspenso no ar, a poucos centímetros do chão.

-Eu tomei esse medicamento que acelera meu metabolismo temporariamente, Selion. - Gen explicou, e Ingo apontou para o frasco de remédio nas mãos de Merith - Você tem cinco minutos. Dez, se eu gastar a vitalidade de meu corpo para fortalecer minha mente. Acha que consegue?

-O quê pretende fazer? - indaguei.

Então, meu corpo afastou-se do chão e girou em 90º. Lentamente, toquei o chão com meus pés descalços. Para minha sorte, as minhas calças haviam sobrevivido a tantas trocas e ataques, diferente do resto de minhas vestimentas. Eu ainda agradeceria muito Kathryn por isto, depois que tudo acabasse.

-Merith, é sua vez. - Gen comandou.

Ela abriu alguns frascos contendo um líquido gosmento azul e derramou-os no chão. Usando movimentos de suas mãos, fez com que, magicamente, os líquidos subissem por seu corpo e se condensassem nas palmas de suas mãos. Feito isto, Merith esfregou suas mãos - geladas, por sinal - no local dos ferimentos, até todo líquido ter sido aplicado. Afastou-se então, apertando um dos braços, aparentemente tentando cortar sua circulação sanguínea. 

-Tente andar. Dê a seu cérebro o comando de andar. - Gen orientou.

Fiz como instruído. Peguei o apetrecho flutuante com minha mão direita, a que melhor funcionava por estar menos ferida.
Agora, eu possuía em minha mão esquerda a flecha e na mão direita a máquina criada a partir da pedra do som.

-Minha cura paralisará seu corpo, mas inibirá totalmente sua dor. Você só terá o tempo que Gen aguentar. Depois disto, você não poderá mais agir. - Merith explicou.

-Prometo não desapontar vocês. - eu disse por fim.

-Não é a nós que você não deve desapontar. - Ingo apontou para Melody.

O que mantinha Aron sob controle era a cruz ao seu redor. Em poucos momentos, o colosso seria capaz de atravessá-la sem problemas, e então... Eu não quero pensar sobre isso. O quê preciso saber é: eu precisava agir agora.
Corri em sua direção sem olhar para trás.

-Polar! Agora! - gritei, afastando-me cada vez mais.

-Código-00Gênesis: Ativação_Nuclear! - Polar ativou por seu comando de voz.

As máquinas espalhadas por ele mais cedo começaram a funcionar. Linhas azuis foram emitidas para cima e lentamente começaram a descer, dividindo-se em várias, criando um campo mapeado ao redor do colosso, indicando onde cada pedra estava posicionada. Obviamente, neste mapa, o colosso era a localização central por ser o maior aglomerado de pedras.  
Do meio dos aparelhos, grandes antenas e parabólicas surgiram, todas apontando para o colosso. 
Em minhas mãos, eu tinha a chave para ativá-las. 
"Só tem uma chance. Ainda restam quatro minutos." Gen notificou.

-Protocolo de Contenção: DESATIVADO. - Polar disse.

As chamas ao redor de Melody intensificaram. Os raios dispersaram-se, desequilibrando momentaneamente o colosso. A gravidade extra aparentemente aumentou, focando-se em um ponto específico do colosso.

-Ignata Erúdon! - Melody recitou seu último conjuro.

A cruz explodiu, empurrando as mãos do colosso para trás. A lança gigantesca e as, proporcionais à lança, zagaias rodearam o colosso, apontando para pontos específicos. Todas estavam prontas para acertar Aron e o colosso.
Antes que conseguisse, corri para próximo de Melody e pressionei o botão do aparelho eletrônico construído por Misake. Joguei-o na direção do colosso.
"Três." Gen apressou.

-Insignificante. - Aron pisou nele.

-Muito convencido. - devolvi.

O corpo do colosso tremeu, junto de todas as outras pedras. As máquinas criadas por Polar reagiram, produzindo uma frequência sonora contínua e aguda. Aparentemente, tal som era insuportável para Aron. O par extra de braços do colosso desmontou-se e caiu no chão com um estrondo. 
Os pontos onde as seis pedras principais estavam contidas foi revelado, pois todas começaram a brilhar. Uma em cada mão e braço, uma no meio do peito, junto de Aron, e uma na cabeça da criatura, fazendo-o parecer um ciclope.

-Chanmnas! - Melody bradou.

O grupo numeroso de zagaias dividiu-se. O primeiro grupo cortou o braço esquerdo do colosso.

-Francamente, Melorry. Eu já disse que é inú-... - Aron parou sua fala quando percebeu que o braço do colosso quebrou-se e deixou o corpo - ...til.

A pedra que caiu junto do braço emanava um brilho vermelho fosforescente. Declarei-a a pedra do fogo.

-Sanos! - Melody fez seu próximo movimento.

O segundo grupo de zagaias cortou o braço direito, separando do corpo uma pedra de brilho marrom. Declarei-a a pedra da terra.

-Laquull! - ela continuou sem fraquejar, sem deixar nada interrompê-la - El-lioc!

As duas pernas foram cortadas como simples pedaços de terra seca. O corpo restante do colosso manteve-se flutuando no ar. As pedras que deixaram o corpo neste último ataque continham um brilho azul e verde, respectivamente. Declarei-as pedras da água e do vento.

-Impossível! - Aron moveu seus braços, tentando levantar os braços e pernas com seu poder.

Só havia um detalhe: ele não estava mais com o poder das seis pedras.

-Banish Safir. ERÚDON! - Melody disse por fim.

A lança que pendia acima de Aron caiu, cortando o colosso ao meio, quebrando o contato que Aron tinha com as pedras da luz e da escuridão.
Um monte de poeira ergueu-se. Aron estaria preso debaixo dos destroços?
Seria realmente incrível se fosse verdade. Porém, uma sombra escura levantou-se, conforme as partes do colosso desintegravam-se, revelando as pedras que o formavam. 
Do céu, mais estrelas cadentes chuviscavam no exato local onde Aron estava. Nós sabemos bem que não se tratavam de estrelas.
Uma parede de pedras levantou, formando a imagem de um gigantesco par de olhos dourados, não pergunte-me como.
Aron levantou-se, com sua asa angelical e sua asa demoníaca amostra. Um chifre negro era aparente do lado do corpo onde abria-se a asa angelical. Um de seus olhos reluzia a ouro, enquanto o outro revelava-se completamente negro. O quê cobria o corpo de Aron agora era um manto negro.

-Usar o poder das pedras contra elas mesmas foi uma ideia realmente inteligente. - a voz de Aron distorcia-se, ora eufônica e ecoada, ora grave e distorcida - Mas olhem para si mesmos. Uma garota esgotada sem memória. Um garoto com o corpo cheio de marcas de guerra e pouco sangue. Uma menina bipolar tentando dar uma de machona. Dois meninos fracos, que mal conhecem a capacidade de seu poder. E uma coisa flutuante pegando fogo. Com um grupo destes, acham MESMO que podem derrotar o sagrado e o profano ao mesmo tempo? Auxiliado pelo maior poder do universo?

"Dois..." Gen avisou em um sussurro.

Ao olhar para trás, via Merith servindo de apoio para Gen. Eu não conseguia ver Ingo. Polar juntou suas mãos e disse:

-Protocolo de Contenção: ATIVADO. 

A luz que envolvia Melody apagou-se. Seus olhos voltaram ao lilás original. As raízes abaixo de seus olhos desapareceram. E então, ela despencou.
Corri o mais rápido possível para baixo dela, e agarrei-a em meus braços a poucos centímetros do chão. Raspei minhas costas enquanto caía, bagunçando a técnica de cura de Merith. Ao menos, Melody estava em segurança.

-Você a corrompeu, Selion. - os olhos de Aron fitaram-me.

Um conjunto de pedras faiscou atrás dele. Fui teleportado para sua frente, amarrado por cordas de energia negra. Por pouco, não derrubei a flecha concedida por Ingo.

-O quê vai fazer comigo? Não conseguiu retirar minha alma, lembra? - zombei.

Meu tempo estava para acabar. Será que a força psíquica de Gen conseguiria dar-me força para arrebentar as amarras? Se eu fizesse isto, eu teria menos de poucos segundos para acertar Aron antes que revidasse. Mas, como? Eu cravaria a flecha em seu peito, cabeça, ou qualquer outro lugar? E depois? Uma flecha poderia matar um anjo-caído? 

-Vejo que você possui muitas dúvidas, não é mesmo? - o olho sombrio de Aron abriu-se ao máximo - Sua mente está clara para mim. E não se preocupe com este moleque insolente. Quebrarei a ligação de vocês. 

Aron tocou minha testa. Meu corpo paralisou totalmente.

-Não! - Gen abafou um grito e desmaiou por cima de Merith.

-Você vai pagar pelo que fez à Melorry. - Aron decidiu.

Meus olhos moveram-se para baixo. Um detalhe extremamente importante foi notado por mim. As seis pedras primordiais não estavam sob o controle de Aron. Se meu corpo movesse-se, eu poderia pegá-las e revidar. 

-Obrigado pelo aviso. - Aron agradeceu sarcástico.

Ele abaixou-se e pegou a pedra do fogo.

-Esta é a que você quer, não é? Você acha que pode reacender sua chama com ela, não é mesmo? - Aron ameaçou tocar meu rosto com ela. 

Ele abaixou-se e pegou a pedra do vento.

-Esta lembra-lhe Richard, não é mesmo? - Aron fez surgiu na frente de meus olhos uma pequena esfera azul incandescente - Diga oi para ela.

Era a alma de Richard.
Novamente, Aron pegou outra pedra do chão. Desta vez, a pedra da terra.

-E esta aqui? Lembra uma amiga sua, não é? Qual era o nome dela mesmo? Olive? - Aron sabia seu nome, sem nunca ter ouvido falar dela.

Aron girou as pedras que tinha em mãos, jogando-as para cima. Elas posicionaram-se acima de sua cabeça.
Com as mãos livres, Aron pegou a pedra da água.

-Esta tem ligação com sua curandeira particular ali. Acredita que ela não faz a menor ideia disto? - Aron sussurrou em meu ouvido, aproveitando cada momento de sua superioridade - Eu brinco, mas devo agradecê-la afinal. Deixar você paralisado deixa tudo mais fácil.

A pedra da água juntou-se as outras acima de Aron.
E, finalmente, Aron agarrou as pedras da luz e da escuridão.

-A primeira que encontrou, e a primeira que o amaldiçoou. Sei que você lembra da prisão de cristal. Não foi ordem minha, mas parabenizei Grandark pela ideia. Pena que ele não vai sobreviver quando eu reconstruir o mundo. - Aron colocou-as na frente de meus olhos.

Evitei olhar para elas. O brilho da pedra da luz ofuscava minha visão. De canto de olho, avistei Ingo verificando o estado de Melody, verificando seu pulso sanguíneo. Mais ao longe, via Polar fazendo contato psíquico com Gen, um pouco parecido com o quê fizera com Magna, embora conectasse-o a seu corpo com o toque de sua mão.
De volta a Ingo, vi suas mãos brilharem. Algo estava surgindo.

-Olhe para mim. - Aron socou minha barriga, chamando minha atenção - Quero que a última coisa que você veja seja o poder das pedras agindo sobre você, machucando você, matando você.

A pedra da escuridão reluziu. O braço direito de Aron alongou-se. Seus dedos transformaram-se em garras metálicas. Ele as usou para ferir-me gravemente, abrindo um enorme rasgo em meu corpo.

-É realmente repugnante ter que fazer isto com você. Mas preciso do seu sangue. 

Aron passou sua mão "humana" por cima dos ferimentos, pintando sua mão de vermelho com meu sangue.

-Por que precisa dele? - falei, fraco.

-Não é da sua conta. - ele resmungou.

"Essa eu senti na alma."
A mão manchada de Aron pegou fogo no momento em que a pedra do fogo reluziu acima dele. O sangue evaporou, mas sua mão continuava com uma marca vermelha em sua palma e costas. 

-Deve ser o suficiente. - Aron falou como se estivesse sozinho - Agora, pode morrer.

Todas as pedras acenderam. O corpo de Aron tornou-se dourado novamente, com exceção de seu olho negro, de seu chifre e de suas asas. Seu manto permaneceu sob seu corpo.

-Sem últimas palavras. Você já teve tempo o suficiente para dizê-las. 

Ele levantou suas garras. Elas aumentaram de tamanho, tornando possível me cortar em tiras sem problema algum. Mas sem perder a esperança, olhei para trás uma última vez.
Gen acordara.
Ingo olhava em nossa direção, com um objeto não identificado em mãos.
"Você ainda tem um minuto, pelo tempo não utilizado." Gen notificou.
"É mais que o suficiente!"
"Auxiliarei-os neste confronto." Polar avisou "Neuro-Link: ABLE."
Imaginei minhas mãos fazendo força contra as amarras de energia negra. Imaginei-me rompendo-as e libertando-me. O mesmo de minhas pernas.
E aconteceu. Meu corpo foi libertado do controle de Aron. Caí no chão e automaticamente pulei para trás, fugindo do ataque da garra de Aron.

-Estava bom demais pra ser verdade. - Aron reclamou.

-Selion! - Ingo gritou - Levante seu braço acima da cabeça!

Obedeci sem questionar. Um objeto apareceu. Pulei novamente para trás, esquivando-me de outro golpe de garra, e puxei o objeto. Era um arco. Combinei-o com a flecha em minha outra mão. Lá estava eu, frente a frente com Aron, apontando uma flecha para sua cara.

-Eu deveria ter medo disso por...? - Aron questionou.

Polar de alguma maneira instalou memórias dentro de minha cabeça, de acordo com a estratégia planejada para a situação em que eu estava envolvido. Sorri.

-Você já vai descobrir.

-Código 00Gênesis: Ativação_Nuclear! - uma voz extremamente semelhante à de Polar disse.

"Poderia ser a...?" pensei esperançoso.

-É, sou eu. - Magna respondeu, com sua voz debilitada, igualmente à sua chama.

As máquinas novamente começaram a funcionar. O som recomeçou desde o início, novamente com força total. A imagem dourada de Aron tremeluziu. As pedras entraram em desarmonia. A parede atrás de Aron desmontou-se.

-A pedra do som. A pedra cujas ressonâncias quebram a ligação das demais pedras. - Aron notou, mantendo sua calma.

Disparei a flecha contra Aron. Ela seguiu seu rumo rapidamente porém parou um centímetro antes de chocar-se contra o alvo.

-Achei bem tosco. - Aron revirou os olhos - Você acha mesmo que por ter quebrado a ligação das pedras, eu fiquei indefeso? FAZ-ME RIR! Eu sou Aron Nephrim, Selion. Sou um anjo. Sou um demônio. Infinitamente mais poderoso que você sem seu dragão cabeça quente.

-Seu nome é Flamus! - irritei-me.

-O nome dele é o mesmo que o seu. Ele é você, idiota. 

Aron colocou suas mãos na flecha, no ato de tirá-la da frente. Mas não aconteceu bem assim. Suas mãos queimaram ao tocar nela, forçando-o a afastá-la.

-Insuportável. 

Em um ato de desespero, Aron agarrou e apertou com força a pedra do fogo. Chamas subiram do chão e queimaram a flecha. Ela permaneceu intacta. Ou melhor, ela aprimorou-se. Revelou por debaixo de sua aparência mundana ser feita de um metal reluzente prata.
Aron, então, agarrou a pedra do vento. Uma correnteza extremamente forte tentou mudar a direção da flecha, mas ficou somente na tentativa, pois a flecha não ousou mover-se.

-Por quê?! 

Aron levantou a mão para pegar a pedra da luz, mas eu não tinha motivo para deixar.
Joguei o arco na direção de Aron, fazendo sua mão recuar. Então, corri para frente e abaixei-me para pegar a flecha do fogo que Aron deixara cair como se não fosse nada.
"Seu tempo acabou, Selion." Gen notificou.
"Não!" meu corpo travou. Eu iria cair aos pés de Aron e ser executado se algo não me fizesse mover.
"Neuro-Link: ABLE." uma quarta voz surgiu. "E se eu ajudar?" Reconheci a voz de Magna.
Meu movimento voltou. Agarrei a pedra do fogo. 
Aron, em resposta, tentou partir-me com sua garra.
O tempo congelou para mim.
Você sempre pode contar com suas chamas, o homem havia dito.
"Eu sempre posso contar com minhas chamas." repeti algumas vezes.

-Eu sempre posso contar com minhas chamas. - eu disse agora em voz alta.

Algo acendeu-se dentro de mim. Senti meu corpo ferver por dentro.

-Morra! - Aron respondeu-me histérico.

Minhas chamas voltaram. As chamas azuis rodearam-me, aliviando minhas dores e ferimentos. O medicamento de Merith evaporou. Eu agora conseguia mover-me livremente. 
Cruzei meus braços e interrompi o ataque de Aron, bloqueando-o.

-Você tá de brincadeira, não é? - Aron reclamou.

Abri meus braços, jogando suas garras para trás e levantei em um pulo.
Neste momento, o som das máquinas cessou. Demorei para perceber que Aron havia movido escombros para cima delas, destruindo-as.

-Você não pode mais comandar todas elas sem esta aqui, não esqueça. - esnobei a pedra em minhas mãos.

-Por favor! Acha que preciso dela para acabar com você? - Aron tocou em cada uma das pedras que estavam a seu alcance.

As cinco pedras primordiais sob seu controle reagiram.
A flecha atirada por mim continuava a caminho de Aron. Eu precisava fazê-la acertar.
Com o poder da pedra, teleportei-me para trás de Aron. Imediatamente ele virou-se para me encarar no combate.
Girei a pedra no ar, jogando-a para cima. Ela manteve-se flutuando acima de minha cabeça, como Aron havia feito.

-Um mano-a-mano. - eu desafiei.

-Pode vir. - Aron aceitou.

Corri em sua direção, maximizado ao extremo com o poder do fogo azul que eu criara.
Aron revidou com o poder das pedras. Vórtices foram abertos ao meu redor. Freei e atirei fogo contra eles, apontando com minhas mãos. Fui acertado pelas costas por minhas próprias chamas. Obviamente, não fez nada contra mim.
Continuei meu rumo, desviando dos vórtices criados. 
Aron novamente reagiu. O chão de pedra elevou-se, trancando-me entre paredes de pura rocha. Soquei-as até quebrarem e continuei a caminho de Aron. A vida é muito mais fácil quando você tem fogo para lhe fornecer poder.
Aron focou no poder da pedra do vento e da água. Uma forte ventania soprou, arrastando-me para trás. Quando percebi, tudo ficara azul. Eu estava preso dentro de uma bolha de água.

-Sem ar, sem vida. 

E, desta vez, Aron não contentou-se somente com isto. Paredes de pedra ergueram-se novamente, trancafiando-me dentro da esfera de água, agora com uma nova camada de pedra. 
"Polar, alguma ideia?" perguntei, esperando que ele estivesse ouvindo.
Sem resposta. 
Foquei meu poder nas chamas. Tentei aquecê-las ao máximo para evaporar a água.
Infelizmente, não foi o suficiente. O poder da pedra da água era muito superior. Mas eu estava muito perto de finalizar aquele combate. Eu precisava resistir e derrotar Aron!
Sem desistir, tentei nadar para cima, na esperança de respirar ao menos o ar que sobrava entre a camada de pedra e a bolha de água. Mas não importa o quanto eu tentasse, eu continuava no mesmo lugar.
Meu fôlego estava alcançando seu limite. Depois de enfrentar tantos inimigos e sobreviver a tantos ataques poderosos, eu realmente pereceria afogado?
"Minhas chamas estão apagadas." pensei tristonho "Eu não podia contar com elas?"
Olhei para a pedra em minha mão. Ela cintilava intensamente.
"Uma última vez." eu apertei a pedra com força.
O resto de meu precioso ar foi perdido. Ao pressionar a pedra, tive um ferimento aberto em minha mão. O susto fez-me soltar o ar. 
Analisei minha mão. A pedra estava cravada em minha mão, como o cristal que aparecera em meu peito quando utilizei o Burst.
"Não é hora de fracassar!" 
Minha mão começou a ferver. Eu conseguia sentir a onda de calor entre minhas veias, subindo por meu braço e espalhando-se pelo resto do corpo logo depois. A água começou a ferver.
A esfera de água começou a tremer. Ela estava desestabilizando-se. 
Concentrei, com minhas últimas forças, antes que eu desmaiasse por falta de ar, todo o poder da pedra, todo o calor de meu corpo, toda a energia de minhas chamas, caso ainda existissem, e aqueci. Aqueci tudo ao redor. 
Foi neste momento que minha pequena prisão de água explodiu, libertando-me. 
Esperei um momento para recuperar meu fôlego. Deitei-me no chão, respirando fundo diversas vezes. Por sorte, o calor produzido pela pedra evaporara toda a água dentro de mim. De nada adiantaria estar livre e continuar com o pulmão cheio d'água.

-Acabou a pausa. - eu disse para mim mesmo.

Eu não estava cem por cento, caso queira saber. Mas eu não tinha tempo. Não sabia o que acontecia por trás daquelas paredes de pedra. Melody poderia estar em perigo. Polar e Magna também. Todos, na verdade.
Levantei-me, apoiando-me nas paredes de pedra sólida, a pouco tempo erguidas.
"Uma última vez. Definitivamente." 
Levantei vagarosamente a mão encrustada com a pedra do fogo, mirando para a parede a minha frente. A pedra pulsou. As paredes explodiram em um estrondo.
Agora livre, dei um passo na direção de Aron. Seu sorriso maligno quase implorava por um golpe bem dado. Porém, não aconteceu do jeito que eu planejara.

-Eu nunca usei a força com você, Selion. Minha real vantagem é a estratégia, a inteligência. Fator que você não tem. - Aron expôs - Eu esperava que você sobrevivesse. Eu contava com isso. Olhe ao seu redor agora mesmo e me diga: quem está na vantagem?

De relance, olhei para ambos os lados. Uma multidão de pedras agrupadas nos cercava, formando uma cúpula.
"Ele reuniu todas as outras pedras enquanto estive preso" engoli em seco.
Mas eu já lidara com elas antes. Porém, possuía ajuda. Agora, eu estava sozinho. Nem mesmo Flamus despertava.
Examinei detalhadamente a situação. As pedras pareciam pulsar. O corpo de Aron revelava ferimentos. As pedras primordiais, flutuando acima de sua cabeça, fraquejavam, ameaçando cair no chão. Atrás dele, a flecha ainda estava parada.
Não havia mais ninguém. Estávamos sozinhos. 
Polar não havia me respondido. Estaria o poder das pedras bloqueando as ondas psíquicas criadas por Gen ou pelo próprio Polar?

-Selion. O dragão divino. - Aron analisou - Um oponente realmente duradouro. Uma defesa incrivelmente alta, embora pouco explorada. Se eu tivesse seus dons, tudo seria tão... mais... fácil... 

Aron esboçou um sorriso.

-E o quê me impede disto? Nossa, era tão óbvio! - Aron ria, satisfeito consigo mesmo.

Duas pedras deslocaram-se das paredes da cúpula. Cruzaram o ar e rasgaram minhas costas e barriga, respectivamente, abrindo um ferimento maior do que os já existentes. Apertei a pedra do fogo em meu pulso, tentando suportar a dor. Mais ataques vieram. Outras pedras trocaram suas posições, golpeando-me durante o trajeto.
Os golpes continuaram.

-Consegue perceber pelo quê está sendo atacado? - Aron perguntou.


Mais um ataque cruzado, agora cortando minhas duas pernas, fazendo-me cair de joelhos.

-Estas foram as pedras da força e da energia. Seus golpes combinados drenam a vitalidade de seu corpo. - Aron explicou.

Seu rosto histérico não era o mesmo. Algo estava errado, mais errado do que já estava.
Outras duas pedras agiram.

-Pedra da injúria e pedra da fluorescência. - Aron descreveu.

Sentia-me fraco, perdendo minha capacidade a cada golpe. Apertei ainda mais a pedra em minha mão. Recebi uma dose extra de energia. Não duraria muito tempo, disto eu já sabia. Forcei-me para pensar em um jeito de vencer esta situação, quando Aron antecipou:

-Pedra de magma e pedra do gelo. 

Eu não recebi golpe algum. Aron havia dito quais seriam as próximas pedras. 
Paralisei por um momento. Nenhum movimento à frente. As pedras seguiam o mesmo rumo, ou seja, caso uma partisse atrás de mim, outra moveria-se no mesmo sentido diante de meus olhos. Porém, não havia movimento. Só poderia significar uma coisa. Ambas viriam pelos lados. 
Elas eram extremamente rápidas. Caso eu ousasse me mover, eu só conseguiria evitar um ataque. 
As pedras envolvidas eram a pedra de magma e a pedra de gelo. A pedra de gelo seria letal para mim, caso o ataque fosse certeiro. 
A pedra de magma. Ela poderia ser minha esperança. Ela com certeza reagiria à pedra do fogo; potencializaria seu poder, superando as outras pedras primordiais, ao menos separadamente. 
Eu precisava agarrar a pedra de magma quando se dirigisse para mim. Não havia tempo para verificar qual era qual. 
Tudo baseava-se em sorte agora. Sorte e instinto. 
Fechei meus olhos e respirei fundo. 
Eu senti as pedras deslocarem-se. Elas estavam vindo.
Rapidamente, levantei-me e estendi as duas mãos para frente, bloqueando o caminho até meu peito.

-Desistiu de sofrer? - Aron indagou.

O brilho das demais pedras que formavam a cúpula ofuscavam a pedra que realizava seu curso em minha direção. Eu conseguia ver seu rumo, mas não sua cor ou formato. Permaneci de mãos estendidas.
A pedra do gelo me mataria. Esta verdade estava estampada em minha cabeça.
Fechei meus olhos com força e esperei.
Fui empurrado para trás, com a pedra em mãos. Caí de barriga para cima. A segunda pedra completou seu curso, cruzando o ar centímetros acima de mim.

-Eu diria "fim de jogo" agora. Só que você já sobreviveu tantas vezes que eu já me exauri. - Aron resmungou.

Em minhas mãos, meus nervos começaram a dilatar. Meus braços queimavam de uma maneira dolorosa. Eu havia pego a pedra errada?

-Não vai levantar. - Aron declarou.

Um conjunto imenso de pedras reluziu. Parte deste aglomerado quebrou a formação de cúpula, criando brechas entre suas paredes. As pedras que se moveram reuniram-se acima de mim e iniciaram um movimento de rotação. 
Um vórtice de energia foi criado.
Meus movimentos congelaram. O terrível calor ainda espalhava-se dentro de meu sangue, passando dos meus braços para meu tórax, e deste para as demais partes do corpo. Eu estava imóvel. Congelado.
Do vórtice, um som assustador foi ouvido. O sibilar de uma infinidade de cobras.

-Não. - deixei meu temor ser demonstrado acidentalmente.

Uma cobra gigantesca desceu lentamente de dentro do vórtice. Atrás dela, mais duas surgiram. Quando pisquei meus olhos, três viraram seis. O número aumentava gradativamente.

-HIDRA?! - chocado, fiz esforço para tentar realizar qualquer movimento, mas fora em vão.

-Ela estava com saudades de você. - Aron sorriu maleficamente - Contemple um dos maiores poderes das pedras de elementra! O dom da criação e ressurreição artificial!

As cobras desciam do vórtice cada vez mais, abrindo a boca enquanto sibilavam. Elas estavam prestes a me usar como sushi de dragão. 
Em meio a elas, algo chamou minha atenção. Um corpo era exibido no centro da cabeça da cobra do meio, a principal, aparentemente. Ele estava de pernas fechadas e braços estendidos. Eu mal acreditei no que via. Era Snape. 
Seu braços e pernas não tinham fim. Eles entravam dentro das escamas da serpente, tornando-se um com ela. 
Em algum momento, Aron pegara o corpo de Snape e o misturara à hidra. Eu sabia que ele era de fato mal, mas isto era o absurdo! Um ato hediondo desses não pode ser perdoado.
O sibilar das cobras aumentou. Pude distinguir algo chocante em seu tom: era tristonho. As cobras, que planejavam me devorar, estavam tão abaladas quanto eu. Percebi que Snape sussurrava algo repetidas vezes. Na última, entendi o que dizia.
Da boca de algumas das cobras, saliva gotejou por cima de mim. Minha pele automaticamente pegou fogo, enquanto eu gritava de dor. Não era saliva, era veneno. Não do tipo ingeriu, morreu, mas sim do tipo ácido ao toque.
Porém...

-Obrigado. - agradeci às cobras.

Os olhos de Snape, até agora fechados, abriram-se em confusão. A confusão permaneceu até Aron mover sua mão. Todas as pedras ao redor balançaram, perdendo seu equilíbrio por um breve momento, mas retomando-o logo em seguida. 
As cobras chegaram até mim. Elas morderam meus braços e pernas, curiosamente sem usar suas presas, e ergueram-me no ar. A principal, contendo Snape, encarou-me a poucos centímetros de mim. Parecia encarar-me, analisar-me, tentar entender o que eu sentia ou quem eu era. Após um momento de reflexão, Snape virou-se para Aron. Não demorou para voltar sua atenção a mim, principalmente após ver a expressão ameaçadora de Aron, rodeado por uma aura de poder.
A hidra parou de descer. O vórtice tornara-se pequeno demais para que mais cobras surgissem. O resto de seu corpo, consequentemente, também não passava por ele. 
Eu exibia um sorriso enquanto mantinha minhas mãos fechadas com toda a minha força. A pedra do fogo pulsava. A segunda pedra parava lentamente de bloquear meus movimentos. 
Então, Snape contornou meu corpo e posicionou-se logo atrás de minhas costas, abrindo a boca da enorme cobra ao máximo (era possível sentir isto através do bafo azedo da criatura).

-Sua alma vai ser especial, Selion. Ficará guardada a sete chaves no outro canto do universo, para nunca mais ninguém ter incômodo algum por sua causa. - Aron disse.

-É através de atos como este que sabemos quem realmente se importa. - respondi, sarcasticamente. 

-Finalize-o. - Aron ordenou.

Snape afastou-se um pouco, preparando-se. Ele fechou sua mandíbula reptiliana e investiu contra mim. Meu corpo pegou fogo. As cobras que mantinham-me preso largaram-me. 

-Anjo... Falsssssso. - Snape protestou.

-Como é? - Aron ergueu sua sobrancelha. 

Com a forte estocada, fui jogado na direção de Aron em alta velocidade. Ele não teve tempo de reagir, ao contrário de mim. Segurei a pedra de magma com força e apontei com a palma de minha mão, contendo encrustada a pedra do fogo, na direção de Aron. O ar ao meu redor queimou. Minha pele foi substituída por escamas brancas.

-FLAMUS! - rugi.

Aron exercia influência sobre o arredor, fortificando o vento, consequentemente desacelerando-me, mas não era o suficiente para me impedir.
Minhas asas abriram-se ao máximo. Gotas de lava surgiram e foram deixadas para trás. Minhas escamas enrubesceram, conforme minha fúrias aumentava, até tornarem-se vermelho-sangue.

-BURST! - bradei.

O fogo condensou-se ao redor, formando um gigantesco dragão transparente. Ele dissipou-se no momento em que o burst surtiu efeito. Minhas escamas, ora vermelho-sangue, tornaram-se prateadas. O tom mais limpo, puro e claro de prata. Tive contato com um terceiro cristal: aquele que formara-se em meu peito.
Finalmente, confrontei Aron. Uma barreira semi-invisível foi formada. Aron foi empurrado para trás, ficando a centímetros de ser perfurado por minha flecha, que ainda estava parada no ar. Algo terrível aconteceu, terrível para Aron, melhor dizendo. As cinco pedras primordiais que controlava entraram em discordância uma com as outras. Começaram a colidir entre si, causando pequenos explosões. O corpo de Aron fraquejava, e ele dava tudo de si para manter a barreira.

-Não posso estar perdendo! NÃO! - Aron gritou, desesperado.

-Seu corpo não as aguenta mais, Ariel. Fim... - ameacei terminar a frase, mas esperei.

-Não ouse me subestimar! Ainda não acabou! VOU FAZER ISTO POR MELORRY! - Aron derramaria lágrimas, caso demônios chorassem.

-...de... 

A cúpula foi completamente desfeita. Todas as pedras caíram no chão em um estrondo colossal. Era como ouvir um bilhão de taças de vidro chocando-se ao mesmo tempo. 

-...jogo! - empurrei-o com toda a minha força.

Aron não se moveu.
O vento soprou mais forte contra mim. Água começou a ser jorrada das frestas do chão de pedra estilhaçada, mas não era o suficiente para apagar minhas chamas, agora na tonalidade azul. A gravidade aumentou, mas não foi incomodo algum para mim. Um misto de luz e escuridão cercou a mim e Aron, transformando tudo ao nosso redor em vácuo escuro.

-Preciso fazer um novo mundo! POR ELA! NÃO COMPREENDE?! 

-Caso você estivesse realmente importando-se com ela, teria prestado atenção na pessoa que ela é agora, não na que você queria que ela fosse. 

A pedra de magma reagiu novamente. Cinco lanças de fogo surgiram em minhas costas. Todas cruzaram o ar, formando uma esfera cortada em cinco partes, e colidiram contra Aron. Seu grito agonizante ensurdeceu-me. 
Seu corpo queimava e queimava, mas não surtia efeito algum. O vácuo ainda existia. As pedras ainda obedeciam a seus comandos. Aron permanecia vivo e são.
Um corpo desconhecido levantou-se logo atrás de Aron, que continuava agonizando eternamente. E assim, ele parou. Um ponto brilhante surgiu no peito de Aron, atravessando o exato meio de seu peito. Era a flecha de Ingo. 
A luz e escuridão dissiparam-se. A barreira, quebrou-se com um impacto, afastando-me. Sem mais água, gravidade e vento excessivo. 

-Quem? - meu corpo tremia, tentando liberar todo o poder e energia acumulado.

Meus olhos arregalaram-se quando as pernas da pessoa fraquejaram, fazendo-a perder o equilíbrio. Em um décimo de segundo, voei em sua direção e a agarrei, impedindo-a de cair.

-Melorry, por quê? - Aron choramingou no chão, com sua voz extremamente fraca.

Em meus braços, o corpo de Melody queimava, superaquecido. Minhas chamas não a machucavam. Ela esforçara-se demais.
Fiz meu corpo dracônico dissipar-se, sobrando somente um Selion maltrapilho que precisava urgentemente de algumas peças de roupa.

-Você está esgotada. Como conseguiu se mover? E além disso, como empurrou a flecha? - perguntei.

-Um pouco de ajuda. - ela respondeu, praticamente em um sussurro.

Seus olhos fecharam-se. Estava viva, embora desmaiada.
Caminhei em direção de Aron. As pedras de elementra primordiais, todas as cinco que não estavam comigo, imediatamente orbitaram ao meu redor. Usando seu poder, criei uma zona limpa e sem pedra quebrada no chão. Deitei cuidadosamente Melody naquele lugar. Logo após, dirigi-me novamente a Aron.

-Valeu a pena? - perguntei - Toda essa destruição foi prazerosa para você?

Aparentemente, o lugar havia sido mais danificado enquanto eu lutava dentro da cúpula de pedras. 
Aron não respondia. Seu corpo estava coberto de ferimentos e arranhões profundos, além da nítida flecha que atravessava seu peito.
Não havia som algum. Nem mesmo fora do covil havia qualquer sinal de luta. Raida e as outras provavelmente haviam finalizado suas lutas. Ninguém voltou, logo, ao menos os inimigos não estavam em boas condições.
Chamei por Polar e Magna, pois não conseguia achá-los com meus olhos. Eles estavam em uma espécie de hibernação atrás de um enorme fragmento do telhado. 

-A calmaria depois da batalha. 

Minha visão foi bloqueada por um brilho azul. Um pequeno conjunto de esferas azuis gelatinosas brilhantes dançava conforme o movimento do vento. As almas roubadas de meus amigos. Lembrei-me automaticamente de Gen. Ele ficaria extremamente contente ao rever Gar, eu já tinha certeza disto.
Longe de mim, Merith ainda estava consciente. Ela cuidava dos ferimentos de Ingo, enquanto mantinha Gen deitado em cima de sua coxa. Seu rosto estava vermelho como um pimentão e Ingo parecia não gostar disto.

-Melhor deixar aquele trio sozinho por agora. - pensei alto.

Quando voltei minha atenção as pedras, percebi que Aron havia engatinhado para perto das pedras. Ao tocar nelas, uma nuvem negra surgiu das frestas do chão.

-Droga! - exclamei.

Eu baixara minha guarda.
Uma criatura cuja pele negra possuía aspecto de armadura surgiu. Ela possuía enormes asas e chifres, e permanecia com as cortas curvadas. Suas garras mortíferas eram extremamente afiadas. 
Coloquei-me na frente de Melody, pronto para atacar a criatura sombria se necessário, porém, estranhamente, a criatura voou até Aron e pisou em cima de sua mão, impedindo o contato com as pedras.

-Lucius? - choquei-me.

A criança transparente apareceu por cima de seu ombro.

-Sério, qual o seu problema? Passamos por MUITO sufoco! Onde você esteve?! - briguei, enquanto me aproximava.

Lucius levantou sua mão, pedindo para que eu parasse.
A criança transparente pousou no chão, começando a ganhar cor e vida. Sua forma mudara para um jovem de cabelos negros. Aparentava ter entre 15 a 17 anos e possuía uma cicatriz no meio de sua testa. Ele vestia roupas antigas e usava em seu pescoço um colar de prata. Eu conhecia aquela pessoa.

-Ariel Neville? - indaguei, pasmo.

Ele assentiu. Seus olhos estavam vidrados em Aron.

-O quê está acontecendo aqui? 

-Você viu o ritual que Aron fez. - Lucius permanecia encarando-o, enquanto contava - Tornar-se demônio tem um preço. Você abandona coisas, deixa memórias, perde sentimentos...

Mantive-me quieto.

-O nome de um demônio, ao menos em Umbra, tem uma importância gigantesca. Quando se declara um nome demoníaco, você declara o fim de sua vida transcendental e abre os braços para uma existência profana. Você abandona sua alma. - Lucius bagunçou o cabelo de Ariel, tomando cuidado para não machucá-lo com suas garras.

-Você quer dizer que, durante todo esse tempo, o verdadeiro Ariel esteve junto conosco? Por que não o mostrou à Aron? Talvez assim ele...! - interrompi meu protesto quando mais seres sombrios surgiram da nuvem negra.

"Reforços?" 

-Alguma outra pessoa podia ver Ariel, Selion? - Lucius perguntou-me, diretamente.

Parei para pensar. Não, ninguém podia.

-Como anjo, Aron podia ver almas. Como demônio, ele pôde ver almas profanadas. Como anjo-caído, Aron tornou-se uma aberração com dons misturados. Perdeu sua alma, sua real capacidade e poder, e foi domado por seus desejos e sentimentos negativos. Ele desejava rever Melorry a mais que tudo no universo. Sem alma, este desejo tornou-se sua única ambição. E este foi o resultado. - ele pisou na mão dele com mais força.

Ariel o encarou de cara feia. Lucius revirou os olhos e afastou-se um pouco, ainda separando Aron das pedras.

-Permissão para confiná-lo, General Lucius? - um dos demônios perguntou.

Eles eram menores em comparação a Lucius. Eram provavelmente seus servos ou soldados.

-Esperem. 

Os demônios obedeceram e permaneceram-se parados, como estátuas.
Ariel arrancou a flecha de Aron e a jogou para trás. Lucius ergueu sua mão acima do corpo maltrapilho de Aron. Linhas de energia surgiram, ligando os dois. Assim, Lucius levantou Aron, como uma marionete. 
Ariel e Aron estavam cara a cara. 

-Ele parecia menor, mais cedo. - notei.

-Não havia energia. Você sabe o quanto é difícil projetar uma alma no mundo mortal, da maneira bruta que eu fiz? Tive que voltar à Umbra algumas vezes durante o processo, para mantê-lo são. Porém, ao acertá-lo com essa magia divina, um canal foi aberto para o corpo de Aron, permitindo o retorno de sua alma. - Lucius explicou, ansioso.

-A flecha o purificou? 

-É. Quase isso. - Lucius falou, pondo fim a uma parte de minhas dúvidas.

Ariel colocou sua mão no coração de Aron, invadindo seu corpo. Aron começou a produzir sons de dor. Ele não conseguia gritar, mas caso conseguisse, estaria berrando nesse momento.

-Ariel é um homem nobre, porém estúpido. - Lucius observou - Sabe que, pelos seus crimes contra a existência, Aron terá que pagar, sofrer. Mesmo assim, Ariel toma responsabilidade pelos seus atos. No fundo, ele é alguém honrado.

"Alguém honrado" repeti.
O corpo de Ariel lentamente foi sendo absorvido para dentro de Aron, que derramava lágrimas negras de seus olhos. Segundos antes de desaparecer completamente, Ariel moveu seus olhos na direção de Melody e abriu um sorriso. Aron e Ariel agora eram um só.
Os demônios agarraram-no por seus braços, rompendo os fios mágicos de Lucius, e carregaram-no para dentro da nuvem negra, assim desaparecendo.
Lucius seguia o mesmo caminho, quando reparou nas esferas azuis atrás de mim.

-Almas. - Lucius rosnou.

-Não são suas. Aron roubou-as de certas pessoas, e eu as devolverei. - esclareci.

-E o que fará sobre as atrocidades? Duas almas não podem habitar um corpo. Não posso permitir. 

-Separarei Melody, pode deixar. - acalmei-o.

-Eu também me referi a você. O quê fará? Você também é uma atrocidade.

-Darei um jeito. Também não gosto de ser assim. 

Dito isto, Lucius colocou um pé dentro da nuvem negra.

-Teu tempo não será eterno, Selion Grand Lux. Lembre-se disto. - e assim, Lucius desapareceu junto da nuvem de névoa escura.

Suspirei. Não sabia se o tratava como amigo ou como inimigo. A posição de Lucius era deveras duvidosa.
A primeira parte já havia sido resolvida. Restava interromper a guerra, derrotar os demais que lutavam fora do templo e devolver cada alma para seu corpo. 
Decidi continuar pelas almas. As pedras giraram ao meu redor durante todo o tempo em que conversei com Lucius e eu não havia notado. 
"Agora, como usá-las?" questionei-me.
Comecei tentando reuni-las. Toquei em cada uma delas com minha mão encrustada com a pedra de fogo, acompanhando o ritmo de sua rotação. A luz fraca produzida por elas foi intensificada, quase forçando-me a fechar os olhos.

-Emprestem-me seu poder. - pedi.

As cinco pedras aproximaram-se de meu corpo. Larguei instintivamente a pedra de magma quando a pedra de água moveu-me para minha mão. Repetindo o ato da pedra de fogo, agora eu tinha uma segunda pedra cravada em meu corpo, na mão que carregava a pedra de magma. As outras quatro pedras repetiram o processo de maneira violenta. A pedra de luz cravou-se em minha testa; as pedras do vento e da terra cravaram-se em meu peito, uma de cada lado do corpo; e por fim, a pedra da escuridão cravou-se em minha barriga.
Era um pouco semelhante à ação de Aron, porém, desta vez, não havia colosso branco.
"Certo, possuo o poder" expus minhas ideias. "E agora?"
Corpos reptilianos chamaram minha atenção. Tanto Snape, quanto hidra, estavam jogados, sem vida, no chão. Aparentemente, a força das pedras exercida por Aron era o que mantinha sua vida. 
Fechei meus olhos e levantei as mãos, desejando que seu corpo fosse levado para um lugar melhor, um lugar onde pudesse descansar em paz.
Neste instante, as pedras entraram em desunião com meu corpo. Elas começaram a produzir energia e calor, agitando-se. O corpo de Snape sumiu. O chão sumiu. As demais pedras sumiram. Tudo sumiu. Fui deixado em um plano azul marinho cheio de pontos brilhantes. Eu fui levado para o espaço? O sideral? Fora da Terra?


...

Fui domado por um medo repentino de respirar e acabar perdendo todos os órgãos de meu corpo pela ação do vácuo, mas após alguns minutos se passarem acabei percebendo que respirar naquela área, seja onde fosse, não era necessário.
Ao olhar para baixo, para cima e para todos os outros lados, descobri que, de fato, não estava no espaço, devido a ausência de planetas, porém descobri que todas as pedras em meu corpo haviam sumido. Tateei minhas mãos, braços, peito e costas, procurando por elas, mas não havia pedra alguma em lugar algum. 

-É um filho estranho. - uma voz sussurrou.

-Besta, não é nosso, obviamente. - outra respondeu.

-Quem está aí?! - gritei.

Eu abri minha boca e não perdi meus órgãos para o vácuo. Isso era muito bom.

-Eu tive um dia muito longo e cansativo, pessoal! Colaborem, por favor! - resmunguei em um choramingo. 

-Hai, hai. - a primeira voz respondeu.

Abaixo de meus pés, uma linha branca surgiu do horizonte, cruzando todo o espaço e formando um solo estável. Eu já permanecia de pé a um bom tempo, mas não pensara na ideia de caminhar. Bem, agora eu poderia sem sombra de dúvidas. 
Em um lampejo, dois corpos de costas para mim apareceram. O primeiro usava uma longa capa cobrindo a parte posterior de seu corpo, enquanto o segundo vestia uma espécie de kimono, aquele usado por povos orientais, como os japoneses, em tons de vermelho e laranja, lembrando um pôr do sol. Ambos possuíam uma coisa em comum: um símbolo hexagonal em suas costas, composto pelas cores das seis pedras de elementra primordiais.

-Sabe quem somos? - o sujeito do pôr do sol perguntou, como se tivesse treinado uma vida inteira para este momento.

Neguei com a cabeça. Por um tempo não houve resposta. Lembrei-me de que precisava usar palavras, pois nenhum dos dois olhava em minha direção.

-Não. - respondi, por fim.

-Conheça o mago da criação! Ravel! - ele virou-se com um sorriso caloroso no rosto.

"Mago da criação?" automaticamente, lembrei-me da história contada por Melody, mas descartei a possibilidade. Eles foram destruídos, certo? Ou melhor, deixaram de existir. Supostamente teriam dado início a tudo. Não poderiam estar vivos! Atrás dele, no horizonte criado pela linha, um gigantesco sol surgiu, iluminando a escuridão do lugar. 
Ravel possuía um aspecto indiano com uma pedra azul no meio de sua testa e pele bronzeada. Seu cabelo possuía a cor roxa de um crepúsculo e era absurdamente comprido. Seu pequeno cavanhaque possuía a exata cor. Seus olhos amarelo-escuro lembravam-me o sol ao entardecer. Sua aparência lembrava-me um homem de 20 anos, entrando na fase adulta. Seu corpo era levemente malhado e sua roupa ressaltava seu peito, como se ele o mostrasse de propósito. Talvez esperasse encontrar alguma fêmea por lá, mas acho difícil.

-Novamente, Ravel! O Mago da Criação Material! - finalizou sua apresentação cutucando seu parceiro com o cotovelo - É sua vez.

Com um longo suspiro, a segunda pessoa mostrou-se. Tratava-se de um homem mais alto, em comparação a seu companheiro Ravel, porém mais esguio. Sua pele era incrivelmente pálida, chegando a superar a de Gar e Gen juntos. Seus cabelos eram lisos e negros, cortados de maneira moderna e jovial com um estilo alternativo, tendo o lado esquerdo do cabelo cortado (semelhante à Aron) e o lado direito puxado em uma franja. Atrás de sua cabeça, em baixo, seu cabelo descia até seus ombros, e em cima, pendia um rabo de cavalo. Possuía um cavanhaque idêntico ao de Ravel, que caía muito melhor nele do que no companheiro.
Sua expressão não me transmitia alegria ou empolgação, diferente de seu amigo raio-de-crepúsculo.

-Filho de quem? - perguntou-me.

-Oi? - eu não estava preparado para uma pergunta tão direta.

-Quem é seu pai? Eu perguntara para você e repito o ato.

Seus olhos eram brancos e vazios, mas não do tipo cego, como os de Gar um dia foram. Eles eram penetrantes e sérios, como se estivessem lendo minha alma e a julgando por todos os meus pecados. Logo abaixo de seu olho direito, havia uma pequena pinta que se destacava em sua pele branca.

-Meu pai chama-se Samuel Sonnor Lux. - respondi - Por que pergunta?

Ele imediatamente abriu um sorriso torto e ameaçador. Notei um trio de pequenos brincos ao redor de sua orelha esquerda, não coberta pelo cabelo. 

-Referi-me ao seu VERDADEIRO pai. Vamos, não minta para mim. Eu detesto mentirosos. - ele enfatizou o máximo possível a palavra "verdadeiro".

-Eu já lhe dei o nome dele. O quê mais quer? Nem ao menos sei o seu nome. Apresente-se antes de exigir respostas! - uma onda de chamas subiu pela superfície de minha pele.

Ele gargalhou.
Vestia um terno preto com um longo colarinho cinza, que descia até sua barriga, e uma gravata marfim. 
"Um empresário? Um advogado?"
Era difícil dizer, mas uma coisa era certa: ele carregava uma caneta em mãos.

-Irmão, não praticamos assim. Não fuja do papel, neegai! - Ravel esperneou. 

-Hai, hai. - o empresário da advocacia revirou os olhos - Meu nome é Leonazardth. O Mago da Criação Espectral. 

"Dois magos? Criação?" minha hipótese descartada foi fortificada.

-Vocês são os magos que criaram as pedras?! - indaguei, pasmo.

-Acertou, miserável. - Leonazardth bateu palmas leves, sarcástico.

-Não, não pode ser verdade. Vocês deram início a tudo, certo? Então, como?! E foram destruídos, não é? Vocês brigaram e... - parei ao ver Leonazardth bocejar.

Quando dei-lhe a deixa, ele começou a falar.

-Essa história foi inventada por vocês com base em fatos brutos e pouco explorados. Veja bem, há um terceiro mago nesta história. - Leonazardth parecia já ter contado aquela história um milhão de vezes, o que talvez de fato pudesse ter acontecido.

-Uma maga, para ser exato. - Ravel interrompeu.

-É. Isso. - Leonazardth deu de ombros.

-Por que posso ver vocês? Por que surgiram para mim? Por que não pararam Aron? Ele iria devastar todo o mundo que vocês criaram! - procurei controlar-me para não libertar Flamus acidentalmente.

-Veja bem... Qual o nome mesmo, filho de Samuel Sonnor Lux? 

-Eu sou Selion. 

-Veja bem, Selion. - Leonazardth demonstrava aversão a aproximar-se de mim - Eu torcia para o sucesso de Aron Nephrim.

-Você o quê?! 

Quase deixei-me levar.
"Caso forem realmente os magos da criação, eu com certeza não poderia com eles. Gerar brigas poderia acabar me levando para Umbra, igual a Aron" com isto na cabeça, decidi dobrar meu controle.

-Selion, meu irmão Leonazardth criou a luz. Eu, criei a penumbra e a noite, provocando a falta desta luz. - Ravel explicou com calma - Por quê? Porque é preciso haver um equilíbrio entre o bem e o mal. É preciso haver dois lados, tá me entendendo? Meu irmão discorda. 

-A luz é a salvação. Por mim, eu erradicaria todos vocês, impuros, e os transfiguraria em formas divinas e pacíficas, sem falhas e erros. - Leonazardth procurou algo dentro de seu terno.

Ao tirar suas mãos de dentro de um bolso, mostrou-me um pergaminho.

-Este pergaminho aqui em minha mão possui todas as falhas da humanidade. Desde o início dos tempos, eu ajo como um escriba e anoto cada um de seus pecados, cada um de seus gigantescos e desastrosos erros. - ele tirou uma fita que prendia o pergaminhou e o abriu, jogando-o para frente. 

O pergaminho desenrolou-se, desenrolou-se, desenrolou-se e desenrolou-se, sem parar em momento algum. Ele era maior do que aparentava. Acompanhei enquanto ele ia embora, sumindo até um lugar onde eu não conseguia ver. Ele continuava avançando pelo espaço infinito.

-Você pode ter uma enorme noção do quanto vocês são pecadores. - Leonazardth juntou seu pergaminho, fazendo-o enrolar novamente em um estalar de dedos - Eu tenho mais dois pergaminhos como este.

Engoli em seco. Seria este um aviso do retorno deles? 

-Acalme-se, só aparecemos porque você nos chamou. - Ravel respondeu a meus pensamentos - Sabe, você foi o terceiro, acho, do século a usar as pedras corretamente. Sinta-se honrado.

-Há um porém, entretanto. - Leonazardth apontou.

-Você precisa decidir algo antes de continuar. - Ravel alertou.

-Esperem, vocês ainda não me falaram sobre a terceira maga que mencionaram. Onde ela se encaixa? 

-Eu estava chegando nessa parte, apressadinho... - Ravel repreendeu.

-Para usar o poder das pedras, é necessário nossa permissão. Ao ativar as seis pedras, você nos invocou, solicitou nossa presença. Agora, deves selecionar um caminho. - Leonazardth intrometeu-se, impedindo Ravel de prosseguir.

-O caminho material... - Ravel apontou para si mesmo - ...ou o caminho espectral. - apontou para seu parceiro.

Fiquei confuso.

-Seguir o caminho espectral lhe dá respostas, conhecimento. Você poderá ter todo o conhecimento da existência, conhecerá e terá acesso a TODAS as divindades, podendo descobrir quais são reais ou não; saberá o sentido da vida. Entenderá como um relógio de batata funciona e muito mais! - Ravel explanou.

-Seguir o caminho material lhe dá poder absoluto. Construção e desconstrução de matéria, controle elemental imediato e absoluto, capacidade infinita de alteração da realidade, mas somente a conhecida por você. - Leonazardth completou.

Pensei.
"Através do caminho espectral, eu descobriria tudo, tudo mesmo. Sobre minha família duvidosa, sobre meus dons especiais, sobre o lugar de onde vim, como erradicar o mal definitivamente, quem era esta terceira maga mencionada..." 
Então, vi o outro lado.
"Pelo caminho material, eu consertaria tudo e todos, interromperia a guerra e poderia restaurar a paz, porém, perderia uma chance única de obter respostas..."

-Aron escolheu o material, certo? Por que eu consegui vencê-lo, se ele era infinito? 

-Seu poder depende de sua capacidade. Sua mente e corpo eram sustentados inteiramente por um único desejo e ambição, cuja abrangência não passava de duas pessoas. Ele era fraco, não suportou o poder e, logo, perdeu. - Leonazardth parecia decepcionado.

"E quanto a mim? Meu poder era suficiente?"
Sem mais delongas, dei uma passo a frente.

-Eu já escolhi meu caminho.

Ambos trocaram olhares.

-Isso vai gerar um conflito. - Leonazardth sussurrou para Ravel, congelado em seu sorriso torto ameaçador.

-Ele travará as linhas que traçamos, eu sei. - Ravel respondeu-o - Mas, será interessante.

Abri minha boca e despejei as palavras necessárias.

-Eu escolho o caminho...

-Nós já sabemos. - os dois impediram e desapareceram.

O horizonte desapareceu e o espaço sumiu. E quanto a mim? Fui levado junto com eles. 


...


O crepúsculo caía, um dia depois do término da guerra. Um churrasco era organizado por Misake e Kathryn, em comemoração. Todos estavam presentes: Adrian, Annie, Stephie, Gen, Gar, Ingo, Merith, Richard, Melody, Yousuke, Raida, Troian, Sakura, Blanorcana e Mellany. Todos partilhavam de um momento alegre de suas vidas, que mais tarde geraria boas lembranças.

-Um brinde? - Kathryn sugeriu em um grito, para todos ouvirem.

Todos aceitaram e levantaram seus copos. Os copos tilintaram ao encontrarem-se uns com os outros. Era possível sentir a energia positiva daquele encontro. Encontro do qual eu não fazia parte.

-Estás convicto sobre o rumo de suas ações, usuário Selion? - Polar indagou.

-É, Polar. O que fiz provavelmente foi egoísta, errado... Mas eu não me importo. - respondi-o, com uma lágrima nos olhos - É melhor assim.

-Tem certeza? - Magna reforçou.

-Sim, Magna. - limpei meu rosto com a manga de minha camisa - Eu não conseguiria viver em um mundo onde pessoas incríveis como eles sofrem de maneira tão absurda. É melhor que seja desse jeito.

-Você está descartando uma possibilidade única de ter os tão preciosos companheiros, desejados por sua pessoa durante todo o seu tempo de vida terrena. - Polar apontou.

-Eu sei, eu sei.

-Apagar suas memórias foi mesmo a melhor opção? - Magna continuava a questionar.

Trocávamos palavras na colina que levava para fora da cidade. Tínhamos uma visão perfeita da casa onde um dia foi o quartel-general do Grand Elementra.

-Eu não estou feliz com isso, é verdade. - eu observava Melody rindo das palhaçadas de Frank, que juntara-se a eles agora mesmo - Olhe para baixo, Magna. 

Obediente, ela fez como sugerido.

-Eles sofreram com essa guerra e com a outra antes desta. - sentei-me no chão, iluminado pelo por do sol, em minha forma dracônica - Melody teve sua visão arrancada a força; Richard teve sua alma corrompida duas vezes; Kathryn quase não suportou o stress e a responsabilidade de comandar o grupo; Gen e Gar foram separados, devido à profanação de Gar que, de acordo minhas pesquisas, foi influência da Grand Destruction; Ingo presenciou o genocídio de imensa parte de seu povo; Mellany foi desde pequena incentivada para o mal, devido a presença de Aron. Preciso falar mais?

-Retirar seu conhecimento sobre magia e suas capacidades especiais irá mesmo ajudar? Ainda há mal lá fora, Selion. O quê acontecerá se a Grand Destruction voltar e não existir um Grand Elementra para impedir? - Polar levantou, pessimista.

-É para isso que estou aqui. Certifiquei-me de excluir completamente a existência da Grand Destruction desse planeta. As únicas questões para resolver são aqueles que fugiram: Reap, Scarlet, Lief, Aslan e Grandark. Cuidarei deles pessoalmente. 

-Como pode ter tanta certeza de que conseguirá vencê-los? - Magna interviu.

-Eu tenho vocês. Eu tenho Flamus. Eu tenho nossos outros amigos que aceitaram ajudar em nossa busca. - peguei meu celular.

Os demais mascotes do grupo haviam voluntariado-se para vasculhar o mundo comigo, na intenção de fazer um lugar melhor para seus mestres viverem. 
Levantei-me.

-Perdoe-me, Melody, mas você merece viver sem ter que carregar o destino da humanidade nas costas. 

É exatamente o que parece. Eu apagara toda e qualquer memória sobre a guerra, sobre a magia, sobre anjos e demônios, sobre todas essas coisas, incluindo a mim, de suas cabeças. Livres disto, suas vidas seriam normais e alegres. Continuariam ao lado um do outro, pois o destino os ligara por alguma razão e eu não pretendia desfazer isto. 
Dei uma última olhada no grupo. 

-Eu voltarei. - disse, por fim.

Neste momento, o olhar de Melody fixou-se em mim. Meu corpo congelou. Pela sua cara de confusão, era percebível que ela tentava descobrir o que eu era.
Levantei meu braço e abanei, despedindo-me. Então virei-me e parti.
Caminhei, tentado a voltar, mas não ousei virar-me, ou então nunca mais teria vontade de ir embora.

-Selion, há algo que precisamos revelar. - Polar parecia nervoso.

Era algo curioso, pois ele não era dotado de emoções.

-Magna e eu conversamos e... - sua voz falhou.

O fogo que rodeava sua cabeça falhou por um momento, e a esfera que compunha sua cabeça pareceu avermelhar-se, embora provavelmente fosse somente efeito da luz solar.
Troquei meu olhar para Magna. Ela levitava em cima de suas duas mãos uma pequena esfera transparente com um pequeno chip de computador dentro dela.

-O quê é isso? Uma nova invenção? - questionei.

Magna e Polar esboçaram um som fraco de risada.

-É uma célula-tronco magnética, Selionis. - Polar explicou.

-Uma o quê? 

-Nosso filho. - Polar aproximou-se de Magna.

Travei por um momento.

-Oi? - foi tudo que saiu de minha boca.

Em meus pés, duas bolas de pelo pulavam, chamando minha atenção.

-Snowy, Firus, me desculpem, mas não posso dar atenção a vocês agora, eu levei um grande sus... - parei minha fala ao ver uma forma oval próxima dos dois - Não...

Era um ovo, como o de uma galinha, porém com a metade do tamanho de Snowy.

-Vocês também não. Não pode ser.

-É o milagre da vida. Terei de lhe ensinar sobre a progressão das espécies, Selion? 

-Você não está entendendo, Polar. Firus e Snowy são machos! Isso não é possível! - fixei meus olhos em Snowy - Certo?

-Selion. Snowy é uma fêmea. - Magna corrigiu.

O choque me paralisou. Eu a tratei durante todo o tempo como um menino. 

-O S-Snowy é A Snowy? - confirmei.

Magna levitou meu celular para fora do bolso e o aproximou do chão. Snowy levou seu futuro filhote para dentro dele e depois juntou-se a ele. Firus não ficou para trás. Polar gargalhava da situação.

-Não vamos falar sobre isso. Por favor. - e voltei a seguir meu caminho.

Não sabe o tamanho da gravidade do que fez.

-Sim, eu sei, Rexion. - respondi a voz dentro de minha cabeça - Você é outro caso que pretendo resolver, então prepare-se.

Abri minhas asas e levantei voo. Polar e Magna seguiram-me.
Quando deixei a cidade, tive a leve impressão de ter ouvido uma risada feminina dentro de minha cabeça. Fora tão baixa que resolvi não dar atenção.

-Próxima parada: minha cidade-natal! - cruzei o ar, indo em direção do por do sol - Preciso falar com uma pessoa antes de ir à caça de Scarlet. 

E assim, sentindo-me horrível por meus atos, eu finalizei a guerra e pus um fim nas organizações Grand Destruction e Grand Elementra, ao mesmo tempo. Cheguei a esta cidade na intenção de encontrar respostas e descobrir mais sobre quem eu sou. Os resultados foram extremamente positivos.
Sou um arqueiro nato. Um dragão estressado. Uma alma duplicada. Mestre de um pequeno bando de criaturas peludas e de dois, ao menos por enquanto, seres magnéticos. 
Eu sou Selion Grand Lux.

.
..
...
....
.....

Somente após cruzar o céu e o mar
iluminados pela carmesim luz do luar
brandindo a lâmina infinita
unindo as almas corrompidas
a verdadeira fera nascerá,
o ser com o real poder para devastar.
A Fúria, a Espada e a Pluma em harmonia
a condição ideal para a revolta sombria.

A vilosidade do abismo
convocado pelo egoísmo.
O regente da luz e a mãe da vida
uma decisão tomada pela ira.
O ser movido a raiva e a escama caída
seu poder dilacerador pela emoção sentida.
As duas faces encarregadas da tríade
completam por definitivo a chegada do ápice.

Fim? Desculpe-me. É só o começo.

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